Houve, no primeiro turno, um jogo tão ruim, tão perdido em chutões e lances bisonhos, que não poderia indicar grande futuro aos envolvidos. O Grêmio não tinha como, daquele jeito, ir para o almejado topo da classificação e o Santos tampouco conseguiria ir além da zona de rebaixamento.
Mas foram. Porque mudaram. O Grêmio teve com a entrada de Tcheco uma Revolução, virou líder pouco tempo depois e, mesmo perdendo o primeiro lugar eventualmente, nunca mais foi superado em pontos – ao desastroso resultado do Gre-Nal, respondeu com uma maratona de 140 horas de concentração, encheu o time de jovens, como Douglas Costa, e aproveitou os dois últimos jogos em casa para reencontrar as vitórias e a liderança. O Santos... bom, o Santos não se preocupa tanto com o descenso agora.
Houve, ontem, em Porto Alegre, um jogo com os mesmos times envolvidos e um futebol completamente diferente. Um jogo bom. Retrato do que as duas equipes evoluíram desde aqueles chutões de julho. Ainda houve erros de passe em profusão, bolas mal dominadas e alguns jogadores santistas parecendo dançarinas de cancã, erguendo as chuteiras acima das testas dos gremistas – não de Morales, em quem as chuteiras mal alcançavam a cintura.
Nada de lamentável. Aí era futebol. Com erros, “vontade excessiva” (vontade nunca é excessiva, isso é uma falácia de quem leva pau e não sabe revidar), mas futebol. Quando esteve inspirado, nos minutos iniciais, o Grêmio tornou infernal a vida dos paulistas e, não à toa, abriu a contagem aos 3 minutos, com o Chengue. O Santos reagiu equilibrando as ações a partir da metade do primeiro tempo. Tocou a bola de forma envolvente, tendo em Cuevas um recurso ofensivo invejável e em Kléber Pereira e Molina seus apoios para tentar gols.
Assim os visitantes levaram perigo no Olímpico. E a única coisa que lembrou o primeiro turno foi o vindo em decorrência disso: do início ao fim, grandes defesas do goleiro Victor, apagado nos últimos tempos. A sorte também voltou ao arqueiro tricolor, com dois tiros santistas estourados na trave: um em escanteio, no primeiro tempo, outro de Kléber Pereira, no segundo.
Aos 79 minutos, perdendo ainda por 1-0, o Santos botou em campo Tiago Luis. O primeiro Marca impresso que comprei na Espanha, em janeiro, chamava o jogador de “Messi brasileño”, e apontava um interesse do Real Madrid. Ainda não apareceu toda a dita qualidade do Messi. Ontem, menos ainda. Se havia uma nova jóia do futebol brasileiro em campo para atrair a cobiça do abutre Jaap Stam, ex-zagueiraço e atual olheiro do Manchester United, essa jóia era gremista. Era Douglas Costa, camisa trinta e dois.
Autor do primeiro gol na vitória contra o Botafogo no sábado, o guri de 80 milhões fez lembrar que a trave inimiga do Santos também não tinha as melhores relações com o Grêmio, impedindo o que seria seu golaço, aos 60 minutos. Mesmo sem desempenhar atuações absolutamente geniais por enquanto, mostrava novamente possuir a utilidade que só os acima da média têm. Em um lance, mudar o jogo. Ou matá-lo. E, aos 90+3 minutos, Douglas foi o batedor da falta que resultou na falha do seu tocaio, o goleiro santista, e terminou no 2 a 0 pelos pés de Soares.
Antes disso a torcida gremista já cantava alto. Desde sempre para empurrar o time; nos acréscimos, com forças dobradas após a confirmação do empate do Palmeiras em Florianópolis. O Figueirense, contra o qual os gaúchos haviam assumido a liderança anteriormente, ressurgia do seu ostracismo no campeonato para devolver aos tricolores o primeiro lugar, sustentando o 0-0 no seu jogo. Voltou a ser líder, o Grêmio. Um líder que chegou aí duas vezes jogando um futebol imensamente melhor do que aquele da Vila Belmiro, mas não exatamente espetacular: na medida. Como o futebol de Douglas até aqui. Ninguém precisa de mais quando isso funciona.
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Da arbitragem: O Santos pediu um pênalti no fim da partida, por suposto toque de mão de um defensor gremista em chute para a área. Só vi o lance uma vez, ao vivo, e nada pareceu: tendo havido um real encontro da bola com o braço/mão do tricolor, foi por conta de um chute forte demais para se sair do caminho. A menos que o braço do gremista estivesse deliberadamente aberto (e isso só pode responder quem viu o replay), uma jogada inocente. A expulsão de Fabiano Eller pode ser questionada pela entrada não ter acertado o adversário - a falta houve, o cartão talvez fosse evitável. De qualquer maneira, não é preciso ser um gênio do futebol para constatar que time algum é prejudicado por jogar com um a menos por dois minutos.
2 comentários:
Pelo replay, nota-se claramente que o defensor ESTICA o braço...e não o contrário. Nos primeiros frames, dá prá ver o braço dele retraído, e depois, esticando até a bola tocar. Pênalti claríssimo. Vi o lance umas 15 vezes. Juiz não deu por covardia. Time da casa já viu, né? Kléber Pereira quase se jogou no chão quando o juiz não marcou.
"Vi o lance umas 15 vezes."
Facilita a construção da opinião.
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