domingo, 20 de abril de 2008

Ally’s Tartan Army

Selo comemorativo ao título mundial escocês, jamais impresso

O ônibus de teto aberto, cheio de jogadores da Seleção Escocesa, dava uma volta ao redor do campo do estádio Hampden Park, em Glasgow. Nas arquibancadas, vinte e cinco mil pessoas saudavam o time, com acenos e cânticos. Era a primeira parte de uma viagem que rumava à Argentina, à Copa do Mundo de 1978. O país estava tomado de euforia. Lotado de torcedores, o aeroporto da cidade aguardava os atletas para uma última despedida àquela equipe que, com bons resultados, provocara sonhos gerais. “O que faremos depois de vencer a Copa? Manteremos o título”, respondeu o treinador Ally MacLeod a um repórter, antes de embarcar.

Euforia. Esse era o nome do retrato da Escócia naquele fim de década. Pela única vez na história, o futebol local formava um time capaz de sair de casa sob expectativas de troféu – “ou ao menos uma medalha”, como dissera MacLeod, cogitando a hipótese de algum insucesso. As Eliminatórias haviam sido as grandes impulsoras do entusiasmo. Nelas, tendo por companheira de grupo a então campeã européia Tchecoslováquia, os escoceses perderam apenas um jogo e obtiveram a vaga com inesperada facilidade.

O time estava jogando muito. Na outra mão, a desclassificação da Inglaterra, tornando a Escócia única representante britânica na Copa, arrebatava ainda mais os aficionados. Em júbilo, a Tartan Army, torcida da Seleção, criou o canto Ally’s Tartan Army, proclamando que aquele exército, comandado por MacLeod, marcharia ao lado de todo o país:

We're on the march wi' Ally's Army,
We're going tae the Argentine,

And we'll really shake them up,
When we win the World Cup,

'Cos Scotland is the greatest football team,


We're representing Britain,

And we're gaunny do or die,

England cannae dae it,

'Cos they didnae qualify!

We're on the march wi' Ally's Army,
We're going tae the Argentine,
And we'll really shake them up,
When we win the World Cup,

'Cos Scotland is the greatest football team


Andy Cameron, comediante local, lançou uma versão gravada da cantoria. Em pouco tempo, mais de 360 mil cópias do disco foram vendidas. Euforia.

A equipe tinha, de fato, talentos inquestionáveis – só podia se esperar muito de um esquadrão fundamentado em grandes jogadores. Alguns deles: Martin Buchan, então capitão do Manchester United, Kenny Burns, melhor jogador do Campeonato Inglês 1977/78, pelo Nottingham Forest, além da lendária dupla infernal do Liverpool bi-campeão da Europa em 1977 e 1978: Kenny Dalglish e Graeme Souness – ainda que este último tenha recebido poucas chances de MacLeod.

Um ano antes, lá na Argentina onde a Copa seria buscada, o exército de Ally conquistara um grande empate contra o selecionado local, em plena Bombonera. O time era digno daquela despedida e de toda a confiança. Seria difícil batê-los. Iriam pelo título, como jamais a Escócia fora.

Mas Copa do Mundo não se vence apenas com esperança e sonho, ou um time de bons jogadores. É preciso pegar doses da indefinível matéria que forma os campeões, algo em falta entre os times escoceses. Na estréia, com direito a pênalti perdido, jogador pego no antidoping (Willie Johnston, por um inibidor de apetite) e virada, a Escócia levou 3-1 do Peru. O segundo jogo não passou de um sofrível empate por 1-1 frente ao Irã.

No fim, a única vitória dos comandados de Ally (foto ao lado) foi um 3-2 sobre a Holanda, na última rodada, em um duelo praticamente despido de valor, restando a eliminação ao time. A euforia acabava como lembrança de um engodo histórico.

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