ANGERS - Meio dia dentro de TGVs, os trens de alta velocidade, fizeram de Montpellier mais um pedaço do passado na nossa jornada européia. Antes que as lembranças esfriem, então, é bom resolver a questão pendente e falar da cidade e do seu futebol.
A cidade: Montpellier, citada pela primeira vez em documentos de 985, é milenária. À época, foi cedida pelo conde Bernard de Melgueil ao cavaleiro Guilhem, recompensando sua dedicação. Guilhem I de Montpellier, como se faria conhecer após fundar sua dinastia, deu início à construção de um burgo fortificado, com uma igreja central como símbolo do ponto de partida da cidade - todo o crescimento seria em torno dela.
No Século XIII, a região ganha destaque com suas Escolas de Medicina e Direito que, em 1289, recebem o status de Universidade por reconhecimento do papa Nicolau IV. Até hoje Montpellier colhe frutos com suas tradicionais instituições, convertendo-se em pólo receptor de estudantes das mais diversas nacionalidades. Crescendo em importância, a cidade aumentou consideravelmente sua população nos séculos seguintes, tornando-se capital regional e contando com uma aglomeração urbana de mais de meio milhão de habitantes, atualmente.
Aquele burgo fortificado dos tempos iniciais ficou como o centro antigo de uma grande cidade. Ali, começando pela famosa Place de la Comédie - assim chamada após receber o teatro municipal, no Século XVIII -, carros e ônibus passaram a ter sua circulação reduzida recentemente: em 2003, partindo de onde Montpellier nasceu, linhas de tramways (imagem à direita), trens urbanos ao melhor estilo dos velhos bondes, saem para todos os cantos espraiados ao redor do centro, alcançando os bairros distantes que formam a cidade de hoje. No fim de uma dessas linhas, encontra-se a região de Mosson e, lá, o bairro de La Paillade...O futebol: Falar em Mosson, La Paillade, significa falar, inevitavelmente, do futebol da cidade. É ali que se localiza o Stade de La Mosson, uma das sedes da Copa do Mundo de 1998, com capacidade para receber mais de 35 mil espectadores. Sua construção data de 1972, durante uma década de profundas mudanças no esporte local. Mas antes disso, bem antes, precisamos voltar no tempo.. se quisermos recuperar a história do futebol de Montpellier, é preciso ir a 1914.
1914. Naquele ano são fundados dois dos primeiros grandes clubes poliesportivos locais, o La Vie e o Grand Air, que a exemplo de tantos outros pelo mundo, logo deixaram de lado as modalidades menos procuradas para se dedicar exclusivamente ao futebol. Pouco destacados, ainda fracos, ambos optam por uma fusão em 1919, originando o Stade Olympique Montpelliérain - ou SOM, já que os franceses são afeitos às siglas -, que não tardaria a obter sucessos. Uma década após sua fundação, o SOM conquistaria o título da Copa da França, voltando a mostrar força dois anos depois, em 1931, quando foi vice.
Por três décadas, desde que se estabeleceu profissionalmente, o SOM elevou o nome de Montpellier no cenário nacional, alternando participações entre as duas primeiras divisões. Uma decisão desastrosa na temporada 1967/68, entretanto, trataria de encurtar sua trajetória: já cambaleando financeiramente, o clube optou por abandonar seu antigo estádio e jogar no recém-construído Stade Richter. Muito distante do centro, com poucas vias de acesso e sem identificação com a torcida, o Richter se acostumou a receber públicos medíocres, de menos de mil espectadores por partida. Incapaz de se manter e diante do desinteresse geral, o SOM abandona o profissionalismo em 1969.
O início da década de 1970 traz novos ares sobre as cinzas do SOM, com diversas mudanças no futebol de Montpellier. Logo na temporada seguinte à que o reduziu ao amadorismo, o Olympique faz fusão com o Sport Club de Montpellier, originando o Montpellier Littoral Sport Club, dando um primeiro passo rumo à reestruturação. Em 1972, enfim, é inaugurado o Stade de La Mosson e, em 1974, vem a cartada final para recuperar as glórias de outrora: o Montpellier Littoral faz nova fusão, agora com o AS Paillade, originando o Montpellier Paillade Sport Club (hoje chamado Montpellier Hérault SC).
Ainda nas divisões nacionais amadoras, o clube obtém bons resultados rapidamente e se dispõe, na década seguinte, a voltar com força ao profissionalismo. Em 1981, um vice-campeonato na segunda divisão qualifica o novo Montpellier a jogar, pela primeira vez, na elite - pese em contrário o fato de ter sido rebaixado em último lugar, a experiência foi válida para mostrar o caminho a seguir. Em 1987 o time conquistaria o título da segundona e o acesso definitivo. O sucesso obtido pelo SOM, tão almejado, seria outra vez alcançado, e até superado, com os títulos da Copa da França (1990, com um vice em 1994), Copa da Liga (1992) e Copa Intertoto (1999). Entre seus jogadores históricos, aparecem nomes como Éric Cantona, Laurent Blanc, o húngaro Laszlo Kiss, o camaronês Roger Milla, o colombiano Valderrama, e o zagueiro brasileiro Júlio César, da Seleção que disputou a Copa do Mundo de 1986.
Infelizmente, os altos e baixos parecem ser inevitáveis na vida dos torcedores da cidade. Outra vez, a transição de uma década para outra acabaria trazendo grandes alterações: depois das boas temporadas anteriores, o Montpellier entra nos anos 2000 convivendo com as ameaças de rebaixamento. Vai à segunda divisão na temporada 1999/00 e, embora retorne rapidamente, não consegue recobrar a força, acabando por descender outra vez em 2004. Desde então, o time milita nos gramados da Ligue 2 francesa, acalentando, como na década de 1970, o sonho de voltar a ser grande. Hoje é sétimo colocado, longe da briga para subir, mas os dirigentes garantem que é questão de pouco tempo para que os dias de antologia e títulos voltem à Paillade. Pedem um ano para conseguir o acesso.
A cidade: Montpellier, citada pela primeira vez em documentos de 985, é milenária. À época, foi cedida pelo conde Bernard de Melgueil ao cavaleiro Guilhem, recompensando sua dedicação. Guilhem I de Montpellier, como se faria conhecer após fundar sua dinastia, deu início à construção de um burgo fortificado, com uma igreja central como símbolo do ponto de partida da cidade - todo o crescimento seria em torno dela.
No Século XIII, a região ganha destaque com suas Escolas de Medicina e Direito que, em 1289, recebem o status de Universidade por reconhecimento do papa Nicolau IV. Até hoje Montpellier colhe frutos com suas tradicionais instituições, convertendo-se em pólo receptor de estudantes das mais diversas nacionalidades. Crescendo em importância, a cidade aumentou consideravelmente sua população nos séculos seguintes, tornando-se capital regional e contando com uma aglomeração urbana de mais de meio milhão de habitantes, atualmente.
Aquele burgo fortificado dos tempos iniciais ficou como o centro antigo de uma grande cidade. Ali, começando pela famosa Place de la Comédie - assim chamada após receber o teatro municipal, no Século XVIII -, carros e ônibus passaram a ter sua circulação reduzida recentemente: em 2003, partindo de onde Montpellier nasceu, linhas de tramways (imagem à direita), trens urbanos ao melhor estilo dos velhos bondes, saem para todos os cantos espraiados ao redor do centro, alcançando os bairros distantes que formam a cidade de hoje. No fim de uma dessas linhas, encontra-se a região de Mosson e, lá, o bairro de La Paillade...O futebol: Falar em Mosson, La Paillade, significa falar, inevitavelmente, do futebol da cidade. É ali que se localiza o Stade de La Mosson, uma das sedes da Copa do Mundo de 1998, com capacidade para receber mais de 35 mil espectadores. Sua construção data de 1972, durante uma década de profundas mudanças no esporte local. Mas antes disso, bem antes, precisamos voltar no tempo.. se quisermos recuperar a história do futebol de Montpellier, é preciso ir a 1914.
1914. Naquele ano são fundados dois dos primeiros grandes clubes poliesportivos locais, o La Vie e o Grand Air, que a exemplo de tantos outros pelo mundo, logo deixaram de lado as modalidades menos procuradas para se dedicar exclusivamente ao futebol. Pouco destacados, ainda fracos, ambos optam por uma fusão em 1919, originando o Stade Olympique Montpelliérain - ou SOM, já que os franceses são afeitos às siglas -, que não tardaria a obter sucessos. Uma década após sua fundação, o SOM conquistaria o título da Copa da França, voltando a mostrar força dois anos depois, em 1931, quando foi vice.
Por três décadas, desde que se estabeleceu profissionalmente, o SOM elevou o nome de Montpellier no cenário nacional, alternando participações entre as duas primeiras divisões. Uma decisão desastrosa na temporada 1967/68, entretanto, trataria de encurtar sua trajetória: já cambaleando financeiramente, o clube optou por abandonar seu antigo estádio e jogar no recém-construído Stade Richter. Muito distante do centro, com poucas vias de acesso e sem identificação com a torcida, o Richter se acostumou a receber públicos medíocres, de menos de mil espectadores por partida. Incapaz de se manter e diante do desinteresse geral, o SOM abandona o profissionalismo em 1969.
O início da década de 1970 traz novos ares sobre as cinzas do SOM, com diversas mudanças no futebol de Montpellier. Logo na temporada seguinte à que o reduziu ao amadorismo, o Olympique faz fusão com o Sport Club de Montpellier, originando o Montpellier Littoral Sport Club, dando um primeiro passo rumo à reestruturação. Em 1972, enfim, é inaugurado o Stade de La Mosson e, em 1974, vem a cartada final para recuperar as glórias de outrora: o Montpellier Littoral faz nova fusão, agora com o AS Paillade, originando o Montpellier Paillade Sport Club (hoje chamado Montpellier Hérault SC).
Ainda nas divisões nacionais amadoras, o clube obtém bons resultados rapidamente e se dispõe, na década seguinte, a voltar com força ao profissionalismo. Em 1981, um vice-campeonato na segunda divisão qualifica o novo Montpellier a jogar, pela primeira vez, na elite - pese em contrário o fato de ter sido rebaixado em último lugar, a experiência foi válida para mostrar o caminho a seguir. Em 1987 o time conquistaria o título da segundona e o acesso definitivo. O sucesso obtido pelo SOM, tão almejado, seria outra vez alcançado, e até superado, com os títulos da Copa da França (1990, com um vice em 1994), Copa da Liga (1992) e Copa Intertoto (1999). Entre seus jogadores históricos, aparecem nomes como Éric Cantona, Laurent Blanc, o húngaro Laszlo Kiss, o camaronês Roger Milla, o colombiano Valderrama, e o zagueiro brasileiro Júlio César, da Seleção que disputou a Copa do Mundo de 1986.
Infelizmente, os altos e baixos parecem ser inevitáveis na vida dos torcedores da cidade. Outra vez, a transição de uma década para outra acabaria trazendo grandes alterações: depois das boas temporadas anteriores, o Montpellier entra nos anos 2000 convivendo com as ameaças de rebaixamento. Vai à segunda divisão na temporada 1999/00 e, embora retorne rapidamente, não consegue recobrar a força, acabando por descender outra vez em 2004. Desde então, o time milita nos gramados da Ligue 2 francesa, acalentando, como na década de 1970, o sonho de voltar a ser grande. Hoje é sétimo colocado, longe da briga para subir, mas os dirigentes garantem que é questão de pouco tempo para que os dias de antologia e títulos voltem à Paillade. Pedem um ano para conseguir o acesso.
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