segunda-feira, 24 de agosto de 2009

“A foto do título”

O Porto Alegre tem um fotógrafo oficial. Ou tinha. O que me intrigava um pouco. Na época daquele jogo contra o Glória, o time de Assis não possuía um site. Tampouco atraía periódicos impressos para divulgar a sua (não) nobre CAUSA. O que faria com os retratos que tirava, o fotógrafo oficial do Porto Alegre?

Suponho que a vida dele fosse mais tranquila do que tentar imagens épicas sobre uma partida da Segundona e depois ainda fazer um texto usando elas. Por aqueles dias, suas imagens deveriam ir para o seu próprio portfólio e para arquivos pessoais de alguns jogadores. E fim. Nada de JULGAMENTOS ou cobranças em cima delas. Nada de dúvidas sobre colocar ou não uma legenda para explicar o que diabos tal imagens mostra ou leitores indignados com a ESCURIDÃO ou LUMINOSIDADE excessivas.

O fotógrafo oficial do Porto Alegre talvez nem acompanhasse a equipe longe do Lami. Provavelmente, sequer ficaria muito preocupado em manter a câmera armada durante a partida inteira. Para ele bastaria a equipe posada, uma jogada menos inspirada em que aparecessem dois adversários e a bola (não é isso que costuma ILUSTRAR notas sobre partidas assim, afinal?) e, com um pouco de sorte, um lance de pênalti. Pênaltis são muito bons para fotógrafos que não gostam de deixar suas máquinas preparadas, pois dão o tempo necessário para ajustar tudo e ainda pegar ALGO relacionado a um gol.

Minhas fotos neste ano foram mudando de PERSPECTIVA. Comecei usando um celular e capturando ÁTIMOS por trás dos alambrados. A maior dificuldade era a falta de zoom. As imagens saíam todas GERAIS, com os jogadores sendo pequenos ÁCAROS coloridos sobre uma relva verde. Mesmo assim, algumas fotos ficaram dignas de EXPOSIÇÃO. Quem acha que um carrinho é a maior ode à raça que um jogo qualquer de futebol pode ter é porque nunca ROÇOU a realização de, nas condições em que eu me encontrava, sair da cancha com fotos melhores do que a dos profissionais postados com CANHÕES fotográficos dentro de campo.

Com o tempo, veio uma câmera de verdade. Um zoom óptico de dez vezes, uma resolução de imagem que dobrava a qualidade dos retratos anteriores. Em tese, as imagens permaneciam inigualáveis às obtidas pelos que são pagos para tirar fotos. Quase como umas toscas XILOGRAVURAS comparadas às mais belas pinturas de Monet. Em tese. Mais tarde, cruzar-se-ia (!) também a barreira dos alambrados, e a melhora considerável das imagens até enganava quem as via, fazendo pensar que usávamos poderosas teleobjetivas e outros aparatos profissionais.

Mas não tínhamos nada daquilo. Éramos um Milan de Júlio de Castilhos tentando vencer na base da garra. As imagens boas fizeram nascer uma concorrência INTERNA. Iuri e eu passamos a PELUDEAR por fotografias que honrassem o potencial da Segundona. Chegamos a COMPETIR para ver quem lograva registrar mais carrinhos. Não fazemos mais porque eu sou um fiasco. Enquanto ele consegue focalizar até um URUTAU atorando um BEM-TE-VI, eu ainda tento capturar meu primeiro lance violento FOTOGÊNICO – uma vergonha para quem teve tantas vezes um Bonaldi diante das lentes.

Fez a melhor cobertura fotográfica da HISTÓRIA da Segundona, o Iuri. Eu COADJUVEI decentemente.

Já o fotógrafo oficial do Porto Alegre ganhou um lugar para expor suas imagens, com a criação do site do clube. Naquele dia da partida contra o Glória, só duas pessoas tinham câmeras no gramado do Parque Lami. Ele e eu. Só uma recebeu atenção dos jogadores do Porto Alegre. O oficial. Quando posaram, fizeram-no para ele. Saíram de frente para a foto nunca divulgada. E meio de lado na minha imagem. Muito antes de despontarem como CANDIDATOS, brincavam diante da máquina fotográfica. De um daqueles onze atletas veio a frase: “essa ainda vai ser a foto do título”. Foi.

A foto que abre este texto é a imagem que um dia foi profetizada como sendo a do título. O time perfilado antes de empatar por 1 a 1 com o até ali favorito Glória de Vacaria, no dia 15 de julho. Ontem, nove partidas depois, o Porto Alegre bateu o Pelotas por 2 a 0, na última rodada da segunda divisão, assegurando a conquista inédita. Ironicamente, a conclusão que dei ao texto do Porto Alegre 1-2 Pelotas em junho, se inverteu. No final da Segundona, foi a torcida do Pelotas, presente em grande número no Lami, quem terminou obrigada a assistir aos porto-alegrenses vibrando do outro lado da cerca.

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Momento fotográfico do Futebesteirol: no jogo Riograndense 5-0 Rio Pardo, duas fotos tiradas praticamente no mesmo instante, de ângulos diferentes. Quando o Rio Pardo acertou o travessão dos santa-marienses, o Iuri clicou do alto do pavilhão - e eu fiz o mesmo da altura do campo. O resultado, abaixo:

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