segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Acontecendo de novo

O gol de Réver em reprodução da TV

“Quando eles chegaram aos 3 a 3, lembrei de ter ouvido durante a semana que Grêmio x Náutico nunca mais seria um jogo normal.” Sandro Goiano disse isso após a vitória dos gaúchos sobre os pernambucanos por 4-3, na 33ª rodada do Brasileirão do ano passado, em 27 de outubro. Falava de um Grêmio e Náutico que estava longe de ser o mais famoso de todos, e diagnosticava a mística que insiste em cercar essa partida: desde a célebre Batalha dos Aflitos de 2005, confrontos entre as duas equipes vêm recheados de tensão e, num nível anormal, de eventos inesperados.

Na verdade vem de antes da própria Batalha. Na Série B 2005, os dois duelos prévios ao de 26 de novembro tiveram dramaticidade: pela primeira fase, o Grêmio, em pleno Olímpico, sofreu o 2-2 de um Náutico que fora ao intervalo levando 2-0; no quadrangular final, na primeira rodada, o empate parecia outra vez imutável, até o zagueiro Domingos desviar uma improvável bola de cabeça aos 88 minutos de partida fazendo 1-0 para os tricolores. Após esses, quatro jogos: a Batalha, os 4-3 do ano passado, e duas destoantes vitórias do Grêmio por 2-0, nos primeiros turnos de 2007 e 2008.

Ontem, outra vez um Grêmio e Náutico rendeu história para contar. E eis que os gaúchos foram aos Aflitos carregando o favoritismo de um líder e a esperança de abrir mais vantagem no topo da tabela, pelos tropeços dos concorrentes, e não conseguiram fazer pressão sobre os desfigurados adversários e seus oito desfalques. Tiveram que ver Victor fazer outro dos seus milagres, aos 51 minutos, e os alvirrubros marcarem 1-0 com Paulo Santos, aos 56. Estava bastante irritante: seria a segunda derrota consecutiva de um time que, na semana passada, estava há onze jogos invicto, e dessa vez contra um oponente fraquíssimo – o Náutico só fez oposição pela confusão e ineficiência tricolor, não por qualidade própria.

E o pior: o Timbu, com o goleiro reserva André Sangalli no primeiro tempo, voltou para a etapa complementar com o terceiro arqueiro, o jovem David Amorim. David, a um dia do vigésimo aniversário celebrado hoje, tinha nas suas mãos a responsabilidade de sustentar os três pontos essenciais para o Náutico fugir do rebaixamento. E tremeu. Largou uma enormidade de bolas dominadas e não conseguiu ganhar outras tantas fáceis, chegando ao cúmulo de soltar sobre seu próprio corpo um tiro já defendido e quase fazer um gol contra. Terminou a partida sentindo um braço, complicando de vez a resistência.

Condições perfeitas para o Grêmio arriscar chutes e meter os gols da virada. Celso Roth gritava desesperado, dando essa orientação, e era solenemente ignorado. Os gaúchos não marcariam um gol no fraco David!!! E perderiam pela segunda rodada consecutiva. E vislumbrariam a decadência no horizonte. Aconteceria, sem o fator “imponderável” desses jogos entre gremistas e alvirrubros. Eram 48 minutos e 40 segundos de segundo tempo, tendo sido pedidos quatro de acréscimo, quando o empate do Grêmio veio. Daqueles lances em que até o goleiro Victor vai para a outra área e geralmente não dão resultado algum. Mas era um Grêmio e Náutico. A bola foi levantada, afastada, recuperada, cruzada novamente, rebatida, chutada, salva sobre a linha e, finalmente, sobrou nos pés do zagueiro tricolor Réver, que mandou um torpedo alto para fazer 1-1.



Como quase três anos atrás, o estádio dos Aflitos silenciou. “Aconteceu de novo”, ecoava na mente dos torcedores pernambucanos que levavam as mãos à cabeça, incrédulos. “Aconteceu de novo”, gritavam os gremistas igualmente incrédulos com o ponto recuperado após uma atuação lamentável de seu time. Jogando pouco nas duas últimas rodadas, o Grêmio perdeu para o Flamengo, empatou com o Náutico, mas continuou líder, com a mesma diferença de cinco pontos para os perseguidores mais próximos. O Grêmio ser campeão, também acontecerá de novo?

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