segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Tiemblan de terror los corazones holandeses

Nunca na década se esperou tanto do futuro são-luizense

O domingo foi importante para o futebol da América do Sul. Horas antes de o Banfield conquistar o título argentino pela primeira vez numa história de 113 anos, de o Universitario confirmar sua condição de maior campeão peruano e recuperar a taça que não via desde 2000, de o Nacional de Assunção ratificar o azar de Miguel Ximénez e ganhar seu primeiro título paraguaio em 63 temporadas, de o Real Potosí virar um 3 a 1 para 3 a 4 em La Paz e bater o Bolívar na final do Torneo Playoff, e de o Deportivo Táchira saltar do terceiro lugar para o primeiro na última rodada e se sagrar campeão do Apertura venezuelano, o São Luiz de Ijuí deu a largada na sua pré-temporada.

Este de 2009 é o São Luiz mais promissor da década. Uma pena que a década vá acabar antes de eles terem chance de disputar o Gauchão – sou da corrente que diz que a primeira década do século acaba dia 31, e não no fim do ano que vem –, mas ao mesmo tempo significa que o próximo decênio começará em alto nível. Só nos tempos de Segundona, quando os adversários eram mais fracos, Ijuí confabulou com tanto otimismo sobre o futuro do clube, meses antes de o campeonato começar. Antes de cair e depois de subir, nunca se viu tanta CERTEZA de que o time realmente poderia fazer coisas grandes na elite – como de fato não fez em todos esses dez anos, pois a última vez em que o São Luiz passou da primeira fase do Gauchão foi em 1999.

O quadro do 19 de Outubro vive de ciclos de entusiasmo. Os anos 1970, especialmente a sua metade, incluíram melhorias no estádio (leia-se REFLETORES), um quinto lugar no estadual e um título internacional, a Copa dos Gaúchos. Depois disso o time sumiu. No início da década de 1990, novo regozijo em toda a Colmeia do Trabalho, com a cobertura do pavilhão do estádio, o retorno à primeira divisão, o vice-campeonato da Copa Governador do Estado e um jogo-treino contra a Seleção Brasileira. O final dos 90 foi outra época feliz, com taças em torneios regionais e as derradeiras passagens de fase no Gauchão. Após aquilo, novo ostracismo. Agora, é como se vivêssemos a abertura de outro desses ciclos. No primeiro semestre deste ano, até um hino e um mascote o São Luiz ganhou. No segundo, uma preparação que começou incrivelmente cedo – antes de outubro findar, já havia em Ijuí contratados suficientes para formar dois times inteiros.

E não quaisquer contratados. O São Luiz de 2010 terá jogadores afirmados no futebol do interior, como o excelente meia CHIQUINHO (ídolo na campanha campeã da Segundona de 2005, depois herói também no Inter-SM e certamente o melhor jogador que passou por Ijuí na década), o matador atacante Eraldo e o igualmente ofensivo Leandro Rodrigues. O bom goleiro Oliveira e o lateral Xaro, destaques de outros anos, foram mantidos. Luciano Fonseca, o Marreta, e Raone, ambos ex-Grêmio, são os tradicionais reforços-com-passagem-pela-capital que defenderão as cores ijuienses no ano que vem.

O trabalho bem feito na busca por reforços merece prêmio. Como disse o presidente do clube Sadi Pereira, com esses nomes resta esperar que a sorte apareça em campo, porque fora dele foi feito o melhor possível. E o São Luiz também começa o ano que vem com a glória de ter desprezado um patrocinador nacional em prol dos apoiadores regionais. A Embratel surgiu nos pórticos do 19 de Outubro querendo monopolizar a camisa, prometendo biscoitos amanteigados infinitos (?), mas recebeu uns tapinhas nas costas, um muito obrigado e foi mandada embora sem assinatura de contrato. Os dirigentes ijuienses, desconfiando que um casamento desses não dura mais que um ano, preferiram ceder o manto às empresas locais, que sempre estiveram ao lado do clube. Pode acabar sendo mais lucrativo.

Amistosos incomuns como o frescor da temperatura dessa metade de dezembro conspiram para fortalecer o ar de esse-ano-vai. Na próxima quarta-feira, a Chapecoense desembarca em Ijuí para o segundo duelo do São Luiz na pré-temporada. Um time de fora do Rio Grande enfrentando o Zangão (vamos já popularizar esse apelido que o nascimento do mascote nos oferece) é coisa que não se vê há anos. Minha memória, que vai para uma década e meia de cancha, não traz a lembrança de um jogo interestadual sequer. Nos registros, esses duelos envolvendo o alvirrubro são vistos no longínquo 1995, pela Série C do Brasileirão. Deve haver um ou dois amistosos posteriores, mas não chegaram a criar recuerdos. Para a primeira semana de janeiro, os são-luizenses ainda tentam trazer o Criciúma para mais um jogo preparatório contra ESTRANGEIROS.

Mas todos os delírios de grandeza precisam começar por baixo. E o primeiríssimo dos amistosos desse São Luiz que sonha tão alto quanto o olhar do povo noroestino gaúcho pode alcançar foi um prosaico enfrentamento contra amadores. Lá na tranquila Giruá, sobre seu rico solo vulcânico de origem basáltica (valeu Wikipédia), o time de Ijuí bateu o Aimoré local com uma daquelas goleadas acachapantes desprovidas de qualquer significado, mas que são obrigatórias e vão formando uma ideia de time. O São Luiz ganhou por 0 a 7. Um certo Nicolas, saído do time reserva, de quem não se falara nada até então e inexistente na relação de jogadores apresentada no site do clube, foi aclamado pelas rádios como promissor.

Está óbvio que Nicolas é uma arma secreta do São Luiz. Como será, talvez, o jovem cearense Torres – um guri a quem foi dada a missão de guardar umas URNAS na apresentação do hino são-luizense só pode ser digno de confiança; e merecer a fé alheia é o que basta para os dias de um centroavante fazerem sentido. Seja como for, ontem surgiu a notícia de que o PSV Eindhoven desistiu de enfrentar o campeão gaúcho na excursão que supostamente fará pelo Brasil – ao invés disso, escolherá o representante da Dupla Gre-Nal que ficar melhor colocado no estadual. Só porque a Dupla ganhou 53 dos últimos 55 campeonatos não quer dizer que o PSV tenha trocado seis por meia dúzia. O temor em cruzar com o São Luiz é evidente no olhar daqueles holandeses.

A foto magnífica é da Giuliana Matiuzzi.

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