quinta-feira, 7 de maio de 2009

O capitão que só podia vencer

Está na súmula: Rodrigo Corrêa Bonaldi, o Bonaldi. Bo, nal, di. Porque as figuras legendárias do futebol interiorano gaúcho nem sempre recebem o destaque merecido, as três sílabas não causam o temor que deveriam nos adversários. Bonaldi, o capitão do Riograndense de Santa Maria, é mais que o líder de uma das campanhas mais destacadas da Segundona 2009. Bonaldi, hoje, é o melhor defensor em atividade no Rio Grande do Sul.

Às vezes.

E ninguém sabe disso. Não se trata da pouca divulgação que têm esses jogadores simbólicos do interior. Até existem aqueles sobre os quais os holofotes são mais luminosos. Existem os atacantes folclóricos, os goleiros cujos saltos são transformados em voos, os volantes de carrinhos sanguinários. Pode-se nomeá-los de memória. Bonaldi não está neste grupo dos lembrados, provavelmente por ter rodado pouco em comparação com outras semilendas, mas a história construída nesses anos de Riograndense o põe no panteão interiorano.

Bonaldi, conforme textos anteriores de um blog que, por coincidência, é este aqui, bate faltas de distâncias imensuráveis com precisão inacreditável. O meio de campo parece ser o semicírculo da grande área, pois dos seus pés, não interessa de onde, a pelota sempre, sempre, sempre e sempre até que a eternidade se estenda, irá na direção do arco. Passar da linha fatal é outra história, mas o esférico invariavelmente acerta o retângulo formado por três ferros e uma marca de tinta, não cal, pintada na grama.

Enfim, Bonaldi sabe fazer mais que bater faltas e, por exagerado que pareça, em alguns momentos de adrenalina mais elevada merece aquele título do primeiro parágrafo: o melhor defensor do Estado. Em certas partidas, não há zagueiro de Dupla Gre-Nal mais eficiente na parte de trás do campo do que ele. E hoje, no dia em que o Riograndense completou 97 anos de fundação, Bonaldi esteve ainda mais Bonaldi. E nem precisou bater faltas. Contra o Santo Ângelo, até o goleiro Douglas, que desbancou Mainardi, subiu ao ataque para cobrar os tiros livres próximos à área. Bonaldi, porém, foi gigante sem usar o seu artifício mais conhecido.

Contentou-se em destruir, um a um, os ataques missioneiros. Cabeçadas salvadoras quando a área fervia. Chutões quando só uma perna, a sua, poderia evitar que a bola pousasse nos pés de um visitante. Carrinhos vigorosos para acabar com a festa de velocistas que se entusiasmavam na direção da meta santa-mariense. De Bonaldi, nada passava. Assim críamos, especialmente no segundo tempo. Durante o primeiro, o Riograndense esteve bem, fez 1 a 0 com Giovani aos 26, e não se apequenou. Mas no segundo, o quadro pintado mereceria avaliação abaixo da média geral do time no campeonato. Nós, que assistimos à etapa complementar atrás do gol do Santo Ângelo, acreditando em ataques dos locais, que sabemos bem: o time só se defendeu.
Daí a necessidade de se ter um Bonaldi. Ele, que na volta dos vestiários caçou um cachorro que insistia em ficar em campo e carregou o animal para fora, provavelmente berrando ameaças de morte ou castração, jogou-se numa bola em que qualquer outro teria ficado em pé, observando: aos 75 minutos, numa pressão terrível, com o goleiro Douglas batido depois de defender a primeira, um chute forte e rápido teria estufado as redes do time de Santa Maria se não fosse o salto milagroso do defensor de cabelos dourados.

De Bonaldi, nada passava. Repetíamos agora com mais convicção. E dele nada passaria, se a bola estivesse rolando. Mas com ela parada a responsabilidade não era sua e, só um minuto depois do seu milagre, o camisa 6 do Riograndense teve de ver a redonda dentro de suas redes, colocada lá dentro por Luís Antônio para firmar o 1 a 1, numa falta. Para felicidade dos torcedores que se prestaram a ir ver um jogo nos Eucaliptos às TRÊS E MEIA DA TARDE DE UMA QUINTA-FEIRA, a apatia ofensiva do quadro da casa sumiu toda com o empate consumado, e as chances voltaram a se suceder. Alfinete, substituindo Silvano, devolveu as perspectivas de vitória e, nas últimas voltas do ponteiro, cavou um pênalti que aparentemente não existiu.



O árbitro comprou a versão de Alfi, marcou a penalidade e ainda expulsou o zagueiro da SER Santo Ângelo. Na cobrança, um Luís Fernando que vinha errando com persistência cada escanteio que batia, teve melhor sorte que nos tiros de canto e, apesar de chutar no mesmo lado para o qual o goleiro saltou, pôde fazer 2 a 1. Presente de aniversário pro clube e quase confirmação de que o segundo lugar da chave deverá ser do Riograndense. Antes disso, justiça para Bonaldi, o capitão que não podia sair de campo com menos de três pontos. Não hoje.

Um comentário:

Simo disse...

Olha meninos, estou adorando esse blog. Parabéns... vcs escrevem de uma maneira ímpar... Me divirto poraqui. Grande matéria Maurício.