terça-feira, 11 de novembro de 2008

Duas vezes dezesseis

Falávamos dos 4-3 do Real Madrid e de Higuaín e, nesta terça-feira, os brancos tiveram outra vitória por esse placar. Dessa vez, sem a Pipita e sem glória: a partida era a volta da eliminatória da Copa do Rei, que confrontou os merengues com a Real Unión de Irún, da terceira divisão, e o resultado, somado à derrota por 3-2 fora de casa, eliminou o time do Bernabéu pelo gol qualificado. E não houve hat-trick de Raúl que impedisse o ridículo de cair contra um adversário de categoria muito inferior, na primeira fase disputada, dentro de casa, e o pior: sofrendo o gol definitivo aos 90 minutos, culpa de Eneko Romo.

Mas o que menos nos interessa aqui é o jogo em si, apesar dos seus ares sobrenaturais para o povo de Irún. Vamos às estatísticas e à improvável coincidência histórica que a partida de hoje rendeu. Como a última Copa do Rei vencida pelo Madrid data de 1993, e o clube não vencerá em 2009, o jejum de títulos na competição alcança 16 temporadas consecutivas. É a maior série madridista sem o título copeiro, igualando o recorde negativo mantido entre 1918 e 1933, também 16 anos saindo das eliminatórias com as mãos vazias.

E aí entra a curiosidade do acontecido nesta terça-feira, no Bernabéu, em tudo o que distancia os noventa anos que abriram uma série e confirmaram outra, e em tudo o que, paradoxalmente, os aproxima. Em 1918, o torneio chamava-se Copa de Su Majestad El Rey Alfonso XIII; em 2008, a homenagem vai ao atual Rei, Don Juan Carlos I – no meio disso tudo, a Copa esteve nomeada em honra ao Presidente da República (1933-1936) e, depois, a “Su Excelencia El Generalísimo” Franco (1939-1976). Há nove décadas, não era muito o que separava Real Madrid e Real Unión de Irún, e confrontos equilibrados eram encarados com naturalidade. Conforme o tempo passou, a igualdade de uma competição de mata-mata como único torneio nacional foi substituída pela regularidade de uma Liga mais valorizada, surgida na temporada 1928/29. O Madrid virou o gigante que conhecemos; a Real, com o crescimento do profissionalismo, não conseguiu se sustentar entre os primeiros por muito tempo e passou a viver do passado.

Do passado que incluía três títulos de Copa – de 1928, 1924, e de 1918: foi a Real Unión de Irún, em pleno campo de O’Donnell, em Madrid, que derrotou os merengues na final da Copa do Rei de noventa anos atrás, iniciando a primeira seqüência deles de dezesseis anos sem troféu. A mesma Real Unión que, apequenada em 2008, contrariando apostas e probabilidades, voltou à capital espanhola para garantir que a atual vai ser, para o Real Madrid, a sua segunda série de dezesseis temporadas na fila.
Se acaban las palabras para definir lo que hemos hecho” - Iñaki Alonso, treinador da Real

Um comentário:

Maurício Brum disse...

Que bisonho. Chamei a terça-feira de quarta-feira. Corrigido.