
Os moais, como são chamados, foram esculpidos em pedra vulcânica em ALGUM MOMENTO a partir do século XII. Obra de habitantes locais, tão entediados com a vida de ilhéus quanto as próprias estátuas ficariam depois, ou de extraterrestres, segundo teorias criativas das mesmas pessoas que, quando seus times perdem, discursam pelos BOLICHOS sobre um eterno esquema de compra de resultados – e me vê mais um gole de pura que hoje eu quero ESQUECER. Os moais já tiveram pukaos (chapéus) cilíndricos feitos em rocha vermelha e elaborados olhos de coral, mas a maioria foi depredada com o passar do tempo.
Diz a tradição que os primeiros polinésios a habitarem a Ilha de Páscoa (Rapa Nui, no seu idioma) vieram de uma certa Ilha de Hiva. Num momento EPIFÂNICO, o rei de Hiva vislumbrou suas ilhas sendo tragadas pelo mar e todas as famílias morrendo afogadas. Uns milênios mais tarde isso seria atribuído ao degelo das CALOTAS POLARES, mas o pensamento da época se limitava às tempestades. Temendo que o presságio viesse a se tornar real, o monarca escolheu os sete homens que tinham mais cara de centroavantes ROMPEDORES, portanto corajosos, e mandou que zarpassem rumo ao leste. Sempre na direção do sol nascente, haveriam de encontrar uma nova terra. Chegaram a Rapa Nui.
Os sete pioneiros, ainda de acordo com a lenda, são os homenageados com os únicos moais que estendem sua mirada de pedra para o oceano – no sentido da amada P

Mas um dia tirar ROSTOS do meio das rochas ficou desinteressante. A influência dos estrangeiros, que outrora destruíam (e na falta de riquezas levavam para casa os próprios moais) e hoje deixam os METAIS dos seus bolsos para conhecer pacificamente (ou quase) a Ilha de Páscoa, levou outro PASSATEMPO à pequena população local. Os rapanuis decidiram jogar futebol. Fundaram uma associação amadora do esporte em meados dos anos 1970 e disputaram duas partidas “oficiais”. Os dois amistosos contra um adversári

Nada que provocasse SOBRESSALTOS nos moais. Com possibilidade para tanto, não fariam mais que bocejar. Mas são as desilusões amorosas e as loucuras apaixonadas que movem o mundo, e num dos exemplos desta segunda opção a NOVIDADE invadiu os quase 165 quilômetros quadrados da ilha: Rapa Nui e seu futebol decidiram enfrentar os seus profissionais. Inscreveram-se na Copa Chile, o torneio eliminatório do país, e nessa coisa quase ALQUÍMICA que é a tabela de enfrentamentos

Há um mês foram realizadas as peneiras. Dos quarenta candidatos a “guerreiros rapanui”, dezesseis foram escolhidos para formar o plantel da equipe. Padeiros, músicos, bailarinos (certamente os dribladores mais QUEBRÁVEIS), cozinheiros, um sem fim de profissões foi reunida por baixo da camisa vermelha da Seleção da Ilha de Páscoa. Por uma tarde, jogadores de futebol sob o comando do treinador Miguel Ángel “El Loco” Gamboa, ex-atleta que defendeu o Chile na Copa do Mundo de 1982. Quando desembarcou na ilha, Gamboa encontrou uma loucura que se equiparava à sua, ouvindo repetidas vezes comentários sobre uma possível vitória contra o Colo Colo, e alguns jogadores ousando até PROGNOSTICAR o próxi

Edgardo Pastén Hito, de 27 anos, goleador histórico do futebol pasquense (só no ano passado foi às redes quarenta vezes em jogos internos), preferia seguir outro caminho: “Qué bueno que un equipo prefesional del continente por fin se atreve a jugar contra nosotros. Acá sólo pensamos en ganar. Nunca hemos perdido contra un equipo de Chile.” E nunca haviam vencido, já que sem confrontos diante dos continentais, mas isso não vinha ao caso. Para fazer realidade a partir dos pensamentos, a única chance do quadro de Rapa Nui era derrotar os oponentes na força: “Quizás no tenemos la técnica de Colo Colo, pero físicamente somos superiores. Somos así por naturaleza”, assegurou Jovino Tuki, volantão da equipe cuja média de altura superava o um metro e oitenta.
Sobre a aua piroto[1], calçando seus kirevaes[2] e antes de dar o primeiro chute no piroto[3], o elenco da Ilha de Páscoa fez uma performance do HOKO, uma dança ritualística semelhante à Haka, eternizada pela Seleção Neozelandesa de RUGBY. Assim como os maoris eram uma lembrança de quem já se fora, o Hoko também evocava os antepassados. Diante da batalha iminente, encarados por jogadores do Colo Colo que não entendiam bem o qu

A Seleção de Rapa Nui chegou a marcar um gol. Daqueles que por mais ilegal que seja os DEUSES DO FUTEBOL aceitam. Chandía, um HEREGE, anulou. Com meia hora de partida a resistência cessou. Javier Pérez marcou contra a ao seu gol desafortunado seguiram-se mais três pelotas enfiadas nas redes pelo Cacique de Santiago. O Ilha de Páscoa 0 a 4 Colo Colo foi uma goleada óbvia, sem decepção e, consideradas as circunstâncias, bastante AMENA. Celebrou-se o futebol naquele estádio repleto. A população se distraía com o embate e os maoris, arrancados da mesmice habitual, regozijaram-se em segredo. Pelos cantos de Rapa Nui, assustados turistas constataram que as estátuas tinham um sorriso jamais visto nos postais.
[1] campo
[2] chuteiras
[3] bola
[4] juiz
[5] jogo
Fotos: José Arcos, site oficial do Colo Colo.
Um comentário:
muito gênio
"Nunca hemos perdido contra un equipo de Chile"
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