A cada lance desperdiçado nas rodadas passadas de Gauchão, Perea se comportava como um torcedor indignado. Reclamava, xingava, chutava o ar, agarrava-se à camisa como se ela pudesse fornecer um alento para a sua frustração. "Um dia perdido", assim o atacante colombiano do Grêmio definiu cada um dos jogos em que passou em branco, ao telefonar para a sua mãe, na segunda-feira, pedindo conforto.
Perea, ex-Bordeaux, deu, desde o início, contribuições importantes nas atuações do tricolor de Porto Alegre. Corria por todos os espaços do ataque, lutava, pedia a bola, tentava o chute e, por vezes, tão desesperado que estava por um gol, deixava de passar a bola para seus companheiros. Alguns torcedores já começavam a perder a paciência com a quantidade de chances desperdiçadas. Outros, porém, preferiam dar tempo e novas chances para que ele se afirmasse.
"Não sei o que fazer", prosseguia, na sua conversa com a mãe. Precisava de gols para recuperar a confiança sua e dos torcedores. Não podia mais falhar. Concluiu, finalmente, que os cinco jogos que ficou sem balançar as redes se deviam ao fato de "não estar mirando bem o arco na hora do chute". Isso tinha que mudar.
Ontem, um dia depois da conversa reconfortante, com as idéias esclarecidas, Perea foi para uma noite de Copa do Brasil. Sua noite, seus gols. Aquela não seria a noite de um dia perdido - nem para ele, nem para o seu Grêmio. No Olímpico, o tricolor gaúcho aplicou fáceis 6-0 no frágil Jaciara, do Mato Grosso. Os quatro primeiros gols da vitória, alguns deles verdadeiras pinturas, receberam a assinatura do colombiano. O sonho dourado para qualquer atacante, independentemente do adversário.
Uma partida como a de ontem, contra um adversário inexistente, pouco vale para qualquer análise. Pouco vale para se crer que o Grêmio é um super time. A Perea, contudo, valeu para devolver toda a sua confiança abalada.
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Outras da noite copeira pelo Brasil:
• Chuva de gols - Perea, sozinho, já foi uma goleada monumental. Mas a quarta-feira de Copa ainda reservou muitos outros massacres. Destaque para os 0-7 do Atlético-MG sobre o Palmas-TO, os 1-4 do Goiás sobre o Cacerense-MT, e os 0-4 do Internacional-RS sobre o Nacional-PB - todos fora de casa, garantindo assim a passagem de fase sem precisar disputar o segundo confronto. Em casa, dois paranaenses também brilharam: o Coritiba fez 6-0 na Tuna Luso-PA, enquanto o Paraná aplicou 4-0 no Trem-AP - ambos se classificaram. Completando a rodada de massacres, uma surpresa: o alagoano Coruripe aplicou 4-1 no tradicional Juventus-SP, deixando a situação da equipe da Rua Javari muito delicada para o segundo confronto.
• Classificações antecipadas - Além daqueles que massacraram como visitantes, outros três times garantiram sua passagem de fase sem necessitar do confronto de volta, vencendo por dois gols de diferença fora de casa: Nacional-AM (1-3 sobre o Guará-DF), Palmeiras-SP (0-2 contra o CENE-MS) e Botafogo-RJ (1-3 no Rio Branco-AC).
• Dupla entregada - No jogo de ida, o Águia Negra-MS, já havia conseguido perder, em casa, para o Paranavaí-PR por 3-4, num jogo em que começou vencendo por 2-0. Ontem, no confronto de volta, como visitante, o time pareceu capaz de fazer a remontada mas, outra vez, acabou entregando. Saiu de campo com um 3-3, depois de ter aberto 1-3 no placar, e deu adeus à Copa do Brasil.
• O salvador - Michel Alves foi o nome da classificação do Juventude à próxima fase da competição. O adversário era o pouco temido Linhares-ES, mas depois de empatar por 0-0 no Espírito Santo, os de Caxias do Sul também se mostraram incapazes de marcar gols jogando em casa. Novo 0-0 e a decisão foi para os pênaltis. Aí apareceu Michel Alves: na série inicial de penalidades, depois de os visitantes acertarem as três primeiras cobranças e praticamente assegurarem a passagem de fase, ele pegou os dois últimos tiros dos capixabas para levar o desempate à série de alternadas. Nelas, consagrou-se com mais uma defesa e fez sua equipe passar de fase ao converter o último chute juventudista. No fim, 5-4 para o alviverde e um herói para uma torcida com carência deles.
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