quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Lufada de atualidade

Fundado em 1882, duas vezes campeão inglês, em 1921 e 1960, vencedor de uma FA Cup, em 1914, o Burnley Football Club vive do passado. Fora da primeira divisão desde 1976, e peregrinando pelas ligas mais baixas nas últimas décadas, incluindo um quase rebaixamento à amadora quinta divisão (a Conference) em 1987, os Clarets disputam atualmente a segundona inglesa, para a qual subiram em 2000. Afastaram definitivamente as recordações dos anos mais difíceis, porém a distância para os períodos dourados também é grande: suas campanhas não vão além do meio da tabela.

Ou não iam. Nesta temporada o cenário sofreu alteração. Nove vitórias, seis empates e cinco derrotas nas vinte rodadas já disputadas do Football League Championship são os números que pintam esse novo quadro, inscrevendo o nome do Burnley num quarto lugar, atrás de Wolverhampton, Birmingham e Reading, posição que o levaria aos playoffs de acesso à liga máxima do futebol inglês para 2009/2010. Um sonho a ser reforçado, quiçá com o acesso direto, mantido, com a posição atual, ou desfeito, com séries de derrotas, nas próximas dezoito jornadas da segundona. Enquanto aguardam o desfecho disso, os torcedores do clube têm em outro teatro a representação dos seus devaneios.

O palco chama-se Carling Cup, a Copa da Liga, competição na qual o time entrou discreto, classificando-se com golzinhos de Martin Paterson (dos cinco primeiros tentos do time no torneio, quatro foram dele), reforço de 1 milhão de libras contratado na janela de verão, e foi avançando. Pelo caminho, caíram o Bury (0-2 fora de casa), o Oldham Athletic (3-0 em casa) e o Fulham (1-0 em casa). O Burnley deixou de ser só mais um time da liga inferior em trajetória mais ou menos duradoura no dia 12 de novembro, quando silenciou Stamford Bridge e enfureceu Felipão ao segurar um 1-1 diante do Chelsea e, nos pênaltis, avançar às quartas-de-final.

Ontem, dezenove mil e quarenta e cinco espectadores foram ao estádio Turf Moor para ver o time receber o Arsenal. Os Gunners estavam passeando na Carling Cup até aqui. Em duas fases, jogos contra o Sheffield United e Wigan Athletic, ambos em casa, nove gols marcados e nenhum sofrido. Ontem, de novo, a intensidade ofensiva e o estilo de jogo envolvente dos jovens reservas de Arsène Wenger foram notados nos 54% de posse de bola e treze chutes à meta adversária desferidos até o apito final. Mas, aos seis minutos, só dois depois de o Arsenal perder a sua primeira grande oportunidade, eram os Clarets que lideravam a contagem por 1 a 0, gol de Kevin McDonald.

Em casa e iluminado, o Burnley não tinha esperanças natimortas. E fez por merecê-las com a sua resistência nos minutos que vieram. As chances do Arsenal, essas sim nasciam sem vida, sem o fim esperado dum grito de goal, pois sob a baliza local brilhava o goleiro Brian Jensen. Os de fora retornariam dos vestiários tentando mais agudez na busca por igualdade, continuando a falhar miseravelmente. Corria o minuto 57 no momento em que McDonald venceu o goleiro Lukasz Fabianski pela segunda vez na noite e determinou o Burnley 2-0 Arsenal do marcador final.

É a primeira vez desde o Middlesbrough de 2003/2004 que uma equipe elimina dois representantes do trio de ferro de Londres, formado por Arsenal, Chelsea e Tottenham (os três que já venceram o Campeonato Inglês) numa mesma Copa da Liga. Naquele ano, o Boro tirou os Gunners e os Spurs. É a primeira vez na história da Copa da Liga que tal façanha é obtida por um clube das divisões inferiores. É, finalmente, a primeira vez em 25 anos que o Burnley atinge as semifinais de uma competição de alto nível. A classificação da terça-feira foi um sopro de ineditismos para afastar, mesmo que parcialmente, a poeira sob a qual estava enterrado o antigo orgulho do clube. Após muito tempo, os aficionados da equipe olham para o futuro com alguma perspectiva de realização.

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