
Assis e os TROCA

Para se chegar lá, igualmente, parece que se está indo na direção de uma ilusão. Muitos porto-alegrenses jamais se dignaram a ir para o Lami. Questionados sobre o que há por lá, por vezes falam do bairro como se estivessem discorrendo sobre Vênus ou Saturno. O Lami: um planeta de poucas construções e muito mato, que cisma em contrariar certos professores de geografia DESPREPARADOS, que dizem que Porto Alegre é completamente urbanizada. O Lami: na maior parte do tempo, nada mais do que um nome numa placa. Ger

– Ah, é bastante longe. Tem dois quebra-molas e mais um pouquinho pra frente – diz o frentista de um posto localizado na própria rua.
Passados os dois quebra-molas e o “pouquinho”, desponta o OÁSIS. Mais do que metáfora: o estádio fica ao lado de um parque aquático, o que talvez explique o emblema com jeito de logo de resort que o Lami F.C. possuía. Para zelar por um patrimônio desse nível num bairro do qual se ouvem coisas nem sempre aprazíveis, seguranças engravatados circulam por todo o complexo. O Porto Alegre F.C. sequer cobra ingressos, a entrada no jogo é franca, mas para acessar o estádio é preciso dizer, no pórtico, o nome e a equipe para que se torce. Os visitantes são encaminhados para o seu lugar, num canto de visão prejudicada atrás do gol. Possíveis mentirosos que tentassem armar confusão entre os locais são desanimados pela visão de SEIS VIATURAS, recorde de policiamento no certame.
Confusão com os locais, sim, pois a constatação RELEVA

Pelas arquibancadas, além de detectar duas redes de internet sem fio dentro do estádio (uma delas exclusiva para os vestiários, na mais perfeita SÍNTESE da diferença da estrutura do Porto Alegre para a maioria das equipes do Estado), é possível ouvir histórias de quem acompanha o time desde o princípio. Contam que o campo não tinha indício algum do moderno pavilhão que se ergue atualmente, que as partidas eram vistas em pé, agarrados aos alambrados, e não havia separação entre os torcedores da casa e os de fora. Recordam tam

Uma espécie de “síndrome de Chelsea”. Assim como alguns dos velhos fãs do clube inglês se distanciaram da equipe quando as libras do russo Abramovich transfiguraram a sua alma (apesar de transformá-lo numa potência), parte dos que seguiam o Lami se desmobilizou com os investimentos de Assis. Os que restaram sentam-se no seu estádio moderno, veem seus jogadores razoáveis-para-bons no campo, e encaram as provocações que o dinheiro abundante causa – e que os visitantes nunca esquecem de fazer. Nesta quinta-feira, a torcida do Pelotas fazia ecoar: “vocês deram a bunda pro Ronaldinho!”
Estavam com moral, os pelotenses, por carregarem uma campanha perfeita nesta segunda fase (100% de aproveitamento) e uma invencibilidade que vem desde 15 de março. Enquanto aqueciam, alguns jogadores esbanjavam prepotência. Comentavam que, se não levassem gol, fariam – e fariam de quatro para mais. O experiente Sandro Sotilli, camisa 9 do Lobo, ouvia quieto. Um dos maiores artilheiros da história do futebol interiorano gaúcho, sabia que seus companheiros poderiam até estar brincando, mas na hora em que “fazer de quatro para mais” virasse uma vontade ou obrigação,

A intenção pelotense de não levar gols morreu com 6 minutos. N’A arte da guerra, Sun Tzu ensina que “para se ter certeza de vitória”, deve-se atacar “um ponto que o inimigo não defende”. O time da capital buscou ataques pela sua esquerda, onde a subida do lateral visitante abria enormes ROMBOS que ninguém cobria, e logo num dos primeiros o atacante Bruno Farias pôde ser lançado para atirar cruzado da entrada da área e fazer 1 a 0. As estratégias de Tzu, porém, parecem ter sido digeridas também pelos comandantes áureo-cerúleos, e a certeza de vitória capitalina morreu quando aquele flanco foi coberto. Já não havia pontos sem defesa. E o Pelotas crescia. Aos 35 minutos, Sotilli perdeu um gol feito, livre na área, ao chutar em cima do goleiro; no rebote, o igualmente carimbado Dauri teve seu tiro salvo por um zagueiro sobre a linha.
O empate amadurecia como os BUTIÁS no verão, e antes do retorno aos vestiários o 1 a 1 era colhido. Goleador que não falha em dois lances claros consecutivos, Sotilli empurr

Equilibrada, a etapa final apresentou hipóteses menos simpáticas ao Porto Alegre. O time atacava principalmente com chances de cruzar a bola, no que FALHAVA MISERAVELMENTE, e a ineficiência do poste Adão pesou para matar as jogadas ofensivas pelo chão. Triunfou o futebol superior do Pelotas. Na frente, Sotilli não se escondia, corria feito um guri apesar dos 35 anos nas costas (é verdade que chegou quase morto ao fim da partida), e via se lhe escaparem novas oportunidades. O lance que definiu o jogo foi menos de qualidade e mais de sorte, numa daquelas faltas que o atleta cobra de longe, tentando achar um desvio na área, e acaba comemorando ele próprio o gol, porque ninguém consegue tocar na redonda e o goleiro termina surpreendido. Deivid cobrou essa falta aos 74 minutos, remontando o jogo para o Pelotas.

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