terça-feira, 21 de agosto de 2007

Desalento

Nos três centros futebolísiticos que este blog mais acompanha - Brasil, Uruguai e Argentina - uma tendência reina dos anos noventa até aqui. Com proporções diferentes, os três países que assistiram tanto suas seleções quanto clubes empilharem títulos mundiais, precisam se contentar com muito pouco ou quase nada nos dias que vão passando.

A reveleção e venda de jogadores acontece por atacado: grande número de atletas partem, por um preço muitas vezes ridículo. A formação dos atletas que hoje fazem parte de grandes clubes do Velho Mundo acontece com muito mais qualidade e rapidez na América Latina do que na Europa, por razões históricas. Diante de um fraco mercado, os europeus não têm duvida que uma viagem para a América (que em 90% é bem sucedida) com o fim de buscar dois ou três jogadores, de no máximo 23 anos, vale mais a pena do que arcar com um gigantesco investimento para buscar jogadores consagrados em outros clubes ricos da Europa.

Na Argentina ainda vive a maior resistência. O Boca Juniors, mesmo que apenas por fachada, mantém e preserva seus novos talentos, forçando assim vendas ao menos mais justas, sempre sem grandes lucros - uma utopia para quem vive fora da Alemanha, Itália, Espanha e até França e Portugal. Essa arriscada resistência consolidou o maior time que o continente viu dos anos noventa até aqui, ou o que mais conquistou títulos de expressão. Para ficar nos dias atuais, jogadores que jogariam (ou até já jogaram) em clubes europeus como Riquelme, Ibarra, Palermo e Clemente Rodriguéz seguem no quadro portenho. E tal resistência não foi conquistada apenas com um pouco de dinheiro a mais que seus rivais: é necessário existir ações expansivas e por vezes arriscadas de uma diretoria.
O seu grande inimigo futebolístico River Plate, mascarou essa mesma idéia por anos, mas hoje afundou no próprio rótulo: vive profunda crise política e sofre com a falta de resultados e de atletas a nível da instituição - a ação pode não ser a salvação.

No Uruguai a situação está ainda mais crítica, e conseqüentemente, necessita de medidas urgentes. Como os leitores acompanharam na ampla cobertura que o blog faz nos campeonatos orientais, valores considerados baixos por Brasil e Argentina na venda de jogadores se tornaram usura para os clubes uruguaios. O Danubio, maior formador de atletas do país, vendeu seus quatro melhores jogadores - que possuem sim qualidade semelhante aos que são vendidos nos outros dois países citados - por uma quantia abusurdamente pequena. No país há ainda outro empecilho: o monópolio do empresário ''Paco'' Casal, que controla completamente o mercado dos bons jogadores uruguaios e distribui ao seu modo, tanto para o exterior quanto em negócios nacionais. Os clubes ficaram reféns dos empresários. Fatores como esses aliados a uma política clubística amadora tornou escassas, para não dizer nulas, as glórias dos outrora vencedores Nacional e Peñarol.

No Brasil, onde o surgimento de novos craques ocorre com maior velocidade, também é maior o número de negócios. Somente neste ano os clubes realizaram uma medida simples, que dificulta as investidas européias: contratos longos e multas recisórias maiores para as novas afirmações. Inter e Corinthians lucraram como nunca nas vendas de Alexandre Pato e Wiliam. O Grêmio segue o mesmo caminho e procura escapar dos alemães que insistem na compra do atacante Carlos Eduardo. Mas ter de ver as novas esperanças do futebol brasileiro por menos de um ano em nossos gramados não pode ser motivo de comemoração, por maior que seja a recompensa monetária.

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