quarta-feira, 26 de março de 2008

Gre-No-Li

A Suécia de 1958, sem “No”, mas com “Gre” e “Li”

No Milan, eles foram ídolos. Na Seleção da Suécia, referências do maior período futebolístico daquele país. Por mais de uma década, com a camisa rossonera do clube ou a amarela do selecionado, Gunnar Gren, Gunnar Nordahl e Nils Liedholm formaram um dos trios ofensivos mais afinados dos anos 1940 e 1950: o Gre-No-Li.

Das cinzas da Segunda Guerra Mundial nasceu a consagração. Os Jogos Olímpicos de Londres em 1948 representaram a primeira competição intercontinental de seleções após o conflito. Liderada pelos três, uma Suécia que não entrava de favorita amassou seus concorrentes: 3-0 na Áustria, 12-0 na Coréia, 4-2 na Dinamarca e, pela grande decisão, no velho Wembley, 3-1 sobre a Iugoslávia. Vinte e dois gols em quatro jogos, doze deles na conta do trio, e uma medalha de ouro incontestável. Àquela altura, todos ainda jogavam no futebol de seu país: Liedholm e Nordahl defendiam o IFK Norrköping, enquanto Gren aparecia nas linhas do IFK Göteborg.

A conquista voltou os olhos do continente para o futebol nórdico. Um ano depois, os três nomes mais proeminentes daquela seleção desembarcaram em Milão com a missão simples: fazer o de sempre – gols. Nascia ali o que, para muitos, foi o primeiro grande Milan da história ou, quando menos, um divisor de águas. Antes de Gre-No-Li, os rossoneros tinham apenas três campeonatos nacionais, o último datando de 1907, ainda no período amador. Depois deles, além de dobrar o palmarés, já estavam colocados os alicerces para as glórias internacionais que começariam a vir na década seguinte.

E se o Milan estava buscando gols quando foi atrás das pérolas suecas, bastou a primeira temporada para a confirmação de que o plano daria certo: em 38 rodadas, o time foi às redes 118 vezes – 60% delas em tiros saídos dos pés ou cabeças de Nordahl (artilheiro máximo da temporada 1949/50, com 35 tentos), Gren e Liedholm (18 gols cada). As temporadas arrasadoras para as defesas adversárias se traduziriam em quatro títulos italianos do clube enquanto algum dos representantes do trio estivesse no Milan: em 1951, com todos eles, em 1955, já sem Gren e, finalmente, em 1957 e 1959, quando restava apenas Liedholm.

O sucesso do Gre-No-Li fez de Nordahl o segundo maior artilheiro da história do Campeonato Italiano (225 gols), atrás apenas de Silvio Piola que, entre 1929 e 1954, balançou as redes em 274 ocasiões. Os números do sueco são muito superiores se considerarmos que ele entrou em campo apenas 291 vezes, contra 537 de Piola. Ainda individualmente, Nordahl liderou a tabela de goleadores da Itália em 1950, 1951, 1953, 1954 e 1955.

Na Seleção, porém, foram os outros dois que se destacaram por mais tempo: enquanto Nordahl abandonou o onze nacional logo após a glória Olímpica, Gren e Liedholm permaneceram por toda a década seguinte. Eles representavam os principais símbolos de 1948, e apareciam como inspiradores máximos para que a geração de dez anos mais tarde buscasse algo muito maior que o simples ouro de Londres: o título mundial, dentro de casa.

Para duelar nos estádios de Estocolmo e Gotemburgo, pela Copa do Mundo, a Suécia tinha Gren como o jogador mais velho do time, no alto de seus 37 anos, e Liedholm de capitão. Atrás deles, em campo, havia montado também uma poderosa esquadra, capaz de almejar realmente a Jules Rimet. Deu certo. Frente à sua torcida, os suecos passaram a campanha inteira invictos, mostrando a força habitual na área adversária e evidenciando, também, uma segurança defensiva, sofrendo apenas dois gols nos cinco jogos disputados até a semifinal inclusive.

Precisamente às quinze horas locais do 29 de junho daquele 1958, o país inteiro se pôs a crer que, sim, era possível superar o feito de Londres. Liedholm, eterno, precisou de apenas três minutos para deixar o placar em 1-0 e reforçar as esperanças. Mas o Brasil tinha Pelé, tinha Garrinha. O Brasil tinha Didi e Vavá, Nilton e Djalma Santos. O Brasil tinha uma das maiores seleções de todos os tempos. E o que não teve, nem naquele dia, nem em qualquer outro que viria depois, foi o famigerado “complexo de vira-latas”. Com qualidade e determinação, o título voltaria à América do Sul com um 5-2 em favor da única seleção capaz de sair campeã fora de seu continente.

Hoje, quase cinqüenta anos depois, na Londres do ouro não superado, Brasil e Suécia voltam a campo para comemorar antecipadamente o aniversário daquele jogo. Por aqui, fala-se apenas da conquista brasileira, da maioridade do nosso futebol, atingida naquela decisão. Há o outro lado da história. Um lado que se ilusionou com Gre-No-Li, e se viu capaz de erguer o maior troféu do futebol. O jogo de hoje, para eles, não é uma simples recordação. É o meio século de um sonho destruído.

Um comentário:

Maurício Brum disse...

Quem é quem na foto, da esquerda para a direita:

Fila de trás: Torsten Lindberg, Sten-Otto Liljedahl, Olle Håkansson, Bror Mellberg, Tore Svensson, Owe Ohlsson, Henry Källgren, Arne Selmosson, Prawitz Öberg, Carl-Elis Halldén.
Fila do meio: George Raynor (treinador), Bengt Berndtsson, Nils Liedholm, Gunnar Gren, Agne Simonsson, Sven Axbom, Åke Johansson.
Agachados, à frente: Lennart Skoglund, Mario Ferrario (massagista), Reino Börjesson, Sigvard Parling, Kurt Hamrin, Kalle Svensson, Bengt Gustavsson, Orvar Bergmark, Gösta Löfgren.
Fora da foto: Ingemar Haraldsson.