quarta-feira, 27 de maio de 2009

... onde grunhe um urutau

TEXTOS: Iuri Müller e Maurício Brum
FOTO: Iuri Müller

A segunda parte desse CLÁSSICO INSTANTÂNEO que é a análise da primeira fase da Segundona Gaúcha de 2009:


CHAVE 1

1º Bagé – 31 pontos
14 jogos, 10 vitórias, 1 empate, 3 derrotas, 25 gols feitos, 11 sofridos
Maior vitória: Bagé 5-1 Flamengo (05/04)
Pior derrota: Bagé 0-1 Pelotas (21/05)

O ano do Bagé até aqui é de complicada descrição. Inefável, diria Nelson Rodrigues. Como expressar em poucas linhas ("tente não passar de dez, Iuri") todo um ESTADO DE ESPÍRITO do jalde-negro que vê o seu time levantar a taça de um CITADINO - nos moldes daqueles históricos que deixam saudades - depois de vencer o rival COTIDIANO, o Guarany, numa série de QUATRO JOGOS, sendo a última vitória no Estrela D'alva, o TEMPLO do inimigo? Tão inviável quanto é medir a NERVOSA EUFORIA do mesmo bajeense que comemorou o municipal terminada esta primeira fase da Segundona. O Grêmio Bagé ACHINCALHOU o Guarany determinando a PODEROSA E REDONDA vantagem de QUINZE pontos sobre o rival. Os números do já naturalmente agressivo Bagé sugerem um PAVOR generalizado dos desafiantes daqui para frente. (IM)

2º Pelotas – 31 pontos

3º Rio Grande – 21 pontos
14 jogos, 6 vitórias, 3 empates, 5 derrotas, 20 gols feitos, 20 sofridos
Maior vitória: 14 de Julho 1-3 Rio Grande (02/04)
Pior derrota: Pelotas 4-0 Rio Grande (10/05)

O clube mais velho do Brasil em atividade perdeu EXIGÊNCIA nesses longos CENTO E NOVE outonos de existência. O redator do site oficial do clube descreveu a razoável campanha do terceiro colocado do Grupo 1 como EXCEPCIONAL. CORROBORAMOS com o RAPAZ se o critério utilizado foi simples e unicamente encerrar a fase na frente do rival. E, de fato, o Rio Grande superou o São Paulo em cinco unidades. Pouco para quem veste uma REMERA com as cores da sua PÁTRIA. O vovô, entretanto, poderá se redimir caso complique a esperada hegemonia do Glória na Chave 6. Enquanto as pelejas não retornam, o clube aproveita para FESTEJAR A VIDA. Hoje, por exemplo, o Rio Grande lançou a PUBLICIDADE de uma épica festa junina no DTG RINCÃO DAS DUNAS, a ser realizada no dia 20/06. (IM)

4º São Paulo de Rio Grande – 16 pontos

5º Guarany de Bagé – 16 pontos
14 jogos, 4 vitórias, 4 empates, 6 derrotas, 14 gols feitos, 17 sofridos
Maior vitória: Flamengo 1-3 Guarany (09/05)
Pior derrota: 14 de Julho 3-0 Guarany (19/04)

Não fossem BAJEENSES, os torcedores do Guarany teriam entrado em crise existencial, questionado-se sobre a justiça do mundo e cogitado, dia após dia, atirar-se sob algum carro que cruzasse a Avenida General Osório. Enquanto o Guarany estendia sua sina de não vencer por SETE RODADAS (da segunda, a 15 de março, à oitava, em 19 de abril), o arquirrival Bagé seguia caminho exatamente oposto: no MESMÍSSIMO PERÍODO, encadeou sete partidas consecutivas sem derrota. O time do Estrela D’Alva ainda caiu nos dois clássicos Ba-Guas (2 a 1 fora e 0 a 1 em casa), perdendo o Campeonato Citadino, recriado neste ano. Mas como falamos de bajeenses, as sucessivas PEDRADAS desferidas no orgulho dos aficionados foram menos efetivas que um Tcheco jogando de volante, ninguém esmoreceu e o Guarany até conseguiu passar de fase com uma rodada de antecedência. Foi o que valeu. Quando saiu campeão da Segundona, em 2006, o time também superou a primeira fase pegando a penúltima vaga de um grupo vencido pelo Bagé. O fato de a diferença para o líder ter sido bem menor daquela vez (dois pontos) é IRRELEVANTE. (MB)

6º Flamengo de Alegrete – 16 pontos
14 jogos, 4 vitórias, 4 empates, 6 derrotas, 20 gols feitos, 31 sofridos
Maior vitória: Flamengo 4-2 14 de Julho (15/03)
Piores derrotas: Pelotas 4-0 Flamengo (21/04), 14 de Julho 4-0 Flamengo (17/05)

Do povoado ENTRINCHEIRADO entre CACEQUI e URUGUAIANA e que PARIU gênios SUTIS como Mario Quintana e gente mais bagual, caso de Neto Fagundes, aterrissou na Segundona, de forma brusca, o já IMPONENTE Flamengo de Alegrete. Os primeiros domingos dos alegretenses na competição foram ensolarados. Nas três primeiras rodadas, vitória em Rio Grande, goleada no 14 de Julho em seu estádio, o FARROUPILHA, e um honroso e cumpridor empate como visitante diante do Guarany. A trajetória dava indícios de que GRANDES REALIZAÇÕES estariam na ESTRADA DE CHÃO que é o destino do Flamengo. Mas foi só. Findas as partidas iniciais, o Flamengo muito apanhou. O esperado FEITO SURPREENDENTE foi contraditório: o rubro-negro encerrou a primeira fase com a pior defesa da competição, contabilizando TRINTA E UMA punhaladas. Classificou-se na última rodada, clamando por AR. O BLOG OFICIAL do Flamengo dá uma versão para a derrocada do time: a arbitragem gaúcha estaria PERSEGUINDO o quadro de Alegrete. (IM)

7º 14 de Julho – 14 pontos

8º Farroupilha – 11 pontos
14 jogos, 2 vitórias, 5 empates, 7 derrotas, 11 gols feitos, 19 sofridos
Maior vitória: São Paulo 1-3 Farroupilha (10/05)
Pior derrota: Bagé 3-0 Farroupilha (29/04)

A dura rotina do Grêmio Esportivo Farroupilha é a do esquecimento. Sem cerimônia, é olvidado em seus próprios domínios. Enquanto os demais interioranos sofrem com o BANHO DE HIERARQUIA imposto pela dupla Gre-Nal, o Farrapo jaze abandonado no Nicolau Fico, erguido no enorme bairro Fragata - e dentro de sua própria cidade é ofuscado pela popularidade de Pelotas e Brasil. A melancolia do Farroupilha, inexplicavelmente, me fascina. Mas em 2009 a oportunidade de ver o fantasma pelotense em campo não chegará. Na primeira fase, triunfou em míseras duas tardes, encerrando a sua efêmera participação na lanterna do Grupo 1. Acompanhará o DESENLACE da Segundona mateando ao som de uma MILONGA TRISTE, como a de Piazzolla. (IM)

CHAVE 2

1º Porto Alegre – 22 pontos

2º Aimoré de São Leopoldo – 21 pontos
12 jogos, 6 vitórias, 3 empates, 3 derrotas, 16 gols feitos, 10 sofridos
Maior vitória: Aimoré 3-1 Cerâmica (16/05)
Pior derrota: Cruzeiro 2-0 Aimoré (25/04)

Meio século atrás, não era o Porto Alegre, mas o Aimoré quem sonhava em desbancar as torcidas de Gre e de Nal, esses times de pouca fé que jamais experimentaram uma MATEADA à beira duma cancha da Segundona. Deu-se em 1956 um tal concurso da Pepsi, que presentearia um ÔNIBUS ao time cuja torcida recolhesse mais tampinhas de GASOSA – uma competição para definir, informalmente, quem tinha o maior número de aficionados no Rio Grande. Com uma diferença de mais de TRÊS MILHÕES de tampas a seu favor, o Índio Capilé de São Léo embasbacou os capitalinos e levou o possante. Algumas versões que DESACREDITAMOS VEEMENTEMENTE dizem que a maior parte das tampas foi recolhida num BANHADO em Guaíba, onde a Pepsi despejava lixo. Bobagem. O Aimoré só não segue com a maior hinchada gaúcha porque, MISERICORDIOSO com a concorrência, fechou o departamento profissional na década passada e só voltou três anos atrás. Mesmo com menos apoiadores, avança BRIOSO E TEMÍVEL rumo à elite. (MB)

3º Rio Pardo – 18 pontos
12 jogos, 5 vitórias, 3 empates, 4 derrotas, 14 gols feitos, 12 sofridos
Maior vitória: Rio Pardo 3-0 Brasil (09/05)
Pior derrota: Aimoré 2-0 Rio Pardo (18/04)

Fundado há exatos seis meses (27 de novembro de 2008), o Rio Pardo NEM SAIU DAS FRALDAS e já entendeu que, para entrar nesta chave, precisava ter alguma ILUSÃO. No bom sentido de ilusão, aquele que remete a sonho, não a alienação. A ilusão do Rio Pardo é subir no ano de estreia, e fazer em campo o que os soldados faziam do alto da Fortaleza de Jesus, Maria e José, localizada no município, aquela que nunca foi derrotada – e por isso entrou para a história como TRANQUEIRA INVICTA. Projetando seriamente, em especial as categorias de base, o clube ainda tem um bom pedaço de pampa para cavalgar antes de alcançar a grande coxilha sobre a qual um bom TAURA consegue TOCAR O CÉU. Enquanto o time ainda pisoteia as ervas do chão, os torcedores divertem-se em lotar o estádio e ridicularizar equipes como o Cruzeiro de Porto Alegre – que, como disse um ANCIÃO quando estive lá, “só botam cem pessoas no estádio”. (MB)

4º Cerâmica de Gravataí – 17 pontos

5º Brasil de Farroupilha – 17 pontos
12 jogos, 5 vitórias, 2 empates, 5 derrotas, 14 gols feitos, 19 sofridos
Maior vitória: Cerâmica 0-4 Brasil (02/05)
Pior derrota: Cruzeiro 5-0 Brasil (07/03)

O BRASIL FARRAPO, com toda a contradição que essa alcunha (que não existe, mas me empenho em popularizar) carrega, precisou de noventa minutos de futebol na Segundona para ver que a temporada do seu 70º aniversário exigira mudanças radicais para merecer alguma comemoração. Na estreia, a 7 de março, o time caiu por 5 a 0 para o Cruzeiro, em Porto Alegre. Uma semana depois perdia dentro de casa para o São Gabriel. Sua campanha nunca foi totalmente boa. Grande vitória, só a ANÔMALA de 0 a 4 sobre o Cerâmica, que não serviu para sumir com as assombrações e foi seguida por duas derrotas. Salvou o Brasil a tabela espelhada, que no fim das contas o colocou diante dos algozes do começo, o São Gabriel e o Cruzeiro, garantiu duas vitórias seguidas (1 a 2 fora e 1 a 0 em casa, respectivamente), e o levou à próxima fase. Agora deverá ser SURRADO por muitos. (MB)

6º Cruzeiro de Porto Alegre – 14 pontos

7º São Gabriel – 8 pontos
12 jogos, 2 vitórias, 2 empates, 8 derrotas, 14 gols feitos, 21 sofridos
Maior vitória: São Gabriel 2-1 Cruzeiro (17/04)
Pior derrota: Porto Alegre 2-0 São Gabriel (06/05)

Alguém lembra da crônica sobre o Murilinho? Luis Fernando Veríssimo, gente. Enfim. Num dos seus textos, Veríssimo falava de um certo Murilinho, um personagem de quem vários contavam coisas para Ângela, que só foi conhecê-lo pessoalmente mais tarde. Por algum motivo que não importa, os dois acabaram namorando e, apesar de o Murilinho viver aprontando e ser absurdo que algo entre eles desse certo, casaram-se. Perguntada sobre como era ser a mulher do Murilinho, Ângela respondia da mesma forma que ele próprio havia feito anos antes, quando da primeira vez que o viu e perguntou se ele era ele: “ALGUÉM TEM QUE SER”. Num grupo em que seis dos sete times passavam de fase, uma PAPINHA DE CENOURA, alguém também TINHA que ser o eliminado. Sobrou o melancólico São Gabriel, que apenas cinco anos atrás vencia o Palmeiras pela Copa do Brasil (com dois gols de ALÊ MENEZES e pegando pênalti aos 90+7 minutos) e hoje é isso aí. (MB)


CHAVE 3

1º Glória de Vacaria – 33 pontos
14 jogos, 10 vitórias, 3 empates, 1 derrota, 27 gols feitos, 8 sofridos
Maior vitória: Glória 6-0 Atlético (06/05)
Pior derrota: Panambi 3-1 Glória (30/04)

Dos campos frios de Vacaria vem o ataque mais goleador, a defesa mais consistente e o melhor aproveitamento da primeira fase da Segundona. O Glória passou sobrando no Grupo 3, e intimidou com vitórias expressivas os que buscaram dificultar a sua liderança, como o AUDAZ Riograndense. Os VACARIANOS agradariam inclusive aos adeptos do MODELO DE GESTÃO de Flávio Obino, já que contam com o melhor site entre os clubes participantes. Lá, além de exibir o perfil dos destaques individuais na campanha vitoriosa de então, como o arqueiro Marcelo Pitol e o centroavante Giancarlo, o visitante é apresentado a DELEITOSOS episódios passados no estádio Altos da Glória, onde era possível assistir ao espetáculo de dentro do carro. A exitosa campanha garantiu ao Glória a presença na chave mais fraca da segunda fase, em que deve avançar sem maiores EMBARAÇOS. (IM)

2º Riograndense de Santa Maria – 27 pontos
14 jogos, 8 vitórias, 3 empates, 3 derrotas, 20 gols feitos, 10 sofridos
Maior vitória: Riograndense 4-0 Milan (21/03)
Piores derrotas: Santo Ângelo 1-0 Riograndense (25/03), Panambi 1-0 Riograndense (09/04), Glória 1-0 Riograndense (26/04)

A melhor campanha desde que voltou a disputar a Segunda Divisão o Riograndense já assegurou. Controlou bem a honrosa segunda colocação do Grupo 3 e já cravou algumas certezas. A mais clara delas é a harmonia entre time e torcida, elevada após o RIO-NAL DOS BALÕES. A segunda é a consagração de Bonaldi. O capitão do Periquito, que já merece estar no restrito BAÚ dos mais respeitados beques do Rio Grande, ganhou até a admiração de certos FORASTEIROS. Observando o MATCH entre Grêmio e Botafogo em um bar randômico, notei um interessante comentário em meio ao burburinho tradicional dos aglomerados esportivos. Um indivíduo ponderava para um amigo, após uma engrossada da defesa tricolor: "Acho que aquele alemão do Grandense cabia certinho nesse time do Grêmio. O Autuori tem de estar de olho." O Riograndense deverá disputar com Bagé e Rio Pardo o acesso à terceira fase da competição - e leva LIGEIRA vantagem por contar com o mítico VAINER no plantel. (IM)

3º Santo Ângelo – 22 pontos
14 jogos, 6 vitórias, 4 empates, 4 derrotas, 19 gols feitos, 15 sofridos
Maior vitória: Santo Ângelo 4-0 Lajeadense (09/04)
Piores derrotas: Atlético 2-0 Santo Ângelo (03/04), Lajeadense 2-0 Santo Ângelo (21/04)

A maior alegria da SER Santo Ângelo é ser rival do MEU SÃO LUIZ. A segunda maior alegria da SER Santo Ângelo era ter MAZARÓPI como treinador para esta temporada. Com o São Luiz na primeira divisão e os missioneiros na Segundona, quase não há oportunidades para reviver a rivalidade. Com os resultados pouco convincentes de boa parte da campanha, caiu o Mazarópi. Ou seja, só ficou um clube infeliz, PODE FECHAR AS PORTAS. Todas essas linhas são escritas com um ódio desmedido e sem sentido, já que o Santo Ângelo sempre foi mui valoroso e leal representando o futebol dos ARREDORES DE IJUÍ. Mas são fruto da minha irritação com essa história de ah-vocês-caíram-então-somos-todos-amiguinhos-até-estarmos-de-novo-na-mesma-divisão, que ARRANCOU OS OVOS do Clássico Noroeste/Missões, o MAIOR DA TERRA. Primeiro foi o Santo Ângelo que agiu assim, solidário com o rebaixamento são-luizense, em 2003. Dois anos depois, com a SER também na Segundona, foi o São Luiz que passou a mostrar essa postura ao subir para a elite. No futebol a raiva pode ser saudável, faz querer mais. Então, como ESTÍMULO, registre-se que os das Missões não fizeram mais que uma campanha MÉDIA E SEM SAL. E nem ganharam do Atlético. (MB)

4º Panambi – 19 pontos

5º Três Passos – 17 pontos

6º Lajeadense – 15 pontos

7º Atlético Carazinho – 11 pontos
14 jogos, 2 vitórias, 5 empates, 7 derrotas, 13 gols feitos, 31 sofridos
Maior vitória: Atlético 2-0 Santo Ângelo (03/04)
Pior derrota: Glória 6-0 Atlético (06/05)

Dá para começar dizendo que o lanterna Milan venceu o Atlético nas duas vezes em que o enfrentou. Dá para continuar lembrando que praticamente todos os demais times do grupo venceram ao menos uma vez – e que o único time que não foi capaz de derrotar os carazinhenses, o Santo Ângelo, mandou o treinador Mazarópi embora após o segundo jogo sem sucesso. O Atlético do atacante BALAIO foi o pior dos tantos times que vi na Segundona, teve o segundo ataque mais pífio e a defesa mais furada do certame, mas respirou até a rodada derradeira. Aí emputeceu e resolveu assinar a sua EUTANÁSIA: mandou meio elenco embora e ESCALOU JUNIORES para o confronto direto que valia a sobrevivência, contra o Lajeadense. Levou insólitos 6 a 1 e foi eliminado. Torcedores aliviados e adversários saudosos, a última imagem dos catimbeiros de Carazinho no ano em que retornavam ao profissionalismo após 12 temporadas de licença. (MB)

8º Milan de Júlio de Castilhos – 10 pontos

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A análise dos demais times da Segundona você encontra NESTE LINK. Os grupos da segunda fase serão:

Chave 4: Bagé, Cruzeiro, Rio Pardo, Riograndense, São Paulo, TAC
Chave 5: Cerâmica, Guarany, Lajeadense, Pelotas, Porto Alegre, Santo Ângelo
Chave 6: Aimoré, Brasil, Flamengo, Glória, Panambi, Rio Grande

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