Cheguei ao estádio às 19:28. Foi meio estúpido. Eu ainda procurava um lugar vago, que não encontrei, nas sociais do Olímpico, e entorpecido pela imagem da Geral do Grêmio acendendo seus sinalizadores, bem do meu lado, sequer constatei que a partida havia começado. Quando me virei para o campo, lá estavam os tricolores e os camisas-feitas-de-toalhas-de-piquenique dividindo pelotas pelo gramado e a torcida acompanhando. Senti-me levemente alienado, mas devo ter perdido não mais que trinta segundos do jogo.
Minha ignorância em relação ao início do confronto entre Grêmio e Boyacá Chicó, pela última rodada da fas

Por que não ir para lá ver uma rodada continental? Fui. Dinheiro no bolso, outro tanto na meia, pois assaltos são reais e somem com teus reais, celular, chaves de casa, documentos e passagem. Não precisaria de mais. Mas levei uma mochila, um pouco temeroso da possibilidade de tê-la barrada na entrada do Olímpico, para abrigar as leituras que me salvariam da modorra após a partida – do fim do jogo para o primeiro ônibus de volta a Santa Maria, à 1:30 da madrugada, seriam quatro longas horas. E o tédio torna até uma leitura densa como O Declínio do Homem Público, de Richard Sennett, algo quase aprazível.
Se tudo desse certo, eu desembarcaria em Porto Alegre oitenta minutos antes da partida. Desgraçadamente o ônibus atrasou pelo caminho, e me deixou na Rodoviária com metade desse tempo. Num fim de tarde, em jornada de Libertadores, não havia garantias de vencer

Deve ser algo na minha cara. Não bastam as ciganas, agora os taxistas vêm com essas conversas. Mas enfim, dei uma enrolada. A corrida de vinte reais terminou quase em cima da hora do jogo, e o meu ingresso no estádio foi atrasado não pelo que eu previa – a encadernação dentro da mochila, já que papel corta e, pela mesma lógica de que garrafas pet são armas letais, poderia ser usado para decepar o braço de alguém –, e sim por algo que nem me lembrava: o estojo dos óculos.
Sim, o estojo dos óculos. Estava ali dentro para guardá-los nos momentos em que eu precisasse entrar em quadra para defender as cores do nosso time de futsal, o glorioso COIÓ FC, no Torneio Aberto Misto Para Alunos da Comunicação Social (TAMPACS), disputado no final de semana. A campanha de elimi

Perdi o início da partida, acomodei-me no último degrau das sociais, no lado mais próximo à Geral, e de lá assisti ao primeiro tempo. Em pé. Todas as pessoas ficam em pé num jogo de Libertadores no anel inferior do estádio Olímpico. Nem tanto por querer: são obrigadas. Os torcedores junto à mureta do fosso põem-se em pé e fazem com que cada cidadão atrás tenha que se levantar também. O efeito visual é belo, mas certamente não é das experiências mais agradáveis para os sócios de mais idade.

Foi por essa altura que chegou o mais atrasado dos

No aguardo de que a gripe suína vire uma epidemia de fato, os gremistas e agora inimigos da humanidade adentraram o segundo tempo vendo uma equipe menos incisiva. Souza voltou a repetir a mania irritante das partidas mais antigas, prendendo demais a bola, e a social honrou a sua fama de corneteira – o jogador, autor de DOIS GOLAÇOS NA NOITE, era literalmente hostilizado por alguns dos que estavam ao meu redor, que sugeriam ao técnico interino sua substituição imediata e um lugar eterno no banco para ele. Também o Boyacá tentou abandonar a retranca e, aos 52 minutos, conseguiu sua única grande chance de fazer algo na partida – o pênalti.

Em êxtase, o torcedor repetia: “É NOSSSAAAAA! É NOSSA! É NOSSA!”, como se fazer um quarto gol representasse a Libertadores mais próxima. Era dele. Era a chance de ele acertar uma das suas previsões de gol. Jonas parou ao lado da trave, com o arco sem guardião. A maior parte do estádio já entend

Não era o quarto gol, mas a vitória àquela altura estava garantida. Com o criticado Roth em metade da campanha, seguido pelo interino Rospide, de futuro incerto, na outra metade, garantia o Grêmio 16 pontos nos 18 disputados. E o primeiro lugar geral na abertura da Libertadores, que salvou os tricolores de um jogo no México. Quando eu saí do estádio, procurando táxis inexistentes ao seu redor, para voltar à Rodoviária e, dali, a Santa Maria, pensava que o feito a ser festejado, caso a vitória do San Luis ocorresse, deveria ser esse de não enfrentá-los. São invariavelmente valorosos os times que homenageiam aquele santo. Vide o São Luiz de Ijuí.
* Nosso redator que agora se revela um brilhante repórter fotográfico. Todas as fotos são dele, com exceção da segunda e da sexta, que são do bem menos talentoso fotógrafo que vos escreve.
Um comentário:
Bem, bem, bem, bem, bem bem.... Sou nova por aui, mas adorei esse, e terei que ir aos outros textos... Eu fiz uma dessa pra ver meu time já... mas minha mochila tinha bem mais que um estojo de oculos... :D
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