Duas malas de roupas, duas malas de livros, caixas e caixotes, sacolas, mochilas, eletrônicos, supérfluos burgueses, e mais o que coubesse no carro. Mudei-me. Desde 2008 os posts do Futebesteirol têm procurado indicar a cidade de onde são escritos, a menos que sejam feitos nos nossos QGs. Meu QG foi Ijuí. A partir de hoje, será Santa Maria, e eu já prevejo batalhas com o Iuri para cobrir os times daqui.
Divido o meu apartamento com outros dois sujeitos. Uma partilha em três partes desiguais. Um quarto com tamanho decente, um quarto para matar claustrofóbico, uma suíte IMPERIAL com banheiro. Não fiquei na suíte. Perdi-a em um suspeito cara-ou-coroa realizado em alguma madrugada de janeiro. Mas não morrerei de claustrofobia. O meio-termo normalmente é uma droga, mas nesse caso não tenho do que me queixar. Quem deveria reclamar seria o Kevin (este é o seu nome na literatura), lendário jogador da várzea de Nova Ramada, o que ficou com o quarto “pior”.
Mas não emputeceu, ainda. Sua raiva deverá emergir das profundezas da alma em algum dia de decepção, quem sabe na próxima derrota do Grêmio por uma Rothiada, e então o jogo de facas exibido na cozinha deixará de ser um mero enfeite para parecer uma forma tentadora de resolver os problemas. O Kevin, por ora, tem menos instintos psicóticos e mais preocupação em saber se conseguirá vaga de segunda chamada na U Éfe Esse Ême. O outro ocupante do apartamento, dono da suíte, a quem chamaremos mui originalmente de Outro até descobrirmos um pseudônimo FOFO, estará às voltas com cursinhos para tentar passar em medicina.
Medicina, você sabe, é aquele curso para o qual são reprovados no vestibular pessoas que passariam em qualquer outra coisa. Foi o caso do Outro. O único com garantias de que poderá esquecer a geometria analítica, as disfunções cromossômicas e demais lamentos escolares sou eu. Eu, que deveria já estar dormindo para acordar cedo e fazer a minha matrícula no curso de Jornalismo hoje de manhã e no entanto estou aqui preenchendo (ou pre-enchendo, se a nova regra assim ditar) linhas antes de dormir, numa obsessão DEMONÍACA.
Todos acabamos de nos mudar, todos somos forasteiros de western entrando sob um chacoalhar de esporas em saloons, e ainda precisamos compreender o mundo ao nosso redor. Mudamo-nos com um monte de coisas por fazer na última hora. Coisas que, exatamente por isso, não foram bem feitas. Ainda estamos sem rede wifi própria de internet. O Outro tem conexão no quarto, a cabo, e de lá sairá o nosso UAIRELÉS em algum dia do futuro. Do futuro. Por ora, o Kevin tem acesso à internet roubando o sinal sem fio de desavisados dos apartamentos ao nosso redor (o mínimo que se esperaria de um aspirante a cientista da computação) e eu utilizo o falível mas copeiro modem da Vivo, que estranhamente não reconhece o sinal 3G onipresente em Santa Maria.
O negócio mais obscuro, entretanto, é a tevê. Por ter um quarto pequeno, Kevin cedeu a sua para a sala. O Outro comprou uma e eu outra. Vieram instalar os pontos de sinal televisivo: um na sala e dois em quartos. Coisas óbvias, dois quartos com tevê, um ponto em cada. Não para os instaladores. Meu quarto ainda ficou certo, mas o Outro ficou com tevê e sem ponto e o Kevin ficou sem tevê e com ponto. Uma beleza. Eu estava ausente, e o Kevin, presenteado com o ponto inútil, também. Enquanto o Outro, atrasado, fazia as suas mudanças, e a chuva parava de cair lá fora, nós já estávamos nos integrando ao futebol santa-mariense: sentávamo-nos no pavilhão da Baixada Melancólica para acompanhar o estimadíssimo CHOQUE DE LANTERNAS.
Inter-SM e Brasil de Pelotas, Brasil de Pelotas e Inter-SM, quem perdesse estaria condenado à Segundona, praticamente, e como o Brasil perdeu, só posso dizer que o futuro dos xavantes será brigar pelo acesso em 2010. O mais triste: a despeito da sua torcida que cantou e batucou durante quase todo o tempo, o time não demonstrava qualquer vibração. Esforçava-se pouco, concordava em ser derrotado, e seus jogadores pareciam querer nada mais que marcar presença. Marcar presença, desde o início do estadual, foi o mérito do Brasil esfacelado pela tragédia. Podia, porém, haver um pouco mais de entrega, em especial após o intervalo entre os turnos.
Esperávamos um time aguerrido no Gauchão. O 3 a 2 de ontem engana, mas o jogo não foi parelho. Eram onze QUELÔNIOS vestidos de vermelho e preto. A luta das rodadas iniciais sumiu. E é inadmissível tal cenário representado por um time que jamais foi abandonado pela torcida. É errado. Errado como Alê Menezes desperdiçar um pênalti bisonhamente, quase da mesma forma que contra o São Luiz (errando na paradinha), perder outros tantos gols feitos, mas marcar dois fáceis e acabar eleito CRAQUE DO JOGO por uma rádio local. Errado como a polícia santa-mariense deixar todos os aficionados locais enjaulados no pavilhão enquanto assistiam à torcida visitante sair antes (abaixo).Como recentemente deu tudo certo aqui em Santa Maria, dessa vez as coisas erradas passam.
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