PORTO ALEGRE – Feitiçaria existe. Aconteceu na minha frente. Eu juro! Há mais de trinta e três mil testemunhas que podem confirmar cada palavra e cada vírgula dessa incredulidade. Em todos os meus anos de estádios, não lembro de uma partida entre duas equipes profissionais tão desnivelada em número de chances quanto o Grêmio e Universidad de Chile desta quarta-feira. Pudesse incluir amadores, aí sim: compararia o jogo de ontem ao Ipiranga de Coronel Barros 0-7 Santo Ângelo, com os chilenos sendo os coronel-barrenses da vez.
Para chegar a Porto Alegre eu precisei percorrer quase quatrocentos quilômetros, subir a serra, descer a serra, comer biscoitos uruguaios com gosto de óleo diesel, parar em um hotel para passar esta madrugada. Para chegar ao gol do Universidad, o Grêmio não teve qualquer problema. No minuto treze de partida, os gaúchos já contavam SETE chances mais claras que as carecas de Ruy e Alex Mineiro juntas. Com direito a um lance de placa de Jonas junto à linha de fundo, cruzando para a pequena área, onde alguém deveria aparecer chutando, mas não apareceu. Esta e as outras seis oportunidades dos minutos iniciais, todas elas desperdiçadas.
A pressão do início não foi reflexo do entusiasmo de um time empurrado pela torcida estreando na maior competição do continente. Foi reflexo de um time muito superior ao adversário PASSANDO POR CIMA das linhas defensivas dele e bombardeando a sua meta. O quadro do Chile parecia tomado de um medo cênico. A ironia de toda a partida foi um Grêmio superior disposto a morrer pela vitória, e um Universidad fraco mantendo-se vivo até os limites da possibilidade. Dentro desses objetivos, os dois times lutaram. Como convém numa partida de La Copa. Esta foi a minha primeira vez dentro de um estádio para uma jornada de Libertadores. Até agora, a Segundona Gaúcha reinava absoluta como meu parâmetro de raça e briga máximas num campo de futebol. Agora, modifico: a Libertadores e o quadrangular final da Segundona são as coisas mais peleadas que se podem ver.
Para desespero das viúvas do lesionado William Magrão, o volante Adílson esteve entre os mais envolvidos por esse espírito. Gigantesca a sua atuação, roubando e recuperando bolas improváveis, especialmente no primeiro tempo, e saindo bem para a partida. O que Adílson faz menos que Magrão é chegar ao ataque, mas isso não representou qualquer diferença nesta noite. Antes do fim da etapa inicial, o Grêmio quase abriria o placar em mais três ocasiões, acertando até o poste, aos 44 minutos. O Universidad de Chile inexistia, enquanto o Olímpico daqueles momentos fazia-se de mostra viva e ondulante do que a história das Copas nomeou CALDERÓN DEL DIABLO. Os diabos de ontem contrariavam a convenção e eram azuis. “Ondulante” – gosto e repito este termo, porque é exatamente isso que acontece no estádio do Grêmio quando a torcida se põe a pular e cantar em conjunto: o velho concreto erguido na Azenha balança, arriscando um desabamento que nunca ocorre(u).
O quarto de hora do intervalo deveria ser o momento para matar a irresponsabilidade. A partir dali não haveria paliativos, não se poderia depender de um tempo extra. Perder chances no segundo tempo era condenar os pontos de um jogo que, pelo mostrado até ali, TINHA que ser vencido. Mas o Grêmio continuou perdendo todas as suas chances. Não porque quisesse. Claro, a displicência de certos lances, como a bola que Jonas “atrasou” para o goleiro chileno aos 74 minutos, emendando um cruzamento, era parte da irresponsabilidade. Outros, porém, só podem ser explicados pelo feitiço – porque se aquilo for azar, é melhor passar bem longe dos jogadores gremistas. Souza foi privado de abrir o placar aos 48 minutos por um desvio do arqueiro, que mandou sua cobrança de falta no travessão; a zaga visitante salvou um gol certo sobre a linha aos 52, e as rebatidas seguintes na área levaram todo o estádio à loucura; finalmente, o matador Alex Mineiro pareceu uma MOÇOILA chutando a pelota depois de driblar o goleiro e ficar com o gol aberto aos 64 minutos. Seu tiro fraco possibilitou que um zagueiro corresse para afastar o perigo.
Nada tirava os universitários chilenos da defesa, no que foi uma certa decepção proporcionada pelo suposto melhor estrangeiro do grupo. Marcelo Díaz foi expulso no minuto 71, multiplicando várias vezes o drama. O goleiro Miguel Pinto passou a acumular grandes defesas, enquanto seus defensores resolveram se atirar em TODAS as bolas chutadas pelo ataque gremista, buscando evitar o gol de alguma forma. Celso Roth fez do Grêmio uma ode ao ofensivismo, deixando só um zagueiro em campo e inventando o revolucionário esquema 1-6-3, mas não teve sucesso. O domínio absoluto gremista do início ao fim, suas mais de duas dezenas de oportunidades contra nenhuma dos chilenos, valeu só para criar perspectivas. Ao fim do jogo os numerosos aplausos reconheciam o potencial de uma equipe que massacrou os oponentes, mas não deixavam de ser condescendentes com uns jogadores que, sem saber vencer, saíram de campo sob um placar que atestava uma igualdade que não houve: zero a zero.
O jogo de ontem foi um Gre-Nal de Erechim maximizado. Em ambas as partidas, as duas únicas do Grêmio contra adversários teoricamente de bom nível em 2009, o tricolor jogou melhor, criou mais chances, e ficou sem a vitória. No Colosso da Lagoa o Inter mostrou um futebol enorme comparado ao do Universidad ontem, até por isso venceu, diferentemente dos chilenos, mas os dois jogos trouxeram uma tendência inicial para o Grêmio: os comandados de Roth conseguiram submeter os oponentes ao seu ritmo e chegar à goleira adversária com desenvoltura – a BROCHADA ocorreu na hora de encarar o gol e soltar a patada. Inexplicáveis, inacreditáveis, embasbacantes os desperdícios da quarta-feira.
Não está escrito nos gomos, mas é requisito básico para uma equipe vencedora: deve-se transformar qualidade em gols. “Quem não faz, leva”, etcétera e tal, e foi por isso que, mesmo sem ter visto seu time sofrer qualquer ameaça em toda a partida, um gremista soltou a frase, enquanto saía do Olímpico após o 0 a 0 de ontem:
– Pelo menos, não perdemos.
Para chegar a Porto Alegre eu precisei percorrer quase quatrocentos quilômetros, subir a serra, descer a serra, comer biscoitos uruguaios com gosto de óleo diesel, parar em um hotel para passar esta madrugada. Para chegar ao gol do Universidad, o Grêmio não teve qualquer problema. No minuto treze de partida, os gaúchos já contavam SETE chances mais claras que as carecas de Ruy e Alex Mineiro juntas. Com direito a um lance de placa de Jonas junto à linha de fundo, cruzando para a pequena área, onde alguém deveria aparecer chutando, mas não apareceu. Esta e as outras seis oportunidades dos minutos iniciais, todas elas desperdiçadas.
A pressão do início não foi reflexo do entusiasmo de um time empurrado pela torcida estreando na maior competição do continente. Foi reflexo de um time muito superior ao adversário PASSANDO POR CIMA das linhas defensivas dele e bombardeando a sua meta. O quadro do Chile parecia tomado de um medo cênico. A ironia de toda a partida foi um Grêmio superior disposto a morrer pela vitória, e um Universidad fraco mantendo-se vivo até os limites da possibilidade. Dentro desses objetivos, os dois times lutaram. Como convém numa partida de La Copa. Esta foi a minha primeira vez dentro de um estádio para uma jornada de Libertadores. Até agora, a Segundona Gaúcha reinava absoluta como meu parâmetro de raça e briga máximas num campo de futebol. Agora, modifico: a Libertadores e o quadrangular final da Segundona são as coisas mais peleadas que se podem ver.
Para desespero das viúvas do lesionado William Magrão, o volante Adílson esteve entre os mais envolvidos por esse espírito. Gigantesca a sua atuação, roubando e recuperando bolas improváveis, especialmente no primeiro tempo, e saindo bem para a partida. O que Adílson faz menos que Magrão é chegar ao ataque, mas isso não representou qualquer diferença nesta noite. Antes do fim da etapa inicial, o Grêmio quase abriria o placar em mais três ocasiões, acertando até o poste, aos 44 minutos. O Universidad de Chile inexistia, enquanto o Olímpico daqueles momentos fazia-se de mostra viva e ondulante do que a história das Copas nomeou CALDERÓN DEL DIABLO. Os diabos de ontem contrariavam a convenção e eram azuis. “Ondulante” – gosto e repito este termo, porque é exatamente isso que acontece no estádio do Grêmio quando a torcida se põe a pular e cantar em conjunto: o velho concreto erguido na Azenha balança, arriscando um desabamento que nunca ocorre(u).
O quarto de hora do intervalo deveria ser o momento para matar a irresponsabilidade. A partir dali não haveria paliativos, não se poderia depender de um tempo extra. Perder chances no segundo tempo era condenar os pontos de um jogo que, pelo mostrado até ali, TINHA que ser vencido. Mas o Grêmio continuou perdendo todas as suas chances. Não porque quisesse. Claro, a displicência de certos lances, como a bola que Jonas “atrasou” para o goleiro chileno aos 74 minutos, emendando um cruzamento, era parte da irresponsabilidade. Outros, porém, só podem ser explicados pelo feitiço – porque se aquilo for azar, é melhor passar bem longe dos jogadores gremistas. Souza foi privado de abrir o placar aos 48 minutos por um desvio do arqueiro, que mandou sua cobrança de falta no travessão; a zaga visitante salvou um gol certo sobre a linha aos 52, e as rebatidas seguintes na área levaram todo o estádio à loucura; finalmente, o matador Alex Mineiro pareceu uma MOÇOILA chutando a pelota depois de driblar o goleiro e ficar com o gol aberto aos 64 minutos. Seu tiro fraco possibilitou que um zagueiro corresse para afastar o perigo.
Nada tirava os universitários chilenos da defesa, no que foi uma certa decepção proporcionada pelo suposto melhor estrangeiro do grupo. Marcelo Díaz foi expulso no minuto 71, multiplicando várias vezes o drama. O goleiro Miguel Pinto passou a acumular grandes defesas, enquanto seus defensores resolveram se atirar em TODAS as bolas chutadas pelo ataque gremista, buscando evitar o gol de alguma forma. Celso Roth fez do Grêmio uma ode ao ofensivismo, deixando só um zagueiro em campo e inventando o revolucionário esquema 1-6-3, mas não teve sucesso. O domínio absoluto gremista do início ao fim, suas mais de duas dezenas de oportunidades contra nenhuma dos chilenos, valeu só para criar perspectivas. Ao fim do jogo os numerosos aplausos reconheciam o potencial de uma equipe que massacrou os oponentes, mas não deixavam de ser condescendentes com uns jogadores que, sem saber vencer, saíram de campo sob um placar que atestava uma igualdade que não houve: zero a zero.
O jogo de ontem foi um Gre-Nal de Erechim maximizado. Em ambas as partidas, as duas únicas do Grêmio contra adversários teoricamente de bom nível em 2009, o tricolor jogou melhor, criou mais chances, e ficou sem a vitória. No Colosso da Lagoa o Inter mostrou um futebol enorme comparado ao do Universidad ontem, até por isso venceu, diferentemente dos chilenos, mas os dois jogos trouxeram uma tendência inicial para o Grêmio: os comandados de Roth conseguiram submeter os oponentes ao seu ritmo e chegar à goleira adversária com desenvoltura – a BROCHADA ocorreu na hora de encarar o gol e soltar a patada. Inexplicáveis, inacreditáveis, embasbacantes os desperdícios da quarta-feira.
Não está escrito nos gomos, mas é requisito básico para uma equipe vencedora: deve-se transformar qualidade em gols. “Quem não faz, leva”, etcétera e tal, e foi por isso que, mesmo sem ter visto seu time sofrer qualquer ameaça em toda a partida, um gremista soltou a frase, enquanto saía do Olímpico após o 0 a 0 de ontem:
– Pelo menos, não perdemos.
2 comentários:
O expulso foi Marcelo Díaz, não Angel Rojas como escrevi inicialmente. No estádio não deu para ver direito, e no ClicRBS estava a informação errada que repeti aqui. Agora está corrigido.
Fazia tempo que não ficava tão angustiada no Olímpico. Costumava repetir "quem não faz leva", mas ontem achei que poderia falar "água mole pedra dura, tanto bate até que fura". Não deu. Mas prefiro não procurar culpados, além da citada feitiçaria.
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