domingo, 20 de julho de 2008

Jugar al fútbol (2)

A atitude do Grêmio foi explícita desde as suas primeiras investidas sobre o Cruzeiro na noite de ontem. Em um Olímpico decentemente cheio, o tricolor entrou para matar. Não o fazia desde as memoráveis jornadas da Libertadores 2007. Muito tempo sem mostrar uma sede de vitória tão grande. Um alívio por isso. Um alívio, também, pela volta da qualidade que vinha faltando no jogo gremista desde a fraca apresentação no Grenal – e as desastrosas, em maior ou menor nível, participações nas jornadas seguintes.

O desfalcado Cruzeiro, vice-líder antes da rodada, sucumbiu ao ritmo imposto pelo então 3º colocado do Brasileirão. No primeiro tempo extraordinário desempenhado pelos de Celso Roth, os mineiros inexistiram. Estavam lá no gramado apenas para evitar os gols dos adversários, porque criar, criar mesmo, isso era impensável. Ao intervalo alguns cruzeirenses enraivecidos perguntaram, sarcasticamente: alguém chegou a ver se o goleiro do Grêmio é branco, negro, qual a cor da camisa dele? Se alguém desconhecesse Victor, o primeiro tempo realmente estava ruim para identificá-lo. As ações eram na outra metade do campo. Por lá, entre muitas chances perdidas, saiu o gol de Paulo Sérgio aos 17 minutos: pela esquerda, com grande visão de jogo, Rafael Carioca mandou para o outro lado da área uma bola emendada de primeira pelo lateral-direito.

Foi o lance do 1-0 numa jornada merecedora de goleada. Na etapa complementar, como acontece com equipes massacradas nos três quartos de horas iniciais, os visitantes tentaram crescer. Levaram algum perigo nos primeiros minutos, mas nada capaz de alterar a figura do duelo. Se já não era tão ampla a superioridade do Grêmio, as chances passariam a ser bem mais reais e constantes quando vinham: aos 58, o cruzeirense Espinoza atravessou uma bola na área, não encontrou companheiro algum, e só não viu Perea pegar a redonda e aumentar a vantagem graças ao arqueiro Fábio; aos 59, o goleiro mineiro apareceria outra vez, salvando desvio de André Luiz; aos 62, num contra-ataque de dois contra um, o Grêmio deixou de fazer o segundo num erro de passe de William Magrão, que mandou o esférico para o “um”.

Pecou pela ineficiência ofensiva, o Grêmio. Continuou com o coração na mão e pôde ser vítima de uma injustiça do futebol por conta disso. Não foi. O Cruzeiro atacava mais levado pelo desespero, precisava das faltas para botar seus homens na área e tentar algo. As melhores oportunidades continuavam gremistas: aos 85, uma bela troca de passes tricolor resultaria em tentativa defendida por Fábio na entrada da área; a pelota sobrou para Paulo Sérgio e seu doblete não veio porque o tiro por cobertura acabou salvo por um zagueiro sobre a linha. O 1-0 permaneceu, como uma marca mentirosa do que foi o confronto.

O que faltou em gols foi compensado pelos destaques rendidos pela grande noite do Grêmio: Paulo Sérgio marcando gol e participando bem dos lances, Tcheco organizando o meio, Makelele entrando no fim e virando ótima alternativa ofensiva, William Magrão soberbo na marcação... Mesmo os piores tiveram seus lampejos de qualidade acima do normal. Em relação àquele que se apresentou na Vila Belmiro há alguns dias, o grande Grêmio de ontem viveu uma evolução comparável ao avanço do paleolítico ao século XXI. Naquele dia não houve futebol. Ontem, sobrou.

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Os outros dois jogos do sábado:

Ipatinga 4-1 Portuguesa: um placar elástico feito pelo Ipatinga nunca será esperado. Causa alguma sensação esse 4-1, mesmo que contra a Lusa houvesse mais probabilidades de ocorrer. Apesar disso, não indica que o time de Minas Gerais vai ir muito além das suas ridículas colocações atuais. Somente dá aos seus poucos torcedores o alento de que, após levar goleada no meio de semana, existiu poder de reação.

Fluminense 1-0 Figueirense: o Flu deixa a zona de rebaixamento. Poderá voltar amanhã, mas é simbólico que essa saída inicial tenha sido dada com um gol agônico de Thiago Neves, logo ele, aos 85 minutos. A reconstrução de um sonho – neste momento, crescer no campeonato e buscar vaga na América – começou pelos pés daquele que esteve a ponto de concretizar a maior das ilusões da história tricolor.

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