quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

“Que lástima!”

(De Bento Gonçalves)

– Vamos aqui entrevistar um torcedor pra ver o que ele está achando da partida. Como é o seu nome?

– Maurício.


O público era pequeno no belíssimo estádio Montanha dos Vinhedos, de fato, mas algumas centenas de aficionados certamente havia. Entre tantos torcedores da equipe da casa, apreensivos com aquele segundo tempo em que o Esportivo decaía e o São Luiz passava a dominar, o repórter de uma rádio de Bento Gonçalves foi pinçar logo eu, um infiltrado dos visitantes, para dar opinião sobre a partida.

– Complicou nesse segundo tempo, hein?
– Pois é, o São Luiz cresceu, tá criando mais chances. Mas eu acho que o Esportivo consegue segurar.


Falei aquilo para não ser descoberto. A vida é só uma, arriscá-la à toa não é das coisas mais recomendáveis. Declarava tal coisa para a posteridade mas, intimamente, torcia com todas as forças para que o oposto se concretizasse. Não, o Esportivo não podia segurar. Já estávamos com uns 65 minutos de tempo corrido, o placar apontava 1 a 0 para a equipe da Serra, gol de pênalti convertido por Evilásio ainda na primeira metade do jogo. Os de Bento Gonçalves aproveitaram-se do desastre defensivo que estava sendo o São Luiz, com a dupla de zaga Juliano e Bruno Lourenço fazendo água. Foi quando este último saiu lesionado, no início da etapa complementar, que o crescimento apontado por mim no comentário à rádio ocorreu.

– E quem você acha que está se destacando no Esportivo?

Horror! Mal sabia que time o São Luiz tinha escalado, imagina apontar o destaque de uma equipe que nem acompanho e só sei o nome de dois ou três. Entretanto, não se pode titubear diante de um microfone e de alguns muitos torcedores enraivecidos com o seu time. Olhei para o repórter com uma cara meio perdida e fui auxiliado pelo baixo nível técnico da partida:

– Não tem ninguém superior aos demais.

Não havia mesmo. No momento da entrevista o Esportivo não tinha qualquer relação com o futebol que apresentara no primeiro tempo: faltava preparo físico. E mesmo o primeiro tempo não havia sido de grande mando do time local, salvo muito mais pelo pênalti estupidamente cometido por Bruno Lourenço do que por uma qualidade maior. No segundo, o alvi-azul ficou pequeno de uma maneira que despertou a fúria nos torcedores sentados próximos a mim. Suas críticas, eles as dirigiam para o técnico Círio Quadros – onde já se viu, só um treinador retranqueiro para se contentar com um 1 a 0 em casa, indignavam-se.

Era uma postura muito benéfica ao São Luiz, como se percebia. Enquanto convivíamos, nas cadeiras, com o vento de frio outonal em pleno janeiro, as estocadas da equipe ijuiense foram crescendo gradativamente, até o pênalti encontrado num escanteio aos 76 minutos. A chance do empate. Que o meu xará Maurício desperdiçou com uma corrida telegrafada e um chutinho no canto direito, para fácil defesa do arqueiro Fernando. Um vilão, um herói. Ou um herói e um vilão? Dez minutos depois do pênalti perdido de forma bisonha – para meu desespero silencioso –, num cruzamento à área, Fernando falhou, soltou a bola no chão, e deixou livre para o tal centroavante Maurício mandar dentro da meta aberta. 86 minutos, 1 a 1, e eu quieto.

Pós-gol de empate: o único momento em que o Esportivo foi ao ataque. Dois pontos em casa sendo desperdiçados no finzinho, um passo atrás gigantesco para um time que nas próximas duas rodadas será visitante – e em uma delas enfrentará o Grêmio no Olímpico. Navegar pelo mar das vitórias era preciso. Aos 90+1, um milagre do goleiro são-luizense Oliveira destruiu as últimas expectativas dos locais. A Montanha dos Vinhedos esvaziava-se lentamente com o empate inevitável, ressoando os ruídos dos xingamentos. Uma “lástima”, realmente, que o Esportivo não tenha conseguido segurar a vitória – pensava eu, com a cara fechada para não me denunciar, rindo por dentro com o resultado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente deixamos escapar. Mas mesmo assim com o jogo acabado a torcida não parava de cantar.

Vamo vamo Esportivo!