Havia uma dominadora plena da Eurocopa em suas primeiras edições: a União Soviética. Um título em 1960, um vice-campeonato em 1964 sofrendo um gol aos 84 minutos de jogo, umas semifinais em 1968, sendo eliminada apenas no desempate da moeda. Reflexos do único time capaz de se classificar para todas as fases finais, as de sede única, nos torneios já disputados. Apenas em 1972 o quadro com CCCP estampado no peito foi totalmente superado. Entrava em cena, para valer, a grande Alemanha Ocidental.
As eliminatórias daquele ano puderam enfim atingir um número simétrico de participantes, 32, facilitando o trabalho de formar oito quadrangulares cujos campeões avançavam aos mata-matas, vislumbrando uma vaga nas sonhadas semifinais. Os alemães, cuja estréia no Campeonato da Europa havia se dado quatro anos antes, com uma eliminação desastrada, mostraram sua velha capacidade de contornar obstáculos para dar a volta por cima e superar seu novo grupo. Sem perder jogo algum, o onze capitaneado por Beckenbauer obteve 4 vitórias e 2 empates (além de 10 gols feitos e apenas 2 sofridos) diante de Polônia, Turquia e Albânia. Depois, nas quartas-de-final, superaram a Inglaterra por 1-3 em Londres, garantindo a vaga na rodada seguinte com um placar nulo em Berlim. Ao lado deles, às semifinais, passaram a Hungria (após três jogos dramáticos contra a Romênia: 1-1 em casa, 2-2 fora, e vitória por 2-1 em Belgrado, no jogo extra, com gol salvador aos 89 minutos), a óbvia e onipresente União Soviética, e a Bélgica que, eliminando os italianos donos do título, garantiu-se na fase seguinte, contando agora com a vantagem de ser o país-sede.
Jogar em casa, entretanto, só seria útil aos belgas se um confronto contra a Hungria, suposto braço mais fraco entre os classificados (posteriormente a suposição se confirmaria, com um Bélgica 2-1 Hungria na pouco aguardada decisão do terceiro lugar), fosse marcado – o que não ocorreu. Então lá foi a Alemanha Ocidental aplicar 2-1 nos locais, num jogo facilmente administrado após dois tentos do killer Gerd Müller. Os húngaros, por sua vez, também não conseguiram a surpresa, embora tenham dado um inesperado sufoco nos seus antagonistas: a URSS só venceu por 1-0, e ainda viu seu goleiro Rudakov (Yashin saíra da Seleção em 1967) parar um pênalti cobrado por Zámbö aos 85 minutos.
Um cruzamento entre os dois favoritos na final, tudo dentro do esperado... até a segunda página. Esperava-se, também, um jogo equilibrado, como costumava ser. E isso jamais se veria no prélio de Heysel, disputado no 18 de junho de 1972. Ali, começaria a derrocada dos soviéticos que, quatro anos depois, atingiriam seu ponto mais baixo até então, sem conseguir a classificação para as semifinais, ineditamente. Tudo porque naquela jornada de Bruxelas se comprovou que as complicações do jogo anterior, contra a desacreditada Hungria, não haviam sido mero acaso: sem os nomes míticos da década passada, vivendo plena renovação, o selecionado da União Soviética se enfraquecia.
Em campo, os alemães, preparando-se para o título mundial erguido dois anos depois, submetiam os adversários à sua pior derrota numa Euro até aquela data. Gols de Gerd Müller, aos 27 minutos, Wimmer, aos 52, e outra vez Müller, aos 58, concluíram o massacrante 3-0 da finalíssima belga. Pela primeira vez na história da competição, alguém conseguia parar os soviéticos de forma enfática, inapelável. Era a força alemã sendo finalmente notada, ecoante pela Europa.
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