
Tem FAMA, o Cerro. Ao chegar em Montevideo e comentar sobre as partidas menores do campeonato, os moradores mais PREOCUPADOS com a SAÚDE do TURISTA logo atentam: todos os estádios de Montevideo são tranquilos, mas evite ir ao Cerro. São maus, os cerristas. Ou uma hinchada muy aguerrida, como explicou um taxista. Fato constatado é que o quadro celeste é o terceiro mais citado nas canções OFENSIVAS das barra-bravas. Tanto tricolores como carboneros orgulham-se de eventuais idas ao Tróccoli sem ESCOLTA POLICIAL. Isso fora de campo. JOGANDO FUTEBOL, o Cerro digamos que não seja tão temido – até esta tarde, não ostentava nenhum título na primeira divisão. E não se trata de uma CRISE recente: na Era Amadora, até o Rampla Juniors ergueu um caneco (em 1926), e o Cerro não.
Como VIVER sem jamais gritar um campeonato? O torcedor do Cerro, como todos os outros aficionados do planeta, também teve as suas noites de glória – que serviam, a cada recordação, como um INCENTIVO para AGUENTAR a existência. O Cerro comemorou, por exemplo, o título da Segunda Divisão em 1998, a participação na Copa Libertadores de 1995 e uma FEÉRICA surra (5-0) no rival de todos os dias, o Rampla, em 2006. Tudo muito efêmero, já que o clube voltou a ser rebaixado anos depois e venceu apenas uma partida naquela Libertadores (1-0 no Independiente, de Avellaneda, sete vezes campeão da América).

Antes do início da última rodada, o Cerro já estava garantido na Copa Sul-Americana, destino do terceiro e do quarto colocado do torneio. Como liderava, garantia presença na maior das Copas com um empate. Recebeu o River Plate, que também lutava por um assento no maior EVENTO do TERCEIRO MUNDO, no Estádio Luís Franzini. Na Liguilla, os clubes duelam em campo neutro. Para o Cerro foi uma pena. Fosse o jogo no Troccóli, a festa seria ainda maior. Uma multidão teve de atravessar a cidade, da Villa ao Parque Rodó, para aplaudir Pellejero, Dadomo e Boghossian e sonhar em ser campeão. Fosse o jogo no Tróccoli, vinte mil cerrenses poderiam apoiar o onze mandando a campo por Eduardo Acevedo.

Na última de todas as jornadas, com ANOTAÇÕES de Dadomo, Boghossian e Matías Cabrera, os azuis superaram o River Plate de Juan Ramon Carrasco, que ameaçou até o PENÚLTIMO SUSPIRO. Penúltimo porque, quando faltavam dois minutos para o fim, os darseneros ainda alçavam desesperados centros para a área do Cerro, mas no minuto DERRADEIRO Diego Silva LARGOU DE MÃO, embicou um cerrense, observou um OPRESSOR cartão vermelho e NOTOU que a Libertadores não lhe PERTENCERIA. Para as batalhas continentais, o Cerro deve sofrer com algumas baixas. Boghossian, o centroavante que foi o artilheiro da Liguilla com sete gols, já acertou com o Newell's, da Argentina. O treinador Eduardo Acevedo pode assumir o Nacional, que perdeu Gerardo Pelusso. Mas hoje, nada disso importa. O Cerro é campeão pela primeira vez. Há que se descobrir como festejar um título.
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A Liguilla, ao fim e ao cabo, teve esta classificação: 1) Cerro; 2) Racing; 3) River; 4) Liverpool e Defensor; 6) Nacional. Cerro e Racing se classificaram para a Libertadores, sendo que o segundo entra na chamada pré-Copa. O River Plate disputará a Sul-Americana, na qual estreia contra o boliviano Blooming, no dia onze de agosto. Liverpool e Defensor, que empataram em pontos, disputarão uma partida extra na próxima quarta-feira para definir qual será o segundo representante uruguaio na Sul-Americana. (Fotos minhas)

Um comentário:
Baita texto!!! Belíssima história... parabéns.
Força ao futebol do interior... ou aos clubes de menor expressão, mas tradicionais e com torcida.
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