segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Rivalidade citadina, em versos - Parte 1 de 4

Esta é a história de uma esquecida rivalidade citadina. Pequena aos olhos de fora, gigante para quem a vive, como todas as paixões interioranas conflitantes, a rivalidade que pautará esta série nos transporta seis décadas ao passado. Vamos para Ijuí, Rio Grande do Sul, no ano de 1949: aqui, existem dois grandes clubes a este momento - o Esporte Clube São Luiz e o Grêmio Esportivo Gaúcho.

Eram gloriosas as tardes de futebol em que as equipes se encontravam para jogar clássicos, no campo da Baixada. O São Luiz, fundado em 1938, meia década mais antigo que o adversário, levava vantagem sobre o incipiente rival. Naquele ano, todos os cinco jogos haviam sido vencidos pelo time rubro abençoado pelo santo, e o troféu do Campeonato da Cidade já fora erguido.

Mas houve um sexto jogo - um amistoso. Não valia nada. Nada? Valia a rivalidade, e isso era muito. Na tarde do dia 18 de setembro, diante de uma Baixada que esperava mais um triunfo do time que trajava vermelho, o Gaúcho foi soberano - deu um "baile", e venceu por 1-3. A atuação teve festejos que ecoaram nas páginas dos jornais citadinos, originando uma pitoresca disputa de versos entre as torcidas rivais. Ao dia 21, no periódico ijuiense "Correio Serrano", foi publicado o texto a seguir:

Baile de Gala

Domingo, lá na Baixada
mesmo com sapo enterrado,
levou quase uma goleada
do Gaúcho bem armado.

De nada adiantaram Léo,
Bica, Gijo e a torcida:
virou tudo em polvoréo,
a "bica" estava entupida...

Haiske - o goleador,
marcado por Argemiro,
era até contristador:
não acertou mais que um tiro...
o meia-esquerda infernal,
do famoso "campeão".
Quando começou o baile,
que não era matinal,
foi expulso do gramado,
mas voltou, porque é chorão!

O grande zagueiro Bica
ficou mesmo atucanado,
apesar de seus esforços,
no fim, foi desbicado...

Na cerca ficou o Augusto
esse engraçado "menino"
que quase morreu de susto
apesar de seu destino...

O "velho fan" Hocevar
quando viu o desatino,
passou a observar
o "garoto" Varcelino...

E no mais, logo o Gaúcho
o terceiro golo fez;
pois já tinha ponta de luxo
no novo esquerda Juarez!

Dominou de espaço a espaço
o tricolor da cidade,
Roseval, num pelotaço,
fez logo barbaridade...

Foi um baile divertido
lá no campo da Baixada,
ficou Raposa caído,
quebrou o Juca a fachada...

Três a um no marcador;
Era uma vez um "campeão"
Da derrota o amargou
Extravasou pelo chão.

Houve fanáticos tontos,
que apostaram no São Luiz.
Um perdeu alguns bons contos
pra um colono bem feliz...

Pra encerrar estes versinhos
que saíram a repuxo
dou um viva ao maioral,
bravo onze do Gaúcho!

(Mandado publicar por um grupo de torcedores e simpatizantes do Grêmio Esportivo Gaúcho)

***

Os brios da torcida são-luizense foram atingidos. Tal desfeita não ficaria assim, sem reação! E a resposta, você confere amanhã.

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