quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Minha camisa OITO

Era 1998 e, pela primeira vez em minha vida, assistiria a uma Copa do Mundo com plena consciência do que se tratava. Criança demais no mundial anterior para lembrar algo além das festas pelo tetra, poderia enfim me unir àquele sentimento capaz de fazer uma nação inteira parar por conta da movimentação de 22 homens em um gramado distante.

Antes de mais nada, eu precisava de uma camisa. Afinal de contas, o primeiro passo para ser identificado como integrante de alguma "facção futebolística", é vestir seu uniforme. Sim, precisava de uma verde e amarela, mais amarela do que verde, para me integrar àquilo tudo. Fomos às compras, eu e meu pai.

Só que era 1998. Nos dois anos imediatamente anteriores, um jovem jogador brasileiro começava a fazer história nos grandes clubes europeus. Ronaldo - então Ronaldinho, pois era novo e único - havia sido o melhor futebolista do planeta em 96 e 97, segundo a FIFA. Oras, Ronaldo. O que eu queria com um craque, um matador? Preferia um líder exemplar, alguém que impunha respeito e que, com a sua raça, fez uma era do esporte nacional ser batizada com seu nome. No país do jogo bonito, eu renegava o melhor do mundo por um volantão. Queria uma camisa do Dunga!

Mas ninguém vendia camisas do Dunga. O comércio quer dinheiro, e consegue ele mais facilmente vendendo o "produto" em evidência. Nas lojas da cidade, só havia camisas nove. Compramos, não existiu opção, e eu não queria voltar de mãos vazias. Antes de ir para casa, porém, pedi para o meu pai passar em uma papelaria. A segunda - e inesperada - compra da tarde foi uma caneta para retroprojetor.

Mais tarde, com riscos mais precisos que uma finalização de Ronaldo, fazíamos a magia de transformar os noves que estampavam o fardamento. A alteração, já apagada pelo tempo, segue lá até hoje, como se vê na foto. Aquela é a minha gloriosa camisa oito. OITO.

4 comentários:

Maurício Brum disse...

Em tempo: Não sou dos maiores entusiastas da Seleção Brasileira e, hoje, nem me considero "torcedor". Hoje.

Maurício Brum disse...

Ah, e há nove anos, Dunga não se conformaria em empatar com o Peru num jogo daqueles.

Anônimo disse...

Belíssimo relato!
Puríssimo!
Parabéns.

Anônimo disse...

Maurício Brum disse...

Em tempo: Não sou dos maiores entusiastas da Seleção Brasileira e, hoje, nem me considero "torcedor". Hoje.

21 de Novembro de 2007 22:10

IDEM

Concordo completamente com o post da camisa 8 prefiro muito mais a raça do que esse tal "jogo bonito"