segunda-feira, 29 de junho de 2009

Um estádio e as suas lendas

Por Iuri Müller

O que há de mais representativo em termos de GRANDEZA e de história nos domínios do Riograndense Futebol Clube não é, por agora, a mística da jaqueta rubro-esmeralda (muito porque o time tem trajado branco, ok) ou a hierarquia intimidadora de Bonaldi na grande área. O que mais aflige um quadro sem um passado comparável com o dos ferroviários santa-marienses, como é o caso deste Futebol Clube Rio Pardo, é o imponente pavilhão dos Eucaliptos. O pavilhão se ergue em meio aos montes, já foi inteiramente de madeira e ostenta em tinta recente a data de fundação do clube e as façanhas de antanho, como o vice-campeonato do Gauchão de 1921. Irradia glória, a construção mais significativa do COMPLEXO do Estádio dos Eucaliptos.

E eu, com uma considerável aglomeração de domingos vividos ali, nunca havia assistido a uma partida do Riograndense do alto do pavilhão. O ingresso é mais caro, não há a mesma INTERAÇÃO entre torcida-time e torcida-arbitragem além de, diziam, a visibilidade não ser grande coisa. Bons motivos, então. Mas, cansado de fotografar as investidas e RECOLHIDAS do Periquito do mesmo local de sempre, junto à tela que teima em DESTRUIR retratos com potencial ANTOLÓGICO, busquei um novo ÂNGULO para as fotografias. Mentira. Havia, sim, e pesou mais do que os registros jornalísticos, curiosidade para acompanhar um match do pavilhão que POVOA as mais ricas histórias que envolvem a cancha.

Já acomodado no mais alto degrau, o que permitia uma visão ampla do gramado e, DE BRINDE, dos arredores do bairro, compreendi a estratégia do Riograndense na partida desde os primeiros MILÉSIMOS: atacar o Rio Pardo e amontoar gols para que o adversário não saia assobiando de Santa Maria novamente, como fez o TAC na quarta-feira passada. Com cinco minutos cronometrados, André Tereza, que sustentatava em seu LOMBO severas críticas quanto ao jogo anterior e a camisa número dois do Riograndense, definiu com estupenda simplicidade pela direita, vencendo o arqueiro Feijão com um arremate cruzado. O tento decepcionou parte do público do pavilhão: eram dirigentes e torcedores da terra da TRANQUEIRA INVICTA. E um deles comentou com desânimo: “o Riograndense já está mais do que classificado. Tem prêmio por vitória, por acaso? Quem precisa vencer é o Rio Pardo.”

Quem explicitava o DESALENTO era Telmo Berger, presidente do Conselho Deliberativo do F.C. Rio Pardo. Em parcos minutos de conversação, o dirigente explicou a sua relação com o futebol gaúcho. Telmo atuou nos juvenis do Internacional de Porto Alegre, na distante data de 1969, e finda a carreira futebolística, tornou-se professor de Educação Física. Quando trabalhava em Passo do Sobrado, então distrito de Rio Pardo, lecionou para um certo MANO MENEZES, com quem manteve contato - eleito vereador em Rio Pardo, Telmo Berger homenageou Mano como CIDADÃO EMÉRITO do município. Enquanto o ilustre rio-pardense jogava luzes no seu passado, Juninho Laguna, alheio a qualquer CHARLA nas tribunas, aproveitou a ríspida dividida entre Silvano e Feijão para, com sua ILUMINADA DISPLICÊNCIA, mover o placar.

O baque do segundo gol impulsionou Telmo a explanar sobre a estreia do Rio Pardo no profissionalismo. Admitiu que avançar para a terceira fase é uma tarefa das mais complexas, mas que gostou da aceitação do F.C. Rio Pardo na cidade: “Rio Pardo mostrou que suporta um time profissional, e para o nosso primeiro ano isso é o mais importante.” Revelou também o descontentamento com o ex-presidente do clube, Tabajara Ramalho, afastado há quinze dias por pressão dos jogadores. Na rixa entre o cartola e o elenco, Telmo Berger firmou posição e ignorou o 0-2 circunstancial para defender o grupo de jogadores, “que mesmo com os salários atrasados está brigando pela classificação.” Para a próxima temporada, o presidente do Conselho defende um melhor aproveitamento de atletas de Rio Pardo no plantel, “para criar uma identidade maior com o município e desenvolver as categorias de base.”

Terminado o intervalo, os locais retomaram a maior posse do balão, tranquilos com a vantagem concedida pelos gritos de Tereza e Laguna. Se na primeira etapa o resultado parecia enganoso diante do equilíbrio e das poucas chances reais de júbilo geradas pelas duas equipes, no que se refere a depois do ENTRETIEMPO o Riograndense foi escandalosamente superior. A dúzia de rio-pardenses só se alvoroçou em uma falta miseravelmente desperdiçada por Terrão, ainda nos minutos iniciais do segundo tempo. O Periquito não contava, no sábado, com a SUBVERSÃO de Giovani, que costumeiramente atordoa defesas inteiras. Apagado, Giovani viu Vainer encostar nos dois avantes, compensando a velocidade peculiar do ponteiro com passes certeiros e esperançosas patadas desde muito longe. Foi em um rebote de escanteio que Vainer APAZIGUOU o esférico em seu pé esquerdo, avançou poucos passos e desferiu o chute de um só destino: o ângulo de Feijão. O meia-esquerda assinou um gol tão bonito quanto o que derrubou Victor, o selecionável, na primeira partida do Gauchão deste ano.

O 3-0 era tão confortável que amornou o espetáculo. Os treinados por Marcão e OUTRORA dirigidos por Tabajara viram as chances concretas de somar algum ponto em Santa Maria EXPLODIREM no canhotaço de Vainer. O Riograndense, com muito espaço para infiltrar na defensiva rio-pardense, preferiu rodar a pelota e rondar, apenas quando convinha, o arco protegido pelos beques visitantes. Faltava ALGO para que a tarde ventosa de sábado não tivesse o seu fim naquele 3-0 confortável em demasia. Para tanto, Bebeto Rosa mandou para cancha a sua alternativa mais requisitada: quando Alfinete partiu em carrera desenfreada para assinar a súmula, o bom público presente bradou em uníssono. Confusos, os atletas de Rio Pardo buscavam uma explicação COERENTE para aquela balbúrdia aparentemente injustificável.

Alfinete e seu penteado MOICANO devolveram GRAÇA ao futebol. A partir de agora, valeria a pena atacar o Rio Pardo, já que o que estava em jogo eram os possíveis gols de Alfinete. São dele os tentos mais comemorados do estádio, independentemente de adversário ou da situação na tabela. Talvez porque Alfi esteve ali desde o início, ao menos desde o início MODERNO do Riograndense. Desde os dias em que o Riograndense perdia bem mais do que empatava. Vencer, um delírio. Mas Alfinete estava presente, e não se transformou em vilão. Participar da história, ano a ano, assim com os mais fiéis frequentadores dos Eucaliptos, virou, com justiça, motivo para aplausos.

A história de Alfinete ligou-se PARA SEMPRE com a do clube verde que defende toda semana quando, há duas temporadas, o atacante perdeu a casa em um incêndio. A diretoria do Periquito, em atitude mágica em tempos de MERCENARISMO predominante e INSENSIBILIDADE coletiva, organizou um duelo beneficente entre atletas santa-marienses – a renda estaria destinada, em sua maior parte, para a reconstrução da moradia de Alfinete. Contra o Rio Pardo, Alfinete teve pouco mais de quinze voltas de relógio em campo. Suficientes para ALFINA marcar DOIS gols. E o 5-0 foi uma festa incrível. A terceira fase, a fase CÁLIDA, já é uma realidade para os lados da Viação. Que venha o Pelotas, o Glória, o Porto Alegre. O Riograndense tem PATRIMÔNIO – como o quase centenário pavilhão e o lendário Alfinete.

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O treinador interrompido
Por Maurício Brum

A vitória do TAC sobre o Riograndense na última quarta-feira DESACORÇOOU o planejamento do Rio Pardo. Era um resultado INOPINADO. Na casamata rio-pardense comentavam que, se o Três Passos jogasse dez vezes em Santa Maria, era improvável que vencesse duas partidas. Mas foi vencer logo aquela, afastou-se na segunda posição da chave e lançou uma nuvem de poeira para o Rio Pardo DEGLUTIR. Marcos Santos, o Marcão, dissertava a respeito da qualidade do quadro santa-mariense e compartilhava do pensamento deste redator: embora tenha que defender sempre o seu time, ele não crê que as vagas na elite em 2010 escapem do Riograndense, do Pelotas ou do Glória.

Com passagem pelo futebol de Santa Maria quando jogador, Marcão mesclava o teor das suas interações com os torcedores COLADOS ao alambrado próximo da casamata visitante. Ora conversava tranquilamente com eles, ora ouvia provocações feitas pelos locais com a FAMILIARIDADE de quem já o conhecia. Sua ideia para o jogo estava muito clara: “a verdade é que a gente veio aqui para não perder”.

O treinador do Rio Pardo é um caso raro no futebol mundial. Foi contratado para salvar da eliminação precoce uma equipe que vinha com ALTIBAIXOS na primeira fase. Recuperou-a, conquistou a classificação, e então perdeu o cargo. As circunstâncias nunca ficaram bem esclarecidas. Segundo fontes da cidade, o então presidente do clube, Tabajara Ramalho, teria defendido na imprensa local que Marcão estaria fazendo “muita festa” com os atletas, o que motivou sua saída. Gílson Rosa estreou na primeira rodada da segunda fase, mas não durou meia dúzia de embates com os maus resultados. Paulo Cunha e Paulo Bastos, o preparador físico, sucederam-lhe no controle da equipe.

Isso tudo enquanto Tabajara caía em desgraça. O dinheiro desapareceu e os pagamentos dos jogadores atrasaram. Justificou-se dizendo que os patrocinadores não haviam depositado os valores na data correta, mas a explicação não contentou. Veio uma GREVE e o presidente virou persona non grata em certas rodas do clube - conversando em off com o blog, um jogador chamou Tabajara de “safado”. Seu poder foi definitivamente ESMERILHADO quando os atletas ameaçaram não entrar mais em campo se Tabajara não fosse afastado. A SUBVERSÃO deu resultados: principal apoiadora do clube e pressionada pela comunidade, a Prefeitura teria assentido, e também se concordou com outro pedido dos atletas – a volta de Marcão ao posto de treinador, fechando seu caso insólito. Uma versão que corre hoje em Rio Pardo diz que o real motivo de Marcos Santos ter deixado o clube teria sido o não-pagamento de um prêmio pessoal acertado com Tabajara pela passagem de fase.

Marcão retornou na rodada passada, e foi INCENSADO pela raçuda vitória em casa sobre o Bagé, por 1 a 0, com gol marcado aos 90+3 minutos. Ontem, porém, queria apenas não ser derrotado, e estampou o desespero na face diante dos erros de sua zaga. Com cinco minutos, seu time deixou espaço demais e Marcão foi obrigado a ver como os santa-marienses comemoravam o primeiro gol da tarde (foto de abertura deste texto). Aos quinze, uma intervenção CATASTRÓFICA do zagueiro junto ao goleiro Feijão permitiu que Laguna golpeasse a PETANCA e fizesse 2 a 0. Só aos 39 o Riograndense chegaria ao ataque numa jogada sua, sem falhas evidentes dos visitantes.

“Trinta e nove! Trinta e nove minutos! É a primeira jogada de atacante deles. Entregamos dois gols pros caras...”, urrava para os reservas o inconsolável Marcão. No segundo tempo, a entrada do veloz Felipe Baggio (na foto à esquerda, brincando com a planilha tática do time) pela banda direita pareceu dar o toque de reação que o time precisava, mas o INFERNIZAR do camisa 14 só durou até o gol iluminado de Vainer. Depois, ecoou a magia de Alfinete e a dura goleada de cinco gols nas costas do Rio Pardo. Sabendo que a interrupção de seu trabalho lhe privou de buscar uma situação melhor antes, Marcão precisa vencer as duas rodadas que faltam e torcer por combinações de resultados que permitam sonhar. Viver na Segundona, aos auriverdes, exigirá boa vontade dos céus.

FOTOS: Iuri Müller (fotos 1, 2, 6 e 7) e Maurício Brum (fotos 3, 4, 5, 8, 9 e 10).

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