Não faltam histórias gloriosas no futebol húngaro. Elas começam na lendária Seleção de 1954, mas seguem pelos clubes. Em diferentes períodos, afloraram as mais diversas equipes somando feitos pelo país. Aparecem aí o MTK, velho campeão dos primeiros tempos de liga nacional (com direito a dez conquistas oficiais consecutivas entre as décadas de 1910 e 1920), o Újpest, cuja grandeza foi reforçada com um hepta-campeonato nos anos 1970, o Honvéd, onde Puskas ensaiou o que faria no time nacional, e o Vasas, respeitável adversário das primeiras edições da Copa dos Campeões da Europa. Clubes de menos títulos, mas igual valor, como o Videoton (atual Fehérvár), do interior, finalista da Copa da UEFA de 1985, merecem destaque. Hoje, quem brilha na Hungria é o Debrecen, vencedor dos três últimos campeonatos nacionais. Ninguém, porém, em todo o país, pode se orgulhar de um histórico mais vitorioso que o Ferencváros, mítico clube de Budapeste. Ninguém, da mesma forma, pode dizer que há desgraça maior que a vivida pela equipe nos últimos anos.
O que falta aos outros, sobra ao Ferencváros. O clube é simplesmente o maior vencedor do Campeonato (28 conquistas), Copa (20) e Supercopa (4) do país. Além disso, ostenta duas taças da Copa Mitropa (torneio internacional anterior às competições oficiais do continente) e uma orgulhosa Copa das Feiras, competição que daria origem à atual Copa da UEFA. Em 2004, quando completou uma espécie de “tríplice coroa”, levantando os três principais troféus húngaros, era natural que tal histórico só parecesse capaz de crescer.
Mas aí a tragédia começou a se abater sobre Budapeste. Talvez não para a cidade inteira, mas a parte que torcia para o Fradi, como o clube alviverde também é chamado, sentiu que os ventos estavam mudando de direção. Na temporada seguinte ao triplo título, apareceria um concorrente às glórias: era o Debrecen conquistando sua primeira liga e tirando a taça da capital. Apenas o princípio. Foi na virada da temporada 2005/06 (quando os resultados já haviam sido apenas medianos, rendendo um 6º lugar no campeonato) para a seguinte, que o desastre total foi sinalizado: três dias antes do início de 2006/07, o Ferencváros tinha sua licença para disputar a primeira divisão revogada pela Federação nacional, por não apresentar garantias financeiras.
Um dos maiores orgulhos do clube, o fato de ser o único em toda a Hungria a ter disputado sempre a primeira divisão do país desde a criação do campeonato, em 1901, acabava ali. Na outra mão, começava uma nova e nada empolgante aventura: a de tentar reconquistar, em campo, um lugar perdido fora dele. A tarefa era complicada pela fórmula de acesso húngara, que prevê uma segunda divisão separada em grupos Leste e Oeste, e dá vaga na elite apenas ao vencedor de cada chave, compostas por 16 equipes.
Na temporada passada, pelo Leste, quatro pontos separaram o Ferencváros do retorno, acabando em segundo lugar – o Nyíregyháza Spartacus foi quem avançou ao grupo principal. A luta continuava. Ocupando uma nada empolgante terceira posição neste 2008, o time foi a campo no último final de semana para um jogo valendo tudo, fora de casa, contra o líder Szolnok. Perdeu por 2-1, permaneceu parado com seus 41 pontos, a seis do primeiro colocado. Faltando dez rodadas para o fim, o Fradi precisará acumular milagres se ainda sonha em evitar passar a terceira temporada consecutiva na divisão inferior. A tragédia de Budapeste tem tudo para se prolongar.
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