Voltemeia, na minha infância, caía em minhas mãos um caderno esportivo de jornal com notas perdidas anunciando que algum clube de futebol estava a promover seleção de jogadores. Sempre a mesma coisa: nascidos entre tais anos com interesse em compor a equipe de juniores do Clube de Futebol Genérico e que sonham em seguir carreira poderão se inscrever no estádio ou ligando para... – e assim ia. Os tais anos eram, naturalmente, anteriores ao do meu nascimento. Criança que não sabe o que quer da vida e já teve o prazer de chutar uma bola geralmente pende para o lado dos gramados. Entre escolinhas diversas e tudo o mais, era recorrente o pensamento de que chegaria a temporada em que o Clube de Futebol Genérico convocaria os do meu ano.
Imagina, defender um São Luiz, um outro grande clube do futebol brasileiro... É, futebol brasileiro. Criança que não sabe o que quer da vida também não sabe dos euros (que na época não eram euros) ou petrodólares pagos em outras paragens – e nem faz questão de saber.
Estágio prévio para o futebol, o salão veio como passo inicial. Na minha primeira partida de treino numa certa equipe de futsal, um golaço. Bola cruzada da direita, emendada de primeira, rede. Um companheiro de time, meio desatento ao lance, ainda reclamou que, porra, aquela bola era dele, antes de vê-la nas redes. Ficou desconcertado diante da craqueza alheia. Pena que o craque daquele dia não vingou. E o futebol – futsal, que seja – é extremamente cruel conosco, os ruins. Numa tarde dessas ofereceram a vaga de goleiro. Convidar alguém para o gol, você sabe, é a forma politicamente correta de dizer a alguém que a sua (falta de) qualidade não é bem-vinda no time.
Fui para o gol. Fiz umas partidas gloriosas, defesas incríveis, seqüências sem ser vazado, aqueles fatos que a pessoa aumenta para dizer “veja como eu era bom”. Mas ser goleiro... Danrlei disse certa vez que só joga no gol quem é louco ou quem é viado. Como esta última opção não confere no meu caso e os meus acessos de loucura são apenas esporádicos, estava no lugar errado. A partir dali, decidi, nunca mais jogaria sob o arco. Levamos quinze a um num amistoso pouco antes dessa decisão definitiva, mas quem se importa com detalhes?
Infelizmente, ser arqueiro por tanto tempo não contribuiu para aumentar a técnica com a pelota nos pés. Quando chegou a temporada em que o Clube de Futebol Genérico abriu sua academia de juniores para testar nascidos no meu ano, o sonho de jogar futebol profissionalmente já estava sepultado. Apesar de ser uma situação comum no Brasil, morrer de fome não se tornou hábito por escolha. Eu não escolheria morrer de fome, arriscado a viver de algo em que sou incompetente. Sim, até bate um arrependimento de ter feito esse julgamento quando vejo alguns jogadores da Série A, mas esses têm “padrinhos” e empresários com pós-doutorado em edição de DVDs promocionais. Os desprovidos disso que estudem para garantir um futuro.
Ontem, pela fase preliminar da Champions League, jogo de volta, o IFK Gotemburgo sueco recebeu o SS Murata, de San Marino, e venceu por 4-0. Normalíssimo: já tinha feito 0-5 no primeiro confronto. Atípico foi ler que, dos quatro gols, dois haviam sido marcados por Niklas Bärkroth (ao lado). Quem ele é pouco importa. Quando ele nasceu, aí sim merece nota: janeiro de 1992. A maior competição européia já recebe jogadores mais novos que eu. Agora não restam dúvidas de que, se a vontade de jogar futebol a sério retornar, só me sobra a segunda divisão da Liga Andorrana...
Abaixo, os confrontos da primeira fase preliminar da Champions League definidos ontem. Entre colchetes, o placar agregado:
IFK Gotemburgo (Suécia) 4-0 SS Murata (San Marino) [9-0]
Rabotnicki (Macedônia) 1-1 Inter Baku (Azerbaijão) [1-1]
Ventspils (Letônia) 4-0 Llanelli (País de Gales) [4-1]
Kaunas (Lituânia) 3-1 Santa Coloma (Andorra) [7-2]
Budućnost Podgorica (Montenegro) 1-1 Tampere United (Finlândia) [2-3]
Valur Reykjavík (Islândia) 0-1 BATE Borisov (Bielorrússia) [0-3]
Pyunik (Armênia) 0-2 Anorthosis Famagusta (Chipre) [0-3]
Domžale (Eslovênia) 2-0 Dudelange (Luxemburgo) [3-0]
Modriča (Bósnia-Herzegovina) 2-1 Dinamo Tirana (Albânia) [4-1]
Artmedia Petržalka (Eslováquia) 1-0 Valletta (Malta) [3-0]
NSÍ Runavík (Ilhas Faroe) 1-0 Dinamo Tbilisi (Geórgia) [1-3]
Sheriff (Moldávia) 4-0 Aktobe (Cazaquistão) [4-1]
Levadia Tallinn (Estônia) 0-1 Drogheda United (Irlanda) [1-3]
Dínamo Zagreb (Croácia) 1-1 Linfield (Irlanda do Norte) [3-1]
Imagina, defender um São Luiz, um outro grande clube do futebol brasileiro... É, futebol brasileiro. Criança que não sabe o que quer da vida também não sabe dos euros (que na época não eram euros) ou petrodólares pagos em outras paragens – e nem faz questão de saber.
Estágio prévio para o futebol, o salão veio como passo inicial. Na minha primeira partida de treino numa certa equipe de futsal, um golaço. Bola cruzada da direita, emendada de primeira, rede. Um companheiro de time, meio desatento ao lance, ainda reclamou que, porra, aquela bola era dele, antes de vê-la nas redes. Ficou desconcertado diante da craqueza alheia. Pena que o craque daquele dia não vingou. E o futebol – futsal, que seja – é extremamente cruel conosco, os ruins. Numa tarde dessas ofereceram a vaga de goleiro. Convidar alguém para o gol, você sabe, é a forma politicamente correta de dizer a alguém que a sua (falta de) qualidade não é bem-vinda no time.
Fui para o gol. Fiz umas partidas gloriosas, defesas incríveis, seqüências sem ser vazado, aqueles fatos que a pessoa aumenta para dizer “veja como eu era bom”. Mas ser goleiro... Danrlei disse certa vez que só joga no gol quem é louco ou quem é viado. Como esta última opção não confere no meu caso e os meus acessos de loucura são apenas esporádicos, estava no lugar errado. A partir dali, decidi, nunca mais jogaria sob o arco. Levamos quinze a um num amistoso pouco antes dessa decisão definitiva, mas quem se importa com detalhes?
Infelizmente, ser arqueiro por tanto tempo não contribuiu para aumentar a técnica com a pelota nos pés. Quando chegou a temporada em que o Clube de Futebol Genérico abriu sua academia de juniores para testar nascidos no meu ano, o sonho de jogar futebol profissionalmente já estava sepultado. Apesar de ser uma situação comum no Brasil, morrer de fome não se tornou hábito por escolha. Eu não escolheria morrer de fome, arriscado a viver de algo em que sou incompetente. Sim, até bate um arrependimento de ter feito esse julgamento quando vejo alguns jogadores da Série A, mas esses têm “padrinhos” e empresários com pós-doutorado em edição de DVDs promocionais. Os desprovidos disso que estudem para garantir um futuro.
Ontem, pela fase preliminar da Champions League, jogo de volta, o IFK Gotemburgo sueco recebeu o SS Murata, de San Marino, e venceu por 4-0. Normalíssimo: já tinha feito 0-5 no primeiro confronto. Atípico foi ler que, dos quatro gols, dois haviam sido marcados por Niklas Bärkroth (ao lado). Quem ele é pouco importa. Quando ele nasceu, aí sim merece nota: janeiro de 1992. A maior competição européia já recebe jogadores mais novos que eu. Agora não restam dúvidas de que, se a vontade de jogar futebol a sério retornar, só me sobra a segunda divisão da Liga Andorrana...
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Abaixo, os confrontos da primeira fase preliminar da Champions League definidos ontem. Entre colchetes, o placar agregado:
IFK Gotemburgo (Suécia) 4-0 SS Murata (San Marino) [9-0]
Rabotnicki (Macedônia) 1-1 Inter Baku (Azerbaijão) [1-1]
Ventspils (Letônia) 4-0 Llanelli (País de Gales) [4-1]
Kaunas (Lituânia) 3-1 Santa Coloma (Andorra) [7-2]
Budućnost Podgorica (Montenegro) 1-1 Tampere United (Finlândia) [2-3]
Valur Reykjavík (Islândia) 0-1 BATE Borisov (Bielorrússia) [0-3]
Pyunik (Armênia) 0-2 Anorthosis Famagusta (Chipre) [0-3]
Domžale (Eslovênia) 2-0 Dudelange (Luxemburgo) [3-0]
Modriča (Bósnia-Herzegovina) 2-1 Dinamo Tirana (Albânia) [4-1]
Artmedia Petržalka (Eslováquia) 1-0 Valletta (Malta) [3-0]
NSÍ Runavík (Ilhas Faroe) 1-0 Dinamo Tbilisi (Geórgia) [1-3]
Sheriff (Moldávia) 4-0 Aktobe (Cazaquistão) [4-1]
Levadia Tallinn (Estônia) 0-1 Drogheda United (Irlanda) [1-3]
Dínamo Zagreb (Croácia) 1-1 Linfield (Irlanda do Norte) [3-1]
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