quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Como devia ser

Não é lei, mas devia ser. A Seleção Brasileira, pela história que construiu, pela mística que a cerca, e que a faz ser temida mesmo nas piores horas, não pode receber quadros estrangeiros em solo nacional e fazer má figura. Não. Deve vencer. Massacrar, quiçá. Com alguma dose daquele nacionalismo radical que quase sempre é maléfico, mas no futebol entra como fator motivacional: não pode deixar esses aí se criarem.

Isso é com todos. No entanto, havendo apenas dois continentes com seleções de futebol respeitáveis, e um deles sendo o que estamos, o que torna confrontos contra outras equipes sul-americanas banais, são os jogos contra os europeus que afloram mais isso. O Brasil, em casa, deve vencer os times europeus. Ponto. Cinco estrelas sobre o escudo da CBF, dezenas de gols nas redes dos que ousarem violar nosso território. Uia.

Mas Portugal abriu zero a um com três minutos e a cabeça de Dunga já era pedida mais uma vez. Estamos deixando esses aí brincarem na nossa casa, na nossa capital! Não estávamos. A falta de entusiasmo dos adversários, afinal era um amistoso, e o ofensivismo do 4-2-3-1 (esquemas de 4 linhas não existem, isso é um 4-5-1 disfarçado) armado pelo péssimo treinador Carlos Queiroz, que enterrou o Real Madrid em 2004 e parece disposto a fazer o mesmo com o selecionado lusitano, contribuíram como figurantes na construção do que se viu a seguir. O principal estava do lado auriverde: diferentemente do que fez durante todo o ano em seus jogos em casa, todos os três encerrados em empates sem gols após atuações deprimentes, o Brasil teve pundonor – e qualidade.

Somando ambas, descobriu em Luis Fabiano um centroavante quase como os de outrora, com hat-trick, e assistiu até a golaços dos questionadíssimos Maicon e Elano – além de um tardio tento do renascido Adriano. Venceu por 6 a 2, deu um baile, jogou seu melhor futebol em 2008. Mandou Portugal, com seu Cristiano Ronaldo, o grande jogador da temporada que nada fez em Brasília, de volta para casa com a pior derrota desde 1955, quando perdeu por placar idêntico para a Suécia. Os dias são mais negros sem Felipão, por lá, e a cambaleante campanha lusa nas Eliminatórias, uma vitória em quatro partidas até aqui, não é simples azar. Ao Brasil, uma noite como deveria ser, que anima mas não pode iludir.
Outro brasileiro da noite, o Inter também fez o esperado. Só loucos acreditavam que o Chivas seria capaz de cometer a heróica dentro do Beira-Rio e, desta vez, os loucos não mereceram a razão. Bastou o primeiro tempo para os colorados meterem três gols na baliza defendida pelos mexicanos, e ficarem plenos de serenidade para o resto do confronto. Os de Guadalajara tiveram um expulso antes da metade do jogo, ajudando a inflar a torcida da casa, que celebrou o que ninguém mais no Brasil pôde (ou fez questão de) festejar até hoje: uma passagem à final da Copa Sul-Americana. Por pura valorização de coincidência, os alvirrubros ainda converteram um quarto gol, simbolizando, nos números do 4 a 0, que a noite determinou sua passagem à quarta decisão internacional oficial nos últimos três anos, como devia ser. O ineditismo, agora, continua com a conquista da taça, a ser disputada contra o argentino que se classificar hoje.

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