Não passaram dois minutos desde a minha entrada no carro para que, do rádio, viesse a narração do escanteio que originava o gol do Grêmio na Vila Belmiro. Rodrigo Mendes, desviando de cabeça, mais um gol nascido de bola parada, 0-1 sobre o Santos. Tão mal estaria o tricolor que aquela abertura favorável de placar era um achado dos mais merecedores de comemoração. Pelo menos era o que diziam os locutores. Eles tinham razão. Quando cheguei em casa, à TV, já no fim da primeira etapa, o jogo andava pelos 40 minutos e houve três lances, todos da equipe mandante. No último deles, o empate de um Santos que pressionava com chutes estrábicos.
A apresentação gremista não dava qualquer indício de que aquele time poderia ter inaugurado o placar. Era terrível. E o Santos ia pela mesma via. Conseqüência de ter criado mais chances, deu uma cátedra de incapacidade de finalização. Os dois times, na base dos balões, do embica pra frente, do vamos na sorte, do pega a bola, baixa a cabeça e começa a correr, fugiram de qualquer lembrança futebolística, especialmente no segundo tempo de provocar gargalhadas (ou choro incontido). Note-se que o quadro aparentemente superior, o da casa, poderia até ter perdido apesar de estar menos pior, não fosse o árbitro fechar os olhos para dois pênaltis cometidos sobre os gaúchos – tudo bem, estava fazendo um favor, não podia sair vencedor um time jogando daquela maneira, era capaz de se achar bom, até.
Por todas as semanas anteriores, aos que atestavam a inegável fraqueza desse time do Grêmio, eu repliquei: é ruim, mas o que dizer do Ipatinga, do Goiás, ou mesmo do próprio Santos e suas campanhas abaixo da linha de existência de qualidade? Eram todos ruins, piores. Mas isso não absolvia o Grêmio. São todos ruins – incluindo ele. A maior prova dessa miséria técnica do Campeonato Brasileiro é esse Grêmio que proporcionou o patético jogo de ontem estar no 3º lugar da competição.
Há apenas um porém: o tricolor que chegou ao topo da classificação não foi o de ontem, que despenca, mas o de Roger. É a isso que está reduzida a Série A: uma pocilga em que todos chafurdam na mesma matéria escatológica, e o menor diferencial, seja no campo – um Roger da vida – ou na casamata, desequilibra as coisas para cima no clube em que está. Sem Rogeres e outros genéricos de craques não há magia. Há aquela coisa vista no empate por 1-1 ontem.
Penas mais tarimbadas escreveram há mais tempo que a era dos grandes esquadrões no futebol brasileiro acabou. A afirmação vai virando uma idéia comum que, confirmada como real, não precisa mais de defesa. Contudo, não vale a pena ficar saudoso de décadas passadas, lendas que não desfilam mais nos gramados, e negar a atualidade do esporte (como fazem certas pessoas da mídia esportiva). Ainda é futebol, ainda fascina, ainda emociona e ainda leva multidões aos estádios. O futebol, mesmo péssimo, não perderá isso. Mas tem que ser futebol, e aquela coisa mostrada por Santos e Grêmio na noite de quarta-feira definitivamente não era.
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