segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Valorizando um título

Real Madrid e Valencia encontraram um Santiago Bernabéu com lotação a três quartos da capacidade máxima para o jogo de volta da Supercopa da Espanha de 2008. Zero a zero dava o troféu aos valencianistas, um a zero servia para os merengues. E o jogo deveria ser apenas isso, a luta por obter um resultado minimamente vantajoso nesse último encontro de pré-temporada – que dá taça oficial, mas uma taça desvalorizada pela maior parte dos torcedores.

Não foi assim. Houve uma remontada grandiosa no meio da história, com goleada, inferioridade numérica e taça parando nas vitrinas blancas. Não foi como se esperava porque o Madrid desses últimos dois anos insiste em contrariar a máxima burra formada no meio da década, que o aponta como time de marketing e sem alma. Falta futebol a esse Madrid pós-galácticos, e isso está claro pelo pífio desempenho internacional recente, mas sobram cojones para tentar ganhar. Viu-se na Liga 2006/07, com um título perdido recuperado nas últimas rodadas a base do lema “juntos, podemos”, golos nos minutos finais e viradas de placar; viu-se na Liga da temporada passada, ganha mais tranqüilamente, porém com o título sendo assegurado numa rodada em que, levando 1-0 do Osasuna, o Madrid deu a volta no placar marcando aos 88 e 89 minutos.

É um time que, como nos tempos de Juanito, não encara disputa alguma como perdida. Mesmo que essa disputa seja uma desprezada Supercopa. Ontem, seria fácil demais desistir do jogo contra o Valencia, poupar-se para os campeonatos importantes que começam em breve. No intervalo, Silva já havia adiantado os visitantes por 0-1 (2-4 no agregado) e os merengues tinham dez homens em campo – Van der Vaart, por uma entrada estúpida, viu o vermelho. À falta de quinze minutos para o fim da partida, no segundo tempo, o Madrid empatava por 1-1, sem estar em melhor situação: o mesmo Van Nistelrooy que lograra a igualdade convertendo um pênalti saía expulso para deixar o quadro da capital com nove jogadores. Seria fácil, sim, e seria também medíocre desistir. O Madrid, este dos últimos tempos, pode ser questionável tecnicamente, mas fraco de espírito não é.

A partir da segunda expulsão, un ataque desesperado de dignidad y vergüenza, na definição de Ulises Sánchez-Flor no Marca de hoje, atropelou os valencianistas, sob a liderança de Robben. Sergio Ramos aproveitou sobra de escanteio para, aos 77, fazer a virada que valia o título, embora àquela altura o 2-1 não representasse tranqüilidade alguma – seria preciso resistir com dois a menos por muitos minutos. Ignoravam, todos, que o Valencia convulsionava emocionalmente com aquela virada. Nada mais pôde fazer. Perdido em campo, sofreu um golazo de De La Red aos 86 minutos e embebeu de humilhação sua noite levando 4-1 pelos pés de Higuaín, numa pelota mal atravessada por Alexis diante da sua área.Remontada, goleada e título com nove em campo. Um esforço inútil chegou a resultar num gol de Morientes, descontando no último minuto, somente para prolongar dolorosamente as ilusões mantidas com afinco pela equipe de fora. O 4-2 fez do Real Madrid o maior vencedor de Supercopas na Espanha, com oito taças. Um título de aquecimento para a temporada, um título menor. Festejado, contudo, com o orgulho dos que escreveram uma pequena jornada épica, tornando-a apaixonante ao ponto de valorizar o menos importante dos troféus.

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