
Com fotos de Maurício Brum e meio título de Carlos Gardel
A campanha que classificou o Riograndense para a segunda fase da Segundona levou, aos fins de semana, um respeitável número de torcedores aos Eucaliptos. Nos domingos, principalmente, o pavilhão e as pequenas tribunas eram tomadas pela gente que trajava verde e vermelho. Público que garantia uma renda decente ao clube. Mas isso apenas em dias de descanso. Quando a rodada exigia partidas em dias úteis e à tarde, pois a cancha não conta com refletores, o acanhado estádio fincado no pé dos montes santa-marienses exibia imensos clarões em suas arquibancadas. Imaginando alguns trocados a mais nas rodadas até então desprestigiadas, a diretoria do Periquito alugou o Estádio Presidente Vargas, do rival Inter-SM, para disputar os jogos de quarta e quinta-feira à noite.
O conflito escolhido para a experiência foi o de quinta, diante do Cruzeiro de Porto Alegre, válido pela segunda rodada da segunda fase da segunda divisão do Rio Grande do Sul. O horário escolhido foi o das 19 horas, o que possibilitaria ao público a posterior apreciação do match do Grêmio. E o uniforme escolhido para o Riograndense foi um inteiramente branco, muito possivelmente para evitar confusão com o do Cruzeiro, todo azul. Problema que apenas as meias-luzes da iluminação da Baixada poderiam oferecer ao espectador. O Riograndense entrou em campo pensando ter acertado em todas as suas escolhas. O que até pode ter ocorrido. Faltou apenas negociar com o frio da ventosa noite de Santa Maria.
Não mais que quinhentos aficionados sentaram no gelado concreto do Presidente Vargas. Eram torcedores fervorosos do rubro-esmeralda, que partiram das cercanias da Avenida Rio Branco e atravessaram a cidade para prestigiar o Periquito. Ou folclóricos torcedores do Inter-SM, que na ausência de confrontos do time do coração voltaram ao estádio de todos os dias para viver o futebol. Além dos desocupados, dos errantes, dos que estavam ali sem saber exatamente o real motivo. Mas estavam, e era o que bastava na quinta-feira: vender ingressos para custear as despesas da experiência de jogar fora de casa. Desafiando o frio, aplaudiram o Riograndense adentrar o campo com Douglas, Miro, Bonaldi, Moreli, Marquinhos, Rangel, Bi, Vainer, Giovani, Silvano e Juninho Laguna: os onze encarregados de vencer a primeira na segunda fase. Na rodada anterior, houve empate por 1-1 entre São Paulo e Riograndense, no Sul do Estado.

Apesar do palmarés copero do Cruzeiro, a improvável mas possível remontada não era o principal motivo das discussões de intervalo. Fazia demasiado frio para seguir absorto na partida sem que a bola rolasse no terreno quase verde: amenidades imperavam no ambiente, como de costume. Indignado com a despreocupação que seu inoperante futebol causou, o Estrelado voltou disposto a agoniar os partidários de Alfinete. Movendo suas tropas para a goleira próxima ao cemitério, maldita para os torcedores do Inter-SM, que conhecem os recantos mais secretos da Baixada desde a sua construção, em 1947, os de azul encontraram um gol aos vinte minutos, em potente chute de Ícaro, que não caiu no Mar Egeu e tampouco comemorou o seu gol batendo asas.
Manejar a pelota com mais destreza, inteligência e hierarquia não significou, desta vez, virar o placar. O Cruzeiro teve maior nível futebolístico nos últimos quarenta e cinco, mas não alcançou o tento da igualdade. Caiu por 1-2 e já viajou para Três Passos, onde amanhã enfrenta o líder da chave, o TAC. O Riograndense, por sua vez, pode ter realizado a sua última partida da temporada na Baixada. O público não foi superior ao que de costume ocupa os degraus dos Eucaliptos. Mas venceu dentro de campo – o que é imensamente mais importante na travessia pantanosa que é a Segundona.
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