
A invasão abria a maior e mais sangrenta campanha militar da história – e, descobrir-se-ia, o primeiro passo alemão na direção da derrota na Segunda Guerra Mundial. Em Berlim, no entanto, o tema daquele dia de junho era outro. O conflito durava havia dois anos e, mesmo que sempre pulsante no noticiário, já não era capaz de impedir o andamento da rotina. A marcha sobre as cidades soviéticas aparentava ser mais um dos tantos fragmentos de uma Guerra cujo fim estava além do horizonte. Antes de marcar a entrada nas terras vermelhas, o domingo seria o dia da final do Campeonato Alemão de 1940/41 – a decisão do torneio monopolizava as discussões na capital.
À tarde, 95 mil pessoas foram ao Olympiastadion presenciar o encontro entre o Schalke-04 e o Rapid Viena (a Áustria era parte da Alemanha desde o Anschluß de 1938). O jogo seria de rivalidade extrema: embora a propaganda nazista buscasse mostrar um Estado unido, pesava a tradicional divisão norte-sul, fortalecida pelas discrepâncias religiosas – os alemães do norte, “prussianos”, de maioria protestante, viam os austríacos como inferiores, ao passo que estes, na maior parte católicos, consideravam os prussianos culturalmente atrasados.
O sentimento anti-Alemanha dentro do futebol aumentou consideravelmente depois da morte misteriosa de Matthias Sindelar, grande ídolo do Wunderteam austríaco, em 1939. No ano seguinte, raros foram os jogos passados nos estádios da Áustria que não terminaram em batalhas campais – num duelo entre uma equipe de Viena e o quadro da Luftwaffe (Força Aérea Alemã) de Hamburgo, o goleiro do time austríaco saiu de campo com ferimentos graves, vindo a morrer no hospital.

Mas o Rapid não era um goleável sem reação. Esse time possuía um artilheiro genial, Franz Binder (ao lado), 1006 gols em 756 partidas na carreira, e também contava com alma.

O público assistiu a tudo chocado. Igualmente atônitos, os representantes de Gelsenkirchen dentro de campo acusaram os austríacos de terem subornado o árbitro, que lhes proporcionara dois pênaltis. Uma versão nunca comprovada. Para a história, ficou a dupla tragédia nazista do dia 22 de junho de 1941: enquanto começava a fracassada campanha na União Soviética, Berlim assistia à queda do Schalke e à coroação do Rapid Viena como único não-alemão a vencer o campeonato local.
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