TORRES - Dezembro voou com o tempo escasso, e ainda está sendo difícil parar para pesquisar algo e escrever coisas decentes. Raríssimas atualizações do blog dão uma impressão de abandono. A impressão é falsa, mas dizer isso não mudará as coisas, e janeiro também deverá vir com relativa ausência de textos diários. Na falta de algo melhor, ficam algumas reflexões pessoais, sem grande profundidade, apenas para guardar nos registros:
• Pode-se dizer que a base da Dupla Gre-Nal é das melhores do Brasil – e realmente é –, mas o fato de o Campeonato Brasileiro Sub-20 ser realizado invariavelmente no Rio Grande do Sul facilita que os clubes gaúchos estejam sempre brigando pelo título da competição. Em 2006 o torneio foi decidido em Gre-Nal, com título colorado; em 2007, o Inter foi vice para o Cruzeiro; hoje, será o Grêmio retornando à final depois de eliminar o próprio Internacional. Não vi um único jogo inteiro do campeonato, mas falam maravilhas de Mithyuê, jogador saído das quadras de futsal e elogiado como diferencial técnico dos tricolores. Quem tentará levar a taça de Porto Alegre será o Sport, que também chegou à decisão eliminando um rival – o Náutico. Associado negativamente a erros em cobranças de pênalti depois da Batalha dos Aflitos de 2005, o Capibaribe caiu no Sub-20 justamente nas penalidades máximas, errando todas as suas três cobranças e levando 3 a 0 desde os onze metros, após ser contido pela retranca do Sport num 0 a 0 no tempo normal. Aparentemente, não saber bater penais é requisito básico para se ingressar no alvirrubro de Recife.
• Será um dia infeliz aquele em que o Mundial de Clubes tiver uma final com alguém de fora da América do Sul ou da Europa. Algo terá mudado quando essa ocasião chegar, daqui um, dois ou vinte anos e, para os tradicionais, não será uma mudança interessante. Mas em 2008 foi a história de sempre e o torneio no Japão terminará com a velha final entre os campeões da Champions League e da Libertadores. A fraqueza generalizada dos concorrentes – alguns de qualidade vergonhosa, como o glorioso bicampeão da Oceania, o Waitakere – ficou evidente outra vez. O Pachuca, por exemplo, é outro daqueles times mexicanos que parecem bons mas são meras enganações e, embora não tenha caído na preliminar como em 2007 (muito mais pela inexistência do preparo físico do Al-Ahly, cujos jogadores cansaram com 60 minutos de partida, do que pelo próprio futebol), foi vencido sem problemas por uma Liga de Quito que superou os comentários preconceituosos que a punham como candidata a desonrar os sul-americanos. Por seu turno, o Manchester United disputou uma verdadeira pelada contra o Gamba Osaka e, com o típico desinteresse dos clubes ingleses, historicamente menos aguerridos em disputas intercontinentais, nem precisou se esforçar para atingir a final. Agora Cristiano Ronaldo terá a perna quebrada por um zagueiro equatoriano e todos terminam o ano felizes, não importando o destino que a taça tome hoje.
• Foi de certo modo divertido acompanhar a definição das vagas na fase de mata-matas da Copa da UEFA e ver a situação do Benfica. Recebendo os ucranianos do já classificado Metalist Kharkiv, o time de Lisboa precisava torcer para que o outro jogo da quinta-feira, entre Olympiakos e Hertha Berlin, terminasse empatado, além de vencer a sua própria partida por 8 gols de diferença. Missão complicada um pouco mais pela estatística do Metalist: nem um gol sofrido em três jogos do pentagonal até ali. As declarações confiantes dos jogadores da equipe portuguesa – algo do tipo “é possível, basta fazermos um gol por ataque” – deram um tom cômico ao desfecho óbvio de eliminação, consumado com os 4 a 0 do Olympiakos sobre o Hertha e a vitória do Metalist no Estádio da Luz por 0 a 1.
• A semana também fez conhecidos os duelos das oitavas-de-final da Champions League, com resultados pouco animadores para quem está em crise, como o Chelsea e o Real Madrid, agora treinado por Juande Ramos, que enfrentarão, respectivamente, as fortes equipes da Juventus e do Liverpool. A má primeira fase feita pela sua equipe impediu que a conhecida sorte de Felipão em sorteios do tipo aparecesse. Outros confrontos parelhos deverão ser os de Atlético de Madrid e Porto, Arsenal e Roma, e Internazionale e Manchester United. Já os jogadores de Bayern, Villarreal e Barcelona, que pegam Sporting, Panathinaikos e Lyon, merecem açoitamento em praça pública se não forem capazes de avançar às quartas.
• “O time tá bom, mas sem centroavante não dá”. Vinda de um gremista, a frase parece atualíssima. No entanto, é de 2002. Foi dita por algum torcedor entrevistado pela Rádio Gaúcha, dizendo o que faltava para a temporada seguinte enquanto saía do estádio ao fim de Grêmio 1-0 Santos, o jogo que eliminou o tricolor nas semifinais do Brasileirão daquele ano. Em 2008, o Grêmio vice-campeão nacional também sofreu com a falta de ofensivos de qualidade. Não há camisas 9 no Olímpico. Há anos. O último centroavante verdadeiramente goleador que vestiu a camisa azul, negra e branca foi o nem-tão-bom-assim Christian – contratado em 2003 (o quarto agachado na foto do time daquela temporada, ao lado), exatamente para suprir aquela falta anunciada pelo torcedor anônimo. Ainda que tenha chegado ao clube numa época terrível, que rendeu o rebaixamento em 2004, Christian marcou quase meia centena de gols em duas temporadas, sendo que esteve suspenso durante boa parte desse período. Depois dele, passaram pela linha de frente tricolor jogadores do naipe de Lipatin, Somália, Reinaldo, Ricardinho, Herrera, Rômulo, Tuta, Ramon (!), Tadeu, outro Reinaldo, Marcel, Perea e mais alguns atacantes de qualidade questionável. Ver um deles chegar a vinte gols num ano virou sonho remoto. Estando com a mesma carência de seis anos atrás, mas com perspectivas bem melhores para o futuro, o Grêmio buscou nesta semana Alex Mineiro, um velho matador. Todos sabem que seus números no Palmeiras/2008 (37 gols) são inflados por pênaltis, mas a maior parte da torcida recebeu a notícia com entusiasmo. Os gremistas sabem que um centroavante referencial é mais necessário que álcool em festa de mulher feia.
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