O norte da América do Sul foi o cenário de dois resultados contrastantes para o futebol uruguaio na quarta-feira passada. Na Venezuela, a seleção sub-20 Celeste batia o Brasil por 3 a 2, fechando uma primeira fase com cien por cien de aproveitamento no Campeonato Sul-Americano. Na Colômbia, o Peñarol levava uma tunda de 4 a 0 do Independiente de Medellín. Uns clubes tão fracos apesar de uma base boa só se explica pela bidecenária crise que assola o futebol oriental.
Nem as quatro vitórias em quatro partidas disputadas pelo time sub-20 até ali serviam para animar. Se há algum futuro menos negro com o qual sonhar, é um devaneio restrito à seleção principal. Os clubes estão reféns dos empresários e, falidos, perdem os tais nomes promissores tão logo surgem. Não é muito diferente dos brasileiros, porém aqui a renovação é abundante, algo impossível para um país cuja população mal passa de quarenta Ijuís.
Aí vai o Abel Hernández, marca dois gols no Brasil, e aos aficionados do Peñarol só resta o orgulho de torcerem para o clube formador, porque ele já está negociado com o futebol italiano. É tristemente simples: não existem, a curto prazo, perspectivas de melhora para os clubes uruguaios. Entre no site do Peñarol e veja a animação de abertura: “trabajando por un futuro digno de su glorioso pasado”. De certeza, só o passado. Não sou dos desprezadores da história que dizem ser o passado mero ganha-pão de museu, mas a decadência e o tempo já soterraram os maiores impérios. Querem fazer o mesmo com os velhos campeões uruguaios, que não saem da hibernação.
Mais um ano, mais um ano, mais um ano e já vamos para vinte desde a última presença de um uruguaio nas SEMIfinais da Libertadores. Em 1989, o Danubio foi privado da final pelo outro time de Medellín, o futuro campeão Atlético Nacional, levando 6 a 0 na Colômbia. Nas dezenove Libertadores jogadas desde então, as campanhas mais decentes dos orientais avançaram até as quartas-de-final – ainda assim, numa frequência baixa: apenas em cinco temporadas houve pelo menos um uruguaio entre os oito melhores.
Considerando todas as competições sul-americanas, a última final disputada por um uruguaio foi a da Copa Conmebol de 1994. E os resultados daquela decisão não fazem a lembrança valer a pena: o Peñarol foi abatido já na partida de ida, levando 6 a 1 do São Paulo no Brasil. Supercopa, Copa Mercosul, Copa de Oro, Supercopa Masters, Sul-Americana e outros torneios biônicos criados para movimentar o futebol do continente, nasceram (e morreram) tendo os representantes do Uruguai como uma força menor. Eliminável, em alguns casos, até por bolivianos.
Dificilmente haverá remontada do Peñarol contra o Independiente no dia 3. Dificilmente haverá, também, título da seleção sub-20 que, depois da invencibilidade na fase de abertura, estreou no hexagonal final levando 3 a 2 do Brasil. A melhor alternativa para quem quer ter alguma ilusão do futebol uruguaio bem, é abandonar a tevê e ficar à moda antiga, esperando e acreditando nos relatos jogados ao vento por terceiros, muitas vezes exagerados. Como disse o Iuri sobre o Urretaviscaya depois de vê-lo em campo no fim de semana: “ele parecia bem melhor nas crônicas do El País”.
Um comentário:
Pobre Peñarol... pobre futebol uruguaio...
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