TORRES - Um caso clássico de time que acorda depois de levar um gol, a final do Brasileirão Subevinte. Quem viu o princípio do jogo no Passo d’Areia passou algum tempo com perguntas na cabeça, querendo saber se aqueles times eram realmente os finalistas do torneio. Grêmio e Sport, durante o primeiro tempo, fizeram um encontro de fraquíssima qualidade técnica. E o Grêmio, ainda que com toda a torcida a seu favor, era o pior. Não que isso representasse grande nível dos pernambucanos, pois a proporção de chances da metade inicial do jogo, duas chances do Sport para uma gremista, era também número absoluto – o Sport só havia criado aquelas duas chances e o Grêmio, aquela uma.
Ainda assim, os rubro-negros envolviam os gaúchos. Não davam grandes espaços, tinham mais volume e reduziram o tricolor a um amontoado de jogadores. Inexistia qualquer desenho tático aceitável no lado gremista no primeiro tempo. E se a situação do Grêmio pareceu melhorar um pouco no intervalo, com a equipe retornando dotada de alguma noção do que deveria fazer (atacar, por exemplo), o goleiro Fernando voltou decidido a botar tudo a perder.
Quando ele foi herói em uma jornada da Copa São Paulo em janeiro, perguntou-se aqui qual adjetivação mereceria o arqueiro no futuro. Nesse futuro que agora já é passado, o domingo 21 de dezembro, Fernando esteve encaminhado para ser o grande responsável pela perda do título. Contava 72 minutos o cronômetro no momento em que Xinho, um fazedor de cera que saíra de campo na maca quatro vezes, mandou um chute de fora da área. A bola voou, não desviou em ninguém, e... entrou. Fernando, que alegou não ter visto a pelota, ficou parado no meio do gol enquanto o esférico passava ao seu lado para converter o 0 a 1 evitável.
Por aquela hora, com o Grêmio jogando como jogava, um desastre. O tricolor não criara uma chance de gol, e agora pesava sobre ele a obrigação de pelo menos empatar e tentar a sorte nos pênaltis – forma de desempate pouco animadora sabendo que defendendo o time de Recife estava o goleiro Saulo, que pegou os três penais cobrados pelo Náutico nas semifinais. De qualquer maneira, precisava no mínimo do empate, o Grêmio. Para buscá-lo, precisava jogar mais. Mas, como a frase que abriu a crônica avisou, a partida foi um caso clássico de time que acorda depois de levar um gol.
Tudo o que não fez nos minutos anteriores o Grêmio realizou após ficar em desvantagem. Entrincheirou o Sport no seu próprio campo. Impetuoso, permaneceu insistente nas cercanias da área pernambucana. Apareceu então Mithyuê, o gremista mais elogiado durante o torneio. Aos 76, ele superou um marcador pela direita, foi ao fundo do campo e cruzou para Wesley empatar de letra. Literalmente carregava os companheiros para o alto do pódio de campeão, o tal do Mithyuê, e a liderança técnica não poderia ter prêmio melhor e mais simbólico do que a conversão do gol do título. Minuto 85, drible num zagueiro rubro-negro, chute no contrapé do mal posicionado Saulo, estava lá o gol do título do Grêmio, o gol de Mithyuê: 2 a 1, Sport morto, jogo remontado.
E o Grêmio campeão brasileiro subevinte. Torneios de base não são feitos para se ganhar. Eles estão aí para rodar os atletas jovens, testá-los, aprimorá-los. O que interessa não é a taça, mas os jogadores que saem da equipe. O Grêmio jogou pouco, precisou sofrer um gol para começar a fazer algo. Apesar do título, ainda não se pode dizer que a maior parte dos valores é mais que mediana – e alguns jogadores precisarão lutar muito para desfazer o conceito de que definitivamente não prestam. Mas se Mithyuê, o caolho rei na terra de cegos que é esse time, vingar, a geração campeã subevinte de 2008 já terá valido a pena.
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