domingo, 29 de abril de 2007

O maior time catarinense de todos os tempos - Parte 2 de 3

Parte 2 - A conquista do Brasil
Voltando de uma passagem de três temporadas pelo futebol do Kuwait, Felipão via no ambicioso Criciúma a chance de aparecer nacionalmente. Trabalhando no clube desde o início da temporada de 1991, o treinador deu foco total à Copa do Brasil, com a consciência de que, sabendo jogá-la, mesmo um time desacreditado e inferior tecnicamente pode sair campeão.

O trajeto naquela copa nacional não foi fácil, mas o Criciúma agüentou o tranco. Se a primeira fase destoou das demais, ocorrendo sem dificuldades – o adversário foi o Ubiratan-MS, e os catarinenses passaram goleando –, a partir da etapa seguinte a brincadeira teria fim e o “sonho dourado”, como foi chamado pelos torcedores o anseio de chegar ao título, começaria a se complicar.

Já nas oitavas-de-final, o adversário seria o poderoso Atlético Mineiro. Mal na disputa da Série B, em virtude da prioridade dada à Copa do Brasil, o Criciúma era desacreditado pela imprensa nacional e até pelos seus torcedores. A vitória surpreendente dos catarinenses no jogo de ida, por 1-0, não aumentou o crédito do time. A opinião nacional é que o galo mineiro passaria, e com goleada. Azar daqueles que desmereceram a força dos comandados de Felipão: na volta, em pleno Mineirão, o Criciúma venceria novamente por 1-0, num golaço de falta de Roberto Cavalo – “um coice na torcida do galo”, como descreveram as manchetes mineiras no dia seguinte.

Com a raça daquela equipe já ficando cada vez mais evidente, os catarinenses tinham um confronto com ares de vingança nas quartas-de-final: o adversário seria o Goiás, clube que eliminara o Criciúma na mesma competição, um ano antes. Em 1991, porém, não houve chance para os goianos: 0-0 no Serra Dourada, na partida de ida, e um massacre por 3-0 na volta, fora o baile, classificando o time de Santa Catarina às semifinais da Copa. E na fase decisiva, entre os quatro melhores da competição, o adversário do time de Felipão seria a boa equipe paraense do Remo. Com o adversário tendo uma torcida fanática e empolgada pela boa campanha de seu time, somado ao grande poderio remista nas bolas aéreas, a tarefa do Criciúma era complicadíssima. Scolari sabia disso e, sempre concentrado em avançar de fase, passou duas semanas treinando, à exaustão, maneiras de conter as bolas altas do Remo e aproveitar os espaços dados pelos paraenses, em contra-ataques. Deu certo! No jogo de ida, em Belém, os catarinenses derrotariam o time paraense por 1-0, convertendo seu tento justamente numa jogada rápida, onde a marcação remista estava desarrumada. Com a vantagem obtida no Mangueirão, bastava ao Criciúma segurar o jogo de volta, em casa, para fazer o que nenhuma equipe de seu estado jamais ousara: chegar a uma final nacional. E o time não só segurou o resultado como buscou ampliá-lo – e, de fato, conseguiu – obtendo uma bela e até tranqüila vitória por 2-0, diante de um estádio Heriberto Hülse lotado. Confirmada a surpresa, que superara até mesmo as expectativas mais otimistas, o Criciúma estava na grande final da Copa do Brasil! E, mesmo sob os olhares ainda desconfiados da mídia, a raça do time catarinense já o credenciava como tendo chances de conseguir erguer o troféu.
Chegava a grande final da competição nacional. O adversário do Criciúma era ninguém menos que o gigante Grêmio, do Rio Grande do Sul. O tricolor gaúcho vivia uma fase ruim, tendo sido rebaixado no Campeonato Brasileiro poucas semanas antes da decisão. Mesmo assim, a camisa pesava – e muito – deixando o time gaúcho como franco favorito, até porque o Criciúma também não empolgava em seus resultados jogando pela Série B. Talvez subestimando a força de seu ascendente adversário, os gremistas consideravam que a vitória viria, com facilidades.

Antes do jogo de ida, em Porto Alegre, o cronista gremista Paulo Sant’ana escreveu que o “pequeno Criciúma tremeria ao entrar no gramado do estádio Olímpico e ver escrito ‘Grêmio – Campeão do Mundo”. A tradição, portanto, falaria mais alto. No vestiário, Felipão instigava seus jogadores: “vocês têm medo de letreiro?”. Não tinham. O Criciúma foi valente, abriu o placar com um gol de Vilmar, logo aos 15 minutos, e soube impedir os avanços do Grêmio durante o jogo todo, só cedendo o empate por 1-1 aos 83 minutos de jogo, quando o tricolor gaúcho igualaria a contagem convertendo um pênalti duvidoso. O empate foi festejado pelos cinco mil torcedores catarinenses que invadiram Porto Alegre: agora, o Criciúma estava a apenas um jogo do sonho de jogar Libertadores, podendo empatá-lo por zero gol, para levantar o troféu da Copa do Brasil.

Então veio o histórico dia 2 de junho de 1991, data do confronto de volta, no Heriberto Hülse. Criciúma simplesmente parou, e todos os caminhos levavam ao estádio local. Até mesmo aqueles que pouco se interessavam por futebol foram engolidos pela onda de entusiasmo que tomou conta da cidade. Nas arquibancadas lotadas, o orgulho estava estampado no rosto de cada torcedor. Nada podia tirar o título daqueles guerreiros do Criciúma. Em campo, um jogo nervoso, de poucas oportunidades e com a equipe da casa jogando com o regulamento embaixo do braço. Ninguém conseguiu estufar as redes do adversário e o 0-0 deu o título à equipe de Felipão, pelo gol qualificado. A festa tomou conta do estádio, das ruas da cidade e do estado de Santa Catarina inteiros. O Criciúma era campeão do Brasil. Ninguém daquelas terras jamais ousara chegar tão longe.



Com o troféu na mão, o caminho e os feitos históricos daquele espetacular time agora seria trilhado fora do Brasil: a histórica campanha na Copa Libertadores da América de 1992.

* Na noite desta segunda-feira, a terceira e última parte desta história: a Libertadores de 1992 e o Criciúma hoje.

Confira também a Parte 1: O Futebol em Criciúma.

Nenhum comentário: