domingo, 30 de agosto de 2009

FC Rio Pardo, duzentos e setenta e seis dias depois

Um clube fundado há menos de um ano está fazendo ESVOAÇAR as certezas sobre o seu futuro, o seu curto passado, e até mesmo o seu TERRITÓRIO. O Futebol Clube Rio Pardo, nascido de um parto NATURAL ainda que INCOMUM no dia 27 de novembro de 2008, entrou na Segundona com um projeto amplo, almejando a subida de divisão logo na temporada de estreia e buscando uma identificação com a cidade que o sediava. Agora, abre o segundo semestre mandando seus jogos na improvável cidade de Três Coroas, a mais de duzentos quilômetros de Rio Pardo.

A história não recebeu muito destaque nas páginas esportivas dos PERIÓDICOS mais lidos destes CONFINS entre as planuras e as serras do sul do mundo, mas aqui no Futebesteirol o andar do Rio Pardo foi observado de maneira mais aproximada. Tabajara Ramalho de Andrade, um dos fundadores e presidente da agremiação, concedeu entrevista em maio explicando o que se tinha em mente ao fazer a equipe. Falava de um projeto da administração municipal para iniciar o futebol profissional por lá e um convite para liderar o novo clube.

As dificuldades típicas de um quadro do interior, no entanto, foram enterrando os sonhos do auriverde da terra da Tranqueira Invicta durante a Segundona. Com a falta de dinheiro, os jogadores descontentes ameaçaram o comando do clube com greves. Segundo fonte de dentro do próprio elenco, os atletas disseram se recusar a entrar em campo caso Tabajara não fosse afastado. Ainda exigiam o retorno imediato do treinador Marcão, que saíra do Rio Pardo sob acusação oficial de estar apresentando, fora de campo, conduta antiprofissional.

Quando o Rio Pardo foi a Santa Maria enfrentar o Riograndense pela Segundona, a situação dos verde-amarelos era esta: um Tabajara longe do clube – de acordo com alguns rio-pardenses, por pressão da própria Prefeitura da cidade – e um Marcão de volta. A interrupção do trabalho do treinador custara caro e a equipe não conseguiu recuperar a campanha pífia no período em que a casamata teve ocupantes incertos. Foi eliminada na segunda fase do certame, mas seguia com o planejamento anunciado desde o princípio por Tabajara: disputar a Copa Arthur Dallegrave no segundo semestre, dando cancha aos talentos mais jovens.

Como o tempo de seu mandato segue, Tabajara nunca esteve realmente desligado do Rio Pardo. Embora o afastamento tenha de fato ocorrido, por razões que variam de acordo com quem conta, e a presidência hoje seja ocupada provisoriamente pelo vice José Faustino dos Santos, ele segue ativo a encabeçar o auriverde. Ontem, durante o Radar Esportivo, pela Rádio Universidade de Santa Maria, eu e a Laura Gheller entrevistamos Tabajara Ramalho de Andrade. Muito diferente do que havia dito na conversa de maio, ele revelou que o clube, na realidade, é uma empresa mantida pelas suas mãos e as de mais três investidores. Aos torcedores que interpretaram como “traição” a saída do Rio Pardo da cidade que o fez nascer, Tabajara explicou as razões para a mudança para Três Coroas, e falou em retornar ao estádio Amaro Cassep para a Segundona do ano que vem. Por fim, o presidente/afastado/dono/fundador do Rio Pardo também deu a sua versão sobre os fatos que cercaram a CONTURBADA temporada do clube. A seguir, a entrevista.

* * *

Como foi a volta ao FC Rio Pardo depois do teu breve afastamento? Como foi o clima na recepção?

Nós nunca nos afastamos. Eu estou de licença como presidente. Mas o Futebol Clube Rio Pardo foi fundado como clube-empresa, então ele pertence aos proprietários. Sou um dos donos, e mais três investidores que estão junto comigo. Nós nunca nos afastamos. Sempre estivemos na linha de frente. E agora levamos para Três Coroas para jogar a Copa RS por questão de patrocínios, porque você sabe que a dificuldade do futebol é conseguir patrocinadores. Porque os nossos patrocinadores são todos de fora, a maioria é de Porto Alegre.

- Aqui em Santa Maria, quando o Rio Pardo veio jogar contra o Riograndense, e acabou levando 5 a 0, várias pessoas falaram desse momento que o senhor estava meio afastado da direção do clube. Os jogadores fizeram greve, e teria sido esse o motivo do seu afastamento. Como foi esse episódio?

Eu não levo pra esse lado. Vou dizer uma coisa recente pra vocês... O Pelotas, o único jogador que tá em Pelotas é o Sandro Sotilli. E o Pelotas tá na primeira divisão. Então, no futebol, atrasar salários (é comum) – eu duvido que o Riograndense está em dia com os salários aí; (se estivesse) seria uma exceção. Mas nós sempre honramos – eu trabalhei no Santa Cruz durante dez anos, fui cinco anos presidente; nós sempre ficamos com uma pendência, mas sempre depois pagamos e honramos. Lá no Futebol Clube Rio Pardo foi o seguinte: eu tive um problema de doença, e eu não vou levar para a grande mídia isso aí; eu tive um problema de doença na família, da minha mãe, que tem oitenta e seis anos, e eu não vou deixar de atender a minha mãe. Então eu pedi a esses investidores, comigo junto, que nós nos afastássemos. E agora o meu vice-presidente tá na ativa, o Faustino (José Faustino do Santos, vice do FC Rio Pardo), tá como presidente, porque nós estamos com um outro projeto muito grande dentro do futebol, e fizemos reunião toda a semana em Porto Alegre. E vamos jogar no campo do Mundo Novo como locamos com o doutor Joni Lisboa, que é o prefeito municipal (de Rio Pardo), que é uma pessoa que temos um carinho muito grande, uma pessoa boníssima, finíssima e muito educada, e nos tratou super bem. Lá o doutor Joni nos cedeu o campo pro Rio Pardo para nós jogarmos. E eu prometi a eles que o Futebol Clube Rio Pardo vai jogar a Série B do ano que vem em Rio Pardo, com esse patrocinador forte que nós estamos trazendo.

- O que aconteceu na metade da Segundona. Como o dinheiro passou a rarear no clube? Que dificuldades aconteceram?

Nós tivemos um patrocinador que teve um problema financeiro para nos repassar (o dinheiro), mas isso já está sendo solucionado, nós já estamos acertando. Todos os jogadores acertaram conosco numa boa e nós fomos repassando pra eles agora, e pagando, e vamos rever. Claro que tivemos problemas com alguns jogadores ali, você sabe que futebol é isso aí, tem as suas restrições. Mas do grupo, noventa por cento é excelente. Nós tivemos dez por cento que foram trazidos pelo primeiro técnico, o Laoni (Luz), que nós não conhecíamos eles.

- Durante esse período os jogadores fizeram greve, deu esse problema, e o treinador Marcão, que havia sido afastado, acabou retornando para o comando da equipe. Por que ele voltou?

Porque o pessoal do Rio Pardo queria que ele voltasse. Agora vou dizer uma coisa pra ti, e eu digo isso aí publicamente: se eu tiver que contratar um treinador, eu jamais vou contratar o Marcão. O Marcão é um excelente profissional dentro do campo, mas fora do campo, extracampo, o que ele aprontou dentro de Rio Pardo, que é uma cidade pequeninha, de vinte e poucos mil habitantes, não chega a trinta mil habitantes, é impressionante. Então nós não compactuamos com certas coisas que ele fez. Mas os jogadores nunca fizeram greve... isso foi mais um “bafo”. Eles sempre jogaram, jogamos todos os jogos. Eu acho que o “bafo” é normal fazer.

- Mas em relação ao Marcão. Uma versão que nós acompanhamos foi que ele teria saído por conta própria por não ter recebido o pagamento de uma premiação. O senhor nega isso?

Ele foi demitido por mim. Demitido. O Marcão recebeu todo o salário dele, não deixamos de pagar nada pra ele. Para ver que ele é muito bom treinador e está desempregado até agora. Duvido que ele pegue algum clube.

- E do elenco que disputou a Segundona, quantos jogadores ainda estão aí?

Como eu disse, desde junho que eu estou afastado, mas o clube é nosso – eu e mais três empresários. Estamos só com gurizada. Fizemos assim para jogar a (Copa) RS. Com esse patrocinador, que é um patrocinador forte, que ele pediu para não divulgar ainda em respeito aos nossos atuais patrocinadores deste ano, para voltarmos no ano que vem muito fortes. Mas nós não utilizamos nenhum jogador que atuou conosco na Série B. Então é uma folha baixa, para manter o Rio Pardo na mídia. Hoje (ontem) à tarde, às três horas, estamos jogando com o Cruzeiro de Porto Alegre. Estreamos no domingo passado contra o Grêmio, lá em Três Coroas. Foi muito boa a recepção da torcida. Perdemos infelizmente por um a zero, teve expulsão de um jogador nosso, e agora de tarde nós jogamos com o Cruzeiro de Porto Alegre (fora de casa [casa?], o Rio Pardo foi derrotado pelo Cruzeiro por 3 a 0).

- No início do ano eu conversei com o senhor e foi citado um projeto de parceria com o Botafogo do Rio. Que fim deu esse projeto?

Estamos com dois guris no Botafogo do Rio já. (O projeto) Está andando. Não dá pra nós mandarmos muitos jogadores. Se destacaram dois jogadores e nós mandamos pra lá. E dois jogadores agora nós estamos mandando para a China. Estão embarcando na próxima semana para a China, e vão ficar em contrato de um ano.

- O Rio Pardo é um clube-empresa, como tu disseste, mas ele chegou a ter o apoio da torcida na Segundona. Depois da transferência dos jogos do FC Rio Pardo para Três Coroas, como foi a reação dos torcedores da cidade de Rio Pardo?

O Futebol Clube Rio Pardo, e isso nós botamos bem claro para o prefeito, nós quando fundamos o clube até íamos jogar em outra cidade, porque tínhamos um projeto nosso. Mas fomos lá porque temos um carinho muito grande e um respeito muito grande para o prefeito municipal, o doutor Joni, que gosta de futebol. Eu sei que o torcedor pode não gostar (da mudança), mas você sabe que futebol vive de dinheiro. E como esse patrocinador nos abriu essa janela para o ano que vem, e pediu para nós jogarmos lá, porque lá em Três Coroas não tem futebol, só tem o amador, nós fomos pra lá. Mas no ano que vem estamos de volta a Rio Pardo, vamos jogar em Rio Pardo, porque o contrato com a Prefeitura, com o campo municipal da Prefeitura para o Futebol Clube Rio Pardo é de cinco anos a cedência.

- Em termos de apoio financeiro, qual o peso da Prefeitura de Rio Pardo atualmente no clube?

O Tribunal de Contas proíbe qualquer ajuda para clube profissional. O doutor Joni nos cedeu o campo por cinco anos, e sempre cumpriu com tudo o que nós acordamos com ele. Então a cedência do campo, arrumar o campo, foi isso aí que a Prefeitura nos deu.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As entranhas de um capitão

Entrevista: Iuri Müller e Maurício Brum
Texto e fotos: Iuri Müller

Vinte e cinco foram os jogos da Segundona acompanhados pelo blog que renderam uma matéria. Muitas foram as fotos e os causos elucidados em cada cancha do interior. Ao fim das jornadas, alinhamos uma seleção. Mas não era o fim da cobertura da Segundona Gaúcha. Faltava a palavra do maior zagueiro do campeonato. Não falta mais. Em um Estádio dos Eucaliptos melancolicamente entristecido com a eliminação do Riograndense, BONALDI se abriu para os microfones do Futebesteirol.

A entrevista estava marcada para uma ingrata sexta-feira matinal. Mas Bonaldi não se mostrou sonolento. Deixou a CAVERNA, como é chamado o aposento destinado aos jogadores que vivem no estádio, e se mostrou pronto para destrinchar o seu passado e a imensa contribuição que teve na honrosa campanha do Periquito na temporada. Rumamos para o alto do pavilhão dos Eucaliptos. Certamente o canto mais agradável da cancha. De lá, Bonaldi avistava o ralo gramado em que pisou semanalmente pela embarrada Segundona.

Não estávamos frente a frente com um entrevistado qualquer. Bonaldi não era um zagueiro qualquer. Isso ele explicitou a cada cabeçada em que salvava o rubro-esmeralda de uma investida inimiga. Bonaldi, com a jaqueta branca do ferroviário santa-mariense, parecia ter olhos apenas para o futebol da sua equipe. De pé no concreto do pavilhão, mostrou a mesma decisão. Falava sempre com firmeza. Se por vezes faltavam sorrisos, frases definitivas jorravam tranquilamente da face do defensor.

Rodrigo Corrêa Bonaldi, que completa trinta e um anos em setembro, mora no alojamento do clube porque “é sozinho”. A mãe ficou em Cruz Alta, cidade natal do jogador. O zagueiro solitário, de parcos fios de cabelo e marcas no rosto que evidenciam batalhas em Bagé ou Livramento, teve um início de carreira “esquisito”, como descreveu. Na sua estréia como profissional, na já distante temporada de 1998, atuava como CENTROAVANTE do Guarany, de Cruz Alta. Zagueiro nas categorias de base, Bonaldi não se contentou em ser útil apenas na bola aérea. Convenceu-se de que faltava mobilidade e destreza para iludir a marcação dos beques cruz-altenses.

Um ano depois, retornou ao encardido universo dos defensores. Quando esclareceu que “lá na frente não dava mesmo”, Bonaldi esboçou o seu segundo e último sorriso da manhã. O primeiro foi um riso discreto e desconfiado que largou quando recebeu as fotos do Futebesteirol, em que aparecia erguendo o braço para os alambrados ou derrubando algum atacante mais faceiro. Recuperada a sisudez habitual, Bonaldi recordou a primeira conquista: em 2000, ascendeu da terceira para a segunda divisão estadual com o seu Guarany.

O acesso rendeu a primeira experiência de Série A. Contratado pelo São Paulo de Rio Grande, Bonaldi disputou a primeira divisão do futebol gaúcho em 2001 e 2002, ano em que o São Paulo caiu. O seu destino, então, foi a longínqua Alagoas. No primeiro semestre de 2003, foi atleta do CSA. A EDUCAÇÃO futebolística prestada aos alegres defensores alagoanos chamou a atenção do Náutico, de Pernambuco. Pelo Timbu, Bonaldi esteve em campo na lendária Batalha dos Aflitos. Oquei, é claro que não. Com Bonaldi em campo, o Náutico nunca entregaria uma partida daquelas.

Findo o breve ciclo pelo Nordeste e depois de atuar no interior paulista, Bonaldi finalmente desembarcou em Santa Maria. Mas não no Riograndense. Em 2005, com o mesmo ímpeto com que agora balança os cordões nos Eucaliptos, vestiu o vermelho do rival Inter-SM. Na Baixada Melancólica, Bonaldi não pôde contrariar a atordoante sina do coloradinho. Como de costume naqueles anos, o Inter morreu na praia e viu São Luiz e Gaúcho lograrem os bilhetes para a Série A. Assim mesmo, se destacou pelas cobranças de falta de muito longe que sempre flertavam com o gol.

Dois anos mais tarde, o Riograndense surgiu na carreira do beque. Em 2007, assim como em 2006, 2005 e 2004, o Periquito era dono de um elenco tristemente limitado. Inverno após inverno, o time apanhava até do Cachoeira. Mas desta vez ao menos havia Bonaldi. O zagueiro proporcionou uma das raras alegrias daquela Segundona. No Rio-Nal disputado nos Eucaliptos, o Riograndense saiu perdendo, para variar. A revolta do capitão, porém, possibilitou o empate: no segundo tempo, Bonaldi peitou a arbitragem, desafiou os rivais e anotou o gol da igualdade. Na comemoração, escalou os alambrados.
Naquele ano, o Inter-SM subiria. Já o Riograndense de Bonaldi não alcançou a segunda fase. Restava a famigerada repescagem, destino comum de todos os eliminados. O adversário seria o sempre temido Lajeadense, que ainda não contava com os festejos de Lucas Precheski. Na ida, o Riograndense bateu o time azul por 3-1, na primeira atuação convincente da temporada – mas no último escanteio da tarde, o goleiro Mainardi frangou miseravelmente e possibilitou o “1” do Lajeadense. Um novo 3-1 em Lajeado forçou a disputa por penais: o Periquito perdeu por 5-4. Mas Bonaldi viu FUTURO naquele esquadrão ainda enfraquecido.

O sentimento de Bonaldi pelo time nasceu nos primeiros insucessos: “a partir dali, aprendi a amar o Riograndense”, conta o zagueiro. Incrível como os sentimentos soam bem mais sinceros em um cenário REAL como o interior gaúcho. Perguntado sobre como um jogador se mantém no pampa, Bonaldi disse que no interior o atleta “se DEFENDE”. Os contratos curtos, válidos quase sempre durante apenas um campeonato, forçam o jogador a trocar de camisa por semestre - ficar parado significa a ruína financeira. Para a próxima temporada, Bonaldi pode voltar à elite do Gauchão – o que significa mais tranqüilidade no bolso. Tudo porque 2009 foi um ano de luzes para o camisa seis do Riograndense.

“Desde o início pensávamos em brigar”. Bonaldi não concorda que a presença do clube de Santa Maria entre os quatro melhores da competição tenha sido surpreendente para quem viveu a campanha. Trata-se de um clube com jogadores rodados e conhecidos, que melhorou a estrutura e que já havia alcançado uma boa colocação no ano anterior. Lembrou, também, que apesar da expectativa do acesso ter minguado no quadrangular final, o time fez uma trajetória valorosa, “a melhor dos últimos trinta anos”.

Jornada após jornada, Bonaldi se consolidou como o maior nome da equipe. Era a referência do time que mostrou solidez para garantir a classificação na primeira fase. Posteriormente, foi o símbolo de um Riograndense que vencia fora de casa como um matreiro fronteiriço. Faltou erguer a taça e dar a volta olímpica. Entre as razões para o desmoronamento técnico da equipe nas últimas rodadas, Bonaldi apontou carências no elenco – “nas laterais e no meio-campo”, principalmente – e nas condições de trabalho, incomparáveis com as de Pelotas e Porto Alegre, favoritos às duas vagas desde o SORTEIO dos grupos.

Se jogar a primeira divisão com a camiseta do Riograndense se tornou tarefa impossível para 2010, não faltaram interessados em contar com a solidez de Bonaldi na Série A. E o jogador agradece pela visibilidade atingida justamente ao clube de Santa Maria. Conta que representantes de Avenida e Veranópolis fizeram contatos a partir dos jogos televisionados pela TV COM, o que só foi possível porque o Riograndense foi longe no campeonato. Só que as propostas “ainda não são oficiais”, e Bonaldi pode vir a ter uma nova equipe ainda neste ano.

O Milan, de Júlio de Castilhos, que constrói um elenco bem mais decente do que o apresentado na Segundona, quer ter em Bonaldi o capitão para a Copa Arthur Dallegrave, que até já iniciou. O rubro-negro castilhense também deve levar outros jogadores do Riograndense, como o atacante Alfinete e o também zagueiro Diego. Bonaldi via a transferência como incerta: a sequência de jogos até então fora intensa (ele disputou 32 dos 36 confrontos do time) e o interesse (frustrado) do Riograndense em disputar a Copa também dificultou o negócio.

Para o torcedor do Periquito, há uma boa notícia. Bonaldi se mostrou disposto a firmar vínculo com o clube para voltar no ano que vem – depois de uma possível passagem pela primeira divisão. As tratativas dependeriam do interesse da diretoria. Certo é que logo veremos novamente Bonaldi por estes campos: no Antônio David Farina, nos Eucaliptos de Santa Maria e de Santa Cruz ou, quem sabe, no Estádio Olímpico Monumental. Bonaldi sabe que é “um sonho distante” defender o seu querido tricolor de Porto Alegre – objetivo que estará um pouquinho mais perto se o zagueiro repetir as grandes atuações na divisão principal do Gauchão. Se não der, “quero ao menos jogar contra”, diz Bonaldi. É um raciocínio interessante.

Finalizados os questionamentos, Bonaldi se despediu e, ao caminhar pelas arquibancadas ensolaradas, atendeu o celular. Talvez fosse um dirigente randômico do outro lado da linha, negociando uma transação para Erechim, Passo Fundo ou para a Indonésia. Bonaldi sabe que “o futebol é uma MÁFIA”, e que pode ser prejudicado por não contar com um empresário, mas agora diz resolver tudo por conta própria. “Se alguém quiser conversar, dou o meu número e pronto”. A verdade é que Bonaldi se garante.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Prêmio Urutau d'Oro 2009 - Seleção da Segundona

Iuri diz:
*não terá um texto introdutório?
Maurício Brum diz:
*até pode ter.
*dizendo o quê?
Iuri diz:
*que não é uma seleção qualquer.
*é o que há de mais valoroso no estado e pá
Maurício Brum diz:
*tá
*comecemos explicando o que é um URUTAU.
Iuri diz:
*um bicho de sete cabeças.
*aliás
*necessário, o tal textinho?
Maurício Brum diz:
*o introdutório?
Iuri diz:
*sim
Maurício Brum diz:
*foi tu que sugeriu, hahaha
Iuri diz:
*eu sei.
*mas PENSANDO BEM.
Maurício Brum diz:
*veja
*"O urutau é um pássaro de canto melancólico. Algumas lendas dão à ave a alcunha de FANTASMA, e afirmam que um urutau só canta para anunciar a morte de alguém. Pelos campos, no entanto, os PEÕES respeitam o bicho. Ele representa força, defendendo-se com GALHARDIA dos predadores que cruzam seu caminho.
*Os jogadores da Segundona, guerreiros dos empobrecidos clubes do interior, são urutaus a resistir contra o MERCANTILISMO do futebol. Esta não é uma seleção qualquer. O Prêmio Urutau d'Oro é o GLORIFICAR dos mais valorosos atletas da Segundona Gaúcha em 2009."
*fim
*COMPLEMENTE.
Iuri diz:
*Os jogadores da Segundona, guerreiros dos empobrecidos clubes do interior, são urutaus a resistir contra o MERCANTILISMO do futebol.
*HAHAHAHAHAHAHA
*eles são urutaus!?!?!?!!??!!
Maurício Brum diz:
*hahahaha
*SÃO.
Iuri diz:
*QUEM SOU EU PARA DISCORDAR.
Maurício Brum diz:
*são COMO urutaus, que seja
Iuri diz:
*acho que vamos meter isso sem textinho.
*afinal, ninguém faz introduções na segundona.
*é pau e pau (ns)
*no máximo, cole esse diálogo como introdução
Maurício Brum diz:
*podia.

* * *

Eis, então, a Seleção da Segundona Gaúcha em 2009, com elaboração, textos e fotos de Iuri Müller e Maurício Brum. O Prêmio Urutau d'Oro é SIMBÓLICO. Mas estamos aceitando DOAÇÕES para mandar CONFECCIONAR troféus e entregar aos craques. A equipe tem diversos IMPROVISOS, culpa da tradicional falta de dinheiro dos clubes da Segundona.

SELEÇÃO TITULAR

PITOL (Goleiro, Glória)
Marcelo Pitol - 16 jogos, 9 gols sofridos

Melhor aproveitamento. Melhor ataque. Melhor defesa. Se houve um time nesta Segundona que provocasse ÓDIO extremado pelo seu DESPOTISMO, foi o Glória de Vacaria, que possuiu todas essas condições desde a primeira fase da Segundona até finalmente sofrer um GOLPE DE ESTADO. A impenetrabilidade das suas linhas defensivas não encontrou equivalente em nenhum PEDAÇO do Rio Grande. Com Pitol, que estreou na penúltima rodada da primeira fase, a retaguarda até ali sustentada pelo goleiro Dudu ficou ainda mais forte. Pela média e pelos números absolutos, as redes que tiveram a HONRA de serem GUARNECIDAS por Marcelo Pitol sabiam que corriam menos risco de levar BOLADAS do que com qualquer outro arqueiro do Estado.

MATEUS (Lateral-direito, Pelotas)
Mateus Medina de Moura - 28 jogos, nenhum gol

O dono da banda direita do valoroso selecionado não passa de um GURI. Mas não falamos um piá qualquer. Mateus vestiu a jaqueta número dois do Pelotas para não tirar NUNCA MAIS. A força de seus ARRANQUES e o temperamento intempestivo bastaram para que a exigente massa áureo-cerúleo se transformasse em um BANDO de enamorados. Um causo exemplifica decentemente a citada identificação: após uma partida em que o universo conspirou explicitamente contra (Pelotas 1-2 Riograndense, na Boca do Lobo), uma raivosa parcela de torcedores esperava a saída da delegação pelotense para ter o gosto de ofender tudo e todos. Apenas Mateus escapou. Foi aplaudido por ser “o único com vergonha na cara” e pôde caminhar pela ruas da sua úmida Pelotas com a tranquilidade de um SELECIONÁVEL.

CIRILO (Zagueiro, Pelotas)
Jeferson Cirilo da Martha - 26 jogos, 2 gols feitos

Há uma ESPÉCIE de jogador que VEIO AO MUNDO para triunfar na Segundona. Um dos representantes é o beque Cirilo. Com suas orelhas SALIENTES, o zagueiro foi o pavilhão mais sólido da defesa vice-campeã do torneio. As jogadas aéreas inimigas inescapavelmente morriam nos pulos de Cirilo, que frequentemente ameaçava também na área ofensiva. Atuando com a camiseta do Inter de Santa Maria – manto com que subiu em 2007 – teve o mesmo desempenho. Seus cruzamentos tinham, por vezes, algum local FORA DA CANCHA como destino, mas era excepcionalmente seguro no ATO de defender. Também foi assim com o Pelotas que ascendeu neste ano.

BONALDI (Zagueiro, Riograndense)
Rodrigo Corrêa Bonaldi - 32 jogos, 6 gols feitos

Em 32 dos 36 confrontos em que o Riograndense esteve presente pela Segunda Divisão, Bonaldi foi o capitão. El gran capitán. Foi como os caudilhos de antanho, que endereçam certos times à glória de um título. Um Hugo de León, um Figueroa, um Bengoechea, um Verón, o Bonaldi. E se o zagueiro (ainda) não teve o mesmo fim dos renomados capitães citados, ao menos foi muito longe. Nas espaldas de Bonaldi, o jogador mais importante da campanha lejos, o Periquito alcançou o último dos quadrangulares. O Riograndense que apanhava inverno após inverno teve enfim uma Série B iluminada. Muito porque teve Bonaldi: o melhor zagueiro do campeonato, o cobrador de faltas, o cabeceador mortal, o capitão que só podia vencer. E que não mereceu o mesmo fim da sua equipe.

CRISTIANO (Lateral-esquerdo, Porto Alegre)
Cristiano Goelzer - 24 jogos, nenhum gol

Cristiano apareceu no Grêmio no ano de 2004. O técnico Plein o buscou no Glória para proporcionar um pouco mais de seriedade naquela COISA que encerrou o ano na lanterna do Campeonato Brasileiro. A passagem pelo tricolor, porém, não rendeu contratos em outros clubes grandes para Cristiano – muito porque aquele foi o pior Grêmio da história. Na Segundona de 2009, ele tratou de consolidar uma obviedade: não teve culpa alguma no fatídico rebaixamento. Ostentando a camiseta COSTURADA por ASSIS (?), às vezes como ala, outras como lateral pela esquerda, Cristiano beirou o heroico na reta final da campanha. Com uma lesão no pulso esquerdo, foi orientado pelos médicos a parar por dois meses. Respondeu que se tratava de um quadrangular final. Atuou nos seis jogos e saiu campeão.

BI (Volante, Riograndense)
Ademir dos Santos Júnior - 31 jogos, nenhum gol

Bi não é o típico volante da Segundona. Não é alto e tampouco esbanja a força física tradicional dos quebradores interioranos de pelota. Destacou-se no céspede do Estádio dos Eucaliptos porque a sua entrega alcançou o adjetivo “EMOCIONANTE”. Para os fotógrafos, Bi é o jogador perfeito. Está sempre caindo, enroscado nas pernas do meia-esquerda habilidoso ou deslizando em um carrinho sanguinário. Quando chove e o campo vira um potreiro, melhor ainda. Até nas rodadas finais, em que o Riograndense virou um SIMULACRO do que foi e poderia voltar a ser, Bi manteve a honra. Se também padeceu do desmoronamento técnico da equipe, compensou com a valentia de todos os dias. Bi merecia o acesso, como também mereceu proteger a RÚSTICA defesa da seleção do campeonato.

DEIVES THIAGO (Meia, Cerâmica)
Deives Thiago da Silva - 15 jogos, 4 gols feitos

Outro que só passou a figurar nas relações de titulares de seu time bem depois de o campeonato começar, Deives Thiago acrescentou qualidade a um Cerâmica que, embora superasse as fases, não convencia. Tornou-se importante a ponto de RAREAREM os jogos em que não era exaltado por torcedores ou repórteres de certas rádios, e ajudou a carregar o quadro de Gravataí até a fase final, marcando o gol que custou a eliminação ao favorito Glória, no confronto direto. No quadrangular decisivo, porém, uma lesão afastou Deives Thiago da equipe – dos seis jogos finais, ele só pôde entrar em campo em um. Talvez SÓ por causa da ausência dele, a corrida do Cerâmica até a primeira divisão parou no terceiro lugar.

MARCELO MÜLLER (Meia, Glória)
Marcelo Volnei Müller - 13 jogos, 4 gols feitos

A montagem da máquina AZEITADA do Glória durante a competição exigiu reforços com a Segundona em andamento. Quando a SOBERANIA dos vacarianos ainda era incontestável, Marcelo Müller apareceu para desesperar um outro tanto dos futuros adversários da equipe dos Altos da Glória. No dia em que o Glória foi eliminado, empatando por 2 a 2 com o Cerâmica em Gravataí ao som do brado de uns INSURGENTES que queriam “liberdade, igualdade e fraternidade”, foi o camisa 10 (que algumas vezes vestiu a 11) quem deu o tiro derradeiro na tentativa de manter a DITADURA dos de Vacaria, marcando o último gol da equipe na Segundona. Suas boas atuações em tão escassas oportunidades ATIÇARAM o olho grande de empresários pelas campinas do mundo. Marcelo Müller atuou poucas vezes. Mas jogou muito.

TIAGO DUARTE (Meia, Pelotas)
Tiago Pereira Duarte - 20 jogos, 8 gols feitos

O homem AGUDO da meia-ofensiva pelotense foi um cidadão que disse ter a EXATA noção do que significaria não subir com o Lobo. Um fracasso que não poderia mais se repetir. Uma desilusão que, vindo pelo quinto ano seguido, começaria a EMPUTECER demais uma população para ser PERDOADA. Tiago Duarte sabia a MORTANDADE que novas derrotas poderiam gerar. E foi um dos maiores responsáveis para evitar que o desastre se repetisse. Infernal a aparecer em diferentes cantos das CERCANIAS das áreas rivais, deu assistências para gols importantíssimos na trajetória áureo-cerúlea rumo à elite – e marcou vários outros ele próprio.

MARCELINHO (Atacante, Bagé)
Luis Marcelo Soares Resende - 24 jogos, 15 gols feitos

Com Marcelinho em campo, e Marcelinho sempre esteve em campo, os presentes nas arquibancadas viam as redes balançando mesmo sem vento, mesmo sem bolas. Em verdade, os barbantes TREMIAM de medo por serem as próximas VÍTIMAS dos pelotaços vindos dos pés do matador jalde-negro. Começando as partidas ou entrando no decorrer delas, Marcelinho tomou parte em TODAS as batalhas disputadas pelo Bagé na Segundona 2009. Meteu gols, gols e gols e se ALÇOU à artilharia inquestionável do campeonato por longas semanas. AFASTADO do certame ainda na segunda fase, pela eliminação do seu time, ele permaneceu como maior goleador do campeonato até a terceira rodada do quadrangular final, quando finalmente Adão logrou superá-lo.

HYANTONY (Atacante, Porto Alegre)
Hyantony do Nascimento Canedo - 24 jogos, 10 gols feitos

A dupla de ataque mais temida do certame foi montada no PÁTIO da mansão de Assis: o Parque Lami. Juntos, Hyantony e Adão – a dupla de ataque do Porto Alegre - somaram expressivos 27 gols. Mas por que Hyantony, e não Adão, se o primeiro marcou sete gols a menos? A explicação está no quadrangular final. Nos últimos seis jogos, Hyantony festejou sete vezes. Adão, no mesmo período, GRITOU apenas duas vezes. Se com os tentos de Adão o Porto Alegre pôde ingressar no quadrangular, foi com os gols de Hyantony que conquistou o acesso. O pai de HYAN, aliás, salvou o Porto Alegre da DEGOLA na segunda rodada da fase final: no 4-4 diante do Cerâmica, que prolongou a EXISTÊNCIA do time, o atacante marcou um triplete.

RODRIGO BANDEIRA (Treinador, Panambi)
Rodrigo Bandeira comandou o Panambi em 30 jogos, obtendo 11 vitórias, 11 empates e 8 derrotas

Não possuía individualidades de destaque, o Panambi. Havia, sim, jogadores históricos, como Evandro Brito, mas ninguém que estivesse se SOBRESSAINDO na prática. Mesmo assim, Rodrigo Bandeira conseguiu fazer dos seus comandados um dos grupos mais VALOROSOS que a Segundona viu na temporada. O Panambi, que para muitos OTIMISTAS já teria ganho o ano se fosse eliminado dignamente na segunda fase, seguiu vivíssimo até os quadrangulares semifinais. Em casa, não foi derrotado por ninguém. Foi um dos únicos dois times a vencer o poderoso Glória – o outro foi o campeão Porto Alegre. Mesmo com uma equipe cuja folha salarial mal chegaria à metade da pelotense, ATERRORIZOU o Lobão até o fim – o Panambi deixou de ir à fase final não porque fosse superado em pontos pelo Pelotas, mas pelo critério de desempate do número de vitórias. Bandeira fez um trabalho extraordinário num dos clubes com algumas das maiores limitações técnicas, financeiras e, principalmente, estruturais do campeonato.

BANCO DE RESERVAS
(menções honrosas)

MARASCA (Goleiro, Porto Alegre)
Alexandre Marasca - 32 jogos, 28 gols sofridos

Marasca barrou uma bela fotografia no jogo Riograndense 1-4 Porto Alegre: defendendo uma penalidade, impediu que um retrato dos cordões BALANÇANTES existisse. No confronto seguinte, contra o mesmo adversário, em Porto Alegre, Marasca comandou a sua defesa berrando ininterruptamente durante os noventa minutos. Para ensurdecer qualquer vivente. Um chato, esse Marasca. Por isso está na reserva. Não. A verdade é que o goleiro fez um belo campeonato, mas acreditamos na superioridade de Pitol. Só que Marasca teve muitos méritos no título do Porto Alegre - inclusive foi o jogador que mais atuou pela sua equipe entre os selecionáveis. O novo-rico campeão teve em Marasca o seu ESPÍRITO personificado: discreto e muito competente. Por isso, um pouco IRRITANTE. Ou talvez seja só RECALQUE.

ALÁDIO (Zagueiro, Bagé)
Aládio José Knebel - 19 jogos, 2 gols feitos

Peça uma lista de dez jogadores marcantes do interior que seguem em atividade. Lá estará Aládio. Se falarmos apenas de zagueiros, Aládio cabe até em um TOP-3. Ele conhece cada estância, cada coxilha, cada CURVA do Rio Grande. Dentro de campo, é ainda mais sábio. Antecipa com precisão, dialoga MATREIRAMENTE com o árbitro e tranqüiliza a defesa de uma equipe. No Bagé que começou TOCANDO O CÉU no início do campeonato, Aládio foi um BALUARTE. O jalde-negro que assegurou a segunda melhor campanha da primeira fase CHOROU apenas onze vezes com o esférico AGREDINDO as redes. Tudo perfeitamente compreensível: a defesa era formada por Aládio e DARZONE. O Bagé não foi longe, mas Aládio integra o time pela eficiência de ser um dos grandes na Segundona, ano após ano. E por ter anotado um gol no Ba-Gua.

DÊ (Volante, Porto Alegre)
Anderson Francisco Barros - 31 jogos, nenhum gol

Quem sentava nos degraus do Parque Lami ou dos estádios interioranos por onde o Porto Alegre PISOU, via em campo um SER que parecia se REPARTIR em QUARENTA. Ora carregando nas espáduas o número cinco, ora trajando a camisa oito, o tal de Dê era muito mais do que o apelido de duas letras indicava. Em algum pedaço do campo podia faltar OXIGÊNIO, mas não faltava Dê. Na defesa e no ataque, lá estava ele. Contendo e apoiando. Necessário para que as coisas andassem no campeão da Segundona, foi o jogador de linha que mais vezes entrou em campo pelo Porto Alegre entre os selecionados, mesmo sem marcar um único gol.

MAICON SAPUCAIA (Meia, Pelotas)
Maicon Falheiro da Silva - 19 jogos, 3 gols feitos

Reserva no início, titular importante no fim. Maicon Falheiro, o Sapucaia, que em algumas súmulas aparece como Maicon PALHEIRO, justificou o sobrenome falso e ACALMOU muitos torcedores quando acionado dentro da cancha. Importante para COMUNICAR a traseira do campo com a ofensiva, e surgindo repetidamente dentro da área dos oponentes, ele ABASTECEU o positivo ataque do Pelotas com competência. A certa altura, a saída da titularidade de um Dauri que marcara vários gols nas fases iniciais nem foi tão INSUPORTÁVEL ou sentida, graças à POLIVALÊNCIA das jogadas do sapucaiense Maicon.

AMAURI (Meia, Milan)
Amauri Cereser Barrasuol - 13 jogos, 2 gols feitos

Amauri poderia ser o injustificável presente na seleção da Segundona. Mas seu nome aparece em forma de homenagem. Amauri resume os que não puderam aparecer na ZERO HORA como jogadores de segunda divisão. Amauri defendeu o Milan de Júlio de Castilhos, um dos quadros mais pobres do campeonato. Amauri foi meia-armador de uma equipe que atuava sempre e somente na retranca. Na terceira rodada da primeira fase, o seu Milan enfrentou o Riograndense em Santa Maria. O lanterna da Chave 3 viajou para não perder de muito. Não conseguiu. Levou 4-0 ao natural, mas um ENFURECIDO camisa 10 mereceu atenção. Era Amauri, que apesar da goleada foi um dos melhores em campo. Amauri resume os que não foram. Mas aparece na seleção porque a Segundona é suficientemente democrática para lembrar que há VIDA e FUTEBOL nos arrabaldes.

ADÃO (Atacante, Porto Alegre)
José Adão Fonseca - 25 jogos, 17 gols feitos

Há poucas camisas no interior gaúcho que Adão não tenha defendido durante uma carreira vitoriosa que, entre outros GALARDÕES, ostenta um título gaúcho pelo Caxias no ano 2000. Na atual temporada, com trinta e oito anos nas costas, o centroavante que para muitos estava acabado decidiu dar um ESPETÁCULO de final (final?) de carreira, marcando gols para felicidade da menor torcida que lhe aplaudiu nesse horizonte que a MEMÓRIA alcança. Adão encerrou a Segundona como artilheiro da competição. Suas lesões e suspensões por vezes custavam pontos ao time de Assis, e os ANCIÃOS do Parque Lami CISMAVAM em repetir que “quem tem Adão, tem a solução”. A idade pesou e no fim do campeonato Adão rendeu menos, marcando só dois gols no quadrangular decisivo, mas o time não teria chegado lá sem a absurda EFETIVIDADE do atacante nas jornadas anteriores.

LUCAS PRECHESKI (Atacante, Lajeadense)
Lucas Precheski - 22 jogos, 13 gols feitos

Liderar o ataque de um Lajeadense que começou o campeonato com cinco derrotas nas cinco primeiras rodadas e só passou da primeira fase por MILAGRE não é das tarefas mais FELIZES. Ir às redes TREZE vezes, mais da metade do total de gols da equipe (25), é conquista só possível para os verdadeiramente FORTES. Lucas Precheski, ou simplesmente Lucas, MONOPOLIZOU os gols do Lajeadense. E foi o herói da sobrevivência de um exército que avançou mais do que poderia. Não jogou bola para merecer mais do que uma eliminação na primeira fase, o quadro de Lajeado – mas pôde avançar até a etapa dois graças a uma goleada por 6 a 0 sobre o concorrente direto Atlético Carazinho, na última rodada da primeira fase. Naquele dia, o Florestal presenciou o ZÊNITE de Precheski – o ASSASSINO provocou três dos seis festejos da sua torcida.

“A foto do título”

O Porto Alegre tem um fotógrafo oficial. Ou tinha. O que me intrigava um pouco. Na época daquele jogo contra o Glória, o time de Assis não possuía um site. Tampouco atraía periódicos impressos para divulgar a sua (não) nobre CAUSA. O que faria com os retratos que tirava, o fotógrafo oficial do Porto Alegre?

Suponho que a vida dele fosse mais tranquila do que tentar imagens épicas sobre uma partida da Segundona e depois ainda fazer um texto usando elas. Por aqueles dias, suas imagens deveriam ir para o seu próprio portfólio e para arquivos pessoais de alguns jogadores. E fim. Nada de JULGAMENTOS ou cobranças em cima delas. Nada de dúvidas sobre colocar ou não uma legenda para explicar o que diabos tal imagens mostra ou leitores indignados com a ESCURIDÃO ou LUMINOSIDADE excessivas.

O fotógrafo oficial do Porto Alegre talvez nem acompanhasse a equipe longe do Lami. Provavelmente, sequer ficaria muito preocupado em manter a câmera armada durante a partida inteira. Para ele bastaria a equipe posada, uma jogada menos inspirada em que aparecessem dois adversários e a bola (não é isso que costuma ILUSTRAR notas sobre partidas assim, afinal?) e, com um pouco de sorte, um lance de pênalti. Pênaltis são muito bons para fotógrafos que não gostam de deixar suas máquinas preparadas, pois dão o tempo necessário para ajustar tudo e ainda pegar ALGO relacionado a um gol.

Minhas fotos neste ano foram mudando de PERSPECTIVA. Comecei usando um celular e capturando ÁTIMOS por trás dos alambrados. A maior dificuldade era a falta de zoom. As imagens saíam todas GERAIS, com os jogadores sendo pequenos ÁCAROS coloridos sobre uma relva verde. Mesmo assim, algumas fotos ficaram dignas de EXPOSIÇÃO. Quem acha que um carrinho é a maior ode à raça que um jogo qualquer de futebol pode ter é porque nunca ROÇOU a realização de, nas condições em que eu me encontrava, sair da cancha com fotos melhores do que a dos profissionais postados com CANHÕES fotográficos dentro de campo.

Com o tempo, veio uma câmera de verdade. Um zoom óptico de dez vezes, uma resolução de imagem que dobrava a qualidade dos retratos anteriores. Em tese, as imagens permaneciam inigualáveis às obtidas pelos que são pagos para tirar fotos. Quase como umas toscas XILOGRAVURAS comparadas às mais belas pinturas de Monet. Em tese. Mais tarde, cruzar-se-ia (!) também a barreira dos alambrados, e a melhora considerável das imagens até enganava quem as via, fazendo pensar que usávamos poderosas teleobjetivas e outros aparatos profissionais.

Mas não tínhamos nada daquilo. Éramos um Milan de Júlio de Castilhos tentando vencer na base da garra. As imagens boas fizeram nascer uma concorrência INTERNA. Iuri e eu passamos a PELUDEAR por fotografias que honrassem o potencial da Segundona. Chegamos a COMPETIR para ver quem lograva registrar mais carrinhos. Não fazemos mais porque eu sou um fiasco. Enquanto ele consegue focalizar até um URUTAU atorando um BEM-TE-VI, eu ainda tento capturar meu primeiro lance violento FOTOGÊNICO – uma vergonha para quem teve tantas vezes um Bonaldi diante das lentes.

Fez a melhor cobertura fotográfica da HISTÓRIA da Segundona, o Iuri. Eu COADJUVEI decentemente.

Já o fotógrafo oficial do Porto Alegre ganhou um lugar para expor suas imagens, com a criação do site do clube. Naquele dia da partida contra o Glória, só duas pessoas tinham câmeras no gramado do Parque Lami. Ele e eu. Só uma recebeu atenção dos jogadores do Porto Alegre. O oficial. Quando posaram, fizeram-no para ele. Saíram de frente para a foto nunca divulgada. E meio de lado na minha imagem. Muito antes de despontarem como CANDIDATOS, brincavam diante da máquina fotográfica. De um daqueles onze atletas veio a frase: “essa ainda vai ser a foto do título”. Foi.

A foto que abre este texto é a imagem que um dia foi profetizada como sendo a do título. O time perfilado antes de empatar por 1 a 1 com o até ali favorito Glória de Vacaria, no dia 15 de julho. Ontem, nove partidas depois, o Porto Alegre bateu o Pelotas por 2 a 0, na última rodada da segunda divisão, assegurando a conquista inédita. Ironicamente, a conclusão que dei ao texto do Porto Alegre 1-2 Pelotas em junho, se inverteu. No final da Segundona, foi a torcida do Pelotas, presente em grande número no Lami, quem terminou obrigada a assistir aos porto-alegrenses vibrando do outro lado da cerca.

* * *

Momento fotográfico do Futebesteirol: no jogo Riograndense 5-0 Rio Pardo, duas fotos tiradas praticamente no mesmo instante, de ângulos diferentes. Quando o Rio Pardo acertou o travessão dos santa-marienses, o Iuri clicou do alto do pavilhão - e eu fiz o mesmo da altura do campo. O resultado, abaixo:

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O uivo mais alto da Segundona

Eu estava lá. Desde o começo do ano, tinha-se certeza que o time do Pelotas era capaz de subir para a primeira divisão. Sobre eles, dizia-se que eram dos mais estruturados, dos mais ricos e, se não fossem o melhor plantel, estavam entre os três mais qualificados – e a tradição daria conta do resto. Os resultados não desmentiam. Com uma facilidade de envergonhar os concorrentes, o Pelotas fez séries invictas acontecerem de forma repetitiva. E ocupar a liderança virava, além de obviedade, um HÁBITO. Pouquíssimos conseguiam conter os áureo-cerúleos. Quando o faziam, não queria dizer muita coisa: acabavam derrotados no confronto seguinte.

Eu estava lá quando o Pelotas, no CUME do favoritismo, foi eliminado da Segundona.

Era 2005. O ano de estreia do Lobo na segunda divisão. O consenso era de que o time voltaria logo, com relativa facilidade. Não foi assim. Nunca foi. Naquela temporada, em que eu acompanhei a primeira das muitas desolações áureo-cerúleas, o Pelotas foi derrubado por um adversário que botou os colhões a jogar futebol. E por uma marmelada no outro jogo. Tratava-se da sexta e decisiva rodada de um dos quadrangulares semifinais da Segundona. Em Ijuí, o local São Luiz e o Gaúcho de Passo Fundo trocavam socos num duelo direto. Em Sapucaia do Sul, o lanterna Sapucaiense recebia o MEIO QUE imbatível Pelotas.

O Sapucaiense de 2005 não era essa coisa quase forte que as CRIANÇAS viram jogando na elite do Gauchão nos últimos anos (e neste ano foi rebaixado, pois a vida se REPETE). O Sapucaiense, em 2005, foi o time que entrou na fase semifinal graças à famigerada repescagem – um artifício hoje extinto do regulamento, usado na época para manter em atividade os times desclassificados ainda na primeira fase. Quem vencia a repescagem entrava nas etapas adiantadas do certame, para alegria dos times que caíssem na sua chave, já que o REPESCADO quase sempre ficava como saco-de-pancadas.

Pois aconteceu com o rubro-negro de Sapucaia. Em cinco rodadas da fase semifinal, o time havia perdido todos os jogos. Seu saldo era de treze gols negativos: nem um feito, treze sofridos. Embora o jogo fosse fora de casa, era natural a vitória do Pelotas naquela última rodada. O Lobo recortaria as distâncias impostas pela classificação (antes da rodada, o São Luiz tinha dez pontos, o Gaúcho, nove, e o Pelotas, oito) e obrigaria ijuienses e passo-fundenses a se matarem pela outra vaga. Por isso o jogo de Ijuí começou mais de vinte minutos atrasado em relação ao de Sapucaia do Sul. Autênticos BISBILHOTEIROS, os times que entrariam no campo do 19 de Outubro tinham necessidade de saber o que acontecia na vida alheia.

O Sapucaiense prometera arrancar as ENTRANHAS do Pelotas naquela noite. Dizia ter sido tratado, na Boca do Lobo, de forma desumana. Eliminado, queria vingar-se puxando os pelotenses para a tumba ao lado. Além disso, motivava-se com as malas brancas vindas tanto de Ijuí quanto de Passo Fundo. Permanece incerto o que realmente aconteceu lá na terra do ZOOLÓGICO naquele 3 de julho de 2005. À frieza dos fatos: o Pelotas saiu perdendo e só pôde buscar o empate. Quando o jogo de Sapucaia do Sul terminou, com a contagem de 1 a 1, restavam vinte e cinco minutos em Ijuí – onde as equipes também se igualavam em um tento. O Pelotas estava nas mãos do São Luiz: só uma derrota do Gaúcho servia, classificando assim o Lobo pelo saldo de gols.

Mas o São Luiz não queria vencer. Aqueles vinte e cinco minutos foram de SURREALISMO, com todos os jogadores tocando a bola de um lado para o outro. Os são-luizenses passavam a bola para os de Passo Fundo, que a tocavam entre si e devolviam para os atletas locais. Ninguém pensava em DISSIMULAR. Deixavam claro que estavam, sim, CONSPIRANDO para tirar o Pelotas da competição. Anedoticamente, alguns jogadores de ambos os times circulavam pelo campo CONVERSANDO. E a bola ali, rolando no meio. O juiz ria constrangido, só esperando o momento de finalizar o encontro. Das arquibancadas, contrariando o que se espera, vinham aplausos. E gritos louvando a ATITUDE dos dois times.

Não era popular entre os seus adversários, o Pelotas.

São Luiz e Gaúcho passaram de fase e, no quadrangular final, terminaram subindo juntos. O Pelotas ficou. Como ficou em 2006, 2007 e 2008. Em cada verão de planejamento para a temporada seguinte, fazia por merecer os comentários de sempre. Era favorito. Tinha elenco para isso. Com o tempo, vinham também os bons resultados. Mas na hora de decidir, os VERGALHÕES que sustentavam a campanha derretiam feito MANTEIGA. Pode ser que pelo fato de o Pelotas ser considerado grande demais para estar na Segundona, a competição se voltasse contra aqueles que davam a situação por anômala. Cair para a divisão inferior é triste, mas geralmente só chega a esse ponto quem merece. O Pelotas estava ali porque não fora capaz de vencer sequer um jogo em 26 rodadas no Gauchão de 2004.

Tinha que voltar jogando bem até o fim, sem OPTAR por parar no meio do caminho e esperar que os resultados continuassem vindo por INÉRCIA. A Segundona é uma peleja que cobra a vida dos que almejam a glória. Para o jogador Tiago Duarte, o caso exemplar da dificuldade do campeonato foi o Pelotas do ano passado, que conquistou a Copa Lupi Martins e, meses antes, havia fracassado na segunda divisão. Em 2009, o Pelotas abriu mão de um campeonato supostamente maior pelo objetivo da Segundona. Desprezou a recém-criada Série D do Campeonato Brasileiro e alinhou seus principais ESPADACHINS para encarar os sabres do interior do Estado. Fez o de costume. Andou pelas fases iniciais com passadas largas, perigou no ENGROSSAR da briga, mas desta vez mostrou toda a raiva acumulada nesses anos de insucessos. E subiu.Eu estava lá. Na Boca do Lobo, ontem à tarde, éramos eu, milhares de torcedores áureo-cerúleos, e a chuva. Ou éramos um Rio Grande inteiro, pelo rádio, tevê e internet, ansiando por descobrir a sorte do Pelotas em 2009? Quando um CUSCO visivelmente ALCOOLIZADO invadiu o campo de jogo, aos 22 minutos do primeiro tempo, quiçá atirado lá por algum torcedor que queria matar tempo com o placar favorável – àquela altura, já 2 a 0 para o Pelotas sobre o Riograndense de Santa Maria –, as gargantas berravam para dizer: “ão, ão, ão, o cachorro é Lobão”. De certa forma, cachorros ou não, quase todos fomos Lobões durante esses anos. Como somos Riograndense. Como somos Rio Grande, Guarany, Farroupilha, Bagé, São Paulo e tantos outros. Como somos os sumidos Grêmio Santanense e Gaúcho de Passo Fundo (que após aquele acesso de 2005 só fez decair até finalmente FECHAR). Como fomos São Luiz, Inter-SM e Ypiranga. Como seremos, em 2010, o Brasil de Pelotas.

Porque a Segundona é apaixonante, mas só existe pela sua função: levar à elite. E os clubes de tradição, história e, mais que tudo, torcida, precisam voltar - por maiores que sejam as INIMIZADES entre eles. Se o interior gaúcho jamais pôde se comparar à dupla Gre-Nal em força – e o ESMAGADOR histórico de títulos do Gauchão deixa claro –, em termos de canchas colmadas o passado aponta noutro sentido. Antes da PREDILEÇÃO pelos quadros capitalinos nascer, houve futebol temível no interior. Grêmio e Inter saíam sempre campeões, é verdade, mas não sem arrebentar as canelas nos POTREIROS do pampa. Hoje, jogam em casa em praticamente qualquer campo do Rio Grande do Sul. As exceções são esses clubes que se identificam com um POVO. Mesmo que suas torcidas acabem como minoria em seu estádio, haverá ao seu lado quem realmente lute por aquelas cores – e não um gremista ou colorado TRAVESTIDO de amante do esporte local para, na realidade, secar o rival do time que torce em Porto Alegre.

Pelotas é assim. A cidade. E o clube de mesmo nome. Ontem, o clube não sofreu por mais que dezoito minutos para voltar. O Riograndense, que no último jogo entre os times em Santa Maria havia aberto 2 a 0 em oito minutos, experimentou o sabor da REALIDADE INVERTIDA. Aos três, Sandro Sotilli emendou um chutaço no ângulo de Douglas (foto), causando a primeira leva de guarda-chuvas PERDIDOS durante festejos de um gol. Mostrando ter sérios problemas com a presença de PARAGUAS, o mesmo Sotilli resolveu fazer os torcedores jogarem novamente para os céus os que restavam, na esperança de que agora não os recuperassem mais: aos treze, o loiro da dianteira áureo-cerúlea deu passe para Dauri meter o 2 a 0. Cinco minutos mais tarde, aos dezoito, a notícia do gol do Porto Alegre contra o Cerâmica, em Gravataí, botou o Pelotas na primeira divisão.

Os resultados, que não podiam ser outros além das vitórias porto-alegrense e pelotense para dar aquela garantia, mantiveram-se. Ampliaram-se. No LAMAÇAL que é o campo do Cerâmica, o Porto Alegre fez mais um e venceu por 0 a 2, gols, naturalmente, de Hyantony e Adão. O time do Lami na primeira divisão é como um DÍZIMO que temos que pagar para poder ver o Pelotas subindo junto. Na Boca do Lobo, um Riograndense sem o artilheiro Juninho Laguna, barrado pelo técnico Bebeto Rosa na escalação, não foi capaz de levar perigo. Durante o segundo tempo, o Pelotas que administrava o resultado voltou a criar boas chances. Primeiro, num pênalti – que Deivid bateu e o goleiro Douglas pegou. Pela terceira vez neste campeonato, o arqueiro do time santa-mariense parou uma penalidade máxima pelotense fora de casa. Pouco depois, contudo, aquele adiado terceiro gol veio pelos pés de Maicon Sapucaia.

O “Vamos subir, Lobo” transmutou-se em “O Lobão voltou” pela voz dos torcedores. Aguardavam o final da partida como escravos ansiosos pela libertação. Eu estava lá e, observando aquela torcida INCENDIADA, nem vi que o Riograndense chegou a marcar um gol no fim. Para mim, o jogo foi 3 a 0 e essa história de que Rafael Viana balançou as redes aos 87 minutos é uma FARSA arquitetada pela imprensa. É estranho ter uma verdade própria e dizerem que a realidade é outra. Você duvida. Talvez isso explique porque tantos alemães que apoiaram inocentemente o nazismo não acreditaram no Holocausto mesmo depois de as provas virem à tona. Talvez eu esteja envergonhado da desatenção e precise enrolar de alguma forma. Segundo dizem, então, o Pelotas venceu por 3 a 1.

Com o término da partida, os torcedores invadiram o campo. Histéricos, quebraram uma casamata, dando ao clube as primeiras dívidas depois do acesso. Nada de muito grave. Tudo era festa. Entocados no seu vestiário, alguns jogadores do Riograndense choraram o fim do sonho. O plano do clube, porém, é estar de volta à primeira divisão em 2012, no ano do centenário – subir antes disso é LUCRO. O Pelotas passou pelo centenário no ano passado. Não aguentava mais a Segundona. Os berros insanos de ontem tinham muito do que se quis gritar em anos anteriores, e os resultados não deixaram. Eu estava lá. Eu vi o Pelotas voltar. E vou contar para os meus descendentes que naquela quarta-feira o grande futebol do interior reviveu mais um pouco.
Fotos minhas. Todas as fotos do jogo aqui.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Nos domínios de Assis

PORTO ALEGRE - Descansava em Porto Alegre. Imaginando alguns dias de ócio e MALEMOLÊNCIA, deixei as altas temperaturas do Centro do Rio Grande para saborear a tranqüilidade INTEMPESTIVA da metrópole. No domingo, o match entre Porto Alegre e Riograndense, decisivo para o porvenir da Segundona, estava confirmado nos planos. E só. Mas como estava assumidamente sem o que fazer, fui fisgado para TRABALHAR. Deveria ir ao Lami acompanhar o treino do Porto Alegre e fazer um boletim para a Rádio. Levantei-me dos sofás que SUGAVAM o meu tempo por intermináveis horas para rumar ao longínquo complexo esportivo de Assis e seus ASSECLAS.

Mas fui porque a proposta agradou – e porque prezo pela informação no Radar Esportivo. Poderia render, este passeio até a ZONA RURAL de Porto Alegre. Poderia e deveria render, porque andar TRINTA E CINCO quilômetros para pouco ou nada seria um motivo decente para estragar um dia. O problema é que saí de casa de mãos vazias. Sabia apenas que haveria treino pela manhã, mas as tentativas de conversação com VALDIMAR, o diretor de futebol do Porto Alegre FC, esbarravam nos BLOQUEIOS telefônicos. Sem saber se me deixariam entrar no Parque Lami, parti para compreender melhor como os euros ASSISENSES estão sendo investidos na Capital.

Após quarenta minutos de visões bem ecléticas da paisagem porto-alegrense, avistei um imponente (ou quase isso) pavilhão situado ao lado de um PARQUE AQUÁTICO. O estacionamento repleto de MERCEDES (mentira) dava a certeza de que havia chegado ao lugar certo. Mas faltava passar pelo porteiro. Eu sabia que seria difícil. Depois de me credenciar como repórter enviado por uma rádio santa-mariense, PEDI para ver o treino. O nobre GUARDIÃO disse para eu aguardar a chegada de VALDIMAR, que em cinco minutos estaria ao estádio, provavelmente vindo de HELICÓPTERO (não).

Eis que VALDIMAR aterrissa no Lami. Não de helicóptero, mas em um carro vermelho. Começou na ofensiva, certamente pensando em liquidar em poucos segundos aquele REPÓRTERZINHO interiorano. “Ninguém me ligou”, logo adiantou o homem. Defendi-me SOLETRANDO o número do seu celular, e esclarecendo que a ligação não se completava por culpa do SEU aparelho. Irritado com o 1-0 sofrido (?), Valdimar decidiu que eu não poderia assistir ao treino. “É CLARO que não, é um trabalho fechado.” Já pensando que teria que ENROLAR no meu boletim, arrisquei uma segunda tratativa. Perguntado se poderia liberar alguns dos jogadores para entrevistas, ele foi novamente direto – “é CLARO que sim”. Valdimar gostava de ser DEFINITIVO.

Agora restava esperar o Porto Alegre FC encerrar o seu trabalho secreto. Um mistério, o treino dos do Lami. Junto comigo, entrou no estádio outro carro com a suposta “arbitragem do amistoso”. Por que raios o Porto Alegre faria um amistoso na véspera de uma partida decisiva? Valdimar negou a existência do jogo. Disse se tratar apenas de um jogo-treino entre titulares e reservas – um coletivo. Foi o suficiente para a IRREAL idéia de que o Porto Alegre CONTRATASSE árbitros para os TREINOS brotasse na cabeça. Mas não faz absolutamente nenhum sentido, então o tal apitador deveria trabalhar em algum jogo da base. A verdade é que nunca saberemos o que se passou naquele sábado matinal.

Nos minutos de espera, aproveitei para admirar a estrutura. Implausível para uma Segundona. O Porto Alegre conta com APARTAMENTOS para os seus atletas, em que os solteiros e menos famosos passam as suas horas livres. Próximo ao prédio citado, há um lago DECORATIVO, rodeado de BANQUINHOS. Um funcionário contou que o Porto Alegre conta com três campos de treinamento e construirá mais quatro. Ou tem quatro e erguerá mais três, enfim. Mas essas não são as obras BOMBÁSTICAS que a família Assis Moreira levantará na Zona Sul. Elas estão por vir.

Conversando com um jornalista da ÚNICA rádio que cobre o COTIDIANO da equipe, quedei-me assustado. Segundo o repórter, os planos para 2010 são mais ambiciosos do que tudo já construído por Assis até agora. Se a equipe conquista a vaga na elite – o que parece muito natural depois da última partida – o estádio sofrerá uma grande reforma: arquibancadas contornarão todo o campo, triplicando a capacidade da cancha que já é, de longe, uma das mais bonitas e organizadas entre os clubes da Série B.

Mas nada comparável ao projeto que Assis calcula para iniciar também no ano que vem. Trata-se de uma Arena nos arrabaldes da RESTINGA, para cerca de CINQUENTA MIL espectadores, visando a Copa do Mundo do Brasil. Se competir com o Beira-Rio agora é inviável, a Arena do Porto Alegre deve receber a preparação e os treinamentos das seleções que se hospedarão na Região Metropolitana – segundo o mesmo jornalista. A iniciativa parece SURREAL, mas não soa como absurda depois de conhecer o que já foi feito – e a energia de quem manda – nos confins do Lami.

Agitado, Valdimar retornou e me acordou do DEVANEIO. Desculpou-se pela demora, mas justificou que as ocupações eram muitas. Prometeu que o técnico Lisca e mais três jogadores, entre eles ADÃO, estariam disponíveis logo o treino findasse. Aproveitou, então, para papear. Valdimar é um conhecido de longa data da família Assis Moreira. Foi, durante seis anos, PERSONAL TRAINER de Ronaldinho Gaúcho, durante a passagem do TRAIDOR (?) por França e Espanha. No Porto Alegre, coordena o futebol profissional e ilusiona um produtivo trabalho nas categorias de base. Garante que não contar com numerosa torcida e com espaço na mídia local não incomoda o Porto Alegre. O negócio é outro.

Os dirigentes sabem que competir popularidade em uma cidade que conta com dois campeões do mundo é um jogo perdido – ainda mais quando o clube não conta com história e tradição. “O Porto Alegre já NASCE como empresa”, anuncia Valdimar. Quer montar equipes fortes, revelar jogadores e fazer grandes NEGÓCIOS – simples assim. Para tal, aposta em condições sonhadas de trabalho para jogadores que por muito tempo penaram no áspero futebol do Interior. Marasca, ex-arqueiro do Ypiranga, de Erechim, e do Pelotas, diz que a estrutura do Porto Alegre FC é um diferencial mesmo em um campeonato em que o PULMÃO e o CORAÇÃO vencem partidas, como é o caso da Segundona.

Confrontar um clube ASSIM com o, por exemplo, MILAN, de Júlio de Castilhos, não é exatamente um exemplo de justiça – mesmo que eu aposte em uma vitória dos rubro-negros se a partida for em Júlio, com chuva e repleta de expulsões. Mas esta deve ser realmente a última temporada de convívio deste NOVO RICO com os VALOROSOS de sempre. Após a vitória de ontem, o Porto Alegre assumiu a liderança do quadrangular final da competição, faltando apenas duas rodadas para o fim. Seu estádio deve deixar de ser um oásis na Segundona. Mas seguirá sendo terrivelmente DESTOANTE na Zona Sul.

-> Para ler a respeito do jogo, clique aqui. Fotos minhas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Hyantony, o eleito pelos Deuses

Esqueça os Fenômenos, os Imperadores e os Sheiks. Ponha de canto os últimos monarcas, os nomes de RELEVO e os artilheiros de sempre. Esqueça Fofonka. Esqueça Sandro Sotilli. Esqueça Marcelinho, do Bagé, e Juba, do Panambi, dois goleadores de jornadas reduzidas pela eliminação de seus quadros. Esqueça até mesmo Adão, que ontem virou o goleador máximo da Segundona 2009. O futebol gaúcho é atormentado neste agosto por alguém que defende as mesmas cores que Adão, mas recebeu na PIA um nome que era uma predestinação: HYANTONY CANEDO.

Carioca, 24 anos, Hyantony tem rodado por alguns dos clubes históricos do PAMPA. Nesta temporada de Segundona foi para o inexpressivo-mas-rico Porto Alegre e passou a LÉGUAS de cogitar a artilharia. Mas quem vê seu total de gols hoje, oito, apenas metade dos dezesseis do companheiro Adão, engana-se ao pensar em mediocridade. Hyantony hibernava. Como um URSO, despertou feroz e faminto após a sonolência, e no quadrangular final tem sido mais infernal que o SOL desta quinta-feira. Em todo o campeonato, antes da fase decisiva, Señor Canedo havia marcado míseros três gols. Na etapa decisiva já foi às redes CINCO vezes em um trio de partidas. Homem de decisão, o camisa 10.

Quinta-feira passada dera o primeiro sinal no Lami. Enquanto o Riograndense batia o Pelotas por RECATADOS 2 a 1, no duelo dos tradicionais que chegaram a essa fase, os novatos Cerâmica e Porto Alegre divertiam-se como DEVASSOS. Despudorados, infligiram aos cordões oito BALANÇADAS, repartidas igualmente. O Cerâmica chegou a abrir 1 a 4. O Porto Alegre buscou o empate. No meio da loucura, SOERGUEU-SE o artilheiro desses dias: Hyantony marcou três vezes naquela tarde. Num grupo de seis partidas e nada mais, um feito isolado que se repete pelo menos uma vez já pode subir ao patamar de CONSTANTE. Essa mudança de condição da artilharia decisiva de Hyantony se deu ontem, em Santa Maria, com mais dois golos.

Os Eucaliptos acolheram um público que manteve a grande média das jornadas recentes, e até um cidadão vestido de periquito foi prestar SERVIÇOS como mascote dentro de campo. Adiado em função das chuvas que alagaram o gramado no domingo, o jogo era a oportunidade de recuperação para um Porto Alegre que, apesar da COPEIRICE de remontar o empate na rodada anterior, tinha só um ponto. O técnico Lisca, porém, não precisaria usar isso para arrancar motivação dos seus atletas. Nem qualquer outra coisa. Entrar com os olhos vermelhos pela disposição de JOGAR MAIS foi desnecessário contra um Riograndense que, desfalcado de quatro homens, fez uma apresentação que perderia até para o São Gabriel, o time de pior campanha entre os eliminados na PRIMEIRA FASE do campeonato.

Literalmente do início ao fim, o Riograndense esteve desastroso: levou um gol antes do segundo minuto de partida e errou um pênalti aos quarenta e nove do segundo tempo. Hyantony, claro, foi quem fez os rodados da carreta capitalina começarem a passar por cima do time da Boca do Monte, marcando aquele tento inaugural. Nada que veio depois surtiu efeito. Parecia ter brigado com as divindades, o Riograndense. O SACERDOTE Bonaldi, a certa altura, tentou aplacar o descontentamento do infinito azul acima da sua cabeça. Pegou um adversário, PARTIU-LHE ao meio, e na sequência fez uma GENUFLEXÃO (foto), como se estivesse dando o corpo do rival em OFERENDA aos céus.

Mas até Bonaldi, ontem, foi ignorado. Aos 64 minutos, quando ele tentava afastar da área um cruzamento, os ZOMBETEIROS que regem o universo deram a mais EXPLÍCITA evidência de que estão MANCOMUNADOS com Assis e seus amigos, tendo eleito Hyantony como EMISSÁRIO disso. Bonaldi tirou de cabeça. A bola foi. E voltou. No meio do caminho, encontrou Hyantony de costas, desviou nele e retomou a direção das redes, absurdamente. Instantes depois de anotar o 0 a 2, com sua parte concluída, o camisa 10 do Porto Alegre foi sacado de campo. E o Riograndense permaneceu mal.

Giovani foi a representação humana da tarde de erros. Afobado ou simplesmente mau OBSERVADOR, adiantava-se ad nauseam e sem motivo, ficando em sucessivos impedimentos. Muitas vezes a pelota estava ainda no campo de defesa dos santa-marienses, e Giovani já se encontrava a alguns corpos de vantagem em relação aos seus marcadores. Irritado com o que seria a quinta ou sexta jogada ilegalizada em pouco mais de meia hora, meio estádio se levantou e berrou “volta”. Gesticulavam, até. Giovani, com uma cara de “é comigo?” olhou para as arquibancadas e viu mãos mandando-lhe para trás. Seguiu o conselho e recebeu aplausos. No segundo tempo, atuaria mais recuado, lançando a bola para companheiros – dessa vez, contudo, eram eles que ficavam em posição irregular. E o Porto Alegre nem se esforçava para fazer algo como uma linha de impedimento! Não era a tarde do Riograndense.

Adão, cujas cãimbras insuportáveis impediram até a celebração do tento, mas não a sua marcação, meteu o 0 a 3 aos 79 (foto). Oito minutos mais tarde, no que parecia uma TRÉGUA, permitiu-se que a torcida de Santa Maria celebrasse, ainda que timidamente, a ida de Rafael Viana às redes, descontando. Novamente, contudo, era EMBROMAÇÃO. Bastaram trinta segundos para que a bola fosse recolocada em jogo, a zaga do Riograndense não prestasse atenção e o reserva Michel Moraes driblasse até o arqueiro Douglas para meter o 1 a 4. Derrota idêntica, em números, àquela para o Pelotas, em casa, na fase anterior – mas dessa vez sem juiz para reclamar, sem expulsões e sem pênaltis contra. Pênalti, sim, a favor. Nos acréscimos, Silvano mandou nas mãos de Marasca a nova oportunidade de salvar um pouco da DIGNIDADE (entenda-se SALDO DE GOLS) periquita ontem. Sem saber como descontar as MÁGOAS, os aficionados puseram-se a cuspir nas costas do bandeirinha.

O Riograndense, GAIATO dessa fase final, clube mais pobre e agora lanterna do quadrangular, terá dois jogos fora de casa pela frente – o primeiro no Lami, domingo. Precisa de algum triunfo para não viver a MELANCOLIA de disputar a última rodada, nos Eucaliptos, sem chances de subir. O Porto Alegre vai para o returno com duas partidas marcadas pro seu estádio, incluindo a última. E tem nas suas linhas de frente um Adão artilheiro e um Hyantony ABENÇOADO por essas semanas. Não existe JUSTIÇA se uma EMPRESA ocupar o lugar de quadros tradicionais e com torcida na primeira divisão. Mas quem disse que o dinheiro de Assis não chegaria aos Deuses do Futebol?

Fotos: Iuri Müller (1, 2, 4, 6 e quadro) e Maurício Brum (3, 5 e 7).