Com 31 times inscritos, a Eurocopa de 1968 foi a pioneira na formação de eliminatórias semelhantes ao estilo atual: em grupos. Tamanha mudança também provocou a primeira alteração de nome: a Taça das Nações se tornava o Campeonato da Europa, e não importava se depois os campeões de cada chave voltassem a se confrontar num sistema que lembrava o antigo – quartas-de-final em ida e volta, para determinar as seleções semifinalistas, que jogariam as decisões numa sede definida entre um dos países com representantes ainda vivos. Na primeira fase qualificatória, formada por sete quadrangulares e um triangular, enfim se fez presente a Seleção da Alemanha Ocidental, última grande potência européia a aderir à nova taça.
Os germânicos fizeram sua estréia justamente na tal chave menor, de três equipes, vencendo seus dois jogos dentro de casa, perdendo para a Iugoslávia fora, e cometendo um fracasso imperdoável na última rodada: como visitante, empate de 0-0 diante de uma Albânia que perdera todos os jogos até ali, e eliminação para os iugoslávios por desvantagem de um ponto. Ainda na fase de grupos: Luxemburgo, sensação de 1964, voltou ao normal, sendo lanterna de um grupo que contava com França, Bélgica e Polônia tendo um saldo final de 1 empate, 5 derrotas, 1 gol feito e 18 sofridos; também mereceu destaque a legendária vitória da Escócia por 2-3 sobre a Inglaterra campeã do mundo, em Wembley, diante de 130.711 espectadores, maior público da história de uma Eurocopa, considerando eliminatórias e fases finais – o triunfo foi, contudo, insuficiente para classificar os escoceses, superados pelos ingleses na classificação em um ponto.
Da primeira fase, emergiram os quatro cruzamentos a serem disputados entre abril e maio, classificatórios à etapa decisiva da competição, depois marcada para a Itália: foram ao torneio os próprios italianos, a Inglaterra (eliminando os espanhóis, detentores do título), e a Iugoslávia, além da fortíssima União Soviética, que se firmava como a única Seleção presente em todas as fases decisivas de Euro até então.
As semifinais tiveram lugar no dia 5 de junho. Em Florença, no Stadio Comunale, os iugoslavos atingiram o grande feito de eliminar a Inglaterra com uma vitória de 1-0, gol de Dzajic aos 87 minutos de enfrentamento. Equilíbrio também em Nápoles, no San Paolo: ali, a Itália tomava conhecimento da sua sina naquela edição da Euro, as intermináveis igualdades. O jogo contra a URSS invariavelmente se consumava como um desafio terrível, e não fora à toa que os soviéticos saíram campeões em 1960 e vices em 1964, levando apenas um gol no fim. Aos italianos, superar os oponentes se mostrou impossível. E o empate se manteve. 0-0 nos 90 minutos, 0-0 após a prorrogação. Sem data para jogo extra, expediente que só seria usado na final, e sem pênaltis, incomuns na época, a sorte virou alternativa de desempate: no centro do campo, os dois capitães, o juiz, e uma escolha para mudar os ânimos da torcida de dois países inteiros – cara ou coroa? A moeda deu a classificação aos locais.
O visto na final foi apenas uma repetição do mesmo filme. Itália e Iugoslávia, jogo parelho, mas atuação ruim do onze de casa. Aos 39 minutos, Dzajic, herói da fase anterior, colocou os balcânicos em vantagem que se manteve por longo tempo – até os 80, quando Domeneghini fez 1-1, resultado inalterado mesmo depois da prorrogação. Dino Zoff, arqueiro da azzurra, deixou transparente o descontentamento do time com sua própria apresentação: “não merecíamos empatar”. Mas empataram, de novo. E agora, na final, sem obrigação de outros jogos pela frente, poderia haver partida extra. Nela, tudo mudou. A Itália foi enfim para cima, e o Stadio Olímpico de Roma a acompanhou. Ao fim do primeiro tempo, com gols de Riva e Anastasi, o marcador já estava em 2-0 – e ficaria assim.
Dona de tantos mundiais, a Itália quebrava um jejum de três décadas sem títulos relevantes (desde a Copa do Mundo de 1938), e sentava pela primeira e única vez no trono europeu. Uma glória rara, vinda após enormes jornadas de futebol e placares que cismavam em não pender para lado algum. As prorrogações, a fortuna no sorteio, os gols próximos do apito final, as ânsias de terminar logo com aquela agonia, todo o sofrimento rendeu uma justa consagração. Até os mais longos desempates encontram um fim.
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