Parte 3 - A Libertadores de 1992 e o Criciúma hoje
Começava a temporada de 1992. O Criciúma sonhava alto. No ano anterior, o tri-campeonato catarinense, conquistado ao final da temporada, somou-se à glória máxima de erguer a Copa do Brasil. Agora, aquele espetacular time queria fazer história nos gramados sul-americanos, pela Copa Libertadores da América.
Para sua empreitada continental, o clube promoveu campanhas de associação, obteve ajuda com o governo para ampliar seu estádio e buscou oferecer boas condições, para atrair reforços. Como nota ruim estava a saída do comandante Luiz Felipe Scolari: ciente que seu trabalho estava feito, o treinador deixou a equipe catarinense, em alta, cedendo espaço ao substituto Levir Culpi. A preparação intensa, promovida por Levir, visando o torneio sul-americano deu certo, e os catarinenses entraram com força total na competição.
A estréia foi no dia 6 de março daquele ano, diante do poderoso São Paulo, de Telê Santana, vencedor do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Acreditando num jogo fácil, Telê poupou as estrelas Raí e Cafu, num erro que tentaria consertar, em vão, mais tarde. O Criciúma estava arrasador e motivado. Sem tomar conhecimento do tricolor paulista, o time catarinense foi marcando seus gols, através de Jairo Lenzi, Gélson e Adílson Gomes. Final de jogo no Heriberto Hülse com um massacrante 3-0 para o Criciúma, seguido de uma festa delirante por parte da torcida.
O caminho começava a ser trilhado com glórias, mas logo na seqüência viria a parte mais difícil da campanha: três jogos consecutivos fora de casa – sendo os dois primeiros fora do Brasil. Estas seriam as primeiras partidas internacionais oficiais da história do Criciúma – e de um clube catarinense. Ambas foram disputadas na altitude boliviana. Na primeira partida desta série, diante do San José de Oruro, no dia 24 de março, os catarinenses alcançaram uma sofrida vitória, por 2-1, com tentos de Gélson e Jairo Lenzi. Três dias depois, veio o outro jogo na Bolívia, agora diante do tradicional Bolívar: jogo complicado, empatado por 1-1 – num jogo em que o Criciúma saiu na frente, com gol de Jairo Lenzi, mas cedeu o resultado. Fechando a série de três partidas consecutivas, estava o mais difícil dos confrontos: diante do São Paulo, no Morumbi. Cansado pela maratona de jogos fora do Brasil (este seria o terceiro jogo do time no intervalo de uma semana, e ainda havia o desgaste da viagem), e enfrentando um tricolor paulista que queria vingança do massacre no primeiro jogo, o Criciúma não se encontrou em campo: resultado, 4-0 para os paulistas.
Tropeço cruel, que a equipe catarinense sabia que precisava superar nos dois confrontos em casa que se seguiriam. E o fez com maestria: um 5-0 espetacular sobre o San José, com direito a hat-trick de Everaldo – os outros gols foram marcados por Jairo Lenzi e Adílson Gomes – e depois, no último jogo da primeira fase, diante do Bolívar, uma vitória mais apertada, mas não menos festejada: 2-1, que garantia ao Criciúma o primeiro lugar do grupo na Libertadores, em uma belíssima campanha de 4 vitórias e apenas 1 derrota, em 6 jogos. Algo surpreendente, considerando-se que o time fazia sua estréia e, principalmente, que estava no mesmo grupo do famigerado São Paulo.
Com a classificação à segunda fase, o Criciúma já entrava num espírito de “fizemos o essencial, e o que vier a partir de agora é lucro”. Mas muita coisa ainda viria! Na fase seguinte, as oitavas-de-final, os catarinenses jogaram diante do peruano Sporting Cristal. Foram dois jogos tensos, mas que mostraram toda a superioridade do Criciúma: no Peru, vitória por 2-1 e, em Santa Catarina, novo resultado positivo, agora por 3-2. O clube superava mais um estágio na competição sul-americana e, para a sua própria surpresa, ia cada vez mais longe do que imaginava inicialmente.
Nas quartas-de-final, porém, o caminho começou a ficar estreito. O adversário seria novamente o São Paulo e, os paulistas, ao contrário dos catarinenses, tinham aspirações muito maiores do que superar as fases iniciais. O Criciúma sabia disso, mas nem assim se acovardou. Na partida de ida, no Morumbi, o tricolor paulista obteve uma vantagem pequena, por 1-0, gol de Macedo – num jogo que o time de Levir Culpi soube conter o adversário durante o tempo inteiro, só cedendo o placar após ter um jogador expulso. Mesmo assim, o resultado permitia ao Criciúma sonhar com algo mais na partida de volta. Marcado para o dia 20 de maio de 1992, o segundo confronto daquelas quartas-de-final de Libertadores teve todos os ingredientes para entrar na história. Ânimos acirrados que vieram desde antes da partida, com declarações de Telê Santana classificando a partida como de “alto risco”, interpretada pelos catarinenses como uma crítica à sua civilidade e à segurança em Criciúma. Além disso, o clube catarinense estava revoltoso, acusando a CBF de obrigá-lo jogar quatro vezes em oito dias, desgastando ume equipe que tinha um elenco pequeno, para favorecer os paulistas. Apesar de tudo, o que se viu em campo foi um grande espetáculo, e um Criciúma que honrou o fato de ser considerado até hoje o melhor time catarinense da história. Sem se intimidar e jogando em casa, o time abriu a contagem e sustentou a vantagem de 1-0 até o intervalo do jogo. Contudo, cansado pela série de partidas que enfrentava, a equipe não conseguiu manter o ritmo na etapa final. Raí acabaria igualando a contagem em 1-1, e o São Paulo passaria de fase pelo resultado obtido no primeiro jogo. Empate e eliminação que doeram na torcida, mas não deixaram nenhum ar de decepção pairando sobre o Heriberto Hülse. Reconhecendo a epopéia daqueles onze heróis, os 21 mil torcedores que lotaram o estádio levantaram-se e aplaudiram sua equipe ao término do jogo, saudando os feitos daquela equipe lutadora. O Criciúma encerraria sua participação naquela Libertadores como 5º colocado, tendo sido o melhor time entre os que não passaram às semifinais.
Se a fase mais destacada passou, as glórias do Criciúma não pararam de ser acumuladas após aquela competição. Um mês depois da eliminação, o time garantia seu acesso à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, onde permaneceria de 1993 a 1997 (retornando posteriormente nas temporadas de 2003 e 2004). No âmbito estadual, o Criciúma seguiu glorioso, empilhando conquistas posteriores, em 1993, 1995, 1998 e 2005. Nacionalmente, o clube jamais perdeu o respeito adquirido nas mágicas temporadas narradas nesta série, sendo sempre temido onde quer que fosse. Glórias nacionais se repetiriam, com a conquista do Campeonato Brasileiro da Série B, em 2002, e da Série C, em 2006 – esta última tendo vindo após um período de oscilação entre as divisões brasileiras, e servindo para mostrar o poder de recuperação do clube.
Para 2007, o Criciúma vem forte, como costuma ocorrer, sendo novamente finalista do Campeonato Catarinense. O time também jogará a Série B do Campeonato Brasileiro, nutrindo o sonho de voltar à elite do futebol nacional – um lugar, que pode-se dizer, é seu, por direito.
Com este post, encerramos a série que relembra os feitos espetaculares daquele grande Criciúma de 1991 e 1992. Se você perdeu as partes anteriores, não deixe de conferir:
• Parte 1 - O Futebol em Criciúma
• Parte 2 - A conquista do Brasil
Para sua empreitada continental, o clube promoveu campanhas de associação, obteve ajuda com o governo para ampliar seu estádio e buscou oferecer boas condições, para atrair reforços. Como nota ruim estava a saída do comandante Luiz Felipe Scolari: ciente que seu trabalho estava feito, o treinador deixou a equipe catarinense, em alta, cedendo espaço ao substituto Levir Culpi. A preparação intensa, promovida por Levir, visando o torneio sul-americano deu certo, e os catarinenses entraram com força total na competição.
A estréia foi no dia 6 de março daquele ano, diante do poderoso São Paulo, de Telê Santana, vencedor do Campeonato Brasileiro do ano anterior. Acreditando num jogo fácil, Telê poupou as estrelas Raí e Cafu, num erro que tentaria consertar, em vão, mais tarde. O Criciúma estava arrasador e motivado. Sem tomar conhecimento do tricolor paulista, o time catarinense foi marcando seus gols, através de Jairo Lenzi, Gélson e Adílson Gomes. Final de jogo no Heriberto Hülse com um massacrante 3-0 para o Criciúma, seguido de uma festa delirante por parte da torcida.
O caminho começava a ser trilhado com glórias, mas logo na seqüência viria a parte mais difícil da campanha: três jogos consecutivos fora de casa – sendo os dois primeiros fora do Brasil. Estas seriam as primeiras partidas internacionais oficiais da história do Criciúma – e de um clube catarinense. Ambas foram disputadas na altitude boliviana. Na primeira partida desta série, diante do San José de Oruro, no dia 24 de março, os catarinenses alcançaram uma sofrida vitória, por 2-1, com tentos de Gélson e Jairo Lenzi. Três dias depois, veio o outro jogo na Bolívia, agora diante do tradicional Bolívar: jogo complicado, empatado por 1-1 – num jogo em que o Criciúma saiu na frente, com gol de Jairo Lenzi, mas cedeu o resultado. Fechando a série de três partidas consecutivas, estava o mais difícil dos confrontos: diante do São Paulo, no Morumbi. Cansado pela maratona de jogos fora do Brasil (este seria o terceiro jogo do time no intervalo de uma semana, e ainda havia o desgaste da viagem), e enfrentando um tricolor paulista que queria vingança do massacre no primeiro jogo, o Criciúma não se encontrou em campo: resultado, 4-0 para os paulistas.
Tropeço cruel, que a equipe catarinense sabia que precisava superar nos dois confrontos em casa que se seguiriam. E o fez com maestria: um 5-0 espetacular sobre o San José, com direito a hat-trick de Everaldo – os outros gols foram marcados por Jairo Lenzi e Adílson Gomes – e depois, no último jogo da primeira fase, diante do Bolívar, uma vitória mais apertada, mas não menos festejada: 2-1, que garantia ao Criciúma o primeiro lugar do grupo na Libertadores, em uma belíssima campanha de 4 vitórias e apenas 1 derrota, em 6 jogos. Algo surpreendente, considerando-se que o time fazia sua estréia e, principalmente, que estava no mesmo grupo do famigerado São Paulo.
Com a classificação à segunda fase, o Criciúma já entrava num espírito de “fizemos o essencial, e o que vier a partir de agora é lucro”. Mas muita coisa ainda viria! Na fase seguinte, as oitavas-de-final, os catarinenses jogaram diante do peruano Sporting Cristal. Foram dois jogos tensos, mas que mostraram toda a superioridade do Criciúma: no Peru, vitória por 2-1 e, em Santa Catarina, novo resultado positivo, agora por 3-2. O clube superava mais um estágio na competição sul-americana e, para a sua própria surpresa, ia cada vez mais longe do que imaginava inicialmente.
Nas quartas-de-final, porém, o caminho começou a ficar estreito. O adversário seria novamente o São Paulo e, os paulistas, ao contrário dos catarinenses, tinham aspirações muito maiores do que superar as fases iniciais. O Criciúma sabia disso, mas nem assim se acovardou. Na partida de ida, no Morumbi, o tricolor paulista obteve uma vantagem pequena, por 1-0, gol de Macedo – num jogo que o time de Levir Culpi soube conter o adversário durante o tempo inteiro, só cedendo o placar após ter um jogador expulso. Mesmo assim, o resultado permitia ao Criciúma sonhar com algo mais na partida de volta. Marcado para o dia 20 de maio de 1992, o segundo confronto daquelas quartas-de-final de Libertadores teve todos os ingredientes para entrar na história. Ânimos acirrados que vieram desde antes da partida, com declarações de Telê Santana classificando a partida como de “alto risco”, interpretada pelos catarinenses como uma crítica à sua civilidade e à segurança em Criciúma. Além disso, o clube catarinense estava revoltoso, acusando a CBF de obrigá-lo jogar quatro vezes em oito dias, desgastando ume equipe que tinha um elenco pequeno, para favorecer os paulistas. Apesar de tudo, o que se viu em campo foi um grande espetáculo, e um Criciúma que honrou o fato de ser considerado até hoje o melhor time catarinense da história. Sem se intimidar e jogando em casa, o time abriu a contagem e sustentou a vantagem de 1-0 até o intervalo do jogo. Contudo, cansado pela série de partidas que enfrentava, a equipe não conseguiu manter o ritmo na etapa final. Raí acabaria igualando a contagem em 1-1, e o São Paulo passaria de fase pelo resultado obtido no primeiro jogo. Empate e eliminação que doeram na torcida, mas não deixaram nenhum ar de decepção pairando sobre o Heriberto Hülse. Reconhecendo a epopéia daqueles onze heróis, os 21 mil torcedores que lotaram o estádio levantaram-se e aplaudiram sua equipe ao término do jogo, saudando os feitos daquela equipe lutadora. O Criciúma encerraria sua participação naquela Libertadores como 5º colocado, tendo sido o melhor time entre os que não passaram às semifinais.
Se a fase mais destacada passou, as glórias do Criciúma não pararam de ser acumuladas após aquela competição. Um mês depois da eliminação, o time garantia seu acesso à primeira divisão do Campeonato Brasileiro, onde permaneceria de 1993 a 1997 (retornando posteriormente nas temporadas de 2003 e 2004). No âmbito estadual, o Criciúma seguiu glorioso, empilhando conquistas posteriores, em 1993, 1995, 1998 e 2005. Nacionalmente, o clube jamais perdeu o respeito adquirido nas mágicas temporadas narradas nesta série, sendo sempre temido onde quer que fosse. Glórias nacionais se repetiriam, com a conquista do Campeonato Brasileiro da Série B, em 2002, e da Série C, em 2006 – esta última tendo vindo após um período de oscilação entre as divisões brasileiras, e servindo para mostrar o poder de recuperação do clube.
Para 2007, o Criciúma vem forte, como costuma ocorrer, sendo novamente finalista do Campeonato Catarinense. O time também jogará a Série B do Campeonato Brasileiro, nutrindo o sonho de voltar à elite do futebol nacional – um lugar, que pode-se dizer, é seu, por direito.
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Com este post, encerramos a série que relembra os feitos espetaculares daquele grande Criciúma de 1991 e 1992. Se você perdeu as partes anteriores, não deixe de conferir:
• Parte 1 - O Futebol em Criciúma
• Parte 2 - A conquista do Brasil