terça-feira, 21 de julho de 2009

A desilusão veste áureo-cerúleo. E negro.

Santa Maria está que é um cenário de apocalipse. No terminal rodoviário, os viajantes que chegam à cidade recebem panfletos ensinando como se previne a Gripe A. Se o cidadão ainda dá o azar de cair num táxi daqueles com divisória entre o banco do motorista e o do passageiro, feita para evitar assaltos, é capaz de pensar que a proteção está lá, na realidade, para proteger o condutor de CONTAMINAÇÃO. Máscaras ainda não se veem, mas parecem ser o próximo passo. Além de tudo, chove DILUVIANAMENTE na noite desta terça-feira. Pode ser a fúria de Bonaldi.

Não deixa de ser curioso observar que a mesma GRIPEZINHA que sacou os times mexicanos da Libertadores hoje causa vítimas nos outros países e já não muda as tabelas futebolísticas. No Brasil, o Rio Grande do Sul é o estado mais afetado pelo novo tipo de CONSTIPAÇÃO, e Santa Maria está entre as cidades que contam mais mortos. Ainda que as mortes por Gripe A não sejam por Gripe A – e sim por complicações que também acontecem com a gripe comum, mas, no caso desta, não são creditadas na estatística do Influenza, falseando os cálculos e superdimensionando o problema atual –, há uma espécie EUFÓRICA de pânico em relação a ela. Que não chega mais ao futebol.

Depois que GRIPAR-SE ficou comum, os times vieram todos sem problemas. Hoje, foi a vez do Pelotas. Na sua torcida havia dois mascarados, muito mais por provocação (algo do tipo “vocês são LEPROSOS”) do que por medo do vírus. Veio também o árbitro Francisco Silva Neto. Este não precisava ter saído de casa. Mesmo se voltar saudável, o homem deve ser mandado a uma QUARENTENA pela Federação, segundo disse o presidente da FGF, Francisco Noveletto, quando entrevistado pelo Iuri. Nas próximas rodadas, o soprador de apito tende a ficar em seu LAR. Recomendado pelos médicos aos infectados pela gripe, o REPOUSO do juiz vai aliviar mais os torcedores – e jogadores – salvos da HIPÓTESE da sua presença.

Francisco Silva Neto é do tipo mais VIL de árbitro que há. Daqueles que acertam nos lances capitais, mas tomam as rédeas e influenciam o andamento da partida numa série de pequenas decisões ao longo do confronto inteiro. A torcida percebe e reclama. A tevê vai analisar apenas as jogadas de IMPACTO, sem erros, dá a atuação do apitador como boa, e não se fala mais nisso. Há toneladas de árbitros desse tipo no futebol brasileiro. Francisco Silva Neto não errou quando deu pênalti para o Pelotas fazer seu segundo gol no jogo. Não errou – pode ter sido EXAGERADO, mas aí é outra história – quando desfalcou o Riograndense de um homem no fim do primeiro tempo, mostrando o vermelho direto para um Rangel que deixou o pé numa dividida alta. No entanto, errou em todo o jogo. Invertendo faltas. Considerando cada lance duvidoso como lance pró-Pelotas.

O Riograndense entrou em campo REVIGORADO pela vitória antológica da rodada anterior. Quinta-feira passada, na Boca do Lobo, o próprio quadro pelotense caiu por 1 a 2 diante do time de Santa Maria. Por lá também houve reclamações contra a arbitragem, que mandou voltar um pênalti defendido por Douglas sem se adiantar, fazendo uma segunda cobrança na qual o Pelotas marcou seu gol, e depois assinalando outra penalidade máxima para o Lobo, nos acréscimos da etapa final – esta Douglas pegou de novo, sem repetição, e virou herói. Hoje, atrás da goleira no canto em que a torcida Ferroviários 78 sempre fica, uma nova faixa saudava o homem do arco: “Douglas muralha”. Foi o jogo errado para estreá-la. Foi o jogo errado para erguer uma inédita arquibancada móvel na lateral oposta ao pavilhão. Foi o jogo errado para botar nos Eucaliptos o provável maior público desde que o Riograndense retomou o profissionalismo, em 1999.
A jornada histórica em que o Periquito poderia sair de campo classificado para o quadrangular final da Segundona pela primeira vez desde o retorno, e praticamente eliminar o Pelotas, se vencesse, converteu-se na tarde dos DESACERTOS. Desde que Francisco Silva Neto, cujo POTENCIAL ainda era desconhecido pelas arquibancadas, soou o apito inaugural do encontro, o Riograndense esteve menor do que em outros dias. Faltava FLUÊNCIA. Decepcionante para as expectativas criadas antes da partida, o 0 a 2 aberto em menos de meia hora pelos gols de Maicon Sapucaia e Tiago Duarte, de pênalti, já não chegava a CHOCAR os presentes quando eles pensavam no que sua equipe (não) estava construindo. Jogava mais, o Pelotas. Ao passo que os santa-marienses se desequilibravam. Vendo cada bendita bola disputada render falta marcada contra si, os atletas do time da casa eram obrigados a encarar o árbitro.

Ainda sentado no banco, Alfinete recebeu um cartão amarelo por reclamação, como num PRESSÁGIO do que viria a seguir. Pouco antes do intervalo, Rangel PATEOU desnecessariamente um pelotense. Ser lance de amarelo ou vermelho é questão de critério. Naquelas circunstâncias, porém, e como Rangel não tivesse sofrido qualquer advertência anterior, o cartão rubro foi interpretado como coisa pior. O jogador abandonou o campo quase chorando: “nunca fui tão roubado na VIDA”. Capitão dos santa-marienses, Bonaldi partiria para cima do homem de preto cobrando COERÊNCIA nas suas marcações. Ouviu Francisco Silva Neto dizer que era “juiz de Série A”, enquanto ele não passava de um “zagueiro varzeano”.

Com os cabelos dourados traçando linhas desconexas na cabeça, o olhar sério e a voz firme, Bonaldi revelou o episódio a todos os microfones que surgiram na sua frente no intervalo. Pressionado por quaisquer representantes do Riograndense que se encontrassem em condição de invadir o campo ao meio-tempo, o juiz foi cercado pelo policiamento. Às rádios, dava versões DESENCONTRADAS. Para umas, confirmava a denúncia de Bonaldi, TERGIVERSANDO sobre o teor da discussão. Para outras, negava, e completava com arrogância: “é a palavra dele contra a minha”. E a palavra que vai na súmula ainda reina, transformando em ARMA o documento muitas vezes preenchido porcamente pelos mediadores.

Francisco Silva Neto não saiu de campo no intervalo. Acovardado pela visão de passar sob a torcida local antes de mergulhar no túnel que o levaria para a SEGURANÇA INSEGURA dos vestiários, afirmou ser melhor “ficar no calor do jogo”. Protegido pelos escudos da polícia, acossado pelo coro de “ladrão, ladrão!” vindo dos quatro cantos dos Eucaliptos, o juiz sorria CANDIDAMENTE. Divertia-se com a situação. Como não errara nas jogadas mais importantes, ganhava da tevê, que só analisa as jogadas mais importantes, a chance de dizer que havia acertado em tudo. Para aqueles que traziam no peito o escudo do Riograndense e vinham questionar as suas decisões na volta para o segundo tempo, defendia-se com isso. Sabendo das negativas dadas pelo apitador no intervalo, Bonaldi lançou um desafio de honra tão logo retornou:

– Olha para a minha cara – disse. Resumia assim o diálogo porque um cruzamento de olhares anuncia a culpa ou reforça a inocência, refletindo na ÍRIS o que se passa na ALMA. O árbitro não se atreveu a olhar para Bonaldi.

Dez rubro-esmeraldinos que pensavam ser capazes de jogar cada um por dois, esse era o Riograndense do início do segundo tempo. Tentavam esquecer o juiz, concentrar-se no esférico e nos arcos, pois questionar apitos sem agir nunca fez um time remontar pelejas. Derrotada, a equipe de Santa Maria ficaria PROSTRADA diante de um grupo CRUDELÍSSIMO: faltando duas rodadas, tanto Panambi quanto Riograndense e Pelotas dependeriam apenas de si para se classificar, graças aos confrontos diretos. A crueldade está no que a tabela reserva. Os jogos diretos serão Panambi contra Riograndense e Pelotas contra Panambi. Não há mais partidas desse tipo nos Eucaliptos – e o confronto contra o Panambi será daqui a dois dias, fora de casa. Para piorar, o cansaço da viagem do Riograndense há de se somar ao do jogo de hoje, pesando consideravelmente diante dos panambienses, que disputaram sua última partida no domingo.
Perder hoje tornava quase obrigatório pontuar em Panambi. Uma derrota lá, vinda junto com uma vitória pelotense sobre o Brasil de Farroupilha, abriria espaço para um EMPATE AMIGO entre Pelotas e Panambi na rodada final, classificando ambos a menos que o Riograndense recuperasse alguns gols de saldo. A catástrofe RASCUNHADA agia como mais potente COMBUSTÍVEL para os santa-marienses se jogarem ao ataque. E pareceu dar certo. Por bons minutos, a administração de resultado feita pelos visitantes engrandecia o esforço do Riograndense para buscar o gol. Bolas sobrevoavam a área do Pelotas e PERICLITAVAM sua liderança no marcador. Aos 57 minutos, apanhando uma delas no chão, o “varzeano” Bonaldi teve tranquilidade rara para um zagueiro. Ajeitou, limpou, bateu e triunfou. Enlouqueceu. Acenou para a torcida, apontou para o escudo e ergueu a camisa sobre a cabeça. Francisco Silva Neto não teve moral para erguer o cartão amarelo que a regra manda, e Bonaldi saiu ileso da comemoração do tento que significava o 1 a 2.

Os minutos seguintes ao gol de Bonaldi foram os piores para o Pelotas. O solitário momento da tarde em que houve real possibilidade de o Riograndense sair com algo grande. Sentia-se um OLOR de remontada, e os berros saíram das gargantas com uma convicção não percebida até ali. Do banco do time, a cada nova estocada da equipe, repetia-se: “é isso aí, porra!”. O Riograndense engoliu o Pelotas e tomou conta do jogo. Mas aqueles minutos seguintes ao gol de Bonaldi, o terror pelotense e a FEROCIDADE santa-mariense, foram tão-somente quatro. Porque se a desilusão do time da casa já escolhera uma cor para trajar, o negro da farda arbitral, naquele segundo tempo ela mostrou que também se interessava pelo áureo-cerúleo que o Lobo vestia. O Pelotas é um time excelente. Nesta terça-feira, foi também frio. E quando o jogo enfim lhe dava as costas e a fortuna aparentava estar lhe abandonando, o Pelotas escapou pela direita, frustrou um carrinho da defesa local e meteu uma bola na área à perfeição para Sandro Sotilli REITERAR seu faro goleador – e mostrar o engano daqueles que sentiam o aroma de um novo gol e imaginaram uma virada.
Três a um para o Pelotas aos 61 minutos. O restante da partida foi desalento. Gradualmente, a nova arquibancada e o velho pavilhão dos Eucaliptos iam diminuindo seu público. A fúria de Bonaldi para com o árbitro e sua tentativa de recuperação não-continuada fizeram o TEMPO se revoltar. Um vendaval REDEMOINHOU sobre o estádio e carregou jornais, bobinas e papéis picados. Vindo da direção do gol do Pelotas, também afastava as últimas bolas mal lançadas à meta pelo Riograndense, em tentativas cada vez menos esperançosas. No minuto 89, para não restar questionamento de MÉRITO, o Pelotas marcou mais um. A “muralha” Douglas ia colher a bola pela quarta vez no fundo das suas redes. O Riograndense destruía seu saldo. O Lobo revivia na Segundona. Após três minutos de acréscimo, Francisco Silva Neto fecharia seu serviço com uma derrota do time de Santa Maria por 1 a 4. Um ingrediente a mais para o ambiente apocalíptico. Pode ter sido só uma tarde infeliz, mas pode ter sido o arruinar de toda a ótima temporada 2009 para o Riograndense. Em Panambi, a tristeza de hoje conhecerá suas dimensões verdadeiras.

Mais fotos aqui.

5 comentários:

Anônimo disse...

Assisti todo o jogo, sou Xavante, e secava o Pelotibis. Mas, antes de qualquer outra coisa o Riograndense não estava preparado prá decisão. Todo o destempero veio do banco, e surpreendentemente, Bebeto estava fora do seu normal. O Riograndense levou um baile, e só mostrou alguma coisa, quando resolveu jogar bola. Em um jogo onde o empate já resolvia, toda aquela alteração colocou toda a campanha no lixo.

Maurício Brum disse...

Sim, o Riograndense se preocupou demais com o juiz. No segundo tempo, quando deixou isso de lado, teve a chance de ouro pra recuperar. Mas aí a qualidade do Pelotas matou o ânimo do Riograndense.

Anônimo disse...

Bom post. Mas não gosto dessas palavras escritas em caixa alta no meio do texto. Prejudica um pouco a CONSONÂNCIA do texto.

Minha opinião. Vamo Pelotas, vamo subir!

Maurício Brum disse...

Elas POLUEM. Mas VICIAM e se tornam absurdamente necessárias.

Anônimo disse...

PERDEU LOBO AI JA ERA !!!