Havia uma apreensão relacionada ao jogo de Soterópolis. Não se sabia que qualidade o Grêmio iria apresentar para a jornada decisiva do Brasileirão 2008. Os devaneios vindos depois da vitória contra o Palmeiras, continuados com o 2 a 1 sobre o Coritiba no último domingo, eles não eram embasados num grande futebol. No Palestra Itália até houve raça, que fizera muita falta em rodadas anteriores, mas no Olímpico o Grêmio venceu sem maior luz – simplesmente fez a sua parte enquanto time melhor.
Fora de casa isso de ser melhor nem sempre funciona, daí as dúvidas e daí o efeito tranqüilizante que teve, sobre os gremistas, a iniciativa tomada pelo seu time desde o primeiro apito de Héber Roberto Lopes. O Vitória era mantido na sua própria metade do campo e não era capaz de levar perigo do outro lado. A primeira oportunidade do time local botar uma bola na área dos gaúchos só surgiria aos 22 minutos, num lance encerrado em impedimento, coincidentemente na mesma hora em que vinha do Rio de Janeiro a notícia do gol do São Paulo.
O terrível gol do São Paulo. Acreditavam os gremistas que, se existia um jogo para os líderes do campeonato tropeçarem e deixarem o Grêmio passar, seria esse de São Januário. Pelo desespero vascaíno, pelo Renato Portaluppi, por uma fé que cegava todos à fraqueza do time carioca. E o São Paulo vencia. E o Grêmio não. Que desastre! Mas o Grêmio continuou melhor. Perdeu Reinaldo lesionado, botou André Luís, um jogador que sabe correr mas desconhece a arte do chute, e mesmo assim levava perigo. “Sorte de campeão”, disseram os esperançosos a respeito do lance envolvendo o próprio André, aos 26 minutos, quando, numa bola cruzada da direita, ele atrapalhou o goleiro Viáfara e desorientou o defensor Anderson Martins, que desviou contra a própria meta e fez 0 a 1 a favor dos gaúchos.
Pouco depois, o Vasco empatava em São Januário. Naquela hora, a tabela flutuante apontava o Grêmio líder, igualado em pontos com o São Paulo, superando-o pelo número de vitórias. Perfeito. Nas próximas duas rodadas, uma partida contra os mortos do Ipatinga e outra em casa contra o Atlético Mineiro. Dois jogos vencíveis, o título estava na mão. E mais na mão ficaria se o tricolor não desperdiçasse as muitas oportunidades que criou até o fim do primeiro tempo. Rafael Carioca chutou por cima uma bola recebida diante da goleira aberta, aos 38 minutos, e André Luís perdeu duas belíssimas chances consecutivas, aos 41 e 42, quando usou da sua velocidade para vir de trás dos zagueiros e surpreendê-los, com uma cabeçada e uma finalização de carrinho, respectivamente.
Aqueles gols poderiam faltar depois, mas como o Vitória também perdeu algumas chances, o resultado parcial era aceito. No intervalo, sustentados o 0 a 1 em Soterópolis e o 1 a 1 no Rio de Janeiro, os gremistas perguntavam-se por que diabos o futebol não tem apenas 45 minutos.
Para eles, deveria ter. Porque o segundo tempo foi o oposto completo da superioridade mostrada pelo Grêmio antes. O time sofreu o empate no quarto minuto, a seguir o Vasco levou o segundo gol do São Paulo e, quando a recuperação ainda era plausível, Amaral viu o cartão vermelho e deixou os gaúchos com dez. Virou um festão para os baianos, que já atacavam em profusão por aquele lado direito guarnecido pelo expulso. O Grêmio, embora ainda com dez jogadores, sumiu do campo a partir dali. Willians aos 62, Jackson aos 70, Marcelo Cordeiro de bicicleta aos 74, quatro a um para o Vitória. Que virou 4 a 2 nos acréscimos, com Souza descontando apenas para melhorar a estatística.
O São Paulo, na sua tradicional competência ligueira, conteve seu resultado no Rio. Enquanto o Grêmio estrebuchava no solo baiano, o atual bicampeão e praticamente tri brasileiro dava uma aula de pragmatismo. Venceu por 1 a 2. Faltando seis pontos por se disputar na temporada, o time que esteve onze unidades atrás do Grêmio a certa altura do campeonato abriu agora cinco de vantagem sobre o time do Rio Grande do Sul. Milagres não acontecem todos os dias. Sem milagres, resta aos gremistas o lamento de que a sua ilusão de título era somente uma ilusão mesmo. E ilusões têm apenas dois finais possíveis. Um deles é o fracasso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário