Com exceção de alguns países do extremo leste europeu, das regiões nórdicas ou outros excepcionais que seguem um calendário futebolístico anual, essa época do verão de lá significa ligas nacionais paradas, equipes em férias ou voltando delas, concentrações e amistosos de pré-temporada em continentes perdidos. Aos poucos as taças começam a ser disputadas. Vem um torneio amigável novo, retorna aquele mais tradicional disputado há décadas, mas nada muito a sério, apenas para brincar. As primeiras competições oficiais a entrar em disputa nesse período geralmente são as Supercopas (ao lado, uma Supercopa da Espanha).
Supercopa. O dicionário define como uma “Copa suprema”. Não é assim, claro, mas potencial pra isso há: ela confronta os dois melhores times de um país na temporada anterior, os vencedores da Copa e do Campeonato. Em tese, define-se o melhor do futebol local, num onze contra onze sem deixar dúvidas. Na realidade, é somente uma agradável oportunidade de vencer um título nacional sem compromissos – a comemoração por ganhar é a mesma, ninguém vai perder a chance de se vangloriar com uma taça no armário, mas o ritmo ainda não é de cobranças e uma derrota no início do calendário oficial é incapaz de gerar crise ou desespero.
No Brasil, falta uma Supercopa. Tentou-se criar algo do tipo no início da década passada, mas a idéia já nasceu torta: ao invés de ser independente, a nossa Copa suprema considerou, em sua primeira edição, os jogos da Libertadores para entregar o título – era mais simples, pois naquela época os representantes brasileiros eram justamente os vencedores da Copa e do Campeonato e estavam obrigados a disputar o mesmo grupo no torneio sul-americano. O Grêmio superou o Vasco nessa edição pioneira em 1990, o Corinthians ganhou do Flamengo em 1991, já com uma final separada, e em 1992 a várzea baixou: a CBF parou de organizar o torneio, provocando a mudança de nome e o fim da participação do campeão da Copa – o jogo passava a ser uma Taça dos Campeões sem valor oficial e confrontava os melhores das Séries A e B. O Flamengo venceu o Paraná nos pênaltis na final daquele ano, mas a radical alteração e o desinteresse do público encerraram as disputas dali em diante.
Azar o nosso. Pela Europa, as Supercopas já disputadas ou que vêm por aí avivam as rivalidades e, nas semanas iniciais da temporada, distribuem troféus sempre bem-vindos. Abaixo, uma lista delas (vermelho para as decididas, verde para as que ainda serão jogadas):
ALEMANHA: entre 1987 e 1996, com duas edições oficiosas em 1977 e 1982, exisitu uma Supercopa na Alemanha. O jogo punha frente a frente os vencedores da Bundesliga (Campeonato) e da DFB-Pokal (Copa). Em 1997, uma revolução: para o início da temporada, ao invés de partida única, foi criada uma Copa da Liga – não no formato dos torneios homônimos ao redor da Europa (que são quase cópias das Copas nacionais originais), mas uma competição curta que reunia os cinco melhores da Bundesliga e o vencedor da Pokal; em 2007, o formato passou a ter os quatro melhores da Bundesliga, o vencedor da Pokal, e o campeão da segunda divisão. Tudo certo. Mas em 2008, faltaram datas! Sem a Copa da Liga, foi proposta uma alternativa: Bayern München (vencedor do Campeonato e da Copa) e Borussia Dortmund (vice da Copa) jogarão uma Supercopa no molde daquelas antigas abandonadas há uma década. A partida será amanhã, em Dortmund. Embora o título de 2008 não seja oficializado, os torcedores encaram o confronto com seriedade.
BÉLGICA: Standard de Liège (vencedor do Campeonato) e Anderlecht (Copa) jogam partida única em 9 de agosto.
BULGÁRIA: CSKA Sofia (Campeonato) e Litex Lovech (bicampeão da Copa, vice da última Supercopa) jogam partida única em data a ser definida.
CHIPRE: O Anorthosis Famagusta levou o Campeonato, tendo como vice o APOEL Nicósia. Na Copa, a coisa se inverteu: o APOEL fez 2-0 no Anorthosis na final, conquistando o título. O tira-teima entre os dois se dará na Supercopa que se disputará em breve.
CROÁCIA: Pelo terceiro ano consecutivo, o Dínamo Zagreb é campeão da Supercopa – e, pela segunda temporada seguida, o é de forma automática. Vencedor tanto do Campeonato quanto da Copa em 2006/07 e em 2007/08, o time não vem encontrando concorrentes para a sua seqüência. Foi a oitava Supercopa do time na história, confirmando-se como maior vencedor do torneio. A lista de campeões, por sinal, não é muito extensa: atrás do Dínamo vem o Hajduk Split, com seis taças, e não há mais clubes com o galardão no país.
ESLOVÁQUIA: O Artmedia Petržalka, que passou à posteridade como Artmedia Bratislava (nome utilizado quando da sua participação na fase de grupos da Champions League 2005/06), venceu o Campeonato e a Copa nacionais, provocando uma anomalia: quando uma equipe ganha os dois torneios do país, não há supercampeão eslovaco – o jogo simplesmente não é disputado e o título, que poderia ser automático, não é atribuído. Isso já havia ocorrido em 2006, quando o MFK Ružomberok fez o double, levantando os dois títulos da temporada.
ESLOVÊNIA: O Interblock Ljubljana (antigo NK Factor), campeão da Copa, levou a Supercopa ao derrotar o NK Domžale, vencedor do Campeonato. O jogo foi em 9 de julho, tendo um 0-0 no tempo normal e vitória dos de Ljubljana por 7-6 nos pênaltis.
ESPANHA: Num raro caso de disputa em dois jogos, a versão espanhola da Supercopa terá seu primeiro confronto no Mestalla, estádio do Valencia, casa do vencedor da Copa, e a volta no Santiago Bernabéu, do Real Madrid, campeão da Liga. Os encontros serão celebrados em agosto.
FRANÇA: O Lyon venceu a Copa e o Campeonato Francês, mas não leva o título automático – e tampouco jogará contra o vencedor da Copa da Liga, o PSG. Quem enfrentará os de Gerland pelo Trophée des Champions (a Supercopa) será o vice do Campeonato, o Girondins de Bordeaux. A final está marcada para o dia 2 de agosto e, por uma dessas bizarrices, será disputada em Bordeaux. Oportunidade de ouro para quebrar uma seqüência de títulos que o Lyon mantém desde 2002 no Trophée des Champions.
HOLANDA: O Johann Cruijff Schaal será jogado por PSV (Campeonato) e Feyenoord (Copa) em 23 de agosto. Para o PSV, é um alívio saber que o Ajax não estará do outro lado: atual tetracampeão da liga nacional, o time de Eindhoven perdeu as três últimas Supercopas para os da capital, que entravam na disputa via Copa e tinham a vantagem de jogar em casa, uma vez que a Amsterdam Arena tem sido o palco fixo da decisão desde que foi construída.
HUNGRIA: O Debrecen (DVSC) vem dominando o futebol húngaro. Em 2005, 2006 e 2007, levou o Campeonato. Em 2008, conquistou a Copa. Nos três anos anteriores havia completado sua festa também com a Supercopa. Neste, não. No último domingo, em casa, encontrou o MTK Hungária, tradicional clube de Budapeste, vencedor do Campeonato de 2008, e não pôde manter o troféu: empatou por 0-0 no tempo normal, levou 2-3 nos pênaltis. Foi o terceiro título do MTK (dono da Supercopa também em 1997 e 2004), igualando-se ao próprio Debrecen no histórico da competição. O maior vencedor é o Ferencváros, hoje na segunda divisão, com quatro taças.
INGLATERRA: Manchester United (Campeonato) e Portsmouth (Copa) disputam o Community Shield numa partida única em Wembley, marcada para 10 de agosto.
ITÁLIA: A Supercoppa Italiana terá a mesma definição das duas temporadas anteriores: Internazionale como campeã do Campeonato, Roma como vencedora da Copa. Em 2006 deu Inter, em 2007 deu Roma, e agora haverá o desempate particular deste fim de década. O confronto será disputado em 24 de agosto, nos Estados Unidos, em alguma cidade ainda não determinada. A partida irá para lá pela terceira vez: em 1993 foi em Washington D.C., e em 2003, em New Jersey. A Supercoppa de 2002 também foi jogada fora da Itália, mas bem longe da América – em Trípoli, na Líbia.
POLÔNIA: Na final da Copa da Polônia de 2007/08, o Legia Varsóvia empatou com o Wisla Cracóvia por 0-0 e precisou de dramáticos pênaltis para ficar com a taça. No Campeonato, inversão do quadro, com o Legia vice para um Wisla que fez campanha espetacular: em 30 jogos, o quadro de Cracóvia venceu 24 e perdeu apenas um. O confronto direto da Supercopa, porém, foi outra vez favorável aos de Varsóvia: no domingo passado, com um gol de Piotr Rocki aos 87 minutos de jogo, o Legia venceu por 2-1 e conquistou seu quarto título no torneio, tornando-se o maior campeão da história. O jogo foi disputado em campo neutro, na cidade de Ostrowiec Świętokrzyski, terra do KSZO, time da terceira divisão nacional.
PORTUGAL: A Supartaça Cândido de Oliveira terá lugar no estádio Algarve, a 16 de agosto, opondo Porto (Campeonato) e Sporting de Lisboa (Copa).
ROMÊNIA: Destacado por seu vice-campeonato na Copa Intertoto de 2005, o CFR Cluj fez uma temporada inolvidável em 2007/08, conquistando seus primeiros títulos na história, o Campeonato e a Copa da Romênia. Isso fará com que não haja supercampeão romeno, num caso semelhante ao da Eslováquia. É a quinta vez na história que isso acontece: o Steaua Bucareste venceu os dois torneios em 1995/96 e 1996/97 e o Dínamo Bucareste o fez em 1999/00 e 2003/04.
TURQUIA: Galatasaray (Campeonato) e Kayserispor (Copa) duelam em 18 de agosto.
UCRÂNIA: O Shakhtar Donetsk venceu o Campeonato e a Copa da temporada passada. Para haver final, foi convidado o Dynamo Kiev, vice-campeão da Liga – e da Copa também. A Supercopa do último dia 15 não poderia ser diferente: vitória do Shakhtar. Mas só veio nos pênaltis: 5-3, após 1-1 no tempo normal.
Outras: em países que seguem calendário anual, a Supercopa foi contestada no início de 2008. São casos da Rússia e da Suécia, onde os campeões foram, respectivamente, o Zenit São Petersburgo e o IFK Gotemburgo.
Um comentário:
Fala, Mauricião. Essas Copas são uma ótima oportunidade para as equipes já largarem com um título a temporada.
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