Júlio de Castilhos não é mais a mesma. Não que tenha perdido os ingredientes essenciais de uma cidade interiorana. Não houve um crescimento desordenado e tampouco uma brusca ascensão financeira ocorreu na cidade. Oquei, a Borracharia do Gordinho, situada logo na entrada do burgo, expandiu recentemente as suas dimensões. As mudanças, porém, têm lugar na esfera esportiva. O responsável por tal movimentação ANÁRQUICA é o Esporte Clube Milan, que hasteou a sua bandeira no ponto mais alto da COXILHA DO DURASNAL, a mais famosa elevação castilhense.
Na Segundona, o Milan recebeu a devida atenção – mas faltou futebol para que a equipe seguisse sendo pauta, já que a coleção de tarjetas rojas não era exatamente um critério de classificação para as fases posteriores do certame. Eliminado e ostentando a lanterna do seu grupo, o Milan pensou que teria um ano cinzento até o mais remoto e cálido dos dias de dezembro. Os melancólicos devaneios do rubro-negro castilhense esbarraram na Copa Arthur Dallegrave, a Sul-Americana dos pampas – apesar de desmoralizada frente à Segundona, serve para ressuscitar certos cadáveres do primeiro semestre. E o Milan é o mais ATIVO dos tais defuntos.
Disposta a não envergonhar a reputação da cidade junto ao estado pela segunda vez na mesma temporada, a ELITE AGRÁRIA de Júlio embicou o balde e bradou: “queremos um timaço.” Para tal, trataram de remontar a equipe que apanhou na Segunda Divisão. Sobraram daquele grupo o goleiro Catarino (que hoje enfrenta a dura realidade do banco de suplentes) e o selecionável Amauri, que ainda é titular. Mas o que usurpou a tranqüilidade da população foi o nível dos reforços pretendidos pelo Milan. O início de tudo foi com Bonaldi, como o blog adiantou: empolgado com as causas daquela REVOLUÇÃO, o grande capitão do Riograndense aceitou a proposta e serviu como uma ISCA para outras contratações de peso.
De Santa Maria também chegaram o zagueiro Diego e o volante Bi, os escolhidos para auxiliarem Bonaldi na COLONIZAÇÃO da linha defensiva dos milanistas. Se a segurança já parecida garantida, os diretores do Milan trataram de não arriscar. Se o Real Madrid acumula atacantes no seu escrete, o Milan junta zagueiros de verdade. Para formar um tridente altamente AFIADO, o clube anunciou a chegada de Darzone que, segundo um torcedor que comia um pastel no pavilhão (fonte mais confiável do universo), iniciou a sua trepidante carreira no próprio Miguel Wairich Filho, a cancha do Milan.
Juntaram-se aos defensores os alas Restinga e Régis, o arqueiro Alisson, o volante Amaral e o folclórico meio-campista Cristiano. O sonho mais alto é o atacante Tiago Duarte, que também é disputado por equipes menos expressivas do futebol do Sul, casos de Joinville e Cerâmica, de Gravataí. Na casamata, o treinador de sempre: Valduíno Alves, um frasista que controla as linhas de seu time com extraordinária plenitude. O sol da recém composta galáxia de Júlio de Castilhos brilhou com força no último domingo, quando Milan e Ypiranga, de Erechim, duelaram sob os resquícios de sombra das araucárias.
Um adversário respeitável, o Ypiranga. Lá estavam, de camisetas, calções, meiões e corações amarelos, atletas mundialmente reconhecidos, como Itaqui, o eterno, ex-Grêmio e RIO PARDO. Além de Itaqui, dois jogadores merecem citação por integrarem a seleção do Futebesteirol: Pitol e Marcelo Müller. Como se vê, o duelo pela Copa Arthur Dallegrave parecia um COMBINADO entre os destaques da última Segundona. No comando dos de Erechim, que até então haviam empatado os dois confrontos anteriores, estava Amauri Knevitz, o responsável pelo recuerdo de que o Paranavaí existe ou um dia existiu.
Se em Santa Maria por vezes adentrar o campo de jogo para fotografar é uma chateação bastante trabalhosa, em Júlio de Castilhos há, de fato, LIBERDADE DE IMPRENSA. Não há qualquer obstáculo entre o portão escolhido e o gramado – basta escalar as escadarias e admirar o belo cenário proporcionado pelas canchas puramente interioranas. Ao fundo, árvores e a copa. No centro do campo, repórteres de duas rádios de Erechim e da única de Júlio, além de outro fotógrafo. “FLAGRE os dois capitães ao lado do árbitro. Não tem retrato melhor”, recomendou-me em um depoimento que carecia de SENTIDO.
Como também carecia de sentido a estratégia de jogo proposta pelo Ypiranga de Erechim. Aparentemente encantados com a dureza do futebol do Milan, composto de balões, balões e bicudos, os norteños esqueceram de jogar futebol. O Ypiranga, um onze mais técnico e bem organizado em campo, também queria brincar de embicar a pelota para o outro campo – e acabou apenas consagrando Bonaldi na estréia do zagueiro. Quando o primeiro tempo findava em uma mediocridade assustadora, Régis cobrou rápido um arremesso lateral para Jarbas, o centroavante com nome de CHOFER. Com a MALÍCIA necessária, Jarbas encobriu Pitol com um só toque e declarou 1-0 para quem veste vermelho e preto.
Depois de quinze pacatos minutos na sombra, mirando o LUAR castilhense, notei certo desespero nas primeiras ações da etapa complementar. Por volta dos dez minutos (período que vai dos três minutos aos dezoito), Sharlei, o centrodelantero visitante, abandonou a cancha: “não pedi para sair, mas não adianta jogar a bola na área com um alemão de dois metros por lá”. Fosse uma semana antes e a frase cairia bem na reportagem de Bonaldi. Vivíamos instantes nervosos. O Ypiranga não assustava com a crueza de quem sabe que achará o gol, mas o Milan perdia espaço. Não tinha mais pernas. A retranca, então, foi consolidada. E os ARGUMENTOS extra-campo acionados.
Valduíno fez a sua parte e mandou QUEIXINHO para o gramado, com recomendações claras: “agora tu vai correr!”. Desgastados com a insistência dos atacantes amarelos, os beques alteraram o estilo de jogo. Deixaram de apenas espantar a bola da área para mandar o esférico longe dos limites do estádio. As pelotas pouco a pouco rareavam, para irritação generalizada do banco do Ypiranga. Até que um gandula encostou no seu superior: “a bola caiu no pátio da casa verde. Pego?” Ouviu o seguinte DISPARATE: “pega, mas devagarzito. E cuidado com o cachorro”.
A agonia do Milan arrefeceu quando Romano brochou com as expectativas de empate e foi expulso. Aliviado, o Milan voltou a pensar um pouco em futebol. Já nos acréscimos, na primeira jogada ofensiva do segundo tempo, Régis foi derrubado na área. Cristiano, o cabeludo, o folclórico, o que teve a sua habilidade ligeiramente ofuscada pela rispidez do encontro, encarou as provocações de Pitol. Como fez diante do Porto Alegre, o goleiro tentou devastar a tranqüilidade do batedor. Cristiano resolveu DEBOCHAR.
Depois de ouvir que “se bater mal eu pego, cabeludo”, ele derrubou Pitol com uma paradinha. Com o arqueiro caído, pôde até bater mal. Comemorou como se o seu Milan fosse o italiano e aquele palco, o San Siro. Ilusões de um camisa 10, mas o Miguel Wairich Filho era, de fato, um outro estádio. E este é um outro Milan, agora sem a AURA da derrota.
P.S.: Na chuvosa tarde de hoje, o Milan surrou o nômade Rio Pardo por 4-0 alcançou a segunda vitória na Copa Arthur Dallegrave. Gols de BONALDI, Diego, Cristiano e Jarbas.
2 comentários:
Tenho certeza que o meio de campo ficara ainda melhor com a volta do meio camista Donovan....jogador articulado e forte chegada no ataque...
Legal o blog, parabéns!!
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