segunda-feira, 31 de março de 2008

O peso de uma camisa

A camiseta era das menos prováveis. Obtido à beira de um campo de treino, cercado por mato, mato grosso talvez, chegou às minhas mãos um manto aurinegro do Rondonópolis Esporte Clube – REC – clube que disputa o Campeonato do Mato Grosso nesta temporada. Colecionador que sou, esperava um artigo raro vindo daquele estado. No meu acervo, aparecem orgulhosas camisas do União e do Vila Aurora, outros clubes rondonopolitanos.

Outros não: os principais clubes rondonopolitanos. Tão importantes e mais conhecidos que é preciso apresentar o REC. “Que clube é esse?” foi a pergunta mais óbvia que tive, diante daquela indumentária nova. Parte da resposta aparecia estampada no peito, em forma de data: 10.12.2006, a fundação da agremiação. Daí em diante, não foi muito difícil descobrir o resto dos fatos. Criado em fins de pouco mais de ano, o Rondonópolis permaneceu inativo na temporada passada, preparando-se para entrar no estadual de 2008. Hoje, o time figura na final da repescagem do Mato-Grossense, fase que definirá um dos finalistas da competição.

Rondonópolis é parte indispensável na história do futebol do Mato Grosso. Fundado em 1973, o União foi oito vezes vice-campeão local, além de contar algumas aparições em torneios nacionais. Seu rival, o Vila Aurora, de volta ao profissionalismo no início desta década, gaba-se de seu melhor aproveitamento em decisões: em bem menos tempo que o União, já tem um título estadual, erguido em 2005. O REC, recente, está à parte disso tudo.

Poucas pessoas, fora do estado, conhecem o REC. Pouquíssimas, quiçá menos de cinco, possuem sua camiseta, no exterior do Mato Grosso. Eu tenho. O sonho de qualquer colecionador? Só o tempo dirá. O Rondonópolis é um clube sem torcida, sem passado, sem história. É um clube com tudo por ser feito, e talvez não dure mais que dois ou três anos. A realidade é que de nada adianta ter uma camisa do REC, se o REC, simplesmente, não a tem – no sentido futebolístico. O time pode sumir ali adiante, sem deixar marca alguma, e o uniforme ficará no mesmo plano daqueles usados em torneios escolares – uma aventura de pouca duração, desinteressante a todos, exceto àqueles que a protagonizaram.

Olhe para a camisa do Vila Aurora, ficando ainda nos exemplos mato-grossenses. Lá, sobre o “Tigrão” do escudo, aparecem três gloriosas estrelas douradas – relativas à Copa Sul do Mato Grosso de 1978, à Segundona Estadual de 1989 e, claro, ao Estadual de 2005. Esse clube tem camisa. Dizem que ela não vence jogos. Eu discordo. Há uma sensível diferença entre vestir o manto do “Tigrão”, títulos nas costas, torcida apoiando, e trajar as cores do REC, surgido do nada, talvez sem futuro, certamente sem passado e sem aficionados. Aos adversários, também haverá uma diferença respeitosa entre se deparar com os azuis e brancos do Vila ou os amarelos e negros do Rondonópolis.

O peso de uma camisa, como o amor ou temor por ela, não é algo que se mede. É algo para ser sentido. Ontem, aos 81 minutos do jogo entre Ulbra e Internacional, pelas quartas-de-final do Gauchão, o jogo estava em 1-4 para os colorados, com baile, quando o time de Canoas teve um pênalti. A Ulbra, embora já tenha alguma história, é quase um REC gaúcho, não possuindo torcida. Não existia pressão. Tampouco havia ansiedade de remontada para tornar aquela penalidade imprescindível. Naquelas circunstâncias, seria um lance normal, fosse um adversário normal. Mas do outro lado havia uma camisa pesada. E Júnior, o cobrador, temeu. Isolou o que seria o segundo gol canoense.

Certezas de mesmo nome

Certos acontecimentos que pareciam surpreendentes, até por vezes absurdos e irreais, se consolidaram e viraram certezas neste março que chega ao fim. Agradáveis ou desprezíveis, duas delas não são mais contestadas por nenhuma alma com mínimo conhecimento futebolístico sobre o Rio da Prata.

Começando com o que temos de bom, em tempos medíocres raridades tem de ser exaltadas. O River Plate uruguaio precisa disputar uma Copa Libertadores. Com este padrão de jogo, com Carrasco no comando, com tiki-tiki e tudo o mais. Questão de merecimento. Local e visitante são palavras inexistentes para o River. No confronto entre gaúchos e darseneros, o Progreso recebeu um River líder e arrasador com belo público no Parque Paladino.

Sem titubear, Carrasco lançou seu quadro para a ofensiva. Quando Urretaviscaya, que já é sondado para o futebol europeu, atormentava os defensores do Progreso, chegou o primeiro gol. Penalti nele, que o artilheiro do campeonato, Henry Gimenez, nem pensou em desperdiçar. Vantagem e procedimento rotineiro: time pra frente. O toque de bola aflorou e Urretaviscaya marcou o seu. Zambrana fechou o 3-0. O River ainda abusou de perder gols nos minutos finais. Bom para o Progreso, que pela boa campanha no Clausura, sonha em fugir do rebaixamento antes anunciado. A primeira certeza é que esse River, de quatros gols por jogo, vai longe.

Do outro lado do Rio, mas mantendo o nome, vamos para o outro River. Ou para parte de sua torcida. O fim de semana foi marcado por mais violência entre barra-bravas. Membros da "Borrachos de Tablón", conhecedíssima por distúrbios, confrontaram-se entre si pelo poder da barra. O palco foi o estádio José Amalfitani, do Velez Sarsfield, onde los millionarios foram locais. Sete ficaram feridos (um em estado grave) e quase quarenta acabaram presos após a confusão.

Os delinqüentes que brigavam ouvindo sonoras vaias da verdadeira torcida do River e da pequena parcialidade do Arsenal deixaram de ver um bom jogo, onde o River ressuscitou Archubi, esperança que veio do Lanús e pouco aparecia em Nuñez, e sofreu forte pressão da equipe do Viaducto, que pena na Copa Libertadores, onde virou saco de pancadas. E ninguém, infelizmente, nem sonha que o fim dessa sangrenta história está próximo e visível. Que abril mude esta segunda sina. E que o impensável sonho uruguaio prossiga.

domingo, 30 de março de 2008

As falsas boas equipes

O uso de dinheiro público ou investimento de pequenos empresários do futebol, faz surgir no Brasil as falsas equipes emergentes. Após 2 ou 3 anos de farra e torcida de modinha, a desgraça toma conta destes times.
Arena Barueri: Prefeitura constói estádio para 15.000 "torcedores"

Basta se lembrar do fenômeno São Caetano, em um tempo onde jogadores importantes foram atraídos por salários em dia, pouca pressão e ambiente tranqüilo do clube do ABC. Naturalmente, havia uma prefeitura por trás pagando tais rendimentos para nomes como Marcinho, Gilberto e Anderson Lima, por exemplo, que quando estiveram no Anacleto, eram valorizados nacionalmente. O clube chegou à final da Libertadores e hoje amarga na 2a divisão sem quaisquer recursos. Também de perto da capital paulista, emerge a olhos vistos o Barueri. Se em 2001 o clube, sob o codinome Roma Barueri, vencia a Copa São Paulo graças ao respaldo de um grupo de empresários, logo após isso, surgia o Grêmio Barueri, iniciando atividades no futebol profissional. Hoje, após um ano na elite paulista e na Série B nacional, o GRB atrai atletas como os experientes Ramón (ex-Vasco) e Alberto (ex-Santos), nomes claramente acima do padrão natural para a equipe que conta com o incentivo institucional da prefeitura da cidade.

O Grêmio Porto-Alegrense, por sua vez, forma em 2003 um time na base de interesses empresariais. É eleminado da Libertadores e o fantasma do rebaixamento sai do clube apenas na última rodada, depois de um insuspeito 3 a 0 no Corinthians Paulista. Um ano depois a equipe seria rebaixada com a pior campanha da era dos pontos corridos até então, superada pelo América em 2007.

O Paraná, berço do nascimento de vários grandes jogadores, geograficamente próximo dos principais estados do país e com uma economia muito boa, também assiste ao despontar de equipes estruturadas e com sensível aporte financeiro de empresários dispostos a multiplicar seus rendimentos. Como bem definiu Ruy Carlos Ostermann, no Sala um dia desses, a vida de empresário é "uma barbada".

Tudo porém gira em torno de um círculo vicioso e repleto de interesses. Os estaduais, a cada ano, estão cada vez maiores. As federações estaduais precisam do apoio dos clubes pequenos, que naturalmente querem usufruir ao máximo da possibilidade de receber as equipes grandes, imprensa e televisão. Já a CBF, precisa do apoio das federações e se vê pressionada a ceder o máximo de datas possíveis e impossíveis. É ou não é uma grande farra?

Um dia de ilusão

Mendy e a bola do título

Ontem, todas as dificuldades vividas na Liga Francesa durante a temporada foram esquecidas. O estádio estava lotado para mais um jogo. Não qualquer jogo: uma final. Não qualquer estádio: o Stade de France. O palco reservado às noites de Seleção ou de buscas por troféus. E só para isso. Um palco sagrado, para um dia de sonhos. No sábado, Lens e Paris Saint-Germain entraram no gramado do maior templo futebolístico da França para definir o título de vencedor da Copa da Liga desta temporada.

Aos dois times, a chance de serem campeões, à distância de noventa minutos. E não eram times para levantar taças. 2007/08 vem sendo duro com os dois clubes. Lens e PSG, respectivamente 17º e 18º colocados no campeonato, fora e dentro da zona de rebaixamento, estão muito mais acostumados a lutar para permanecer na elite do que para sonhar com títulos, com vagas européias. Na Liga, o que separa um do outro são apenas dois pontos. Um jogo, noventa minutos, pode alterar a situação das equipes e mudar a divisão delas para o próximo ano. Um jogo, noventa minutos. Era o que os dois times tinham ontem, para disputar algo bem maior que permanecer na elite. Uma taça, afinal. Eis a importância daquela partida.

E 79 mil espectadores estavam no estádio para assistir àquele espetáculo insólito, em que dois possíveis rebaixados se viam capazes de saírem campeões. O primeiro golpe foi desferido pelos parisienses, através de Pauleta, no minuto 19. O português, numa de suas últimas finais da carreira, não teria a chance de lembrar daquele tento como o do título. Mantido o 1-0 no intervalo, o empate viria com sete minutos da etapa complementar, pelos pés de Carrière. Depois, placar igualado, busca por mais gols. Pela taça.

E nada vinha. Fosse pelo campeonato, empatar uma partida seria um resultado desprezível para as duas equipes desesperadas. Na final da Copa da Liga, porém, era a segurança de meia hora extra para tentar algo mais. A proximidade do fim do jogo tornava essa perspectiva bastante interessante, diminuía os motivos para se correr riscos. Mas o que é o risco para alguém acostumado com as ameaças de rebaixamento? O tempo passava e, como louco, o PSG se jogava ao ataque. Nos acréscimos da etapa complementar, Luyindula foi derrubado na área adversária, num lance polêmico. Pênalti. A bola do título. Mendy, aos 90+3 minutos, bateu e confirmou o terceiro troféu parisiense na história da competição, somando-o aos de 1995 e 1998.

Poucos segundos após o tento, quando o árbitro deu o fim definitivo ao embate, o Paris Saint-Germain sorriu como poucas vezes nesta temporada. Haverá o duro reencontro com a Liga, com a zona de descenso. Haverá uma nova briga contra o próprio Lens, para fugir da queda. Mas, ontem, houve também as horas de tensão antes da final, os minutos em que a bola rolou, as tão longas e tão raras horas de festa após um título conquistado nesta terrível temporada - houve um elenco com campanha de vilão sendo convertido em herói, levantando uma Copa. Em meio ao caos, houve um dia de ilusão.

Punição nos acréscimos

Nessas quartas-de-final de Gauchão, chance surgida não pode ser desperdiçada. A lição fora dada no jogo entre Sapucaiense e Inter-SM, em São Leopoldo, mas a poucos quilômetros dali, na capital Porto Alegre, parece que os ecos não chegaram. Ao menos não aos ouvidos de um Caxias que, como o Sapuca, acabou tendo seu resultado mudado a segundos do fim.

Não foi um jogo dos melhores, o duelo de São José e Caxias. Chances de gol eram apenas esporádicas, e o persistente zero a zero tinha boas possibilidades de se manter até o apito final. Se os visitantes conseguiam se sobressair pelo domínio da posse de bola, os locais mantinham relativo empate na criação das raras jogadas ofensivas. Mas controlar a pelota por mais tempo significava maiores possibilidades de contornar o adversário e, em meio à fraqueza geral, proporcionar um desequilíbrio.

O ponto que alterou a mesmice do confronto tardou a chegar, mas veio como o maior e derradeiro impulso da partida. No minuto 78, o volume grená deu resultados, e Kempes, de fora da área, bateu o goleiro para fazer 0-1. Dali em diante, boas chances se acumulariam pelo lado caxiense. Boas chances de matar o jogo e a eliminatória.

Chances que o Sapucaiense tivera, horas antes. E que desperdiçara. Da mesma forma, o Caxias foi anulando cada possibilidade que surgia. Também pagou. Não há piedade nessas quartas-de-final de Gauchão. Aos 90+2 minutos, Anderson Poti, de cabeça, igualou o resultado final para o Zequinha. Por ora, marcar no fim apenas reduziu as vantagens dos caxienses, que ainda podem empatar sem gols dentro de casa. O real peso desse tento derradeiro, porém, só será conhecido na partida de volta. No Centenário, a punição dos acréscimos poderá se revelar fatal.

sábado, 29 de março de 2008

A defesa de Goico

Era o terceiro minuto de acréscimo do segundo tempo quando Leandro Safira, atacante do Sapucaiense, aparecia livre na área do Internacional de Santa Maria, pronto para fazer um gol. Até ali, o Interzinho não havia mostrado muitos resquícios do grande futebol que jogara na primeira fase, ia tendo uma noite desastrosa, raramente conseguia encaixar suas trocas de passes. O Sapuca, empurrado por seus torcedores, vencia por surpreendentes mas merecidos 2-0, e acumulava outros pares de chances perdidas.

A conhecida raça dos santa-marienses teria que aflorar de forma inédita no jogo da próxima semana, na Baixada Melancólica, para o time recuperar aqueles dois gols adversos. Imagine se fossem três... Pois, no terceiro minuto de acréscimo, lá estava Leandro Safira para fazer o tal gol que mataria a eliminatória. Não era um lance para se perder. Não era um lance que, tivesse espaços, ele perderia, de fato. Mas havia um arqueiro no meio do caminho. Goico, o arrojado camisa 1 do quadro visitante, lançou-se aos pés do oponente para fazer a defesa. Ainda no chão, levaria outro chute do ofensivo, que sabia bem a importância do lance que estava por perder.

Não soltou a bola, o Goico. “É a defesa para manter vivas as esperanças do Inter!”, teria berrado um locutor de uma rádio qualquer, presente no estádio Cristo Rei, em São Leopoldo. Era a defesa para evitar um três-zero logo no jogo de ida. Mas era mais.

Na jogada imediatamente posterior à corajosa intervenção do arqueiro, um Internacional ressurgido em seus brios voltou a mostrar porque encantou o Estado na primeira fase. Com garra, aos quarenta e nove minutos da etapa complementar, Anderson Bill estufou as redes da meta sapucaiense. No último lance do jogo, o placar se alterava para 2-1, resultado valiosíssimo quando se tem o gol qualificado. O Inter volta para Santa Maria derrotado, mas volta a apenas um tento da remontada e da classificação. Estaria a três, quiçá quatro, não fosse a formidável defesa de Goico.

Futebol invertido

No oitavo minuto do jogo contra o Juventude, após defesa do goleiro Michel Alves, Perea, grande goleador do Grêmio na temporada, acertou o travessão. Aceitável, não fosse o detalhe de que o arqueiro estava batido e o colombiano, livre na pequena área. Aos 85 minutos, depois de cruzamento vindo da direita, Perea, outra vez livre, novamente na pequena área, igualmente sem goleiro, conseguiu chutar para fora. Àquela altura, o Grêmio já vencia pelo placar que seria o final: 1-2. Vencia porque Reinaldo, atacante contestado do tricolor no início de 2008, aparecera aos nove e aos 41 minutos, indo às redes naquelas duas vezes – na segunda, com direito a pedaladas sobre dois marcadores. Hoje, pelas quartas-de-final do Gauchão, os ofensivos gremistas aparentaram ter invertido entre si o futebol que vinham mostrando. E lá vai Perea ligar para sua mãe...

A normalidade: A atuação do Grêmio passou longe de ser deslumbrante, embora tenha sido das mais decentes no ano. Mesmo assim, o raquítico Juventude jamais foi um oponente temível. Não era um mau dia dos Alviverdes. Era apenas mais um jogo num mau campeonato. Atuando em casa, perderam a maioria das jogadas ofensivas, escaparam de boas oportunidades para levar goleada, e só foram encontrar um gol num lance isolado, graças a Mendes, artilheiro do Campeonato Gaúcho. Houve colorado afirmando que o Ju “entrega sempre” contra o Grêmio. A ira, inflamada pelas más atuações do Inter frente aos caxienses, não se justifica: o Juventude apenas jogou o normal de seu 2008.

Anormalidade: O técnico Celso Roth foi responsável pelas únicas surpresas numa tarde de resultados lógicos. Antes da partida, anunciou uma escalação atípica, com o criticado Rudnei num lugar até então bem ocupado pelo paraguaio Julio dos Santos, e o pouco efetivo Reinaldo numa posição ofensiva que todos imaginavam estar garantida para Jonas, considerado por muitos o melhor dos reservas de ataque do Grêmio. A anormalidade, contestada, deu resultados: Rudnei, ainda sem conquistar a unanimidade, teve uma das suas melhores atuações pelo tricolor e Reinaldo marcou os dois tentos da vitória.

493: Esdrúxulas camisetas com três dígitos para identificar uma marca histórica de jogos ou gols feitos por um jogador já viraram comuns no Brasil. Mas, geralmente, eram números exatos. O Juventude resolveu inovar e, numa espécie de contagem regressiva, fará o interminável Lauro atuar com uma numeração de acordo com a partida que ele está disputando pelo clube, até a 500. Ele, que já havia trajado um 200 para comemorar suas atuações com o Alviverde na Série A, foi a campo hoje disputar seu 493º encontro pelo Ju. Nesse tempo todo, em partidas contra o Grêmio, uma vida com muito mais derrotas que vitórias.

Especial: Major League Soccer

A Major League Soccer, liga de futebol de campo americana, nunca foi unanimidade nacional lá. Os americanos, aficionados por outras modalidades esportivas, como o Futebol Americano e o Basquete, não se motivavam a acompanhá-la, mas com as recentes campanhas da boa Seleção Americana na Copa de 2002, chegando às quartas-de-final, algo que não acontecia desde 1930, e investimentos pesados em marketing, isso começou a mudar.

A MLS é uma liga recente, criada em 1996. Contava no seu principio com 10 times, 5 da conferencia leste: Columbus Crew, DC United, New England Revolution NY Metro Stars e Tampa Bay Munity, e mais 5 da oeste: Colorado Rapids, FC Dallas, Kansas City Wizards, San Jose Clash e o mais famoso entre todos, o Los Angeles Galaxy. Com o tempo, mais times, como o Real Salt Lake e o Chivas USA co-irmão do Chivas mexicano. Com isso, o Kansas foi transferido de conferência. Outros clubes foram incorporados, por exemplo o Chicago Fire, enquanto times como o Tampa Bay Munity foram extintos.
Muitos dos times da MLS mudaram de nome uma ou mais vezes, como o San Jose e o NY Metro Stars. O FC Dallas, que anteriormente chamava-se Dallas Burn, alterou para adotar um nome mais ‘europeu’. O Metro Stars, de Nova Iorque, foi comprado pela multinacional de bebidas Red Bull, e assim mudou o nome do time a mando do dono. Já o San Jose possui uma história peculiar, primeiramente mudaram o nome para San Jose Earthquakes, mas na temporada 2005, o clube se mudou para Houston, trocando mais uma vez o nome da equipe para Houston Dynamo, este, atual campeão da MLS.

A temporada deste ano se inicia hoje com o confronto Columbus Crew x Toronto FC, este um time Canadense incorporado à MLS. Há previsão de, na próxima temporada, serem incorporados mais dois times, totalizando 16. Os novos clubes se fixariam em Seattle e na Philadelphia.

Muitos times de outros países vêem na MLS uma chance de fazer marketing. O pioneiro foi o Chivas Guadalajara, criando a filial americana Chivas USA. Outro time que pretende entrar na MLS é o Boca Juniors da Argentina, com a filial americana chamando-se Boca U.S.. É uma ótima idéia, pois com a projeção crescente da liga e a grande quantidade de dinheiro envolvida, poderão ter lucros exorbitantes.

Mas se a liga americana deve o sucesso atual a alguém, é ao Los Angeles Galaxy. Este utilizou a “Designated Player Law” vigente no país desde 2006, que permite contratar um jogador acima do teto salarial e trouxe não só um jogador, mas um pop-star, David Beckham. Isso de certa forma colocou a MLS na mídia e comprovou o poderio econômico da liga, já que Beckham ganha nada menos que 250 milhões de dólares nos 5 anos de contrato com o time de LA.

A transferência abriu as portas para outros times contratarem jogadores de prestígio, como Blanco, Gallardo e Denílson, assim aumentando ou visando aumentar ao menos o interesse do público não só americano, mas mundial, pela MLS. Há também boatos que o LA estaria negociando com o craque francês e ex-melhor do mundo da Fifa, Zinedine Zidane. Seria uma extraordinária contratação para o Galaxy e também marketing puro, mas Zizou desmentiu qualquer acerto com o time da Califórnia.

Na primeira Superliga, algo semelhante à Libertadores da América, que envolveu times do México e dos EUA, quem venceu foi o mexicano Pachuca. Ainda assim, o LA Galaxy chegou àfinal com méritos.

No campeonato há grande equilíbrio entre as duas conferências, pois ambas possuem 6 títulos cada, sendo o DC United o maior vencedor com 4 conquistas. Logo abaixo vem o LA Galaxy com 2. Se levarmos em conta que o time é o mesmo, o San Jose tem 4 títulos também, mas como há previsão de retorno da franquia, os títulos foram divididos em 2 para o San José e 2 para o Houston. O grande sucesso da liga se deve a uma fórmula de campeonato deveras interessante, os playoffs, no qual dois times de cada conferência se enfrentam após os pontos corridos, em um jogo único, num estádio neutro.

A média de público é algo que chama a atenção. De todas as temporadas reunidas, obtém-se uma média de 37.248 pessoas por jogo decisivo e média por jogo normal de 10.000 a 20.000 pessoas. Nada mal para uma liga em ascensão. Grande parte dos jogos é disputada em estádios próprios para o jogo de Futebol Americano, apenas colocam-se as goleiras removíveis. Há poucos estádios exclusivos para a prática do futebol.

Representação genérica de um estádio americano

Se os americanos mantiverem o ritmo seguramente poderão se tornar uma potência futebolística forte, e quem sabe um dia conseguir reunir tantos espectadores numa final da Major League Soccer quanto num Superbowl.

Gauchão, a matar ou morrer

Começa hoje o primeiro fim de semana de mata-matas no Gauchão 2008. Sem perder tempo, aos confrontos de ida das quartas-de-final:

Juventude - Grêmio
Centenário, Caxias do Sul, sábado às 16 horas

Se o Juventude costuma surpreender o Internacional e obter vitórias mesmo quando joga com a mais desestruturada das equipes, o mesmo não ocorre em partidas com o Grêmio. Nos últimos anos, o time acumula fracassos inquestionáveis diante do tricolor da capital e já soma um período sem vitórias no confronto direto desde 2004. A equipe caxiense é medíocre e, com o Grêmio vindo invicto há 18 encontros oficiais, a partida acaba se convertendo no maior "jogo jogado" desta fase. Aí poderia morar o perigo, mas o Ju cisma em contrariar as expectativas de zebra. O confronto, que também é reedição da final estadual do ano passado, promete ter o mesmo desfecho de 2007: triunfo gremista.

Sapucaiense - Internacional de Santa Maria
Cristo Rei, São Leopoldo, sábado às 18:10

No fim da Segundona Gaúcha de 2007, que consagrou com o acesso o Sapucaiense e o Interzinho, quem ousaria afirmar que, poucos meses depois, as duas equipes se enfrentariam por umas quartas-de-final de Gauchão? Pois os dois oriundos da divisão inferior chegaram lá, e com todos os méritos. O Sapucaiense, em sua primeira temporada na elite, já fez mais do que qualquer prognóstico apontaria, e o que vier, daqui para a frente, é lucro - especialmente porque tudo foi conquistado jogando fora de seu estádio, sem condições de receber grandes competições. Ao Inter, ainda é possível almejar mais. O time entrou no campeonato prometendo passar de fase, mostrou-se o mais poderoso elenco do interior, e tem raça e qualidade para sonhar com semifinais. Os de Santa Maria são favoritos, e esperam ter a revanche pela Segundona, quando acabaram vice-campeões.


São José - Caxias
Passo d'Areia, Porto Alegre, sábado às 20:30

Semifinalista do ano passado, vislumbrando a Série C, com uma boa equipe que empatou duas vezes com o Grêmio na fase inicial, o Caxias é favorito. O Zequinha não tem um grande futebol, mas a capacidade de reação, que fez o time dado por eliminado conquistar uma vaga na última rodada, torna a equipe merecedora de respeito. É no entusiasmo que o São José confia. Um entusiasmo, diga-se, restrito aos jogadores, pois torcida não há.

Ulbra - Internacional
Complexo Esportivo da Ulbra, Canoas, domingo às 16 horas

Outro time de torcida escassa mas organização nem tanto - a exemplo do São José -, a Ulbra repete o que vem fazendo nos últimos anos e supera a etapa inicial do campeonato. Encarar o Inter, contudo, é um golpe duro nas expectativas de qualquer equipe - principalmente se os Colorados, com 34 gols feitos e o melhor ataque da competição, têm pela frente um adversário cuja defesa é a mais vazada entre os classificados, com 24 tentos sofridos. Os canoenses vão tentando repetir 2006 e 2007, quando foram a pedra nas chuteiras dos alvirrubros, mas as previsões são claras: ou dá Inter, ou o planeta sai de órbita.

quinta-feira, 27 de março de 2008

O fim de uma era

15 de Novembro sendo goleado pelos reservas do Grêmio, ontem

O rebaixamento já havia sido confirmado no final de semana, mas só ontem, na derrota por 1-4 para um Grêmio lotado de reservas, o 15 de Novembro fez seu último grande jogo dentro de casa. O último grande jogo de sua história? Quatro pontos em catorze rodadas de Gauchão representaram mais do que o descenso do time de Campo Bom: foram o fim da era do último clube de fora da capital gaúcha a viver próximo dos grandes sucessos. E, quiçá, o fim do próprio clube.

Fundado em 1911, o 15 de Novembro se manteve longe do profissionalismo até 1993. Nesse período, já demonstrava força, amontoando conquistas no estadual de amadores: foram espetaculares 14 títulos, nas temporadas 1960, 1961, 1963, 1964, 1966, 1968, 1970, 1971, 1972, 1973, 1976, 1977, 1987 e 1990. O sucesso naquele longo período fez a comunidade planejar vôos mais altos e, em 1994, o time ingressou na Segunda Divisão de profissionais do Estado, com objetivos relativamente modestos. Um vice-campeonato e o acesso no primeiro ano representam a glória inicial do clube que, nas temporadas seguintes, continuaria oscilando entre a elite e a Segundona. Nas copas interioranas da segunda metade dos anos 1990, boas campanhas conferiram certo destaque à equipe verde-amarela, mas nada como se veria na década seguinte.

Veio 2002. Vieram 2003, 2004, 2005 e 2006. Em todos esses anos, invariavelmente, o 15 fez algo de destaque. Em 2002, 2003 e 2005, foi vice-campeão do Rio Grande do Sul, sempre derrotado pelo Internacional nas decisões. Em 2004, sob o comando do treinador Mano Menezes, o time de Campo Bom abriu mão do Gauchão, dando todas as forças por uma improvável campanha histórica na Copa do Brasil: a equipe atingiu as semifinais e, nelas, chegou a estar vencendo o primeiro jogo por 1-4 fora de casa. Com um calendário sobrecarregado, contudo, cansou e levou mais dois gols do Santo André, que se mostraria letal - na partida de volta, disputada no Olímpico, em Porto Alegre, os paulistas, futuros vencedores da Copa, triunfariam por 1-3. Finalmente, em 2006, veio o primeiro título de um clube acostumado aos vices: a Copa Emídio Perondi.

À época, não parecia, mas vencer aquele troféu era o indício mais claro da decadência do 15 de Novembro. A Copa Emídio Perondi nada mais era que um torneio-consolação envolvendo os eliminados da primeira fase do estadual - e os de Campo Bom estavam entre eles. No ano passado, a fraqueza se confirmou, com a permanência na elite gaúcha sendo garantida apenas na última rodada. Era o último alerta para o despencar vertiginoso. Era sinal de que tudo precisava mudar. Mas o 15 não se fortaleceu: na pré-temporada para 2008, acumulou derrotas contra equipes de qualidade questionável; no Gauchão, emendou séries de partidas perdidas a um ponto em que, ao final do primeiro turno, com sete rodadas pela frente, já se sabia que o time estava morto.

Pois caiu o 15 e, com o rebaixamento, encerrou-se, enfim, mais um ciclo de um vencedor do futebol interiorano. Terá sido o fim do clube, também? Para um time que desprezava a terceira divisão do Brasil por considerá-la deficitária e agora tem uma Segundona estadual pela frente, o futuro é incerto.

Dor

"Ali, do terceiro para o quarto lugar, um ponto, um gol, um confronto direto, qualquer mísero detalhe é capaz de diferenciar heróis de fracassados, gloriosos de incertos." O trecho, extraído do texto sobre a Segunda Divisão Espanhola, bem poderia ilustrar o que se viu, ontem, na rodada final do Gauchão. Com uma diferença: a briga era para fugir do quinto e alcançar o quarto lugar, último que garantia vaga na próxima fase.

Um mísero detalhe, o que eliminou o São Luiz. Dessa vez, o time ijuiense até fez a sua parte - jogou mal, sim, mas mostrou a mesma raça do resto do campeonato para conquistar um resultado favorável. Antes da partida, apresentassem um contrato "empatar e não fazer jogo", provavelmente muitos são-luizenses assinariam sem maiores dúvidas. Era difícil buscar mais no Bento Freitas. E o São Luiz, depois de sair perdendo por 2-0 e levar baile, buscou o tal empate. Contra todas as expectativas, achou gols aos 83 e 88 minutos, conquistando um 2-2 que, em situações normais, bastaria para a vaga. Mas...

Mas, no outro confronto da noite, o Juventude mostrou porque é, provavelmente, a mais fraca equipe dentre as oito classificadas no Gauchão. Dentro de casa, contra um São José de Porto Alegre quase morto, os caxienses foram amplamente dominados. Levaram 0-2, poderiam ser goleados, e só foram descontar o placar num pênalti. Era o resultado impossível da noite acontecendo. Era o Juventude dando o terceiro lugar para os porto alegrenses e pedindo "me derrubem! me derrubem!".

Para derrubá-los, faltou um gol ao raçudo São Luiz. Faltou o detalhe. Poder-se-ia reclamar de dois lances duvidosos de pênalti não assinalados em favor dos ijuienses, mas o time foi digno demais no campeonato inteiro para acabar chorão feito um Botafogo. Não, o São Luiz não foi eliminado pelos lances duvidosos. Caiu com os mesmos 20 pontos do classificado Juventude. Caiu tendo um saldo melhor que os caxienses, perdendo menos jogos que eles, fazendo mais gols, e ainda tendo uma enorme vantagem no confronto direto. O detalhe, aquele que derrubou o São Luiz, acabou sendo o número de vitórias, o primeiro dos critérios de desempate: na sua inconstância, o Ju venceu seis vezes, contra cinco do ex-rubro ijuiense.

Este São Luiz de 2008 não merece ser lembrado como aquele que passou treze rodadas na zona de classificação para, na última, cair. Certamente, os atletas que orgulharam a torcida do 19 de Outubro serão recordados como aqueles que lutaram até o minuto final, que buscaram a remontada mesmo quando não havia mais tempo para ela, que fizeram campanha superior à do oponente que acabou abocanhando a classificação. Sim, o guerreiro São Luiz ficará na memória pela caminhada que surpreendeu a todos, pelo grande que foi nesta temporada. No entanto, com dor, será lembrado também por tudo aquilo que poderia ter sido.

quarta-feira, 26 de março de 2008

A agonia de decidir fora

O São Luiz que buscará a classificação fora de casa

Nos dois últimos anos, foi assim. Acossado pelo rebaixamento, o São Luiz disputava sua última partida do Gauchão longe de casa. Nos dois últimos anos, perdeu, e ficou desesperado – salvou-se apenas pelos critérios de desempate, terminando ambas as temporadas na última posição acima da zona de descenso. Em 2008, não há briga para evitar a Segundona, mas a agonia permanece.

Fora de casa, hoje, o time ijuiense terá pela frente o Brasil de Pelotas. Mesmo eliminado, ninguém duvida que o Xavante entrará em campo para vencer – joga pela camisa, para fazer uma despedida digna no campeonato e, também, inflamado por uma pequena rivalidade surgida nas últimas temporadas, após sucessivas confusões e polêmicas de arbitragem nos confrontos frente ao São Luiz.

O time de Ijuí ocupa atualmente a quarta posição, com 19 pontos e, pela primeira vez desde 1998, estaria passando de fase – pegaria a última vaga da chave. Depois de permanecer desde a primeira rodada na zona de classificação, seria uma pena dura demais acabar eliminado na jornada final. Mas isso é possível. Sua briga direta é contra o Juventude, 3º colocado, com 20 pontos, e com o São José de Porto Alegre, 5º lugar, que conta os mesmos 19 dos ijuienses (mas fica atrás no saldo de gols: +4 contra -2).

Pois bem, o Ju e o Zequinha se enfrentam num confronto direto. Deixando de vencer o seu jogo, uma probabilidade grande, o São Luiz poderia se deparar com duas hipóteses terríveis: uma derrota sua faria com que um empate de compadres entre Juventude e São José classificasse ambos (iriam, respectivamente, a 21 e 20 pontos, contra 19 dos de Ijuí); um empate seu já deixaria as coisas mais tranqüilas, mas ainda assim o time poderia ser eliminado em caso de vitória do São José (o time atingiria 22 pontos, deixando o Juventude com os mesmos 20 que o São Luiz alcançaria, mas dando aos caxienses a vantagem por terem uma vitória a mais na competição).

Obviamente, a chance de marmelada não vai além de suspeita de torcedor. Juventude e São José farão um confronto de acordo com suas aspirações e, para o interesse de ambos, o melhor sempre será a vitória, evitando assim o 4º lugar e um confronto contra o invicto Grêmio nas quartas-de-final. Aos são-luizenses, portanto, cabe fazer a sua parte, pontuando fora de casa e evitando viver o drama das temporadas passadas, quando só atingiram seus objetivos graças aos resultados paralelos.

Foto da Rádio Progresso de Ijuí.

Gre-No-Li

A Suécia de 1958, sem “No”, mas com “Gre” e “Li”

No Milan, eles foram ídolos. Na Seleção da Suécia, referências do maior período futebolístico daquele país. Por mais de uma década, com a camisa rossonera do clube ou a amarela do selecionado, Gunnar Gren, Gunnar Nordahl e Nils Liedholm formaram um dos trios ofensivos mais afinados dos anos 1940 e 1950: o Gre-No-Li.

Das cinzas da Segunda Guerra Mundial nasceu a consagração. Os Jogos Olímpicos de Londres em 1948 representaram a primeira competição intercontinental de seleções após o conflito. Liderada pelos três, uma Suécia que não entrava de favorita amassou seus concorrentes: 3-0 na Áustria, 12-0 na Coréia, 4-2 na Dinamarca e, pela grande decisão, no velho Wembley, 3-1 sobre a Iugoslávia. Vinte e dois gols em quatro jogos, doze deles na conta do trio, e uma medalha de ouro incontestável. Àquela altura, todos ainda jogavam no futebol de seu país: Liedholm e Nordahl defendiam o IFK Norrköping, enquanto Gren aparecia nas linhas do IFK Göteborg.

A conquista voltou os olhos do continente para o futebol nórdico. Um ano depois, os três nomes mais proeminentes daquela seleção desembarcaram em Milão com a missão simples: fazer o de sempre – gols. Nascia ali o que, para muitos, foi o primeiro grande Milan da história ou, quando menos, um divisor de águas. Antes de Gre-No-Li, os rossoneros tinham apenas três campeonatos nacionais, o último datando de 1907, ainda no período amador. Depois deles, além de dobrar o palmarés, já estavam colocados os alicerces para as glórias internacionais que começariam a vir na década seguinte.

E se o Milan estava buscando gols quando foi atrás das pérolas suecas, bastou a primeira temporada para a confirmação de que o plano daria certo: em 38 rodadas, o time foi às redes 118 vezes – 60% delas em tiros saídos dos pés ou cabeças de Nordahl (artilheiro máximo da temporada 1949/50, com 35 tentos), Gren e Liedholm (18 gols cada). As temporadas arrasadoras para as defesas adversárias se traduziriam em quatro títulos italianos do clube enquanto algum dos representantes do trio estivesse no Milan: em 1951, com todos eles, em 1955, já sem Gren e, finalmente, em 1957 e 1959, quando restava apenas Liedholm.

O sucesso do Gre-No-Li fez de Nordahl o segundo maior artilheiro da história do Campeonato Italiano (225 gols), atrás apenas de Silvio Piola que, entre 1929 e 1954, balançou as redes em 274 ocasiões. Os números do sueco são muito superiores se considerarmos que ele entrou em campo apenas 291 vezes, contra 537 de Piola. Ainda individualmente, Nordahl liderou a tabela de goleadores da Itália em 1950, 1951, 1953, 1954 e 1955.

Na Seleção, porém, foram os outros dois que se destacaram por mais tempo: enquanto Nordahl abandonou o onze nacional logo após a glória Olímpica, Gren e Liedholm permaneceram por toda a década seguinte. Eles representavam os principais símbolos de 1948, e apareciam como inspiradores máximos para que a geração de dez anos mais tarde buscasse algo muito maior que o simples ouro de Londres: o título mundial, dentro de casa.

Para duelar nos estádios de Estocolmo e Gotemburgo, pela Copa do Mundo, a Suécia tinha Gren como o jogador mais velho do time, no alto de seus 37 anos, e Liedholm de capitão. Atrás deles, em campo, havia montado também uma poderosa esquadra, capaz de almejar realmente a Jules Rimet. Deu certo. Frente à sua torcida, os suecos passaram a campanha inteira invictos, mostrando a força habitual na área adversária e evidenciando, também, uma segurança defensiva, sofrendo apenas dois gols nos cinco jogos disputados até a semifinal inclusive.

Precisamente às quinze horas locais do 29 de junho daquele 1958, o país inteiro se pôs a crer que, sim, era possível superar o feito de Londres. Liedholm, eterno, precisou de apenas três minutos para deixar o placar em 1-0 e reforçar as esperanças. Mas o Brasil tinha Pelé, tinha Garrinha. O Brasil tinha Didi e Vavá, Nilton e Djalma Santos. O Brasil tinha uma das maiores seleções de todos os tempos. E o que não teve, nem naquele dia, nem em qualquer outro que viria depois, foi o famigerado “complexo de vira-latas”. Com qualidade e determinação, o título voltaria à América do Sul com um 5-2 em favor da única seleção capaz de sair campeã fora de seu continente.

Hoje, quase cinqüenta anos depois, na Londres do ouro não superado, Brasil e Suécia voltam a campo para comemorar antecipadamente o aniversário daquele jogo. Por aqui, fala-se apenas da conquista brasileira, da maioridade do nosso futebol, atingida naquela decisão. Há o outro lado da história. Um lado que se ilusionou com Gre-No-Li, e se viu capaz de erguer o maior troféu do futebol. O jogo de hoje, para eles, não é uma simples recordação. É o meio século de um sonho destruído.

terça-feira, 25 de março de 2008

O caminho de volta

Denominada Liga BBVA por conta do patrocínio, a segunda divisão espanhola, formada por 22 equipes, avançou mais um pouco no último final de semana, chegando à rodada 30. No topo de uma classificação que só concede acesso aos três melhores, aparecem o Numancia, líder com 60 pontos, e o Málaga, vice, com 56. Os mais prováveis times a subir de divisão, porém, são desimportantes nesta altura. A emoção do campeonato está direcionada para a interminável disputa pela última vaga: na expectativa do terceiro lugar, digladiam-se dois tradicionais.

É uma região pantanosa, onde uma fina linha marcada nas tabelas pode definir toda a história de uma temporada e projetar a próxima. Ali, do terceiro para o quarto lugar, um ponto, um gol, um confronto direto, qualquer mísero detalhe é capaz de diferenciar heróis de fracassados, gloriosos de incertos. No fim de semana, separados por um único ponto, esses dois personagens tão próximos e, ao mesmo tempo tão distantes, se enfrentaram.

Estamos falando do jogo entre a Real Sociedad de San Sebastián e o Sporting de Gijón. A importância das duas equipes para o futebol espanhol é das maiores, e ambas pertencem ao seleto grupo de nove clubes que jamais disputaram divisão inferior à segunda do futebol nacional. Mesmo assim, é preciso relembrar um pouco da história para entender o que estava em jogo naqueles noventa minutos capazes de definir o restante do ano para os dois lados.

Quem não apagou a memória recente certamente recordará da Real Sociedad da temporada 2003, um timaço que disputou o título espanhol até o fim com o Real Madrid, deixando de ilusioná-lo apenas na rodada final, quando confirmou-se a magra diferença de pontos em favor dos merengues: 78 a 76. Faltou competência, porém, para os dirigentes contornarem as crises econômicas e manterem aquela força. Em 2006/07, após 40 anos de primeira divisão, veio o rebaixamento. A história do time basco, rival do Athletic Bilbao, inclui um recheado palmarés: duas Ligas (1981 e 1982), duas Copas do Rei (1909 e 1987) e uma Supercopa da Espanha (1982). Também merece destaque o famoso vice-campeonato de Copa em 1928 – contra o Barcelona, o time perdeu a taça apenas depois de três finais, igualando as duas primeiras em 1-1 e sendo derrotado no embate decisivo por 1-3. Internacionalmente, conta treze participações nas mais variadas copas da Europa.

Com menos taças mas igualmente históricos, os de Gijón, fundados em 1905, são o clube mais antigo da segunda divisão atual. Costumavam fazer célebres clássicos contra o rival local das Astúrias, o Real Oviedo, mas acabaram assistindo ao oponente despencar até a quarta divisão – hoje, os dois times enfrentam-se apenas no Trofeo Principado, disputado na pré-temporada. Antes de ser rebaixado, o Sporting passou 36 temporadas consecutivas na elite, construindo uma tradição copeira, especialmente nos mágicos anos que fecharam a década de 1970 e abriram a seguinte: em 1979, vencendo metade dos 34 jogos disputados na Liga, acabou vice-campeão espanhol, quatro pontos atrás do Real Madrid; em 1981 e 1982, aplicando goleadas históricas, o time atingiu duas finais consecutivas de Copa do Rei, sendo vencido, respectivamente, por Barcelona e Real Madrid. O sucesso dentro do país rendeu ao time seis participações na Copa da UEFA, fazendo-se respeitado para além das fronteiras. Um desastroso 1998, porém, provocou o rebaixamento ainda não superado.

O encontro de sábado entre os dois times, portanto, era muito mais que um enfrentamento de topo de tabela: era a luta para se firmar na zona de retorno à divisão que deveriam disputar por direito. Jogando em El Molinón, seu estádio, o Sporting, até então atrás na tabela, acabou levando a melhor. Com um gol agônico, aos 82 minutos, garantiu um necessário triunfo por 1-0, e deu a volta na classificação: pulou para a 3ª posição, com 50 pontos, e deixou a Real em 4º lugar, parada nos seus 48. Após uma década de dor, vencer o confronto direto fez Gijón voltar a sonhar. Ainda faltam longas doze jornadas, bastando uma para aniquilar as duas unidades de vantagem, mas no fim de semana, após o árbitro sentenciar o final da partida, ninguém queria pensar nisso. Estavam certos de que o fim do caminho de volta nunca estivera tão visível.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Da briga aos gols

Há duas semanas, um dos maiores clássicos da América do Sul, o duelo de Cali entre América e Deportivo, terminou em guerra. O jogo foi marcado pela polêmica desde o início. Complicada, a arbitragem enfureceu os americanos, após marcar uma falta duvidosa que resultou no gol adversário e, no mesmo lance, expulsar um jogador do América. Os ânimos, sempre acirrados em jogos dessa natureza, ficaram à espera de uma fagulha que provocaria a explosão definitiva.

O Deportivo vencia por 1-0 quando aquilo que se temia aconteceu. Das arquibancadas, choviam objetos para dentro do campo, forçando o árbitro a paralisar o jogo. Nas arquibancadas, eclodia um confronto de enormes proporções entre os torcedores arqui-rivais, num incidente que deixaria sete dezenas de feridos. Finalmente, dentro de campo, os times tampouco mostraram espírito esportivo, e o treinador Diego Uemaña, do América, agrediu o técnico do Deportivo, Daniel Carreño, a soco. Aquela partida foi interrompida para não mais se disputar.

Aquela. Clássicos são eternos e sempre há uma próxima vez. No último sábado, América e Deportivo, envergonhados, lamentando a peleja recente, foram à cancha dispostos a substituir o sangue pelo jogo leal. Durante a semana, falou-se que seria um Sábado Santo, sábado de paz, e nada poderia dar outros tons àquela partida. Com a mão na consciência, torcedores e atletas dos dois times foram ao estádio Pascual Guerrero transformar o 262º Clásico Vallecaucano num espetáculo.

Um espetáculo de futebol, em que a briga foi substituída pelos gols. E o América, derrotado no confronto da guerra, triunfou no cenário de paz: em dois minutos, com um tento de Adrian Ramos aos 18, e um pênalti convertido por Luis Tejada, aos 20, o time de vermelho tomou o jogo nas mãos. Os azucareros do Depor tentaram uma reação, mas o confronto era mesmo dos escarlates: Tejada, novamente, agora aos 31 minutos, prenunciou a goleada, que se confirmaria a vinte minutos do apito final, com o segundo gol de Ramos. Na rodada de paz, um glorioso 4-0 aparecia iluminado no placar de Cali. Dessa vez, o massacre foi como deveria ser sempre: na bola.

Futebesteirol no rádio

Ontem, das 14 horas às 15:30, este redator esteve na Rádio Repórter de Ijuí, em participação especial, ao vivo, na prévia da jornada esportiva que cobriria as partidas de Veranópolis e Internacional e, à noite, São Luiz e Guarany. Lá, com o futebol ijuiense em óbvio destaque, falamos também sobre as observações feitas na Europa.

Pessoalmente e em nome do blog, que ajudou a possibilitar tudo isso, fica aqui o agradecimento pela oportunidade.

De cores e símbolos

Lembranças de um São Luiz vermelho

Houve um tempo em que o São Luiz, hoje pálido, era conhecido como “o rubro ijuiense”. Nem é preciso voltar a um passado muito distante para recordar dos dias em que o time do 19 de Outubro entrava em campo trajando o tradicional vermelho, da camiseta aos meiões - a temporada passada foi disputada assim. Mais: o último título do clube, a Segundona Gaúcha 2005, foi conquistada com as cores honradas pelos são-luizenses desde a fundação, há setenta anos.

Mas em 2008 não. Neste ano, o São Luiz tem jogado, invariavelmente, de branco. Por trás da mudança, o radicalismo: pressões de gremistas que se negavam a apoiar uma equipe vermelha, mesmo que fosse a da sua cidade ou região, contribuíram para que a tradição fosse deixada de lado. Inverter o segundo fardamento pelo primeiro na preferência é uma transgressão das maiores e, mesmo assim, para o São Luiz, ficou barato. Por longo tempo, nas rodas futebolísticas de Ijuí, pairaram expectativas de alterações gigantescas na identificação do clube - temas como um novo nome, escudo, e a incorporação de outras cores estavam em pauta.

Isso para não falar dos mais políticos, que optavam por um meio-termo, sugerindo que o então rubro adotasse um uniforme vermelho e branco, como nas origens, e acrescentasse um azul. Pareciam desconhecer a própria história do futebol citadino (lições para eles: 1, 2, 3 e 4), querendo vestir o time nas cores do Grêmio Esportivo Gaúcho, clube licenciado do futebol profissional que, com um tricolor azul-vermelho-branco, rivalizava com o São Luiz em tempos passados.

A estúpida revolução, felizmente, foi travada, mas deixou seqüelas. O São Luiz passa sua temporada 2008 inteira vestindo o branco. Hoje, soa estranho ler uma notícia que conte os feitos do melhor time formado no 19 de Outubro em toda uma década, chamando-o de “rubro”. Tomemos como exemplo simbólico o jogo de ontem, frente ao Guarany: quem era o rubro? Se um cronista ousasse usar o velho apelido do time da casa, seria tomado por daltônico, cego, ou ainda passaria a idéia de que se referia aos bageenses, vestidos de São Luiz. A incongruência forçou Ijuí a mudar a alcunha de seu clube, lentamente, passando a tratá-lo como “alvirrubro”.

Uma mudança insignificante, dirá um provável leitor que não compreende a importância relativa das coisas. Não é para esses que escrevo. Vivemos num Estado orgulhoso de seus símbolos, de sua história. Roubar as cores de um clube, tirar o vermelho vibrante e septuagenário do São Luiz, convertendo-o num colorido pálido jamais identificado com as peleias sobre a terra vermelha do 19 de Outubro, é atentar contra a sua alma, contra todos aqueles que construíram a agremiação ao longo de décadas de batalha. A fase atual é boa, poucos dão relevância a esses “detalhes”, mas fica o alerta: aquele que renega suas tradições, embora não perceba, está matando a si próprio.

Por um 2009 vermelho!

São Luiz 4-1 Guarany

domingo, 23 de março de 2008

Ao grande

Na sua noite, Ronaldo Capixaba comemora com a torcida

Antes do jogo, as promessas de que outras equipes interessadas no confronto dariam incentivos financeiros ao Guarany de Bagé chegaram a causar algum temor. Despropositado. Em campo, veio a justificativa da desastrosa campanha dos bageenses. O São Luiz, que aspira a passagem de fase, e se via obrigado a vencer o saco-de-pancadas do grupo, não teve dificuldade para alcançar o triunfo esperado na partida deste domingo. Desde as 19:30, quando a pelota começou a rolar no 19 de Outubro, até o apito final do árbitro Leonardo Gaciba, sem dar acréscimos em nenhum dos tempos, o que se viu foi um massacre inquestionável.

Em sete minutos se acabara qualquer dúvida quanto à facilidade da partida. Era tempo mais que suficiente para um jogador com fome de bola estufar as redes e sair para a glória: Flavinho, em dias de retorno após longa lesão, usou a cabeça para desviar um lançamento na área visitante e tirar o goleiro adversário do lance. 1-0 e nada de reação pelos lados do Guarany. A partida era fácil; o adversário, morto. E a noite, ainda não se sabia, seria de Ronaldo Capixaba.

No período após a abertura do placar, o time de Bagé continuou a mostrar porque é o pior do Rio Grande do Sul em 2008. O São Luiz mandava em campo, mas a bola, tendo atravessado o arco uma vez, pareceu não querer mais entrar. Houve chute raspando a trave, houve chute na trave, houve tiro desviado com perigo. Mas nada de ver a redonda nas redes. Foi preciso um pênalti para o placar voltar ao seu caminho inevitável, aumentado pelos ijuienses. O cronômetro marcava 37 minutos no momento em que Ronaldo, nome de goleador, números de artilheiro, começou o seu recital, deslocando o goleiro na cobrança da penalidade máxima.

Seis minutos depois, ele apareceria outra vez, para um golazo de antologia. Lançado pela esquerda, não teve problemas para, na corrida, ganhar a jogada, fintar dois marcadores ao lado da área e, ainda em diagonal para o gol, mandar um tiro cruzado, em curva, fatal. Indefensável. Para conter o suposto entusiasmo das malas brancas destinadas a Bagé, um 3-0 no intervalo. O jogo estava ganho ao meio-tempo e, para isso, sequer fora demandado muito esforço. O São Luiz passeava.

E seguiu de passeio na etapa final. Não era o tiki-tiki do River uruguaio mas, aos 60 minutos, uma magnífica troca de passes tirou todos os marcadores adversários da jogada são-luizense. Era lance para se coroar com gol. Gol? Era lance para Ronaldo Capixaba, portanto. Ele recebeu o derradeiro toque daquela bela trama ofensiva e, na frente da área, apenas mandou o esférico no canto esquerdo de um arqueiro que saía desesperado. Seu hat-trick, sua entrada definitiva na lista de máximos goleadores do Gauchão: com oito tentos na competição, igualou Mendes, do Juventude, no topo da artilharia.

Quatro a zero para o São Luiz. Que bem poderiam ser oito, nove ou dez. Bastaria ter mantido o ritmo ou, quiçá, apenas ter mais inteligência na conclusão das jogadas que vieram depois. O próprio Capixaba, talvez enfarado do banquete de gols que tivera, acabou mandando para fora oportunidades que não costuma desperdiçar. Nisso tudo, o Guarany até achou um golzinho de honra, faltando cinco minutos para o apito final, concluindo o 4-1.

Mero detalhe numa noite em que o São Luiz precisava vencer, tinha obrigação disso, e confirmou as expectativas com espetáculo. Se o time passará aos mata-matas ou não, é uma questão que fica pendente até a próxima rodada, a última. Certo é que, no último jogo dentro de casa na primeira fase, a melhor equipe ijuiense da década se exibiu com grandeza.

O universo particular de Carrasco

Assistir a uma partida no Parque Federico Omar Saroldi, na região do Prado, em Montevideo, pode ser um espetáculo único. Na pequena cancha, com capacidade para pouco mais que cinco mil espectadores, e nos estádios em que o Club Atletico River Plate se apresenta como visitante, o futebol volta no tempo.

A disciplina tática, segundo uns, inexiste, e essa é uma das maiores críticas ao ambicioso treinador darsenero. Juan Ramon Carrasco não teme em largar em campo quatro atacantes com liberdade total para praticar o seu tiki-tiki, que consiste em uma troca de passes envolvente e independência criativa: o objetivo é amontoar gols no arco adversário. Atrás, se resolve depois.

O River Plate é a cobaia perfeita para tal revolução futebolística. Em um grande clube uruguaio ou na Celeste, a pressão seria inevitável, e a primeira derrota, o fim do ofensivismo extremo. Pois neste Clausura só se fala em Carrasco e seu moedor chamado River. Em seis rodadas, o rojo y blanco é líder isolado: cinco conquistas e apenas um empate, diante do Peñarol. Vinte e cinco gols marcados, mais de quatro por partida. Apenas quatro tentos sofridos e uma incrível escalada na tabela anual.

Henry Gimenez e o juvenil Urretaviscaya já são apontados como grandes nomes do campeonato e somados marcaram treze gols até a sexta rodada. A campanha já conta com momentos históricos, como o 5-1 de visitante no atual campeão Danubio e massacrantes 7-0 no até então surpreendente Rampla Juniors, para delírio da torcida que lota o Parque Saroldi - e que não quer acordar deste sonho. Carrasco faz o River ilusionar um título, algo impensável há dias atrás. E o sucesso e a magia do tiki-tiki recolocam seu nome na vitrine do futebol internacional. Há tempos atrás se falou no River Plate do outro lado do Rio. Enquanto Simeone continua firme, o River uruguaio de J. R. goleia e persegue com puro futebol a sonhada ponta da tabela.

O ciclo se encerrará?

A atuação não foi das melhores e com o agravante da expulsão infantil de Mascherano, o Liverpool foi derrotado no clássico inglês contra o Manchester United. Os Diabos Vermelhos aplicaram 3 x 0 com Wes Brown, Nani e Cristiano Ronaldo. Com com esta vitória, o Manchester está cada vez mais próximo do titulo inglês.

Já o Liverpool não tem chances de chegar à taça no nacional, e está brigando para conseguir uma vaga na liga dos campeões da próxima temporada. Falando nesta competição, o Liverpool vai bem nesta temporada, mais uma vez é aspirante ao título, passou pela Internazionale de campanha boa no italiano ao natural e, na próxima fase, enfrenta o Arsenal, um adversário difícil e em melhor fase, mesmo tendo perdido um dos destaques da temporada - o brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva.
Ainda assim, as más atuações do time de Benítez no Campeonato Inglês e o possível interesse do Atlético Madrid em contratá-lo para o lugar do instável Javier Aguirre, podem contribuir para a saída deste vitorioso técnico que levou o Liverpool a duas finais de Liga dos Campeões, tendo vencido uma contra o Milan, e perdendo a outra contra o mesmo. No Mundial Interclubes, Benítez e o Liverpool acabaram por subestimar o São Paulo e foram derrotados.

Enfim, a vitoriosa Era Benitez pode estar se acabando no Liverpool, e talvez esta seja a última temporada dele no comando. Os torcedores dos Reds ainda esperam por um título em 2008. É provável, pois para o Liverpool nada parece impossível.

Perfil: Romeu

Com 23 anos completos, o baiano Romeu Pereira dos Santos se inclui na nova safra de volantes brasileiros. Formado pelo Fluminense, o jogador tem boa altura (1,79 m) e se encaixa no típico "segundo volante" surgido nas Laranjeiras: bom passe, toque curto, ofensivista e "cercador". Isso mesmo, Romeu raramente desarma, mas cerca, marca...
Para parte da torcida do Flu
, o jogador não merecia estar clube, porém muitos se recordam dos bons momentos dele, em 2006, e da boa atuação no quarto Fla-Flu do ano passado. Pessoalmente acredito que Romeu seja o "bom reserva".

Seu perfil, observado em entrevistas, é de um jogador que não fala muito. Romeu jamais seria um bom capitão. Por outro lado, não parece ser um jogador que cede à pressão de torcida ou estádio. Novamente repito, se encaixa no típico "segundo volante" formado nas Laranjeiras.
Para provar minha tese, observe outros três atletas da mesma posição formados no clube: Radamés, que de diferença possui mais "raça", Arouca e Fernando, irmão de Carlos Alberto, atuando no Goiás.
Dificilmente o volante chegará a um grande clube europeu. O desejo do Tricolor sempre foi envolvê-lo em transações ou emprestá-lo para fazer vitrine. PC Gusmão, ex-técnico do Flu define Romeu como "um Mauro Galvão mais avançado". O banco ainda aguarda Romeu.

Nunca o fim esteve tão próximo

O sofrimento futebolístico passa, dizem muitos, baseados em fatos históricos ou não. A famosa má fase não pode ser eterna, é verdade, mas pode ser trágica e apagar parte das glórias de clubes de monumental grandeza. É o caso do Racing Club, de Avellaneda. Um dos mais apaixonantes quadros argentinos, o primeiro campeão do mundo do país e o dono da mais fiel das torcidas portenhas, dizem, quiçá, os mesmos muitos.

Pois esse Racing está de luto. O antes temido e campeão esquadrão, nestes tempos não é mais levado a sério nem pelo Olimpo de Bahía Blanca, e um empate sem gols no Monumental de Nuñez, fruto de um retrancão, virou ''resultado honroso''. E a histórica ''La Academia'', que vem de falência, administrações conturbadas, protestos, violência e nenhum resultado em campo sofreu mais um triste golpe em suas páginas.

Peleando para escapar do rebaixamento, o adversário deste sábado era o forte Estudiantes de La Plata, um leão que só pelo rugido impressiona o pobre Racing de hoje. Mas a noite parecia trazer acontecimentos menos sinistros do que os habituais. E o 1-0 chegou com Claudio Fileppi. Mas a sina não morreria com tamanha facilidade. E o fado do Racing Club prosseguiu, com gols de Galván e Lazzaro que transformaram o placar para 1-2.

A decepção e a fúria com mais um revés ocasionaram três expulsões, um exagero, com vem sendo a desgraça dos últimos anos. Após o derradeiro cartão vermelho - de Maxi Moralez, grande contratação para a temporada -, a torcida, contagiada pelo desespero que vinha de dentro da gramado, revoltou-se com violência, e a partida foi suspensa para evitar transtornos maiores.

É difícil imaginar situação mais calamitosa que a atual, mas duvidar da má fase agora poderia simplesmente ser o último capítulo de uma história admirável. E o rebaixamento, o fim.

sábado, 22 de março de 2008

Os pênaltis, novamente

Em setembro, atentávamos para a festa que os clubes pequenos iam fazendo na recém-criada Copa da Liga de Portugal, a Carlsberg Cup. O torneio, com um regulamento sem prorrogações, garantindo desempate por pênaltis logo após igualdade no tempo normal, permitia que as mais improváveis equipes conseguissem sucesso contra os grandes.

O Porto caiu logo no início, derrubado pelo apenas esforçado Fátima. Poucas jornadas depois, foi a vez do Benfica dar adeus à esperança de conquistar o novo torneio. A Copa da Liga avançou até que, quando se chegava enfim na esperada fase semifinal, aquela disputada em um quadrangular, podendo favorecer os clubes maiores, apenas o Sporting aparecia como sobrevivente do trio que manda no futebol do país. Vitória de Setúbal, Penafiel e Beira-Mar completavam a chave, fazendo com que a possibilidade de zebra voltasse a pairar no ar: um deles fatalmente iria à decisão, em campo neutro, em jogo único, sem prorrogação.

Duas vitórias e um empate nos três jogos, incluindo aí um triunfo sobre o próprio Sporting, por 1-0, credenciaram o Vitória à finalíssima. O time de Setúbal não é o que se poderia chamar de “pequeno”: o clube já figurou algumas vezes com o vice-campeonato da Liga nacional, além de ter em seu histórico três Copas de Portugal, a última delas vencida em 2005. No entanto, tampouco é um gigante, e tinha ao seu lado o fator inesperado.

Hoje foi o dia da decisão, em Algarve. Era também um encontro dos leões sportinguistas com seus fantasmas: se o time vive uma época ruim e confiava no título para amenizar a situação, parte considerável da culpa vai para o próprio Vitória, hoje empatado em pontos com os de Lisboa, na 4ª colocação. E, uma vez mais, o Sporting esteve assombrado. Conseguiu dominar a posse de bola no primeiro tempo, mas criar oportunidades era pedir demais. O time falhava. E, falhando, deu chances para os oponentes crescerem.

Liderado por um Cláudio Pitbull inspirado, o Vitória de Setúbal saiu do seu reduto defensivo na etapa complementar. Logo no quinto minuto, o brasileiro acertaria uma cobrança de falta na trave. Pouco depois, outra chance desperdiçada, agora por Bruno Gama, deixou a idéia de que o primeiro gol da decisão não tardaria. O passar do tempo acabou dando outra tônica ao embate: os pênaltis se aproximavam, o Vitória gostava e, assim, apenas afastava o perigo que rondava a sua meta; o Sporting, desesperado e sabendo que a loteria poderia lhe tirar a taça, foi ao ataque na garra, mas sem inteligência.

O 0-0 permaneceu. E a glória, definitivamente, deu adeus aos de Lisboa. Legendário, o goleiro Eduardo parou três tiros dos leões, pondo no placar o 3-2 favorável aos de Setúbal. Eles eram os primeiros donos do novo título. Os pênaltis novamente derrubaram um grande na Copa da Liga.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Alento

No início da temporada espanhola, o Valencia, como grande clube, era colocado em todas as listas de favoritos ao título da Liga. Foi necessária apenas a primeira rodada da competição acabar para as dúvidas, uma constante neste 2007/08, terem início. Naquele 28 de agosto, em pleno Mestalla, o Villarreal passeou e bailou por 0-3. Desde lá, todos os ensaios de reação mostrados pelos valencianos tiveram o triste fim de se acabarem como enganosos.

A Champions League, sonho antigo, foi um verdadeiro fracasso. Uma única vitória em seis jogos, duas derrotas contra o fraco Rosenborg norueguês e o patético último lugar do grupo – que tirava dos espanhóis até a consolatória vaga na Copa da UEFA, destinada aos terceiros colocados. Na Liga, aquela em que se entrara com favoritismo, as coisas tampouco iam bem. Mais vexames, como os 1-5 sofridos dentro de casa para o Real Madrid, em outubro, resultaram numa campanha que, hoje, conta 12 derrotas em 28 jogos, e não passa de um reles 10º lugar na classificação.

Jogadores simbólicos do elenco, como Angulo e Cañizares, foram afastados pela comissão técnica. Desesperados, os torcedores clamavam por mudanças. Nas gradas do Mestalla, o cântico “Koeman vete ya”, pedindo a saída do treinador Ronald Koeman, foi convertido no hit do futebol espanhol pelos dois primeiros meses de 2008. Da mesma forma, o presidente Juan Soler era alvo de todas as críticas possíveis – sobre ele, no poder desde outubro de 2004, dizia-se que pegara um clube campeão nacional e da Copa da UEFA e transformou num candidato ao rebaixamento.

Toda a pressão foi inútil para trazer resultados mais convincentes. No dia 12 deste mês, três dias depois de ver o Valencia entregar o empate em casa para o Deportivo num jogo que vencia por 2-0, o desgastado Soler apresentou sua demissão do cargo. O fato, ainda que esperado há tempos, caiu feito uma bomba e pôs em dúvida o fim da temporada valenciana. Estaria o time perdido irremediavelmente até o meio do ano?

Pois havia uma esperança. Enquanto os objetivos eram destruídos por sucessivas derrotas, o Valencia sobrevivia silenciosamente na Copa do Rei. Dentro do clube, com razão, diziam que o torneio eliminatório era um parêntese dentro de tudo o que estava se vivendo. Poucos levaram aquilo a sério – na próxima fase, haveria de surgir um adversário capaz de superar aquela equipe desarrumada. Foi assim, em descrédito, que os de Koeman superaram a Real Unión de Irún, o Betis, o Atlético de Madrid. Em meio às ruínas de sua temporada, atingiram as semifinais da Copa, ficando a três jogos de um troféu nacional.

Pensava-se que o tal adversário superior apareceria finalmente, encarnado na figura do Barcelona. Não apareceu. Tanto no Camp Nou como no Mestalla, os catalães foram dominados, inferiores, e jamais tiveram chances de vencer o confronto. Na ida, dentro de casa, conseguiram empatar por 1-1 graças a um gol marcado no último minuto. Ontem, inapelavelmente, levaram 3-2 como visitantes. No seu 2007/08 desgraçado, o Valencia consegue atingir sua impensável final de Copa do Rei, ficando a 90 minutos de uma taça a ser disputada com o Getafe. O título, agora tão próximo, não tem a mesma grandeza da Liga, cogitada no início da temporada, mas é um doce alento para torcedores que não sonhavam mais.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O gigante Carquefou

O maior destaque da rodada de Copa da França não foi nem de Arles, nem de Amiens, nem de qualquer equipe da primeira, segunda ou terceira divisões. Nenhum clube, em qualquer recanto da França, foi capaz de feito mais notável do que um ilustre desconhecido que tem se agigantado: o Union Sportive de la Jeanne d'Arc de Carquefou.

Poucos falariam do Carquefou em condições normais. Jogando apenas a CFA 2 francesa, segunda divisão da liga amadora do país e quinta divisão geral, o clube está acostumado ao desinteresse, aos públicos pequenos e aos jogos menores. Entretanto, tem vivido dias revolucionários e históricos nesta temporada. Ontem, em mais uma jornada atípica, foi recebido por quase 40 mil espectadores no Stade de La Beaujoire, em Nantes. Era um público inflado por torcedores de toda a região, orgulhosos dos constantes exemplos de superação proporcionados pela equipe, ansiosos por mais um feito do Carquefou: nas fases anteriores, o time já havia eliminado o Gueugnon, da segundona, e o Nancy, da primeira divisão.

Mas ontem era um jogo especial, simbólico. O adversário era o poderoso Olympique Marseille - maior clube de futebol da França, embora viva anos amaldiçoados, sem títulos. Em qualquer circunstância, vencer o Olympique tem um sabor especial. Sendo um time amador, da quinta divisão, reescrevendo sua história, triunfar toma ares antológicos. E o Carquefou precisou de apenas sete minutos para triunfar. Apenas sete minutos para N'Doye colocar a bola nas redes e fazer a lenda.

Com os acréscimos dos dois tempos, seguiriam-se ao gol outros 86 longos minutos. Nada serviu para que o Olympique pudesse evitar o fracasso, o 1-0 definitivo. A vitória de ontem tornou os jogadores do Carquefou celebridades nacionais instantâneas. O feito, no entanto, é daqueles que cresce com o passar do tempo. As décadas não serão capazes de apagar a monumental vitória dos amadores sobre o maior clube do país - pelo contrário, apenas darão um ar ainda mais épico à surpresa. No futuro, quando for preciso tomar um exemplo de superação futebolística, toda a França lembrará do gigante Carquefou.


O gol para a eternidade


A emoção do minuto final, numa sempre gloriosa filmagem amadora

* * *

Todos os resultados das oitavas-de-final da Copa da França (entre parênteses, a divisão que a equipe disputa)

PSG (1) 2-1 Bastia (2)
Sedan (2) 2-0 Angers (2)
Dijon (2) 3-1 Tours (3)
Lyon (1) 2-1 Sochaux (1)
Bordeaux (1) 2-0 Lille (1)
Lorient (1) 0-1 Metz (1)
Amiens (2) 1-1 Arles (3) [4-2]
Carquefou (5) 1-0 Olympique Marseille (1)

Arles fora

Para muitos clubes, não seria dos jogos mais difíceis: o time da casa era apenas o Amiens, fraco 15º colocado da segunda divisão francesa. Em tese, uma partida simples. Mas, no jogo de ontem, válido pelas oitavas-de-final da Copa da França, o visitante era ainda mais fraco: o Arles, cuja classificação na fase anterior fora acompanhada in loco pelo blog, precisava romper o descrédito de ser um time da terceira divisão e repetir a surpresa de um mês e meio atrás. Como um semi-amador, teria que bater outra vez um adversário profissional, a exemplo do que fizera contra o Niort. Com um agravante: na etapa anterior do torneio, havia jogado em casa.

Era preciso mais que uma torcida contrária para assustar um time que chegava tão longe na Copa pela primeira vez em trinta e cinco anos. Aquelas insistentes vozes da pequena cidade do sul da França que sempre apoiaram a equipe - "allez les bleus, allez Arles!" - mereciam uma entrega até a última gota de suor. E assim outra classificação improvável começou a se desenhar. Com 23 minutos de bola rolando, Poirier deixou o placar em 0-1. Estava feita a festa. Agora, chutões para todos os lados e resistência.

Resistência... pareceu tão simples manter o placar do time local zerado durante o jogo inteiro. Quem haveria de pensar que, no último lance do embate, tudo poderia se perder? Os jogadores do Amiens pensavam. E buscaram com ímpeto e desespero aquele empate que os livraria do vexame, da eliminação. Falharam miseravelmente durante o jogo inteiro, mas venceram a guerra de nervos dos minutos finais. Resistência dos visitantes? Insistência dos locais. No minuto 90, Buengo achou o tento salvador. O estádio foi tomado de um entusiasmo indescritível, e nem mesmo a prorrogação sem gols foi capaz de diminuir isso.

Nos pênaltis, bem diferente daquela partida contra o Niort (quando acertara nove em dez), faltou precisão ao Arles. Mais tranqüilo, o Amiens fez 4-2 desde os onze metros, selando sua classificação.