Sempre que abro uma janelinha do Word e me ponho a digitar, brigo comigo mesmo – e apanho do que quero escrever. Preciso revisar meus textos quarenta e nove mil duzentas e trinta e duas vezes, contadas, para achá-los minimamente decentes e então postá-los no Futebesteirol, onde reviso outras trezentas e trinta e nove vezes, até deixar uma versão final que agrade naquele momento, mas talvez seja odiada no dia seguinte.
Havia um tempo em que nos dispúnhamos a postar até cinco coisas por dia (veja ali nos arquivos, há meses com cento e tantas entradas), a grande maioria vazia de conteúdos ou ideias. Hoje o blog é atualizado bem menos frequentemente, mas os textos devem estar melhores. Se não estão, nossa alternativa é decepar os dedos e parar de escrever. Ou, menos radical, defenestrar o computador para não ter como postar aqui. Aliás, ser atirado pela janela é o que o computador merece quando não reconhece “DEFENESTRAR” como uma palavra certa, sublinhando-a em vermelho – e ainda sugere um absurdo de fenestrar como correção.
Mas partamos do pressuposto de que estamos mais responsáveis por aquilo que publicamos. Tendo isso em mente, a dificuldade é manter esse nível razoável e “ir melhorando aos poquinhos, com trabalho em equipe e fé no Monstro de Espaguete Voador”, parafraseando os jogadores de futebol. Ninguém acessa um blog pouco acessado se vai encontrar obviedades ou as mesmas coisas que encontraria em lugares mais famosos. Daí que precisamos fazer coisas diferentes.
As viagens deste ano, a jornada europeia de 2008, essas são as minhas “coisas diferentes” preferidas. O esporte encaixotado na tevê ou em notas internéticas é muito prático para acompanhar o que acontece em plagas distantes (e dá-lhe hino do Inter), porém é mais interessante, e fácil, tirar uma visão independente do que acontece no futebol e no universo que o cerca estando no cenário e interagindo de alguma forma com os seus personagens. Oquei, é uma coisa básica. Mas às vezes é preciso dizer o que todos sabem mas não falam.
Veni, vidi e, quem sabe, vici, se o texto sair bom. Eu costumo parar antes do vici. Para mim, o texto quase nunca sai bom. Devo ter escrito mais de mil postagens aqui no blog e se tivesse que separar trinta para botar como “as melhores” não encontraria metade disto. Praticamente qualquer texto poderia ser superior ao que acaba sendo. Por vezes faltam informações, por outras eles estão pouco fluentes, muito curtos ou muito longos, ou simplesmente MAL ESCRITOS. Dizem que o inconformismo é o que faz melhorar, e como o Pirralho nunca me pagou os dez centavos mensais que prometeu para eu escrever no Futebesteirol, então tá legal.
Uma coisa que nunca pode faltar, no entanto, e desde o princípio, é a coerência. Você pode mudar de opinião desde que tenha e utilize argumentos para tanto. Você não pode é escrever uma coisa e, dois dias depois, ter que lidar com uma realidade diferente como se nada tivesse acontecido. O Ypiranga de Erechim me quebrou. Está lá na análise da primeira fase do primeiro turno: qualifiquei o Novo Hamburgo como frustrante e, para deixar explícito, comparei-o ao auriverde do Colosso da Lagoa e ao Santa Cruz. No momento, torço para que o Santa Cruz não me desiluda, porque o Ypiranga já foi.
Ontem à noite, em Erechim, o Noia deu um baile. Destruiu uma invencibilidade em casa iniciada pelo Ypiranga em maio passado e venceu por 0 a 3 – o desastre dos erechinenses foi ainda maior quando o goleiro Pitol saiu expulso e o centroavante Sharlei teve que terminar a partida no gol. Como? Como? Como o Ypiranga foi ser quase goleado (porque 0 a 3 não é goleada) em casa pelo Novo Hamburgo? Eu vi o campeonato, eu vi como o Ypiranga jogou MUITO MELHOR que o Noia na maior parte das rodadas – embora tenha perdido o confronto direto na estreia, fora de casa –, e agora vejo esse placar abrupto (sem hífen, até a morte) luzindo e classificando o time do Vale do Sinos às semifinais.
Como? Como? Como eu vou sair dessa? O que eu vou escrever? Usar o clichê de que o futebol é uma caixinha de surpresas? Não, é uma imbecilidade. Qualquer fã de BEISEBOL que assistisse à partida de ontem saberia que o Novo Hamburgo venceu por um motivo muito claro, nunca surpreendente: evidenciou ser, nem que fosse por aqueles noventa minutos, mais time – e dominou inteiramente as ações. Mas como? (eu ainda chegarei a cem comos até o fim do texto). Preciso achar uma boa desculpa para convencer as almas que lerem isso aqui da superioridade do Noia ontem sem afirmar com todas as letras que eu não entendo de futebol, pois ter visto um Ypiranga melhor na primeira fase era ver o que realmente acontecia.
(Falo eu agora na terceira pessoa, como craque de time): Sentado à frente do seu computador e vendo que este já é o terceiro parágrafo da segunda página do Word, portanto um texto longo demais para um blog, que provavelmente metade dos que começarem a ler não vai chegar ao fim, ele bate na testa e exclama: “é claro!” Põe-se a digitar e preparar um link que não o contradiz e, além disso, só reforça uma tese que defendeu anteriormente. Achando-se um gênio, conclui o texto, no quarto parágrafo da página dois:
“Como escrevi anteriormente, os times dividem-se em copeiros e ligueiros. Entra para o hall das coisas notórias que o Ypiranga deste primeiro turno, eliminado pelo Novo Hamburgo nos mata-matas depois de ser melhor que ele em toda a fase regular, não se mostrou copeiro.”
2 comentários:
Infeliz mesmo, esse problema, hoje pela madrugada me peguei pensando em escrever algo sobre a incrivel bundesliga alemã e seus 7 postulantes ao título, porém abri o word e a criatividade sumiu...
Tá certo que a falta de talento e de um bom provérbio alemão contribuiram mas enfim...
No fim, o Santa Cruz também nos desiludiu.
É difícil opinar sobre um assunto tão falado e incostante como o futebol. As pautas da crônica esportiva estão fragilizadar pela amargura da saturação, da encheção de saco. Atualmente, a saída para os sedentos por análises não triviais são os blogs. Só os textos como este dão esperança para esta leitora. E o post acima, do Ipiranga, é a prova de tudo isso.
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