Ontem o São Luiz entrou em campo vestindo uma camisa vermelha e, durante os doces primeiros quarenta e cinco minutos do amistoso contra o Inter de Santa Maria, pareceu que a tradição vencera a pressão dos gremistas. Mas era enganoso. No segundo tempo o time voltou trajando seu uniforme todo pálido (imagens abaixo), popularizado em 2008, pronto para mais uma temporada de negação à história – talvez tenha sido por essa espécie de alteração no gene do clube que a Monsanto se interessou em patrocinar o (alvi)rubro ijuiense esta temporada.
Dentro de campo, a qualidade dos times também se mostraria diferente. O São Luiz de 2008 foi o melhor da década. O Inter do ano passado teve, provavelmente, a melhor equipe montada em Santa Maria desde os anos 80. Nesta terça-feira ambos foram caricaturas da última temporada. Os ijuienses estavam sem seis atletas ditos titulares – e os principais nomes de 2008, recontratados agora, Alex Albert e Ronaldo Capixaba, sequer foram relacionados. Pelo lado visitante, as baixas subiam para oito. Assim, viu-se bem pouco de produtivo.O primeiro tempo foi todo são-luizense, com o eterno Goico evitando que a meta colorada fosse vazada. O time de Ijuí evidenciou grande preferência nas jogadas pelos flancos, acionando especialmente o bom ala-esquerdo Xaro, mas morria com a falta de cabeceadores. Baixotes, os ofensivos do quadro local (ontem, na formação inicial, Gabriel, Kill – nome de matador –, e Alan) raramente conseguiam mandar a pelota no rumo do arco, fazendo a nulidade permanecer no marcador.
Do lado do Internacional, ademais do seu goleiro, o único merecedor de algum destaque era Warley (ou Uarlei, o que for). Enquanto seus companheiros tinham imensas dificuldades para observar o jogo – em repetidas vezes arriscaram chutes do meio da rua tendo um ou dois homens desmarcados pedindo a bola –, o camisa 11 deslocava-se pelos espaços livres, dava bons passes e liderava o ataque colorado. Daí que sua expulsão, aos dez minutos do segundo tempo, parecia ser a decapitação da equipe de Santa Maria.
Sem o seu melhor jogador, os visitantes, que ensaiaram um crescimento na etapa complementar, voltaram a ser dominados. As numerosas substituições, entretanto, foram descaracterizando os desenhos e desempenhos das equipes. Sem entrosamento, os reservas (e reservas dos reservas) mandados ao gramado corriam com relativa falta de noção do que faziam. Foi nesse cenário que um dos que iniciaram o jogo e ainda estavam em campo, o zagueiro são-luizense Bronzatti, do Barreiro, desperdiçou a melhor chance da partida até ali: aos 76 minutos, um antes de também ser substituído, chutou para fora uma bola que recebera na pequena área.
Povoando o ataque sem colher frutos desse volume, o rubro ijuiense deixava espaços gigantescos para os visitantes contra-atacarem. Aos 80 minutos, numa dessas investidas rápidas, o suplente Régis mandou um balaço da intermediária, acertou a trave direita do terceiro goleiro do São Luiz Célio, e vibrou ao ver que o esférico terminava seu trajeto no fundo das redes. Um pouco envergonhados por perderem para os reservas dos reservas de um time que, além de tudo, ainda jogava com dez, os reservas dos reservas do time da casa transformaram o zero a um em um a um no minuto seguinte. Numa jogada, veja só, de cruzamento na área: vinda da banda esquerda, a bola foi desviada de cabeça por Juliano, pegando Goico no contrapé.
O gol animou o São Luiz – mas quem cresceu foi o Inter. O que ganhou em ímpeto para ir para cima depois do empate, o time de Ijuí deixou em buracos na defesa, possibilitando minutos finais com maior número de chances para os visitantes. E como amistoso interiorano gaúcho não é amistoso interiorano gaúcho sem briga, aos 90+3 minutos o árbitro marcou um pênalti mais que duvidoso a favor dos de Santa Maria. Cercado, o apitador fez de Djalma-Beltrami-em-Batalha-dos-Aflitos e até peitaço recebeu. O Inter de Santa Maria, porém, não é um Náutico, e do penal nasceu o gol (vídeo abaixo). Silvano, 1 a 2, fim de jogo.
Um mau treino para as duas equipes, o amistoso. O de terça-feira era futebol mais próximo de um candidato ao rebaixamento do que de aspirante a passar de fase. Com o que mostraram ontem, São Luiz e Inter-SM têm muito por melhorar. Se a distância para essa evolução for coberta com os titulares ausentes, tudo bem. Se não...
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Breves observações táticas do jogo de ontem (anotações feitas de acordo com o mostrado no primeiro tempo – setas amarelas representam movimentações ofensivas, e as escuras, por óbvio, são de defesa):São Luiz (branco, esquerda): 1- Oliveira, 2- Barão, 3- Bruno Lourenço, 4- Neguetti, 5- Bronzatti, 6- Xaro, 7- Sérgio Grach, 8- Kélson, 9- Alan, 10- Kill, 11- Gabriel
Causou estranheza que Sérgio Grach (7) aparecesse como um zagueiro pela direita quando todos diziam que ele deveria se postar à frente de Bruno (3) e Neguetti (4), mas na maior parte do tempo era ali que ele aparecia. A bem da verdade, Grach só exercia a função anunciada quando a equipe ia ao ataque – nesse caso, geralmente Bruno Lourenço descia para cobrir o flanco direito, mas poderia permanecer na posição caso Neguetti também subisse. Mais à frente, destaque para a polivalência de Xaro (6), que em não poucas vezes chegou a apoiar o ataque pela direita (!), geralmente em movimento acompanhado por Kill (10) que, embora sempre jogasse avançado, nesses momentos forçava a ida de Alan (9), inicialmente postado à direita, para o centro. Barão (2) foi fraco nas movimentações de ataque.
Quando acuado, o São Luiz compactava-se de forma interessante. Sua formação defensiva mantinha a linha de três formada por Bruno Lourenço, Neguetti e Sérgio Grach, mas o meio era modificado. Enquanto Kill voltava e Kélson (8) adotava uma postura mais adiantada que o normal, formando estes dois uma “trincheira” para o primeiro combate atrás dos atacantes, Bronzatti permanecia na sua posição, apenas indo mais ao meio, para resguardar a zaga, ao passo que Xaro e Barão voltavam fechando seus respectivos lados.
Inter-SM (vermelho, direita): 1- Goico, 2- Marquinhos, 3- Cacá, 4- Lino, 5- Wilson, 6- Fabinho, 7- Márcio Souza, 8- Sandro, 9- Wagner, 10- Jonas, 11- Warley
Ainda que se tenha anunciado o Inter jogando num 4-4-2, essa formação não superou os primeiros cinco minutos de partida. Na maior parte do tempo, a defesa de Santa Maria era composta por apenas três homens em triângulo: Lino (4) e Cacá (3) mais atrás, e Wilson (5) combatendo à frente – quando havia necessidade de defender, este voltava e atuava pela direita, e Cacá postava-se no centro. Marquinhos (2) era outro com o costume de retornar quando o São Luiz atacava, movimentação não repetida no outro lado do campo por Fabinho (6), talvez porque a ineficiência do são-luizense Barão pouco exigisse e os deslocamentos de Xaro e Kill resultassem inofensivos. Quem voltava para ajudar a marcação no centro era Warley (11), deixando Wagner (9) solitário na frente.
Em movimentações ofensivas, o Inter dependia principalmente da aproximação de Jonas (10), que jogava mais recuado. Quando subia, ele geralmente ocupava a posição de Warley, que por sua vez descia bem para a ponta esquerda. Essa movimentação de Warley era similar à que Márcio Souza (7) fazia quando os ataques ocorriam pelo lado direito.
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