“Quem viaja para a Andorra que nos conte sobre o resto do globo.” – Provocou o Iuri na sua retrospectiva gaúcha-argentina-oriental de sexta-feira. Então contemos, não sobre todo o resto do globo, mas sobre o que 2008 guardou para os times vistos durante a jornada europeia (mais precisamente, dos países relacionados aos Pirineus). Repetindo o trajeto pela ordem e saindo da capital da Espanha, basta dizer que aquele Real Madrid 3-2 Villarreal acompanhado in loco pelo blog em 27 de janeiro foi simplesmente o melhor jogo do Campeonato Espanhol daquela temporada. Tratava-se do confronto entre os times que acabariam como campeão e vice, respectivamente. Mais: tratava-se do melhor campeão da Liga desde a adoção do sistema três-pontos-por-vitória-e-vinte-clubes – jamais houve arraso semelhante aos 85 pontos do Madrid em 38 rodadas.
O Barcelona terminou 2007/08 a enormes 18 pontos dos merengues, com direito a levar 4-1 no clássico do pasillo, e a enganosa campanha na Champions League (em que chegou à semifinal) não foi suficiente para salvar o clube catalão de uma crise política, amenizada pelos bons resultados de 2008/09, na qual o quadro se inverteu e quem domina a Liga é ele, enquanto o Madrid patina. A temporada passada foi especialmente boa para o Atlético de Madrid, classificado para a Champions League depois de anos, apesar de mal-amado pela imprensa, e para o Racing Santander, que na Liga obteve uma inédita vaga em torneio internacional e, na Copa do Rei, avançou até as semifinais, pela primeira vez em todos os tempos. No fim, porém, a Copa nacional espanhola terminaria nas mãos do Valencia, que convivia com resultados catastróficos e brigava pra não cair, e cuja fraqueza ficaria evidente na Supercopa, com a perda do título para um Real Madrid que jogava com 9 homens.
O clube que mais fez os espanhóis sonharem foi o pequenino Getafe. Numa campanha anormal, o azulón dos arredores de Madrid andou milhas além do que se imaginava na Copa da UEFA e esteve a ponto de eliminar o poderoso Bayern München alemão – mas acabou derrubado numa prorrogação que fez daquele embate o melhor jogo de 2008. A taça internacional que não foi à Espanha pelas mãos do Barcelona, do Madrid, ou do Getafe, quem a levou foi a Seleção, campeã da Eurocopa na Áustria.
Saindo da Espanha para a França, encontramos um campeonato que não quer mudar de campeão. Por mais um ano, o sétimo seguido (e já vamos para o oitavo), o Lyon conquistou a Liga. A emoção do Campeonato Francês ficou por conta das outras disputas, especialmente a luta contra o rebaixamento, que envolvia o PSG, o Toulouse e o Lens, vitimando este último. O PSG ainda conseguiu fazer um pouco como o Valencia, e recuperou seu ano erguendo uma taça – a da Copa da Liga, contra o próprio Lens, numa insólita final proporcionada por candidatos ao descenso. O Lyon, contudo, resolveu estender seu domínio para além dos pontos corridos, e levou o outro título eliminatório do país, a Copa da França. Nela, o nosso querido Arles do estádio ventoso morreu nas oitavas-de-final (1-1 com o Amiens e derrota por 4-2 nos pênaltis), e o pequeno que realmente brilhou foi o Carquefou, da quinta divisão, que eliminou times como Nancy e Olympique de Marseille antes de cair para o onipresente PSG, nas quartas-de-final.
Dos clubes franceses de divisões baixas que conhecemos, o mais bem-sucedido em 2008 foi, certamente, o Grenoble. Dono de um projeto ambicioso, o clube comandado por investidores japoneses conseguiu o acesso à primeira divisão naquela temporada mesmo e, já na elite, mostrou-se forte dentro do seu novo Stade des Alpes: nos primeiros seis meses do estádio, jogou nove vezes sem ser vencido e levou apenas um gol (hoje a estatística é de 8 vitórias, 5 empates e 4 derrotas). Após um início sonhador, o GF38 decaiu um pouco e hoje é 11º na Ligue 1. Nossos outros três times da segunda divisão são atualmente concorrentes diretos por uma vaga no acesso: após 18 rodadas na Ligue 2 2008/09, o Montpellier é 3º colocado com 32 pontos, sendo o último que subiria, mas colado nos dois que vimos se enfrentar – o Boulogne também tem 32 e ocupa o 4º lugar, enquanto o SCO Angers é 5º, com 31.
Finalmente, Andorra. Tudo como se esperava por lá. O Santa Coloma, fortíssimo, terminou campeão (mas não invicto: sua única derrota veio na primeira rodada do quadrangular final, 2-1 para o Sant Julià) e o Casa Benfica, fraquíssimo, foi rebaixado (mas não sem vitórias: no quadrangular da morte, conseguiu a proeza de dois triunfos, 3-1 sobre o Principat e vitória pelo mesmo placar contra o Engordany). Quem nos enganou foram os times de Escaldes-Engordany: ao contrário do que o confronto visto em Aixovall indicou, o Engordany não era melhor que o Inter d’Escaldes – que o digam as duas vitórias deste nos duelos pelo quadrangular da morte de 2008, por 4-0 e 3-1. Hoje o Santa Coloma é segundo colocado invicto do Andorrano 2008/09, um ponto atrás do Sant Julià. Já para o grande time do Principado, o FC Andorra, a vida segue igual. Atualmente a equipe está no 8º lugar do Grupo 5 da Primera Territorial Catalana (que, informação nova, corresponde à sétima divisão da Espanha, e não à quinta, como acreditávamos) – o nosso Peñarol de Lérida, o Atlètic Alpicat, esse sim pode fazer algo grande, ocupando por ora o 2º lugar da chave, apenas dois pontos atrás do líder Mollerussa, com 17 rodadas (de 36) jogadas.
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