IJUHY – Ao jogo de quarta-feira, eu, o Kevin e o Outro assistimos ainda em recuperação do nosso devaneio etílico do final de semana. Esquecidos de comprar água e cocas, passamos o sábado e o domingo inteiros dependentes da torneira e das Heinekens na geladeira. Mais das Heinekens que da torneira. O estoque diminuiu com rapidez inacreditável e, quarta à noite, para a partida do Grêmio contra o Aurora, restavam ainda umas três cervejas.
Eu havia acabado de ouvir o São Luiz ser miseravelmente derrotado pela Ulbra em casa. No único ataque do jogo, uma bobeira generalizada da zaga ijuiense, um gol dos de Canoas. São Luiz 0-1 Ulbra, classificação distante. Barão, que eu cheguei a ver, em sonhos, recebendo um prêmio de craque do estadual, teria jogado tão mal que no intervalo a torcida implorou para que fosse substituído pelo porco que seria sorteado em campo. E eu perdendo isso.
No fim de semana, o São Luiz criara alguma esperança de talvez passar de fase no returno ao bater o Santa Cruz por 2 a 0. Ronaldo Capixaba marcou ambos, um de pênalti, o outro com um chute “a mais de cem quilômetros por hora”, no que foi “o gol mais bonito do ano”, segundo um narrador, mas a atração da partida ficou pela apresentação entre os tempos. O dirigente João Bevilaqua entrava em campo trajando um VESTIDO VERMELHO, para alucinação coletiva de Ijuí. E eu perdendo isso, também.
Mas enfim. O São Luiz que resolveu louquear na minha ausência confirmou, com a vitória e a derrota em casa, mais um ano no marasmo, sem passar de fase e sem cair. Àquela altura da quarta-feira, inconformado com a derrota para os universitários canoenses, segurando uma das garrafas remanescentes de Heineken, eu já vira o Grêmio levar um gol (anulado) do Aurora e iniciar o seu infalível ritual de falhas (uau). Duas bolas na trave antes dos dez minutos, um chute tricolor salvo sobre a linha, o usual.
Quando a Laura deu um toque no meu celular, avisando que havia saído da aula e queria saber como, afinal de contas, estava o tal jogo do Grêmio contra os nulos do Aurora, que, todos sabem, perderiam para o São Luiz que não ganha da Ulbra, e com gol do Maurício, que não existe mais, já haviam – não se perca – transcorrido 30 minutos do jogo. Ainda zero a zero. O Aurora das Coxas Bambas era exatamente aquilo que sabíamos e o jogo, mais uma vez, era um massacre proporcionado pelo Grêmio, com final tornado incerto pela sua incompetência.
– Duas bolas na trave, aquela pressão de sempre, mas nada de gol – disse eu, não assim, nem quase assim, mas com esse sentido, quando liguei de volta para comentar o estado da partida, para ouvir que o time precisava se benzer.
O que mais precisava duma benzedura, Jonas, el peor delantero del mundo, na definição de um desprezível periódico esportivo catalão, foi quem modificou as tábuas de marcação do resultado pouco antes do intervalo. Lançado no meio da zaga, dando um chute que pareceu ter desviado na marcação pela (falta de) reação do goleiro, mas em todos os replays com jeito de ter ido direto mesmo, Jonas marcou 0 a 1 aos 43.
Telefonei para anunciar o gol. Só liguei para falar de coisas boas. No segundo tempo, quando o mundo do Grêmio ruía, troquei a fala pela escrita. SMS. “Gol do Aurora, momento mais negro da historia do futebol. 1x1, 55 minutos”. O gol do Aurora foi um choque. Lembro-me de ouvir das ruas gritos como que de torturados de guerra, instantes antes, implorando: NÃO! NÃO! NÃÃÃÃÃOOOOOO! E silenciados no momento em que a bola boliviana beijava as redes gaúchas. Não podia ser, um gol do Aurora. Era o time que havia sido goleado pelos times que haviam sido massacrados tecnicamente pelo Grêmio marcando seu primeiro gol na Libertadores contra uma defesa até ali não batida.
“Jonas expulso. 58 minutos. Medo.” – foi a mensagem seguinte.
Fosse o Aurora um São Luiz, o Grêmio teria perdido o jogo ali. Segunda-feira vocês verão, lá no Olímpico, como o incrível pálido ijuiense e seu ataque que marcou menos gols que o Sandro Sotilli sozinho, é ameaçador para as linhas defensivas dos reservas tricolores. Ou não verão. Mas o São Luiz do ataque asmático tentaria mais que o Aurora tentou nas condições que o Aurora teve. Contentíssimos com o empate, os da Bolívia apreciavam o passar do tempo.
Mas a Laura não sabia que estavam empatando. Confundida pelos avisos que chegavam para ela e para os que a cercavam, uns mais tardios que os outros, todos pasmos trazendo a notícia de gols daqueles inexistentes, tinha a certeza de que não um, mas dois tentos do Aurora já luziam no marcador. O Grêmio, para ela, perdia. E aos 87 minutos, depois de ter o universo me desmentido mais uma vez, depois de eu ter afirmado categoricamente que de lá o Tcheco não marcava e o glorioso Dulcich engolir o frango do ano, telefonei outra vez para anunciar um tento.
Para ela, o de empate. Que não era empate. Só dali a meia dúzia de minutos ela entendeu, na minha última mensagem de texto, após o apito final: “ACAAABA em Cochabamba. Aurora 1x2 Gremio.” Um jogo tão desesperador para os gremistas, que sofreram na frente da tevê com a iminência de uma não-vitória contra o pior time da chave, teve desfecho sensacional até pra ela, que não viu. Sair da perspectiva de um “empate certo” que na realidade nunca houve para uma vitória conquistada com gol no final deve ter sido ABRUPTO. Plenamente abrupto, com cara de abrupto, porque o novo VOLP veio com bom-senso embutido e aceita grafia dupla. Ab-ruptas, só as vitórias do Aurora, que, como a horrível palavra, não se verão.
Um comentário:
Bó. haha! se não são esses meus devaneios, tu não ia ter o que escrever. \o/ hahaha
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