quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O façanhudo Fons

Vibram os luxemburgueses

A chance imperdível da vida de Alphonse Leweck surgiu quando o Borussia Mönchengladbach lançou o convite para que ele fizesse alguns testes por lá. Sendo aceito, daria um salto monumental, ingressando no elenco de um clube então bem estabelecido na poderosa Bundesliga alemã. Um clube de meio de tabela, mas e daí? Leweck era apenas o preeminente centrocampista do FC Etzella.

FC Etzella. Talvez seja melhor defini-lo, antes de prosseguir na história. Em uma frase: é um clube pequeno dentro de um país minúsculo. Fundado em 1917, em Ettelbrück, cidade de 7,5 mil habitantes (atualmente) do centro do Grão-Ducado de Luxemburgo, o time tem a Copa Luxemburguesa de 2001 como seu único título nacional importante. Só ela. Obviamente, nunca fez oposição séria às agremiações mais fortes, como o Jeunesse d’Esch, o Union ou o Grevenmacher – sem esquecer do Spora e do Dudelange, em suas infindáveis encarnações (o primeiro é uma fusão dos tradicionais Racing e Sporting, enquanto o segundo, atualmente chamado de F91 Dudelange, existe desde a tríplice fusão de Stade Dudelange, Alliance e US Dudelange ocorrida em 1991).

Essa quase irrelevância do honrado Etzella multiplicava por trilhões o nível normal de entusiasmo de ‘Fons’ Leweck por receber a notificação do Borussia. E fez a sua tristeza crescer em idêntica proporção quando, à mesma época, foi diagnosticada uma deficiência numa válvula do seu coração. “Provavelmente, você nunca mais poderá jogar futebol”, confidenciaram os médicos. Os alemães, por sua vez, recuaram.

Com 25 anos, novo demais para a vida, mas já no meio do caminho para despontar no mundo da bola, Leweck esteve diante do dilema de tentar dar a volta por cima e seguir com o seu apaixonante ofício ou parar definitivamente. Frente às perspectivas de tratamento, escolheu permanecer no esporte. Voltou a jogar bola, conduziu seu Etzella a outros triunfos e, após muitos meses, retornou à Seleção Luxemburguesa no último 13 de outubro, em jogo das Eliminatórias à Eurocopa. Foi um sábado inolvidável para o país e, particularmente, para Leweck. De cabeça, ele marcou o único gol da partida – aos 90+5 minutos. O 0-1 sobre a Bielorrússia, fora de casa, foi a primeira vitória de Luxemburgo em partidas oficiais desde 1995.

Luxemburgo não venceu mais nada depois daquela jornada bielorrusa, claro, e assim é a rotina de um país fraco, mas o façanhudo Fons seguia lá. Herói nacional, merecedor de feriados em seu nome, ficou representando a superação, a raça e toda essa espécie de coisas, dentro e fora dos gramados. Hoje, concluiu outra rara vitória luxemburguesa. Alphonse Leweck, certamente santificado depois de hoje, fez o 1-2 de sua seleção sobre a Suíça aos 86 minutos de enfrentamento – silenciando o desesperado e lotado estádio Letzigrund, de Zurique, de onde torcedores saíram cogitando o suicídio (palavra que, por óbvio, deriva do nome do país).

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Dos outros jogos das Eliminatórias Européias à Copa do Mundo de 2010, os destaques:

Vingança britânica: a Croácia impediu a Inglaterra de ir à Eurocopa de 2008, brincou com o fogo e agora vai perigar ficar de fora da Copa do Mundo. Em Zagreb, diante dos britânicos, conheceu a ira dos adversários e sucumbiu por 1-4 – hat-trick de Walcott.

Entregões: Felipão saiu e Portugal viu como é triste não ter alguém praguejando na beira do campo. Num fim de jogo sensacional (antes da virada, os visitantes empataram aos 83, e os lusos retomaram a vantagem aos 86), a Dinamarca logrou remontada por 2-3 com tentos aos 90 e 90+2 minutos, o último em chute de Daniel Jensen desviado no sempre temerário Pepe.

Os recordes espanhóis: a Espanha não perde um jogo de Eliminatórias de Copas do Mundo desde 31 de março de 1993 (quando levou 1-0 da Dinamarca), chegando, ao final dos 4-0 aplicados sobre a Armênia hoje, ao recorde histórico de 37 partidas consecutivas de invencibilidade nessas fases qualificatórias. Usando de números atuais e considerando todas as partidas, incluindo amistosos, a atual campeã européia atingiu o 25º encontro seqüencial sem derrota – e, não tendo sofrido gols, chegou aos 618 minutos seguidos com a defesa impenetrável.

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