domingo, 30 de agosto de 2009

FC Rio Pardo, duzentos e setenta e seis dias depois

Um clube fundado há menos de um ano está fazendo ESVOAÇAR as certezas sobre o seu futuro, o seu curto passado, e até mesmo o seu TERRITÓRIO. O Futebol Clube Rio Pardo, nascido de um parto NATURAL ainda que INCOMUM no dia 27 de novembro de 2008, entrou na Segundona com um projeto amplo, almejando a subida de divisão logo na temporada de estreia e buscando uma identificação com a cidade que o sediava. Agora, abre o segundo semestre mandando seus jogos na improvável cidade de Três Coroas, a mais de duzentos quilômetros de Rio Pardo.

A história não recebeu muito destaque nas páginas esportivas dos PERIÓDICOS mais lidos destes CONFINS entre as planuras e as serras do sul do mundo, mas aqui no Futebesteirol o andar do Rio Pardo foi observado de maneira mais aproximada. Tabajara Ramalho de Andrade, um dos fundadores e presidente da agremiação, concedeu entrevista em maio explicando o que se tinha em mente ao fazer a equipe. Falava de um projeto da administração municipal para iniciar o futebol profissional por lá e um convite para liderar o novo clube.

As dificuldades típicas de um quadro do interior, no entanto, foram enterrando os sonhos do auriverde da terra da Tranqueira Invicta durante a Segundona. Com a falta de dinheiro, os jogadores descontentes ameaçaram o comando do clube com greves. Segundo fonte de dentro do próprio elenco, os atletas disseram se recusar a entrar em campo caso Tabajara não fosse afastado. Ainda exigiam o retorno imediato do treinador Marcão, que saíra do Rio Pardo sob acusação oficial de estar apresentando, fora de campo, conduta antiprofissional.

Quando o Rio Pardo foi a Santa Maria enfrentar o Riograndense pela Segundona, a situação dos verde-amarelos era esta: um Tabajara longe do clube – de acordo com alguns rio-pardenses, por pressão da própria Prefeitura da cidade – e um Marcão de volta. A interrupção do trabalho do treinador custara caro e a equipe não conseguiu recuperar a campanha pífia no período em que a casamata teve ocupantes incertos. Foi eliminada na segunda fase do certame, mas seguia com o planejamento anunciado desde o princípio por Tabajara: disputar a Copa Arthur Dallegrave no segundo semestre, dando cancha aos talentos mais jovens.

Como o tempo de seu mandato segue, Tabajara nunca esteve realmente desligado do Rio Pardo. Embora o afastamento tenha de fato ocorrido, por razões que variam de acordo com quem conta, e a presidência hoje seja ocupada provisoriamente pelo vice José Faustino dos Santos, ele segue ativo a encabeçar o auriverde. Ontem, durante o Radar Esportivo, pela Rádio Universidade de Santa Maria, eu e a Laura Gheller entrevistamos Tabajara Ramalho de Andrade. Muito diferente do que havia dito na conversa de maio, ele revelou que o clube, na realidade, é uma empresa mantida pelas suas mãos e as de mais três investidores. Aos torcedores que interpretaram como “traição” a saída do Rio Pardo da cidade que o fez nascer, Tabajara explicou as razões para a mudança para Três Coroas, e falou em retornar ao estádio Amaro Cassep para a Segundona do ano que vem. Por fim, o presidente/afastado/dono/fundador do Rio Pardo também deu a sua versão sobre os fatos que cercaram a CONTURBADA temporada do clube. A seguir, a entrevista.

* * *

Como foi a volta ao FC Rio Pardo depois do teu breve afastamento? Como foi o clima na recepção?

Nós nunca nos afastamos. Eu estou de licença como presidente. Mas o Futebol Clube Rio Pardo foi fundado como clube-empresa, então ele pertence aos proprietários. Sou um dos donos, e mais três investidores que estão junto comigo. Nós nunca nos afastamos. Sempre estivemos na linha de frente. E agora levamos para Três Coroas para jogar a Copa RS por questão de patrocínios, porque você sabe que a dificuldade do futebol é conseguir patrocinadores. Porque os nossos patrocinadores são todos de fora, a maioria é de Porto Alegre.

- Aqui em Santa Maria, quando o Rio Pardo veio jogar contra o Riograndense, e acabou levando 5 a 0, várias pessoas falaram desse momento que o senhor estava meio afastado da direção do clube. Os jogadores fizeram greve, e teria sido esse o motivo do seu afastamento. Como foi esse episódio?

Eu não levo pra esse lado. Vou dizer uma coisa recente pra vocês... O Pelotas, o único jogador que tá em Pelotas é o Sandro Sotilli. E o Pelotas tá na primeira divisão. Então, no futebol, atrasar salários (é comum) – eu duvido que o Riograndense está em dia com os salários aí; (se estivesse) seria uma exceção. Mas nós sempre honramos – eu trabalhei no Santa Cruz durante dez anos, fui cinco anos presidente; nós sempre ficamos com uma pendência, mas sempre depois pagamos e honramos. Lá no Futebol Clube Rio Pardo foi o seguinte: eu tive um problema de doença, e eu não vou levar para a grande mídia isso aí; eu tive um problema de doença na família, da minha mãe, que tem oitenta e seis anos, e eu não vou deixar de atender a minha mãe. Então eu pedi a esses investidores, comigo junto, que nós nos afastássemos. E agora o meu vice-presidente tá na ativa, o Faustino (José Faustino do Santos, vice do FC Rio Pardo), tá como presidente, porque nós estamos com um outro projeto muito grande dentro do futebol, e fizemos reunião toda a semana em Porto Alegre. E vamos jogar no campo do Mundo Novo como locamos com o doutor Joni Lisboa, que é o prefeito municipal (de Rio Pardo), que é uma pessoa que temos um carinho muito grande, uma pessoa boníssima, finíssima e muito educada, e nos tratou super bem. Lá o doutor Joni nos cedeu o campo pro Rio Pardo para nós jogarmos. E eu prometi a eles que o Futebol Clube Rio Pardo vai jogar a Série B do ano que vem em Rio Pardo, com esse patrocinador forte que nós estamos trazendo.

- O que aconteceu na metade da Segundona. Como o dinheiro passou a rarear no clube? Que dificuldades aconteceram?

Nós tivemos um patrocinador que teve um problema financeiro para nos repassar (o dinheiro), mas isso já está sendo solucionado, nós já estamos acertando. Todos os jogadores acertaram conosco numa boa e nós fomos repassando pra eles agora, e pagando, e vamos rever. Claro que tivemos problemas com alguns jogadores ali, você sabe que futebol é isso aí, tem as suas restrições. Mas do grupo, noventa por cento é excelente. Nós tivemos dez por cento que foram trazidos pelo primeiro técnico, o Laoni (Luz), que nós não conhecíamos eles.

- Durante esse período os jogadores fizeram greve, deu esse problema, e o treinador Marcão, que havia sido afastado, acabou retornando para o comando da equipe. Por que ele voltou?

Porque o pessoal do Rio Pardo queria que ele voltasse. Agora vou dizer uma coisa pra ti, e eu digo isso aí publicamente: se eu tiver que contratar um treinador, eu jamais vou contratar o Marcão. O Marcão é um excelente profissional dentro do campo, mas fora do campo, extracampo, o que ele aprontou dentro de Rio Pardo, que é uma cidade pequeninha, de vinte e poucos mil habitantes, não chega a trinta mil habitantes, é impressionante. Então nós não compactuamos com certas coisas que ele fez. Mas os jogadores nunca fizeram greve... isso foi mais um “bafo”. Eles sempre jogaram, jogamos todos os jogos. Eu acho que o “bafo” é normal fazer.

- Mas em relação ao Marcão. Uma versão que nós acompanhamos foi que ele teria saído por conta própria por não ter recebido o pagamento de uma premiação. O senhor nega isso?

Ele foi demitido por mim. Demitido. O Marcão recebeu todo o salário dele, não deixamos de pagar nada pra ele. Para ver que ele é muito bom treinador e está desempregado até agora. Duvido que ele pegue algum clube.

- E do elenco que disputou a Segundona, quantos jogadores ainda estão aí?

Como eu disse, desde junho que eu estou afastado, mas o clube é nosso – eu e mais três empresários. Estamos só com gurizada. Fizemos assim para jogar a (Copa) RS. Com esse patrocinador, que é um patrocinador forte, que ele pediu para não divulgar ainda em respeito aos nossos atuais patrocinadores deste ano, para voltarmos no ano que vem muito fortes. Mas nós não utilizamos nenhum jogador que atuou conosco na Série B. Então é uma folha baixa, para manter o Rio Pardo na mídia. Hoje (ontem) à tarde, às três horas, estamos jogando com o Cruzeiro de Porto Alegre. Estreamos no domingo passado contra o Grêmio, lá em Três Coroas. Foi muito boa a recepção da torcida. Perdemos infelizmente por um a zero, teve expulsão de um jogador nosso, e agora de tarde nós jogamos com o Cruzeiro de Porto Alegre (fora de casa [casa?], o Rio Pardo foi derrotado pelo Cruzeiro por 3 a 0).

- No início do ano eu conversei com o senhor e foi citado um projeto de parceria com o Botafogo do Rio. Que fim deu esse projeto?

Estamos com dois guris no Botafogo do Rio já. (O projeto) Está andando. Não dá pra nós mandarmos muitos jogadores. Se destacaram dois jogadores e nós mandamos pra lá. E dois jogadores agora nós estamos mandando para a China. Estão embarcando na próxima semana para a China, e vão ficar em contrato de um ano.

- O Rio Pardo é um clube-empresa, como tu disseste, mas ele chegou a ter o apoio da torcida na Segundona. Depois da transferência dos jogos do FC Rio Pardo para Três Coroas, como foi a reação dos torcedores da cidade de Rio Pardo?

O Futebol Clube Rio Pardo, e isso nós botamos bem claro para o prefeito, nós quando fundamos o clube até íamos jogar em outra cidade, porque tínhamos um projeto nosso. Mas fomos lá porque temos um carinho muito grande e um respeito muito grande para o prefeito municipal, o doutor Joni, que gosta de futebol. Eu sei que o torcedor pode não gostar (da mudança), mas você sabe que futebol vive de dinheiro. E como esse patrocinador nos abriu essa janela para o ano que vem, e pediu para nós jogarmos lá, porque lá em Três Coroas não tem futebol, só tem o amador, nós fomos pra lá. Mas no ano que vem estamos de volta a Rio Pardo, vamos jogar em Rio Pardo, porque o contrato com a Prefeitura, com o campo municipal da Prefeitura para o Futebol Clube Rio Pardo é de cinco anos a cedência.

- Em termos de apoio financeiro, qual o peso da Prefeitura de Rio Pardo atualmente no clube?

O Tribunal de Contas proíbe qualquer ajuda para clube profissional. O doutor Joni nos cedeu o campo por cinco anos, e sempre cumpriu com tudo o que nós acordamos com ele. Então a cedência do campo, arrumar o campo, foi isso aí que a Prefeitura nos deu.

Um comentário:

Unknown disse...

QUE FOTO A MURALHA MILANESA E AO FUNDO OS SILOS DA COTRIJUC . MARAVILHA.